Eu tinha uma vaquinha
Essa musiquinha fez muito sucesso nos anos 80:
Eu tinha uma vaquinha
Que se chamava Sara Lee
Um dia fiquei com fome
E papei a Sara Lee
Sara Lee! (Sara Lee)!
Lembra disso? Era do Ultraje a Rigor. A música, "Marylou", homenageava, na verdade, uma galinha. Mas, por enquanto, vamos ficar com as vacas mesmo. Das vacas, sabe-se o seguinte:
- São animais garbosos que pastam mansamente e passam a maior parte do tempo a ruminar, a pensar lá, no fundo do pasto, com suas tetas
- São sagradas na Índia
- São matéria-prima para bolsas, sapatos e roupas, notadamente as femininas
- São boas fornecedoras de leite
- Servem perfeitamente como xingamento adequado para as mulheres
- É como eu chamo a maior parte das amigas, tanto em estado de raiva quanto em estado normal
Das vacas (e de muitos bois) sabe-se, ainda, que grande parte da espécie é criada para o abate. Como nós, humanos, há aquelas que ansiam pelo abate e outras que fogem do matadouro.
Como nós, há as que se atolam - e por isso vamos, vacas ou não, todos para o brejo -, bem como as há as que, espertas, jamais pisam em solo movediço e evitam, assim, a decadência. Perfeitas para metáforas, ser vaca, em algumas situações, significa ser vagabunda, ter aquela porção suspeita que muitos almejam mas nem todos têm coragem de copiar. Em outras circunstâncias, ser comparada a uma vaca é um ultraje (sem rigor), pode gerar bate-boca, correria, gritos e alguns cabelos espalhados pelo chão.
Uma vaca animal, não humana, não quis nem saber: escapou do abate e da lama simultaneamente. Mas, o caminho foi de pedras, e não de rosas. Durante nove meses, percorreu 100 quilômetros para fugir ao destino cruel do abatedouro. A "Besta de Ealand", o nome da fofa criatura, fugiu enquanto o proprietário se preparava para descarregá-la em um mercado no Reino Unido, de onde seria levada ao açougue. A fuga, cheia de riscos e atribulações, valeu a pena: um casal simpático, Sue McAuley e Tracey Jaine, pagou 500 libras (pouco mais de R$ 1,5 mil) por ela e comprou, com isso, sua carta de alforria.
A "Besta" foi levada para um santuário de animais onde poderá viver feliz e livre a ruminar as reminiscências de sua aventuresca fuga. O santuário abriga animais fugitivos. O que credenciou a "Besta" a conquistar seu espaço no paraíso animal foi o fato de se virar sozinha por um ano sem pedir a ajuda de ninguém. Vacas são vacas. E, se forem poderosas como a "Besta", sempre estarão preparadas para o abate. Nunca, porém, serão abatidas. Essa vaca britânica, com certeza, não é uma vaca atolada.
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