Meu rugido dominical
Há momentos ou fases na minha vida que me sinto tragado por turbilhões alheios. Existe uma demanda emocional que faz com que qualquer sentimento, angústia, problema ou necessidade que eu tenha sejam sobrepujados em nome do altruísmo.
Creio que, em grande parte, isso parta de mim mesmo. Tendo a ouvir mais do que falar e essa atitude, a princípio considerada uma virtude, transforma-se, pouco a pouco, em desvantagem.
Sou como os macaquinhos, os "Três Macacos Sábios". Esses três animais estão incrustados na porta de um templo do século XVII, o Estábulo Sagrado, que fica na cidade de Nikko, no Japão. A origem da lenda dos macaquinhos é incerta. Mas, acredita-se que esteja relacionada a um trocadilho japonês. Os nomes dos três macacos são "Mizaru" (o que não vê), "Kikazaru" (o que não ouve) e "Iwazaru" (o que não fala). E a palavra "saru", que tem a mesma fonética de "zaru", significa "macaco", em japonês. Essa representação teria sido levada ao templo por um monge budista chinês no século VIII.
Contudo, afirmo que a pretensa sabedoria dos três macacos não existe. Que sabedoria pode haver quando não se vê, não se ouve e não se debate o universo que me cerca? Claro, pode soar simbólico o fato de que o silêncio, às vezes, vale ouro, ao passo que à palavra a prata lhe cai melhor.
Oras! Em um mundo urgente, de omissões, permissividades e total falta de paciência, sinto que o altruísmo é um fardo a mais para se carregar. Ok! Pode parecer falta de altruísmo enaltecer qualidades. Mas, para falar a verdade, nem mesmo considero qualidades as ausências de sentidos dos macaquinhos.
São desvantagens. Se não vejo, não ouço e não reverbero em discurso oral é porque padeço de faltas, e não exatamente de virtudes. As pessoas agem nos extremos: falam mais, ouvem menos e veem somente aquilo que lhes interessa.
Não é uma constatação surpreendente. Não! Longe disso! Mas, o egoísmo de eleger a si próprio como centro de um mundo que gira, independentemente de você ou de mim, por vezes, é bastante cansativo.
Por minha vez, achava que tinha uma atitude egoísta" "eu, eu mesmo e somente eu". Realizo que não é verdade. Claro que tenho doses extremas de egoísmo. Vou repetir algo que já escrevi neste blog há algum tempo: "As pessoas pensam em nós infinitamente menos do que acreditamos". Isso pode soar triste e egoísta, mas, na minha opinião, é a mais completa verdade. Tanto para você quanto para mim mesmo.
Todo mundo tem problemas e, mais, prioridades. Certamente, a não ser que você (e eu) esteja envolvido(a) com alguma pessoa emocionalmente, não são as outras pessoas - família, amigos, colegas, vizinhos, estranhos - que serão alvo de seus pensamentos.
Isso não é uma queixa. É o que é, apenas. Um fato. Nada mais. Mas, mesmo diante de fatos consumados, há que se manter equilíbrio. Percepções e sensibilidades. Porque quando o foco acaba, o "fogo amigo", de repente, se volta para você, para mim, para quem estiver mais próximo.
Este post é tanto um relato autoral, de atitudes minhas mesmo, quanto de observações em relação a outras pessoas. Agi e ajo assim também. Sou parte dessa humanidade claustrofóbica que, na falta de luz, segura a mão do próximo e, somente nesse instante, percebe que existe o outro, com tanto ou maior pavor da escuridão que eu mesmo.
Porém, basta a luz se fazer presente para a memória se escurecer e se relegar ao esquecimento a presença antes primordial daquele que amparou no momento escuro. No mais, somos feitos de gestos e atitudes mais impensados do que elaborados. E nessa confusão emocional, nem sempre sobra tempo para calar o "eu" e partilhar, pura e simplesmente.
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