Yo
Já falei aqui algumas vezes mas não custa repetir: um ser humano, dizem por aí, para ser completo enquanto ser, tem que fazer três coisas na vida: plantar uma árvore, ter filhos e escrever (e publicar) um livro.
Dessas três coisas, a única que realizei, nem sei se com sucesso, foi a plantação de árvores. Talvez tenham morrido à mingua, carentes de cuidados. Sei lá.
Para não delegar a outrem a miséria da humanidade, nunca almejei me ver eterno em ser por mim gerado. E olha que a decisão não é pequena: um leonino admitir que não se quer ver reproduzido num meta-ser é, realmente, um feito.
Portanto, me resta escrever (e, uma vez mais, publicar) um livro. Ideias as tenho mas não sei se valem a pena a ponto de consumir madeira o suficiente e encher as páginas brancas de um volume. Já gasto tinta e caderno o bastante para entrevistar pessoas que, nem de longe, dariam um livro.
Pois tem um cara que admiro cada vez mais (e bota admiração nisso!) que, calculo cá com os meus botões (alguns já caídos e perdidos), certamente plantou uma árvore, reconhecidamente teve filhos (dois) e, agora, se prepara para lançar seu próprio livro, mais conhecido como autobiografia. OK, admito que, muito provavelmente, alguém fez o papel de ghost-writer e escreveu para ele. Também pode ele mesmo ter escrito, já que, de uns tempos para cá, é visível que o rapaz anda com as próprias pernas (!) e pensa com o próprio cérebro. Pelo menos ele mesmo afirma que escreveu.
Falo de Ricky Martin, ex-Menudo que, à maneira de Mark Wahlberg, um dos componentes da formação original da banda New Kids on the Block, pulou daquela profissão (de cantores aborrecentes) para uma outra fase, madura e bem-sucedida. Mark, na minha opinião, tornou-se um ótimo ator. E Ricky? Ricky tornou-se um ótimo homem, pai e cantor. Bem, cantor não sei. Mas gosto dele.
Pois Ricky anunciou que sua autobiografia, "Yo" (Eu), chega às livrarias - em espanhol e inglês - em 2 de novembro. O livro aborda, segundo o próprio Ricky, decisões fundamentais da sua vida, como o fato de se assumir homossexual. Explica a iniciativa de se tornar pai e porque se engajou na causa humanitária que ajuda crianças em todo o mundo que sofrem maus tratos.
Se Ricky tem toda a pinta de bom-moço (e nem falo da aparência, hein!), Mark é o vilão. Adolescente, o New Kids on the Block era um vândalo. Aos 15, fazia parte de um grupo que arremessou pedras em estudantes afro-americanos. Aos 16, assaltou uma farmácia e deixou um homem cego. Cumpriu apenas 45 dias de prisão. Com 21 anos, fraturou a mandíbula de um vizinho.
Mark ficou mais conhecido pelos anúncios das cuecas Calvin Klein que protagonizou. Não sei da vida de Mark, se é pai ou se plantou uma árvore (provavelmente, arrancou alguma para usar como arma). Mas também ele, imagine, lançou um livro. OK, em coautoria com uma fotógrafa. Mas o fato é que o danado tem um livro no currículo. No prefácio, escreveu "Gostaria de dedicar este livro ao meu pau". Fofo!
O que importa é que, por serem ambos, Ricky e Mark, personalidades, por isso mesmo têm suas respectivas vidas públicas e, ao olhar para a trajetória de ambos, não deixo de me admirar de como as pessoas avançam (algumas retrocedem). Em conversa com um taxista, ele me disse que teve um estalo - tum! - e, de quase alcoólatra, resolveu parar de beber ao pensar que, de repente, poderia perder a vida e deixar de acompanhar a vida da própria filha, de cinco anos.
É isso. Yo también creo que hay un estalido - plum! - y todo el resto se olvida y se convierte en nada. E vive la vida, loca o no.