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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Rastreio de cozinha - 5

O alginato é extraído de algas marrons do tipo Phaeophyceae e é usado pela indústria farmacêutica, por dentistas, protéticos e também no ramo têxtil. E, mais recentemente, passou a ser usado intensivamente pela indústria de alimentos: o alginato forma gel em temperatura ambiente, que é usado para aumentar a viscosidade dos sucos de frutas, dos sorvetes, dos recheios de tortas e das coberturas de bolos e ainda funciona como espessante em pudins e outros produtos congêneres, assim como é estabilizador de espuma em cervejas.

Exatamente por conta dessa propriedade estabilizadora, o aginato (ou ácido algínico) é de grande uso na técnica de "Esferificação" (formação de esferas), criada pelo chef catalão Ferran Adrià (dono do prato que estampa este post), que comanda o famoso el Bulli, em Barcelona.

Adrià criou a técnica de encapsular sucos, frutas e vegetais em bolhas que explodem ao serem tocadas pela língua do comensal. Isso é esferificação em gastronomia. No Brasil, é bastante difícil encontrar o alginato, assim como é impossível reproduzir as técnicas do badalado Adrià, que é químico de formação e, mais do que criar técnicas gastronômicas novas, inventa tecnologias caras e únicas. Além de não termos os mesmos ingredientes aqui no Brasil, também não temos ninguém disposto a bancar as tecnologias proibitivas de Adrià.

Ferran Adrià, Thomas Keller, Heston Blumenthal, Tetsuya Wakuda, Daniel Boulud, Pierre Hermé, Daniel Myers e Charlie Trotter são alguns dos nomes que ouviremos durante esse segundo ano da faculdade de gastronomia e, particularmente, na disciplina Cozinha Contemporânea, cujas aulas aconteceram nesta sexta-feira, 29, de ano bissexto.

O que é contemporâneo? Você deve se lembrar que estudou a Antiguidade, a Idade Média (ou Medieval), o Renascimento e a Idade Moderna. Ao tempo atual, em que você e eu vivemos, damos o nome de Idade Contemporânea. E contemporâneo é isso: o hoje, aqui e agora. Gastronomia é como a moda: efêmera, passageira. O que era novo ontem é antigo amanhã. E o passado sempre é revisitado em "releituras" modernas. O hoje da gastronomia é contemporâneo. Adrià é contemporâneo porque revolucionou a forma de fazer e apresentar a comida. Assim como a nouvelle cuisine foi, à sua época (anos 60), contemporânea, e hoje já é passado.

A disciplina de Cozinha Contemporânea abordará os seguintes temas: criação, vanguarda, fusão (fusion food), releitura, desconstrução, slow food (em oposição ao fast food, significa um retorno às origens, à comida com gosto e cara da comidinha da sua - e minha - mãe), confort food/orgânica, cook chill (cozinha industrial - catering, hospitalar, escolar) e food design (decoração de pratos).

Vamos fazer pratos exóticos como tartare de atum com pérolas de caviar (onde as pérolas são à base de sagu), ravióli com creme de caju, risoto de queijo coalho, salada caprese e uma série de outras produções que envolvem tudo o que descrevi no parágrafo anterior. Só para citar um exemplo, o quindim pode ser desconstruído e transformado em um sorvete de gemas com tuille de côco. Na desconstrução, todos os ingredientes do prato original devem ser preservados.

Volto à questão: o que é contemporâneo? É o que está na moda, mas, também é o rotineiro. Um prato pode ser bonito para mim e feio para você. Pode ser gostoso para você e horrível para mim. Isso nem é mais contemporâneo. É apenas do humano: a subjetividade. O que está na moda nem sempre representa a preferência da maior parte das pessoas. No entanto, indica tendências. E isso é contemporâneo.

Na cozinha contemporânea, o prato é uma tela em branco que terá que ser preenchido com textura, harmonia de cores e volume. Não é um carro alegórico, alertou a professora. Não deve ser um desfile de carnaval que você deve tirar as alegorias para poder comer. Se bem que há casos de uso de tapa-sexo de 4 cm que são somente vagas referências a qualquer tipo de alegoria. E, by the way, carnaval significa "festa da carne", logo, penso, é comida! Ou não? Ai, assim você me confunde! E já nem sei se sexo é contemporâneo. Faz tanto tempo. Acho que ficou na minha idade média.

Enfim. Trata-se aqui de comida, contemporânea, do dia-a-dia. De pratos que custam mais de R$ 5 mil no festejado The Fat Duck (Londres), 3 estrelas Michelin, do chef britânico Heston Blumenthal. Do catalão Ferran Adrià, que criou a cozinha molecular. Do brasileiro (e tatuado, hummm ...) Alex Atala, cujo D.O.M. resgata ingredientes da terra (sobretudo região Norte). Do querido Mestiço, de Ina de Abreu, que eu frequento quase desde a origem. Do Capim Santo, da chef Morena Leite. Do Carlota, da Carla Pernambuco. E muitos outros. Todos contemporâneos. Que fazem releituras, desconstruções, fusões, criações. Que são de vanguarda.

(Rasteje: Já comi esta sobremesa algumas vezes e a considero digna da ambrosia dos deuses do Olimpo: o suflê de goiabada com calda de catupiry do Carlota, que nada mais é do que uma recriação de Carla Pernambuco sobre o famoso Romeu & Julieta (queijo Minas e goiabada cascão). De lambuja para você se lambuzar, te passo a receita: Ingredientes: 1/2 quilo de goiabada; 8 claras batidas em neve; 1/2 xícara de requeijão; 2 xícaras de água; 1/2 xícara de catupiry; 1 xícara de creme de leite fresco. Preparo: dissolva a goiabada com a água quente até ficar com consistência pastosa e deixe esfriar. Bata as claras em neve. Misture a goiabada com as claras e, em fôrma própria para suflê, leve ao forno pré-aquecido moderado para dourar. Derreta o requeijão, o catupiry e o creme de leite em banho-maria. Deixe esfriar e sirva separadamente. Não sei se ficará tão bom quanto o da própria Carla. Tente ao menos. Se não conseguir, vá ao Carlota - em São Paulo, rua Sergipe, 753 - Higienópolis; no Rio de Janeiro, rua Dias Ferreira, 64 - lojas B e C - Leblon.)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Rastreio de cozinha - 4

Gift, em inglês, significa presente, dádiva. Gift, em alemão, significa veneno, peçonha. Daí que existe o conceito de dádiva-veneno. Aquele pelo qual você é "obrigado" a retribuir um presente porque alguém te deu algo. O veneno referido entra a partir do momento em que você recebeu um presente caro, acima de suas posses, porque a pessoa que o presenteou o fêz para mostrar poder econômico sobre você. Por isso, o veneno. Os alemães sabem muito bem dar significado às palavras.

E por que você diz "obrigado"? Porque você foi servido por alguém e tem que retribuir o gesto. Daí que você se sente "obrigado" a dizer obrigado. Tudo isso parece filosofia de quem viaja em temperos exóticos das Índias. Mas, calma, não é isso. Nós, aprendizes de gastronomia, prestaremos serviços a outras pessoas na condição (oxalá) de chef. Como tais, serviremos a outras pessoas e teremos que, em algum momento, agradecê-las por desejarem - e pagarem por - nossos pratos. Nesse momento em que sirvo o outro, assumo uma postura de serviçal. Ainda que eu não goste da outra pessoa (seja por qual motivo for), eu estou, no nível da prestação de serviços, abaixo do outro que é servido, goste ou não da posição subalterna. Nem percebemos que no dia-a-dia isso ocorre constantemente. Mas, é assim.

Serviço vem de servir e servir denota um degrau hierárquico entre quem serve e quem é servido. A pessoa que é servida me paga (pelo menos aqui, neste contexto) e eu, por alguns momentos, no registro da relação entre dois humanos, me submeto ao outro.

É claro que há inúmeras maneiras de servir. "Eu te sirvo", pode significar que eu sou o seu tamanho, de uma forma pejorativa, digamos, sexual. De uso do corpo. Ficaria mais ou menos assim: "Te servir-me-hei!". Parece pomposo, mas, garanto que você entendeu direitinho. Posto isso, fica claro que, na vida, sempre estamos a serviço de alguém ou prontos para sermos servidos por alguém. E seja qual for a posição, de serviçal ou servido, suserano ou vassalo, o que importa é o conjunto da relação, e não quem é o macho alfa ou o macho ômega desse serviço todo (claro que falo da natureza humana e, portanto, pode bem ser fêmea alfa e fêmea ômega ou, ainda, fêmea alfa e macho ômega etc. etc.).

No entanto, estou aqui a elaborar digressões complicadíssimas para simplesmente reportar as minhas aulas desta quinta-feira, dia 28. Você pode pensar que além de gastronomia, debatemos longos ensaios filosóficos como se atenienses nós fossemos. Não é bem assim. As disciplinas deste quarto dia de aula foram duas: Projeto Interdisciplinar, que, desde o ano passado, é a disciplina responsável por nos orientar para a preparação do famigerado TCC (Trabalho de Conclusão de Curso); e Geografia Aplicada à Gastronomia, de onde veio toda a idéia para o texto acima.

O tema do post me surgiu ainda durante a aula (foram as duas últimas), quando o professor de Geografia Aplicada à Gastronomia explicou o conceito de ciclo da dádiva, pelo qual você se sente obrigado a retribuir um presente quando ganha algo e que gera todo o comportamento sócio-hierárquico que eu descrevi acima. Puxei pelo assunto quando o professor disse que presente em inglês era veneno em alemão. Tudo isso para nos ensinar que o nosso futuro trabalho consiste em, tão somente, servir. Prometo dar atendimento de primeira quando (e se) for chef. Por enquanto, aguardo atendimento (de inúmeras maneiras). Não, não é equívoco: o "dar atendimento" é proposital e, a bom comedor, meia torrada fala por uma baguete inteira.

Mas, por que a geografia se intromete com a gastronomia? Porque jornalistas burros como eu (foi o professor que o disse, sem saber que sou jornalista) continuam a falar de restaurantes mediterrâneos como se todos o fossem. Não, não é apenas a gastronomia espanhola que é mediterrânea. A Normandia, na França, também pode ser. O Mar Mediterrâneo é extenso o suficiente para abarcar um grande número de regiões e a definição de cozinha mediterrânea não cabe num só caldeirão para onde se jogam todos os peixes e frutos do mar. Burro devo ser mesmo porque, se tivesse que escrever sobre a cozinha mediterrânea, me limitaria a pensar logo em azeite, peixe, frutos do mar e Barcelona.

Por isso, teremos geografia. Que explicará porque determinadas regiões do globo produzem o melhor grão de café do mundo. Que ensinará porque o sorvete é mais consumido em países de clima frio. Que, creio, tentará nos fazer entender porque há bacalhau nos mares gelados e não aqui. E porque as trufas somente nascem na Europa. É tanto porque que o mapa-múndi deve ficar coalhado de interrogações antes mesmo que nossos estômagos zunam feito asnos desembestados diante das maravilhas gastronômicas que as diferentes geografias são capazes de produzir.

Agora, o TCC, nem falarei mais disso por ora. É tão chato quanto deve ter sido o seu próprio projeto, qualquer que tenha sido a faculdade. É obrigatório, conforme as normas do Ministério da Educação. Portanto, sim, teremos banca de avaliação. E o TCC? Ah! O TCC caminha a passos gastos de tartaruga velha desde o ano passado. No decorrer do ano, tenho certeza que xingarei o TCC inúmeras vezes.

Ao contrário dos dias subsquentes, a gastronomia parece, neste relato, mais deslocada do que uma asa de frango revirada pelo avesso. Calma! A geografia é tão importante para a gastronomia quanto o é para as demais áreas. Ou, então, não teríamos o caviar do Irã, o jamon da Espanha, a pasta da Itália, todas as especiarias da Índia e por aí vai. Quanto ao TCC, humpf!

(Rasteje: Se você leu o post de ontem (e se não leu, faça-o, agora!), te contarei que, no final, o vermelho prevaleceu sobre o verde. Me afundei, sim, no pote de geléia de pimenta vermelha. Agora, para você ficar com água na boca: compre um pote de geléia de pimenta vermelha (marca boa, por favor), compre o legítimo Catupiry (da marca Catupiry porque o resto é imitação) e torradas leves e crocantes. Sirva para seus amigos como se fossem canapés. O modo de servir ideal é dispor o queijo inteiro num prato, a geléia numa compoteira e as torradas numa bandeja. Não sobra nada e vai bem com bebidas as mais diversas (de chá a destilados). Você não imagina o quanto vai bem a combinação apimentada da geléia com a cremosidade do Catupiry e a crocância da torrada. Experimente!)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Rastreio de cozinha - 3

O foie gras (pronuncia-se "fuá-grá") é o fígado de pato ou ganso que foi super-alimentado. O foie gras está no topo da cozinha francesa, assim como as trufas. Ambos são os pratos mais raros e caros. O foie gras tem consistência amanteigada e sabor mais suave do que o fígado normal de pato ou ganso. Tive hoje, no terceiro dia, a primeira das 80 aulas de Cozinha Ocidental Internacional. O foie gras faz parte dessa cozinha.

Mas, na minha faculdade, foie gras não entra. É um parodoxo? Para mim, sim. No entanto, para os proprietários da faculdade, o método de obtenção do foie gras é considerado cruel. E não teremos pratos com foie gras, o que é uma grande contradição numa faculdade de gastronomia. Sorry, mas, para ser gastrônomo, não há que se ter pudores de espécie alguma.

Contudo, sou flexível (às vezes, quase nunca) para dar a você o livre arbítrio sobre o foie gras. Aqui, um vídeo do Peta, que é uma das organizações de direitos dos animais que considera cruel o procedimento de produção do foie gras. E aqui, um site que considera muitas produções gastronômicas cruéis. Cada cabeça, uma sentença. Que, embora eu assuma papel de ditador, ainda não descobri uma forma de dominar todos os cérebros humanos que andam ocultos sob os cabelos dos seres sobre a face da terra.

Bem, a matéria Cozinha Ocidental Internacional terá de 360 a 400 produções (chamamos de produções, e não pratos, tudo o que fazemos na cozinha). E a disciplina abrangerá os seguintes países/regiões: México, França, Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Países Nórdicos (Finlândia, Suécia, Dinamarca e Noruega), Líbano, Grécia e países do norte da África (Marrocos, Tunísia e Argélia). Não sei se você reparou, mas, ficaram de fora a América Latina (o Brasil tem disciplina própria), EUA e Canadá. É porque, talvez à exceção do Peru, a cozinha latino-americana não tem grandes tradições. EUA e Canadá, então, não têm nada a acrescentar senão obesidade.

A disciplina consta de muita informação e prática, o que deve nos enriquecer, no mínimo, a barriga. Como Baco, nos afundaremos em tonéis de vinho (somente no conhecimento, não no líquido, o que é uma pena). Aprenderemos sobre embutidos, embora o termo seja feio porque a mim me faz recordar os repórteres no início da guerra do Iraque - embedded war - que iam embutidos com os soldados norte-americanos para o front. E nos fartaremos de queijos, notadamente os franceses.

O detalhe é que estudaremos tudo isso teoricamente porque, na prática, não nos cabe exatamente degustar cada uma dessas maravilhas. Ou você acredita mesmo que uma faculdade brasileira importará vinhos, queijos e embutidos para um bando de morto de fome? Para nós, somente produtos nacionais. Sem marcas. Sem pedigree e longe de ser terroir (já expliquei o termo e não voltarei a fazê-lo). Acabei de reparar que se eu fosse professor, seria dos mais cruéis. E não é que gostei da sensação?

Relaciono a seguir algumas produções para te dar água (e somente água) na boca e um imenso vazio no seu estômago se você estiver, como eu, sem comer (assim que concluir o texto, tomarei a geladeira de assalto e ficarei na dúvida entre a folhinha de alface que flutua no bowl e um pote de geléia de pimenta que é mais vermelho que a maçã de Eva). Entre o verde e o vermelho, te dou um dado para você descobrir por qual delas os sinos do meu estômago dobram.

Às produções, pois (são só alguns exemplos do que faremos nas aulas): farritas, chilli com carne, ropa vieja e arroz mexicano (México); cassoluet, scargot, costeletas de cordeiro, papillote, galinha de Angola, namorado rôti (França); risoto à milanesa, costela de vitela, polenta, pesto genovese, ossobuco da Toscana, trilha, cordeiro, atum fresco, lula, lentilha de Castelluccio (Itália); fava das Astúrias, cervo ao açafrão, paella valenciana, arroz com crosta (Espanha); ensopado de cordeiro, bacalhoada, estufado de lula, lombo de porco com mexilhões (Portugal); lentilhas grisadas, carne agridoce, couve com Pinkel (Alemanha); omelete de salsicha, salmão defumado com camarão, torta de peixe (Países Nórdicos); kibe, kafta, homus, arroz com aletria (Líbano); moussaka, caçarola de atum, cozido de vitela (Grécia); frango com ameixa, mel e canela, lentilhas com cuzcuz marroquino, cordeiro com damasco (norte da África). E chega porque estou amarelo de fome e roxo de vontade de fazer um assado inteiro só para mim.

(Rastreie: para acessar o reino das cozinhas, uma das melhores introduções ao assunto é a bíblia da cozinha clássica francesa, o "Le Cordon Bleu: Todas as Técnicas Culinárias", de Jeni Wright, editora Marco Zero, 352 páginas, R$ 187,00.)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Rastreio de cozinha - 2


Terça-feira, 26 de fevereiro de 2008. Segundo dia de aula. Segundo ano. Segundos. Tudo é uma questão de segundos, às vezes, não? Hoje, saí mais cedo de casa e tive a sorte de embarcar mais rápido. Na estação Paraíso do metrô, havia pessoas demais para trens de menos, como é usual. Tive sorte, como a tiveram os meus colegas de estação. Chegou um trem vazio. Sempre que chega um trem vazio no Paraíso, as pessoas comemoram. Sempre. É engraçado. Celebram o fato como se, com o trem, viesse junto um pedacinho de paraíso. Como se o direito de ir e vir, assegurado teoricamente, fosse uma benesse. Simultaneamente, acho cômico e triste.

Cheguei cedo. Deu tempo para um café. Para um cigarro. É a primeira semana. Não há stress, apenas reencontros. Novos rostos do primeiro ano. Novos professores. As apresentações prosseguem.

Hoje, minhas aulas foram de Panificação. Serão alternadas, quinzenalmente, com as aulas de Confeitaria. Aprenderemos 30 tipos de pães. Serão 40 horas de prática. Primeira coisa importante a saber sobre o pão: não sove a massa. Há três métodos para fazer a massa e a sova não está entre essas maneiras. Não se acabe e aos seus braços num boxe desenfreado com a massa. Isso realmente não é necessário.

O pão é o segundo alimento mais consumido em todo o mundo. O primeiro é o arroz. No Brasil, a panificação é considerada um segmento menos nobre da gastronomia. Não há tradição de panificação. Não como na Alemanha, onde cada padaria tem mais de 50 tipos de pães. Tipos mesmo: diferentes massas, recheios, sabores. No Brasil, em média, as padarias oferecem 15 diferentes formatos. Note o detalhe: formatos, não tipos. As massas brasileiras - doce, salgada e semi-doce - são as mesmas para todos os pães. Na Hungria, outro país com tradição em panificação, também há uma infinidade de tipos de pães, inclusive com diferentes grãos de trigo.

Aqui, as farinhas de trigo são quase que todas iguais, seja Dona Benta, Renata, Sol, Anaconda, Lili e outras. Essas "mulheres" de trigo não têm qualidade. São quase, quase ... vagabundas. Aprendemos, habitualmente, a fazer pão com pré-misturas industriais. Não conhecemos o trigo, puro. A branca farinha de trigo, sem fermento, sem mistura. Como deveria ser uma outra, cujo comércio se dá de forma obscura e ilegal e, portanto, sem fiscalização e, por isso, sem qualidade.

O pão tem registro histórico que retrocede a 6 mil anos. É um alimento cultural, com apelo religioso. Na religião católica, a hóstia é o pão estilizado. Pão que significa alimento espiritual. Na I Guerra Mundial, o embate entre o Império Austro-Húngaro e o Império Turco-Otomano gerou a dissolução de ambos. Para formalizar a queda dos impérios e o início de uma nova Europa, os europeus quiseram celebrar a paz com o croissant. Como se sabe, o croissant tem a forma de uma meia-lua. Esse formato é símbolo do Islã. Os países europeus tiveram que pedir autorização para a Igreja Católica para sacramentar o croissant como símbolo do final da guerra.

Agora, pasme! O pão francês, assim como a pipoca de ontem, é um produto genuinamente brasileiro. Não existe em nenhum outro lugar a não ser aqui, neste país que você e eu chamamos de nosso. O pãozinho francês surgiu há cerca de 90 anos no Brasil pelas mãos de um brasileiro que, em viagem à França, quis reproduzir aqui o baguete daquele país. O mais próximo que chegou do baguete foi o pão francês. E assim permaneceu até hoje. O baguete é mais crocante do que o pão francês e também tem outro tipo de miolo. O pãozinho francês caiu no gosto popular.

Pasme de novo: o pão de queijo não é considerado pão. É um prato. Não há classificação, em panificação, para o pão de queijo. Também não existe uma fórmula única, registrada e guardada no imenso arquivo de comida típica (que nós, no Brasil, somente agora começamos a registrar como patrimônio histórico). O pão de queijo é feito pelas padarias no Brasil porque há demanda. Mas, que não é pão, não é! E a sua receita de pão de queijo é tão válida quanto a minha. É como a pasta e o molho de tomate dos italianos: cada um tem a sua, que é considerada melhor do que a da família vizinha.

Nós aprenderemos a fazer pão francês, o não-pão de queijo e outras variedades (não tipos, como na Alemanha e Hungria). Porque no Brasil há falta de mão-de-obra de padeiros. Há demanda e não há profissionais. Ninguém mais quer fazer pão. Os pães que você (e eu) compra na padaria são semi-industriais: é só ligar o botão da máquina misturadora, temporizar o forno e pronto! Lá está o pãozinho francês. Ninguém mais sabe como fazer um pão. Você já fez? Não aqueles de massa pronta. Mas, o processo inteiro, com fermento, com tempo de descanso. A tempo de ver a massa crescer. Com ou sem a bolinha que flutuará no copo d'água (sabe do que falo?).

No início, o pão não levava fermento. Era só farinha, água e sal. Como os pães árabes (dos filmes iranianos) e judaicos e outros, mais sofisticados, da Itália. Por acidente (e sempre é assim que acontece), descobriu-se que, se a massa ficasse reservada por um determinado espaço de tempo, ocorria o processo de fermentação (microbacilos vivos, lembre-se do Yakult). E descobriram que o pão ficava, assim, mais macio. Ah! Antes que eu me esqueça: a sova. Não bata ou surre a massa como se fosse uma pessoa objeto de seu ódio ou se você fosse um(a) Menino(a) de Ouro. Os métodos apropriados são: rasgação (da massa; não é de seda e tampouco da pouca roupa que restou naquele momento mais primitivo), fermentação e esponja. Explicarei cada um deles à medida que aprendê-los.

Aliás, o fermento deve ser conservado sob refrigeração. Nunca, eu disse nunca, congele o fermento. Se você o fizer, quando descongelar, o ingrediente derrete. Como disse o professor, não é como as pessoas. Aquelas, que você "dá um gelo" por um tempo e depois as reaquece (ou congela de vez, depende). Essas pessoas, congeladas, quando reanimadas, não derretem, (in)felizmente.

(Rastreie: para viajar na massa - e não na maionese -, você pode ler dois livros: "Seis Mil anos de Pão - A Civilização Humana Através de Seu Próprio Alimento", de Heinrich Eduard Jacob, editora Nova Alexandria, 581 páginas, R$ 68,00, e "Pão Arte e Ciência", de Sandra Canella-Rawls, da editora Senac, 320 páginas, R$ 47,00.)

Prêmio de melhor conteúdo


Caro Horseman: aos leoninos, nada lhes é mais agradável do que fama, grana e glória (isso foi dito de outra forma, mas, para o contexto aqui, fica assim mesmo). Você, leonino como eu, entende que a juba se arrepia a cada sinal de reconhecimento. Para o bem ou para o mal, somos assim, intrinsecamente leoninos.

Bem, depois dessa lavação de juba, vamos ao que interessa. Primeiro, Horse, obrigado por me indicar ao prêmio. Isso sempre faz bem para o ego, que já não é pequeno. O prêmio foi idealizado pelo blog Trankera e consiste em presentear com R$ 100 o blog de melhor conteúdo mais votado pelos visitantes. Então, sugiro aos meus leitores que votem em mim. Quer dizer, sugerir é pouco. Votem e pronto!

Como regra, tenho que indicar mais três blogs. Se você ficou de fora, cada um com seus problemas (de maneira usual, é o meu jeito de dizer que não posso abranger a todos, enfim). Os meus três indicados são:

- Para Que No Me Olvides, da Cláudia Ferrari
- Quintessencia, da cara Lila Liss
- Repórter Net, do João Magalhães

As regras desse meme, a serem seguidas pelos indicados, são:

1. Fazer um post para divulgar o meme;
2. Indicar no post três blogs que você avalia que têm o melhor conteúdo no Brasil (olha o ego inflado);
3. Fazer um link de participação do prêmio que aponte para o
post do Trankera que deu início ao meme.

Feito isso, é cruzar os dedos e, de novo, que nunca é demais, votar em mim, lógico. Valeu, Horse!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Rastreio de cozinha - 1



Hoje, 25 de fevereiro de 2008, foi o meu primeiro dia de aula do segundo ano do curso de tecnólogo em gastronomia, mais conhecido como chef de cozinha. Por ora, sou aprendiz (kitchen trailing ou rastreio de cozinha, que é a expressão que designa o novato que segue o chef para aprender seu método). Inauguro, com este post, os diários de gastronomia desse ano que, convertido à tabela periódica própria das universidades, se resume a apenas oito meses: de hoje, 25/02 a 27/06, quando se encerra o primeiro semestre. Depois, tudo começa no dia 28/07 (meu aniversário, não vai esquecer!) e acaba no final de novembro. São exatos oito meses pelos quais pagamos 12 meses.

A minha mensalidade custa R$ 746,00 e deve ser paga todo dia 15 de cada mês sob pena de, a ser paga em dias subsequentes, custar R$ 773,00 (até o dia 20), R$ 816,00 (até o dia 25) e R$ 924,00 (até o dia 30). Como você vê, nada é barato. Além da mensalidade, nós temos que comprar o uniforme (dólmã, calça comprida preta, avental, bandana e sapatos - mais ou menos entre R$ 200,00 e R$ 250,00).

Há também uma série de equipamentos dos quais você não pode prescindir. São obrigatórios: a tábua, que deve ser de polietileno (as de madeiras foram proibidas nas cozinhas profissionais pela Anvisa, que regula e fiscaliza o setor); as facas (de três a doze; mas, você deve ter, pelo menos, a faca do chef, com lâmina entre 8 cm e 16 cm); pedra de amolar; chaira; descascador de legumes; fouet; bowls; etc. etc. Isso é apenas o básico. Para completar, há as apostilas, intermináveis (desde a minha faculdade de jornalismo, o comércio das cópias xerox nas universidades experimenta uma expansão digna de qualquer outro segmento do mercado). Por fim, para leitores fanáticos como eu, há os livros. Prateleiras inteiras, de receitas do mundo todo, de histórias fantásticas. Páginas e páginas a serem devoradas junto com a comida aprendida. Estômago e cérebro em comunhão de alimento.

A faculdade de gastronomia não é barata. É curta, são apenas dois anos. É cansativa - das 18:40 horas às 23:oo horas, todos os dias. Temos, em geral, quatro aulas diárias da mesma matéria, com intervalo de 15 minutos. Quando a aula é prática (e 90% são aulas práticas), não temos intervalo. É bancada, fogão, pia, geladeira, forno. Sem parar. Sem pensar.

Hoje, meu primeiro dia do segundo ano, tive aula de Cozinha Brasileira. Foi introdutória e, portanto, teórica. Com as informações burocráticas: objetivos da disciplina, datas das provas (temos duas, uma prática e outra teórica), apresentação da classe e do(a) professor(a) e o que se espera passar com a matéria.

A abordagem foi interessante porque questiona como se define a cozinha brasileira. É o arroz, o feijão, a salada e o bife? A cozinha brasileira são muitas: indígena, portuguesa e africana na origem. Depois, esse caldeirão que é São Paulo, com cinquenta diferentes tipos de cozinhas. E mais as confluências regionais. E mais o intercâmbio internacional. A cultura gastronômica é rica, bela, não cessa nunca de evoluir.

Na aula de hoje, assistimos a um pedaço do filme "O Povo Brasileiro", baseado na obra homônima de Darcy Ribeiro. Gostei do que vi e pretendo ver o filme inteiro mais à frente. Em "Cozinha Brasileira", aprenderemos a culinária regional, delimitada, entre outras, por fatores como os biomas (no Brasil, temos seis: Amazônia, cerrado, caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e os pampas). Aprenderemos as técnicas das cozinhas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, do Espírito Santo, do Rio Grande do Sul, de Goiás. No início. Depois, iremos ao Nordeste (sertão e litoral, separadamente).

Lidaremos com o conceito de "terroir". Você sabe o que é terroir? É o produto da terra, especificamente daquela terra delimitada geograficamente. É o caso de determinadas uvas e queijos na França, de azeitonas e azeites na Espanha. No Brasil, terroir pode ser aquilo que se cultiva em qualquer canto do País. Mas, é, sobretudo, um produto de qualidade reconhecida cuja fama vem exatamente daquela determinada região. Não sei se posso aplicar o conceito, mas, eu diria, por exemplo, que o queijo Minas é terroir de Minas Gerais e que o pão de queijo também o é. Aliás, algum leitor porventura conhece a origem do queijo Minas e do pão de queijo?

Para ilustrar este post, usei a pipoca. Você sabia que a pipoca é um produto genuinamente nacional? Que já estava aqui, antes dos portugueses, natural desta terra brasilis? Eu soube disso o ano passado. Daqui foi exportada para o mundo. Até então, o mundo não conhecia a pipoca. É nossa, indígena, primitivamente nossa.

A seção "Rastreio de Cozinha" vem, finalmente, fazer jus ao nome do blog (nome de raiz, URL, porque o nome fantasia segue como "Por uma Second Life menos ordinária"). Sim, com atraso de um ano. Mas, há um ano, eu não sabia que teria um blog. Há um ano eu comecei a gastronomia. Quero compartilhar a experiência do dia-a-dia de uma faculdade de gastronomia. Pretendo fazer isso de forma constante. Vamos ver se dou conta.

Como primeiro dia de aula, gostei de ter começado com a cozinha brasileira. Rica, diversa, com influências mundiais. Que, plasticamente, confunde-se com o rugido interminável de São Paulo. No ano passado, no primeiro mês de faculdade, eu me alternei entre o carro, o ônibus e o metrô para ir à faculdade. Eu moro na região da Avenida Paulista. A faculdade está na região Oeste, em Santa Cecília. Não é longe. Mas, às 18 horas, tudo é irremediavelmente intransponível em São Paulo. De carro, fico parado e ainda tenho que pagar estacionamento. De ônibus, a espera no ponto pode chegar a 30 minutos, o que é altamente perigoso para a pele e o coração. O melhor meio para mim foi o metrô: são três linhas - Paulista, Tucuruvi e Santa Cecília. Hoje, às 18:05 horas, havia fila para comprar o bilhete, para embarcar nas catracas, para tomar o trem (esperei pelo quarto trem no Paraíso) e, para contrariar a lei da física, vários corpos ocuparam o mesmo espaço ao mesmo tempo, num entrelaçamento de pernas, braços, ombros, cabelos e cheiros que se interpõem uns aos outros sem pedir licença, numa não-deliberada promiscuidade de seres humanos. Tive a impressão que o metrô piorou ainda mais desde novembro do ano passado, quando terminei o primeiro ano. Mas, isso são só pequenos percalços.

A vastidão deste post se deve ao fato de ser inaugural. Pretendia fazer apenas um breve relato, mas, não me contive. Às impressões diárias, quero somar e tentar transmitir o gosto da comida, o prazer de cozinhar. Afinal, creio que a comida (e bebida, claro) ocupa um lugar nobre (compulsório ou não) à mesa de cada um. Convido você, leitor(a), para me acompanhar nessa jornada.

(Rastreie: para saber mais sobre a história da cozinha brasileira, há uma ótima introdução ao assunto. É o livro "A História da Alimentação no Brasil", de Luís da Câmara Cascudo - editora Global, 960 páginas, R$ 98,00. Recomendo.)

Idéias para posts

Recebi do amigo Oscar Luiz, do By Oscar Luiz, o Meme das Idéias para os Posts. Antes, agradeço ao amigo pela deferência. O meme quer saber de onde vêem as idéias para os posts nossos de cada dia.

A minha inspiração vem de todos os lados: minha própria vida, com acontecimentos que geram explosões no formato de postagens; das minhas leituras que, de repente, abrem novos mundos a cada dia; dos acontecimentos em geral; do meu próprio trabalho; da minha condição de jornalista; da minha futura condição de chef de cozinha (cruze os dedos e torça porque hoje, 25, começa o segundo e último ano da minha faculdade).

O blog foi criado originalmente para ser um diário pessoal. Mas, acho que esse conceito é muito acabrunhado para comportar a vastidão de idéias que orientam cada blog. Nada é mais pessoal ou particular a partir do momento em que é publicado na internet e se torna acessível a um público potencial de milhões de pessoas.

A despeito de eu não ser um blog com uma audiência que bomba neste mundo virtual (meu público, pode acreditar, é bem pequeno e foge no sábado e no domingo; devo admitir que são os amigos com os quais eu convivo e que, por estarem comigo justamente no sábado e no domingo, não acessam o blog; logo, eu mesmo saboto a minha audiência), não desprezo nem um pouco o fato de que há quem me leia e me veja por inteiro nos meus textos. Às vezes, carrego nas tintas, sim. Mas, nunca me arrependi de postar algo. Tampouco excluí qualquer post ou comentário.

Assim, minha inspiração vem sobretudo do gosto de escrever. Ainda que eu reclame de produzir textos em larga escala profissionalmente, nada me dá mais prazer do que escrever aqui. Não sei se é válida a afirmação de que todo jornalista é um escritor frustrado. Essa frustração eu não a tenho. Sim, desejo escrever livros, não um apenas. Mas, isso não me consome. Como José Saramago, quando me der na telha, sentarei e despejarei no teclado de uma só vez o que tanto me aflige. Liberarei palavras como se distribuem carícias ou tapas em um relacionamento (calma, é só uma figura de linguagem). Enquanto isso não ocorre, escrevo aqui, no blog, em pleno exercício de profissão e de fé.

A proposta de um meme contém, sempre, o repasse para outros blogs para que o meme seja meme. Com o que eu repasso e pergunto para a Mara, para a Amèlie e para a K. de onde vêem suas idéias para as postagens de seus blogs.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Meu rugido dominical

Povo afável, hospitaleiro, alegre e festivo. Somos nós. Índios, em 1500, recebemos os portugueses, nus, abertos, sem resistência. Fizemos o escambo de um país inteiro por miçangas e espelhinhos. Fomos domados. A nós, índios e portugueses, juntaram à força os africanos. Amálgama de um triste trópico, na definição de Claude Lévi-Strauss, somos, finalmente, uma nação, miscigenada. Se o sertanejo é, antes de tudo, um forte, afirmo que o brasileiro é, sobretudo, um parvo.

Pronto para receber, dar atendimento, abrir-se em sorrisos convidativos, promessas eróticas que, aos estrangeiros, lhes soam luxuriantes como as florestas tropicais, com sons de uirapurus e mistérios carnais que, desnudos desde o princípio, nunca deixamos de parecer, ao visitante, uma promessa de concretização do Eldorado na terra.

Não conheço, absolutamente, a política brasileira de tratamento aos estrangeiros. Exceto por um caso ou outro que vem à tona, creio que o Brasil recebe, formal ou clandestinamente, bem os milhões de estrangeiros que nos visitam ano a ano. Também não sei de números de vistos negados a estrangeiros e extradições feitas em solos aeroportuários brasileiros.

O que sei é que somos um dos povos mais rejeitados na Europa e nos EUA. Dois dados recentes comprovam isso. No ano passado, a Espanha foi o país que mais deportou brasileiros, seguida pelos EUA e Inglaterra. Fomos deportados, repatriados e expulsos. A Espanha mandou de volta para casa 192 brasileiros. Em muitos casos, os critérios são subjetivos. Em 2006, a Espanha deportou 187 pessoas. Mas, o país alega que caiu o número total de brasileiros barrados no exterior, de 2.483 em 2006 para 1.217 no ano passado.

Outro dado, deste domingo, mostra que o Reino Unido também é refratário e até mesmo hostil aos brasileiros. Gente! Eu sempre critiquei o fato da Inglaterra ter carregado divisas absurdas de ouro do Brasil, quando a Coroa aqui estava. A Inglaterra sugou as minas de ouro para realizar a sua Revolução Industrial às custas da colônia portuguesa. Pois bem! Atualmente, o Brasil é o país que mais tem passageiros com entrada recusada pelo Reino Unido. De 2004 a 2006, foram 15.360 pessoas rejeitadas pelo processo de imigração britânico, o equivalente a 15,6% de todas as remoções realizadas pelo país no período.

No mesmo período, o número de brasileiros que viajou ao Reino Unido se aproximou de 500 mil pessoas. Apenas em 2006, 4.985 brasileiros foram repatriados e voltaram do desembarque britânico. Esse número significa quase a metade das repatriações de toda a América Latina. A Argentina, por exemplo, teve apenas 135 cidadãos com entrada recusada, só 0,2% das mais de 49 mil pessoas do país que viajaram ao Reino Unido. E olha que a Argentina enfrentou a Inglaterra na Guerra das Malvinas. Ao que parece, o Reino Unido não guarda rancor.

Eu considero que o fato é tão grave que o Brasil, País pacífico, sem guerra e sem terrorismo, teve mais do que o dobro de cidadãos recusados na comparação com o Paquistão, que vive em latente guerra com a Índia (ex-colônia britânica) pela posse da região da Cashemira e sempre ameaça o mundo com supostas bombas nucleares. Enquanto fomos quase 5 mil rejeitados em 2006, apenas 2.035 paquistaneses foram obrigados a voltar para seu país. Do Irã, apenas 1.070 pessoas tiveram suas entradas recusadas em 2006 e Israel, apenas 430 pessoas.

Sei que nas madrugadas de neblina e frio no aeroporto internacional de Cumbica, Guarulhos, há várias aterrisagens de aviões que chegam com os deportados de todo o mundo. O horário camufla o tratamento indigno que países como a Espanha, os EUA e a Inglaterra dão a nós, brasileiros. Somos hostilizados, ficamos entre três e cinco dias em salas pequenas, ao lado de cidadãos de países considerados de alto risco, como se fôssemos criminosos prontos a detonar artefatos em estações de metrô européias e arranha-céus em solo norte-americano.

Ora! Eu mesmo já fui ao consulado norte-americano para obter meu visto de trabalho duas vezes e, nas duas ocasiões, tudo se traduziu em um bilhete de loteria. Você nunca sabe se será aprovado ou não porque não há lógica nenhuma no processo. Na Europa, entrei em uma ocasião por Lisboa. Trataram-nos como se fôssemos uma horda de bárbaros. Vocês se recordam quando Portugal deu início àquela política de repatriação de brasileiros em massa? Vá ao Nordeste e veja a quantidade de portugueses que dominam as pousadas das grandes cidades litorâneas. Sem falar nos vôos charter que despejam alemães, holandeses, franceses e outros aos montes, em busca do turismo sexual.

Sim, concordo que há uma emigração de brasileiros em busca de oportunidades para os EUA e Europa. Que muitos, que conheço, estão lá ilegalmente. Que fogem de qualquer proximidade da lei porque podem voltar apenas com a roupa do corpo. Que há muita prostituição envolvida. Que o sonho dos travestis brasileiros é fazer a Via Apia na Itália.

Mas, depois que a Comunidade Européia abarcou os países do leste, a impressão que eu tenho é que principalmente a Espanha resolveu fechar as portas ao Brasil. O engraçado é que a Espanha só perde em investimentos no Brasil para os EUA. Aqui, o país ganha na área financeira, de telecomunicações, de infra-estrutura básica e em uma série de segmentos. E envia as divisas para a Europa. Podem ganhar dinheiro conosco, mas, não nos aceitam como visitantes de sua querida terra.

Sou descendente de terceira geração de espanhóis. Já estive na Espanha. Não sou nacionalista e tampouco defendo muros burocráticos que impeçam a entrada de estrangeiros em solo tão pretensamente gentil como o nosso. Só que há de se ter correspondência. Tratamento equitativo. Na maior parte das vezes, as recusas de entrada dos brasileiros em terra estrangeira não têm base nenhuma. Ainda que você prove que tem passagem de volta, hotel e dinheiro e que está a trabalho, a alfândega é inflexível. Joga você para uma sala, para que você se sinta preso, isolado. E envia você de volta, à custa de humilhação.

Os consulados brasileiros desses países nunca respondem porque agem assim. Esquivam-se. Cuidam que somos colônias, às quais são negados direitos básicos. Deixo aqui registrado meu protesto de repúdio a esse tratamento. Nunca tive o acesso negado a outro país. Contudo, me solidarizo com as pessoas que foram humilhadas e expostas a constrangimentos porque o oficial europeu ou norte-americano resolveu usar o carimbo "negado" no passaporte do brasileiro. Para marcar como uma tatuagem que somos, afinal, personas non grata, e não os pelados desejados que o arquétipo o fazia crer.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

A internet em três tempos



Três recortes distintos sobre a internet mostram como o mundo virtual é rico em mutações que se adequam conforme a condição de cada um.

No Japão, a Agência Aeroespacial de Prospecção do Japão (Jaxa) lançou neste sábado o foguete espacial que transporta o satélite da internet de alta velocidade, o "Kizuna". O satélite "Kizuna" tem como objetivo melhorar a comunicação de alta velocidade e alta capacidade em locais de difícil acesso à internet, como as regiões montanhosas e ilhas remotas nas quais a construção de infra-estrutura de acesso à internet é complexa. Isso porque a extensão do Japão é de apenas 378 mil m2 (ante os mais de 8,5 milhões do Brasil).

No outro extremo, a Folha de S.Paulo traz uma matéria sobre as conexões de alta velocidade clandestinas, chamadas "gato velox". O Velox é o nome comercial do serviço de banda larga vendido pela Oi (como o Speedy, da Telefônica, e o Vírtua, da NET). O "gato velox" custa até R$ 30. Pela operadora, o Velox sai a R$ 34,90 (planos de 1 Mbps e 2 Mbps), sem a assinatura do provedor.

A conexão clandestina acontece principalmente no subúrbio do Rio de Janeiro e cidades da Grande Rio, regiões para as quais a Oi não oferece internet de alta velocidade. Um dos "gatos" oferece três planos: de R$ 30 (150 kBps), R$ 60 (300 kBps) e R$ 110 (600 kBps). A atividade clandestina, em alguns casos, é feita por milícias, assim como ocorre com o "gatonet" (TV a cabo clandestina).

Para finalizar, o Ibope/NetRatings anunciou esta semana que somos, internautas do Brasil, 21,1 milhões de usuários residenciais ativos, crescimento de 50% em relação aos 14 milhões de janeiro do ano passado. É o maior crescimento entre os dez países medidos com a metodologia Nielsen/NetRatings, segundo a qual os EUA foram o país que mais se aproximou do Brasil, com adição de 4 milhões, enquanto a França teve 3,2 milhões de novos usuários no mesmo período.

Segundo o Ibope, desde 2005, o número mensal de internautas praticamente dobrou, ao evoluir de 10,7 milhões em janeiro de 2005 para 12 milhões em janeiro de 2006, para 14 milhões em janeiro de 2007 e para mais de 21 milhões em janeiro deste ano.

O indicador de tempo médio de navegação continua com a liderança brasileira, com 23 horas e 12 minutos por pessoa em janeiro. A França veio em seguida, com 21 horas e 38 minutos, seguida pelos EUA, com 20 horas e 39 minutos, e Austrália, com 19 horas e 13 minutos.

No meu caso, devo dizer que a minha conexão é banda larga, Vírtua de 2 Mbps, e que, no geral, fico conectado até umas 16 horas por dia. Acontece muitas vezes de eu ir para a rua e a conexão ficar ligada porque acho que dá muito trabalho ligar e desligar o computador toda vez que se vai ao banco ou à padaria. Gostaria de saber o que nós fazemos com todo esse tempo de conexão, além de xeretar nos blogs alheios, trabalhar por e-mail e consultar o Google a cada 3 segundos.

Essas três informações sobre internet - satélite japonês, gato velox e base de internautas brasileiros - completamente distintas entre si, mostram que a internet é um vasto universo, cobiçado por todos. É como um campo de batalha em que cada regimento luta com as armas que têm. Dos mais sofisticados satélites ao roubo de sinal, todo mundo cava seu espaço virtual.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Volver


No dijo que a mí me encanta exactamiente Caetano Veloso. Todavia, no creo que hay nada o nadie mejor que él para hacer una traducción más completa para celebrar tuyo retorno.

Lo que hablo aqui és de una paloma que se he ponido el nombre Patty y que andaba por otros aires que no estos que nos encubren a nosotros.

No me marees más Patty. Volves, volves paloma, con sús alas o no. Mientras estás abajo de los cielos catalanos, aqui, en cielos paulistanos, hay otras palomas que se van y vienen con los vientos.

Y se tu no vienes pronto, mí pongaré por estos y otros cielos con estas palomas.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Como ser sábio sem cicuta

Sócrates foi obrigado a tomar cicuta. Platão ingeriu o veneno deliberadamente. Como viver nos dias que passam sem que corramos o risco de tomar cicuta sem o sabê-lo, já que não devemos ser tão sábios a ponto de sermos condenados, ou melhor, não o sendo (sábio), podemos incorrer no risco de beber cicuta sem sabê-lo, já que não dispomos desse saber dos antigos?



Creio que a primeira coisa a se fazer é identificar a cicuta. É uma planta, com folhas que lembram, vagamente, outro vegetal, mais badalado. As flores da cicuta não são vistosas, mas, no conjunto, são um bouquet campestre, bem ao gosto de pessoas pastorais ou com resquícios de uma ruralidade inaudita. A cicuta moderna está na alimentação.



Em 1942, acreditava-se que a pirâmide alimentar (conceito que não existia; antes, prevaleciam as esfinges) era formada por carboidratos, proteínas e amidos. Hoje, como se sabe (ou talvez ainda não, depende da esfinge particular de cada um), a pirâmide alimentar é complexa, tomou ares de uma representação gráfica que somente aos abonados é dado o acesso da base ao topo. Enfim, sempre se pode retirar sua própria fatia da pirâmide.

A pirâmide é formada por carboidratos (açúcar, mel, farinhas - de vegetais, não a outra, processada - e tubérculos), proteínas (ovos, carnes, leites e derivados) e lipídios (carne vermelha, leite e derivados, manteiga, queijo).



Então, para que você seja sábio sem cicuta, eu sugiro que:

1) Você não tome cicuta, deliberada ou forçosamente;

2) Que você coma o que bem entender porque, a despeito de pirâmides, a esfinge sempre há de lhe lançar uma charada que você, certamente, não terá a sabedoria de Sócrates ou Platão para decifrar e o "decifra-me ou te devoro" vigorará, imediatamente, não sei se por sua iniciativa ou da esfinge, depende de quem tem mais fome do quê;

3) Que, independentemente de seguir todas as orientações de uma dieta saudável, comida é como a luxúria: quanto mais proibida, mais você quer;

4) Tudo o que é bom ou mata ou engorda (thanks, Groucho Marx) e você morrerá de qualquer forma ou engordará (e enrugará; e encolherá), com ou sem picanhas, chocolates, orgias etílicas e quetais;

5) Nem sempre entenda que o que está escrito aqui é a expressão acabada da experiência de Redneck (são só sugestões e tampouco eu tive que, em algum momento, lidar com a cicuta).

A temática venenosa deste post, muito apropriadamente, responde aos meus próprios anseios de envenenar com cicuta (ou qualquer outro veneno, desde que letal) seres que transitam em julgado no meu júri.

(esta postagem é baseada no capítulo de mesmo nome do título deste post, do livro "Como Cozinhar um Lobo", do qual destrincharei outras partes, desde que atendam às minhas demandas, como é o caso desta aqui, right here, right now!)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Os que ignoram estar mortos são os mais difíceis de aturar

Porque continuam a nos habitar como se fôssemos o mesmo lar de outrora, não em ruínas como estamos; antes, nos vêem como alicerces de suas próprias vidas como se não tivéssemos, nós mesmos, alma própria.

Somos albergues. Oferecemos proteção, conforto, calor. Depois da borrasca, vão para as ruas. Olvidam-se da sensação de bem-estar anterior. Quando pegos pela tempestade, náufragos de significados, procuram-nos, certos da nossa permanência.

Se ignoram estar mortos, é porque estão vivos demais. Suas mortes não foram processadas. Não foram avisados dos próprios funerais. Não os choramos suficientemente para que o som das carpideiras embalasse o ritual de passagem e a barca os levasse.

Mortos estão. Concretamente, enterrados abaixo de sete palmos. São cadáveres rígidos, a caminho de ser fantasmas. Que persistem, mas, não assustam, de fato, posto que são apenas resquícios pálidos, evanescentes como uma névoa.

Mortos, sim. Que a tumba já está ressequida pela ação do tempo e a terra faz a amálgama do pó ao pó.

Que faltou, talvez, a divulgação extensiva de suas mortes, proclamas de seu desaparecimento. Mas, que são mortos, ah! isso são. Mortíssimos, envoltos em mortalhas feíssimas, escuras, sem sentido. Que se fechem em suas lápides e errem pela eternidade. Sem redenção. Que não sou Deus para redimir e, se o fôsse, ainda assim não redimiria.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Leve & Solto

Sabe leonino? Então! A amiga Mara propôs fazer um perfil de cada um de nós, visitantes constantes. O primeiro foi o RM, mais corajoso, que cedeu fotos para serem expostas na vitrine da amiga, feito uma galeria.

Depois, a proprietária do blog convocou os demais blogueiros homens a participarem do quadro. Eu, a princípio, neguei. Fiz dengo, confesso. Me exponho aqui o bastante em palavras para fazê-lo também pela minha própria imagem.

Mas, sou leonino, enfim! Fiquei com coceirinha e não resisti. Enviei não várias, como fez o colega mais audaz, mas, apenas uma fotografia. E recebi uma postagem linda da Mara, no Leve & Solto.

Ao contrário do RM, eu tenho blog e não posso deixar de (me) divulgar aqui. Sabe? Uma auto-promoção. É meio feio, eu sei. Egocêntrico. Ah! Não importa. Interessa que adorei a forma como a colega falou sobre mim, tornado agora Red, para os íntimos. Adorei! Da próxima vez, quero uma galeria inteira. Sabe como é, né! Preciso de espaço! Beijo, Mara!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Just Like Honey

Amèlie, parece, mas não é. Parece que estou sempre a me jogar para você. Só parece, please. Que culpa eu tenho de amar esse filme e de você ter o mesmo nome dele, sua, sua Lost in Translation!. Eu já assisti umas sete vezes e sou capaz de ficar emocionado. Me ligo a esse filme de uma forma que só quem se desenraizou profundamente é capaz. So, eu preciso postar essa música porque, esses dias, estou com o CD no carro, a trilha inteira, que eu adoro.

A música, para quem não sabe, é "Just Like Honey" (Igualzinho ao Mel), do The Jesus And Mary Chain. Abaixo, a letra e o vídeo:

Escute a garota
Enquanto ela enfrenta meio mundo
Escalando as alturas e tão animada
Em sua colméia que vem pingando mel
É bom, tão bom, é tão bom, tão bom
Voltar para você
É a coisa mais dura que eu poderia fazer
Por você, por você

Eu serei seu brinquedo de plástico
Eu serei seu brinquedo de plástico, por você
Engolir toda porcaria é a coisa mais dura para eu fazer
Igualzinho ao mel


domingo, 17 de fevereiro de 2008

Meu rugido dominical

[Este post deve ser lido sob a ótica do humor e está restrito - em função das normas do Blogger - a maiores de 18 anos. Não tente fazer nada disso em casa. Se você quiser saber sobre os sites citados, vá ao Google, tarado(a)!]


Afinal, tamanho é ou não documento? Uma amiga blogueira diz que é "conversinha fiada" o fato de que as mulheres não ligam para o tamanho e que "não é bem assim", ou seja, a proporção - em comprimento e circunferência - é, de fato, um item importante. O tema me surgiu a partir desses links patrocinados do Google. É impressionante o número de páginas - e de empresas - dedicadas ao assunto. As promessas variam - aumento em comprimento de 2 cm a 28 cm de extensão do pênis em até seis meses, engrossamento do falo, milhares de maneiras e técnicas diferentes. Todos garantem sucesso ou, acredite, o seu dinheiro de volta.

Os sites dedicados ao assunto seriam cômicos, se não fossem trágicos. Leia um trecho sobre exercícios que o homem pode fazer com o pinto: "Os exercícios propostos em nosso manual são utilizados em praticamente todas as culturas do planeta e desde a remota antiguidade. Os conhecimentos foram passados de pai para filho, de geração em geração pela tradição oral (aqui, dá a impressão de que se trata, literalmente, de sexo oral). Assim como todas as partes de nosso corpo devem ser exercitadas, voluntária ou involuntariamente, para se desenvolver, com os órgãos genitais naturalmente observa-se o mesmo. O princípio físico que suporta a quase totalidade dos exercícios é o da tração (não sei se sobre duas ou quatro patas; o manual não é tão específico). Os exercícios, quando praticados de forma suave e gradual (toque e torque, creio), estiram os órgãos de forma regular garantindo o desenvolvimento tanto do tamanho quando do diâmetro do pênis, além de um controle total da ejaculação, podendo passar mais de 1 hora sem ejacular. Os exercícios propiciam a diminuição da curvatura do pênis deixando ele mais reto e firme (alguns homens têm um pênis torto que incomoda a parceira ou parceiro durante o ato sexual). Eu diria que são como ponteiros de relógios velhos que ora marcam 15 minutos para o meio-dia, ora marcam meio-dia e 15 minutos. Às vezes, marcam apenas meio-dia ou seis horas da tarde. Por outras, estão na casa das 17:20 horas ou 21:40 horas. É uma variação imensa e não há estudo científico que indique uma posição precisa. Além do fato, é claro, de que você tem que acomodar o seu de um lado ou de outro dentro da cueca, coisa que não ocorre com os índios, mais espertos que nós.

E como funciona o aumento do pênis? Os sites explicam: no decorrer do programa de exercícios, o resultado será um pênis maior, mais saudável e de forma mais perfeita. Além disso, o programa de exercícios ajuda a tonificar as terminações nervosas do pênis ao aumentar a sensibilidade, o que resulta em ereções duras como madeira (ou ferro, rocha, aço). Os resultados são permanentes, uma vez que, ao contrário dos músculos do corpo, as células do pênis não têm a capacidade de se encolherem, uma vez aumentadas (a não ser que você entre em contato com água, principalmente gelada, seja em piscina, mar, cachoeira ou chuveiro frio).

O tamanho do órgão sexual masculino é, de fato, uma preocupação - masculina e feminina - mundial. Em todas as culturas, é possível encontrar referências ao falo masculino. Mas, o que é um pênis de tamanho normal? "Pênis normal em relação ao tamanho é aquele que satisfaz ao homem e a sua parceira ou parceiro", relatam os sites especializados. Segundo esses especialistas, existem cinco classificações em relação ao comprimento do pênis: micropênis - até 9 cm; pênis pequeno - entre 10 cm e 12 cm; pênis médio - entre 13 cm e 16 cm; pênis grande - entre 17 cm e 22 cm; e macropênis - acima de 23 cm.

Você, leitor, se tiver interesse, pode agora tomar as medidas do seu bilau. Para fazer isso, siga estas instruções: posicione a marca zero de uma fita métrica na base do pênis e estenda até a sua extremidade. Claro que em estado erétil porque, se o pinto estiver flácido, é capaz de você achar que é o último biscoito do saquinho (dá para fazer um monte de trocadilhos infames com textos deste tipo) e entrar num estado de contração maior do que se tivesse mergulhado no mar gelado dos Bálcãs.

Você prefere os grossos ou finos? Sim, no caso me refiro ao pinto, bilau, pênis, pau, seja lá como for que você denomina o seu - leitor ou leitora. Me refiro aos leitores dos dois sexos porque pênis os há os naturais, naturalmente integrados ao corpo do homem, e os artificiais, guardados nos armários (de homens e mulheres). Existem cinco classificações em circunferência do pênis: micropênis - menos de 8 cm; pênis pequeno - entre 8 cm e 10 cm; pênis médio - entre 11 cm e 12 cm; pênis grande - entre 13 cm e 15 cm; e macropênis - acima de 16 cm. De novo, se você quiser calcular se tem um carvalho ou uma agulha de acupuntura, basta envolver o pênis com uma fita métrica e verificar.

De acordo com as informações dos sites que prometem soluções engrandecedoras, há vários constrangimentos, complexos e traumas devido à insatisfação com o tamanho do pênis, o que motiva o homem a procurar métodos ineficazes ou perigosos, como bombas de sucção, cirurgias, remédios etc. Alguns métodos denominam-se "naturais", cujos resultados podem ser obtidos apenas com o uso das mãos para realizar os exercícios. Bem, até onde eu sei, esse método sempre existiu e daí que você não precisa comprar manuais (vê como as palavras fazem trocadilhos por si mesmas?) e sistemas para fazer isso. Para resumir, é o ato comumentemente chamado de "masturbação", aka "punheta".

De qualquer forma, estou aqui para ajudar e disseminar o conhecimento. Conforme os manuais, uma das técnicas é o aquecimento (warm-up). Essa técnica é aplicada para evitar lesões e maximizar os resultados. Outra é o exercício para aumentar o tamanho de pênis, que lhe proporcionará um gradativo aumento no comprimento e diâmetro do bimbo.

"A ejaculação, uma vez iniciada, não tem mais retorno, mas, através do desenvolvimento do seu músculo PC (púbeo-coccígeo), localizado entre a base do pênis e o ânus, você conseguirá retardar de forma bastante eficiente a sua ejaculação, permanecendo no limite da tensão por muito mais tempo. A grande maioria de nossos clientes consegue passar 30 minutos sem ejacular", descreve um dos sites. Da forma como eles colocam, é muito semelhante ao lançamento de uma nave espacial pela NASA: uma vez iniciado o lançamento, não há mais volta. Uma vez que você decidiu fazer, é como água morro abaixo e fogo morro acima. Uma vez que você nasceu para ser ordinário(a), isso não terá mais retorno. Uma vez que você nasceu para sofrer, isso não terá mais volta. Uma vez, uma vez, uma vez ... Já não dá para entender se é sexo tântrico ou a síndrome do bumerangue.

Não posso deixar, em absoluto, os testículos de fora, ainda que eles estejam inexoravelmente de fora. Afinal, acompanham o pênis em toda essa movimentação e estão, em definitivo, relacionados ao trabalho do falo. Exercícios também os há para o fortalecimento dos testículos. "Os exercícios proporcionam testículos maiores, robustos e com visual saudável e atrativo". Há alguma atratividade que me escapa? E a robustez? É para executar algum trabalho? Alguma prova física de resistência? Inclusive, existem, em algumas culturas, homens que medem a força pelos testículos, com concursos de levantamento de pesos pelas bolas. Tá! Pena que eu não possa, devido a limitações óbvias, estampar este post com as fotos altamente explicativas.

Uma das partes mais engraçadas dos sites que vendem aumento de pênis se refere aos constragimentos. Quanto aos exercícios, está garantido que não, não há nenhum constrangimento, "pois você praticará os exercícios no banheiro de sua residência, com privacidade total". Bem, isso depende de cada um. Tem gente que não se controla e faz na sala, na cozinha, no quarto e até na empresa. E alguns, inclusive, quando têm platéia, ficam ainda mais excitados. Com os chamados "aparelhos extensores", seja cauteloso: se você cair ou bater em algo quando usar esses aparelhos, você se machucará gravemente, porque partes desses aparelhos são feitos de metal ou plástico; as articulações de plástico ou metal provocarão"beliscões" e poderão ferir a pele do pênis; se você regular a tensão errada sobre a glande poderá ocorrer a morte dos tecidos devido a falta de sangue na glande; os extensores prendem os pêlos e os arrancam, com dores (e possíveis gemidos inexplicáveis, sobretudo em público); esses aparelhos fazem muito volume na calça e todos perceberão (se a mulher tem a calcinha para aumentar o popo, é justo que o homem tente fazer propaganda, ainda que enganosa), pois não há como esconder um aparelho como alguns sites dizem que é possível; se você tocar em alguém, a pessoa perceberá o aparelho (no metrô, cuidado, porque você pode ser linchado); você jamais poderá entrar em um banco devido aos detectores de metais das portas porque, apesar do material ser feito de plástico, fará muito volume e parecerá que você porta um revólver; algumas vezes, o aparelho se solta e cai pelas suas calças, mas, em alguns modelos, existe um cordão de "segurança"; no entanto, quando o aparelho se solta, o volume fica imenso e o extensor ficará como um pêndulo, de um lado para outro, mesmo que você use o cordão.

Segue o capítulo dos constrangimentos. Outra técnica são as cintas elásticas. Aqui, como com os extensores, se você regular a tensão errada sobre a glande, poderá ocorrer a morte dos tecidos devido a falta de sangue na glande; as cintas prendem os pêlos e os arrancam, com as consequências já descritas acima; com as cintas, o pênis ficará esticado para um dos lados e todos notarão que o bilau está "duro" todo o tempo. Olha só o complemento, engraçadíssimo: devido ao fato do pênis estar esticado, ele fica fino igual uma caneta (Bic!!! eu diria, para resgatar o que uma amiga disse ao ver o bilau do companheiro pela primeira e última vez). As bombas a vácuo não causam constrangimento, pois o uso somente acontecerá na privacidade de sua casa. A mesma coisa vale para os remédios: "você tomará os comprimidos sem que ninguém saiba para o que servem".

Por fim, as garantias: se você não obtiver resultado em seis meses, os sites prometem a devolução do dinheiro. Você já ouviu falar em service level agreement (SLA) e quality of service (QoS)? São garantias de entrega de serviço e de níveis de qualidade altíssimos que as empresas fornecedoras oferecem às contratantes sob o risco de, se não fizer a entrega dos índices contratados, pagar altas multas por isso. Bem, no caso, o SLA e o QoS desses sites chegam a incríveis 99,9999% de satisfação do cliente.

Peguei nos sites extratos de depoimentos de homens que, supostamente, compraram os produtos, manuais e técnicas. Veja que maravilha. A.C. (SP, 49 anos): Meu pênis mede agora uns 20 cm, antes só media uns 15 cm, e isso só em 3 meses! Meus orgasmos são incríveis e a minha mulher está amando meu desempenho nos últimos dias, eu não falei para ela do manual... hehe. Agora, consigo usar um sunga na praia sem ter vergonha como antes; D.P. (CE - 35 anos): De cara, eu comprei o manual pelas técnicas de aumento do pênis, mas achei as técnicas de fortalecimento da ereção incríveis. Nunca tinha conseguido ter este tipo de ereção e a minha esposa e amante estão tendo orgasmos nunca alcançados; P.F. (RJ - 21 anos): Sou garoto de programa e na minha profissão um pênis grande é importante, mas, o que me faz hoje conseguir mais programas é que, além do pênis ter aumentado 4 cm, meu desempenho sexual melhorou muito ao ponto de fazer oito programas por dia; C.S. (PA - 36 anos): Sou gay assumido, meu namorado vivia reclamando que meu pênis era muito fino e não conseguia dar tesão para ele, nosso relacionamento estava quase acabando, mas, tudo mudou da água para o vinho; meu pênis, além de ter aumentando de tamanho, aumentou de diâmetro ao ponto de parecer um chapéu de mexicano; agora, meu gato está nas nuvens; L.E. (MA - 19 anos): Sou igual a São Tomé, só acredito vendo. Tenho um primo na família que todos chamavam de toquinho, ele comprou o manual e o pênis dele dobrou de tamanho. Como funcionou com ele, acabei comprando. Hoje, tenho um pênis 5 cm maior e, o melhor, com ereção igual rocha.

Leitores estupefatos com o tema e com a dimensão do post, coisa inusual aqui neste espaço: o assunto deve ter alguma importância até para mim, dado o tempo gasto em tudo isso e a abordagem em si mesma. Com essa postagem, saí um pouco da linha dos "Rugidos". Mas, eu achei tudo tão cômico que não pude evitar. Se nós, homens, fizéssemos tudo isso, eu creio que, somados todos os pênis mundiais, daria para fazer um imenso cordão ao redor da Terra. Nem ouso calcular mais nada. O fato é que os hospitais estariam cheios de homens depauperados (mais um trocadilho infame) e até castratis (sem os testículos). Ai, isso dói!

Mas, falar que tamanho não importa, é uma farsa. Temos que admitir. E as mulheres não hesitam em observar isso. A palavra "pênis" vem de phallus (falo), do latim, derivada do grego, muito utilizada simbolicamente para expressar força, poder e agressão que, culturalmente, estão relacionados à visão (e comprovação, depois de visto; ou não) de masculinidade. Para encerrar o rugido leonino (animal cuja relação sexual dura 72 horas consecutivas e ocorre apenas uma vez por ano), veja as denominações mais engraçadas, grotescas e sórdidas da palavra "pênis" - alavanca-de-arquimedes, aparelho, arame, arma, badalhoco, badalo, bagre, banana, barbarroxa, bicho, bimba, bordão, brachola, caceta, cacete, cajado, caibro, camandro, cambanje, cambão, canivete, caralho, careca, carimbo, catano, catatau, catso, cazzo, chouriço, cobra, espada, espeto, espiga, estaca, estrovenga, ferramenta, ferro, fumo fuso, ganso, instrumento, jeba, judas, lascão, lenha, lingüiça, madeira, mala, malho, mangalho, mango, manjuba, manzape, manzapo, marsapa, marsapo, marzapo, mastro, mastruço, membro, minhoca, minhocão, minhocuçu, nabo, negócio, nervo, parte, parte central, passarinho, pau, pau-barbado, pau-barbudo, pau-de-cabeleira, pau-de-fumo, pau-de-sebo, pé-de-mesa, peça, peia, peru, pica, piça, picha, pichuleta, picirica, piciroca, picolé, picolé-quente, pila, pimba, pingola, pinguelo, pingulin, pino, pinto, piroca, piru, pirulito, pissa, pistola, pito, piu-piuporraz, porrete, prativai, pua, reta, robalo, rola, sarrafo, seringa, tora, trolha, vara, verga e vergalho. Você acha que estou muito obcecado pelo assunto????

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Como cozinhar um lobo

- Como ser sábio sem cicuta

- Como capturar o lobo

- Como distribuir sua virtude

- Como ferver água

- Como saudar a primavera

- Como não ferver um ovo

- Como se manter vivo

- Como levantar como pão fresco

- Como ficar bem-disposto, embora faminto

- Como trinchar o lobo

- Como fazer um pombo gritar

- Como rezar pela paz

- Como ficar contente com um amor vegetal

- Como fazer uma grande exibição

- Como ter um pêlo macio

- Como se consolar no sofrimento

- Como ser um homem sábio

- Como seduzir o lobo

- Como beber à saúde do lobo

- Como não ser uma minhoca

- Como praticar a verdadeira economia

"Durante muito tempo, acreditei que as primeiras pontadas de felicidade matrimonial traziam com elas uma nova sabedoria, uma espécie de conhecimento místico que entrava junto com a aliança, de tal maneira que, de repente e completamente, a noiva sabia como ferver água. Agora, creio no oposto. Poucas mulheres chegam a perceber os limites vastos de pôr água na panela e fervê-la. Quando é que a água está fervendo? Quando, na verdade, a água é água? Água é água, o dicionário diz, quando é um líquido incolor, inodoro e transparente, consistindo em dois volumes de hidrogênio para um de oxigênio. Pode também ser chuva, mar ou um brilho de diamantes. A água a que me refiro, porém, é a clara e boa água que sai de uma torneira ou, se você tem sorte, de um poço ou de uma fonte. É a melhor para cozinhar lobos."

O trecho acima e os "comos" são do livro "Como Cozinhar um Lobo" (MFK Fisher, Companhia das Letras) que acabei de descobrir nas prateleiras de gastronomia da FNAC. Creio que, de gastronomia, há muito pouco na obra. À medida em que ler o livro, pretendo destrinchar, não o lobo, mas, sim, os capítulos. Eu sempre tenho a sorte (ou é instintivo) de achar livros interessantes e é esse o caso. Pretendo, ainda, relacionar no blog todos os livros relacionados à gastronomia que adquiri ao longo do ano passado. Não foram poucos. Darei notícias sobre lobos e também sobre mulheres que correm com lobos e que os cozinham, quando não há nada mais a se fazer senão uivar para luas cheias.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Carga pesada

Peço arrego! Sucumbo diante de tanto peso. Em dois dias - ontem e hoje - digitei quase 50 mil toques para um job. Dezenas de entrevistas, explicações, telefonemas desencontrados, cobrança de fotos, produção de fotos, trocas de e-mail sem fim. Quando tudo acaba, fica a exaustão. Sensação de trabalho feito, sim. Mas, que dá uma certa tristeza, um cansaço infinito, ah! isso dá.


Me transformei em gerador de caracteres. Os dedos adivinham o teclado antes que se ponham a dedilhar ávidos por acabar a próxima frase. O cérebro dá sinais de ruínas. As palavras me escapam. Recorro ao dicionário. Termos técnicos, de monte. E eu lá sei o que é guidance para o mercado financeiro? O que são placas de gesso cartonadas? Tenho que saber isso? Que entender as metáforas pobres que as fontes, crentes que abafam, me atiram como se pérolas fossem e eu, o porco a recebê-las?

Que eu, se tivesse que rebater essas bolinhas todas no tênis, atira-la-ias pelo esgoto. Que são muitas as arestas aparadas por dia. Ao final, sucumbo e a carga prevalece, pesada e amorfa. Sou apenas um produto no meio de tanta informação. Filtro vazio de significado. Tanta informação que não me diz nada. É isso o jornalismo?

Um jornalismo industrial, sincopado com o teclado, música sórdida para palavras ao léu. A ira que as linhas de telefone transmitem de um ponto a outro. Quase a posso pegar na mão, de tão evidente. Um mundo raivoso se apresenta na tela, nos cabos de cobre. Nas palavras não ditas ou truncadas. Que sentido há nisso?

A cada vez que eu concluo um trabalho de grande porte, se me forma no estômago uma bola, imensa, peluda. Como se eu fosse um gato que me lambesse e engolisse, no processo, a pelagem. Revolve-me o estômago sem fim. Quero acreditar que é só o cansaço. Dizer não à decepção. Porque, então, seria uma bola de ferro presa ao tornozelo, e não apenas a rolar dentro de mim.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Memento

Você já quis lembrar de detalhes de algo e não conseguiu? Ou, pior, já tentou camuflar memórias que não te interessam, mas, que insistem em vir à tona? A revista norte-americana New Scientist desta semana destaca o estranho caso de uma americana de 42 anos que se lembra com detalhes de todos os dias de sua vida desde a adolescência. A mulher é capaz de se lembrar das datas de todas as Páscoas durante os últimos 24 anos e ainda recorda o que vestia, onde estava e o que fazia naquele dia. É capaz também de lembrar-se de todos os fatos históricos e principais acontecimentos das últimas décadas. Ela é poderosa, com um HD de 300 Terabytes.


Intrigados, cientistas da Universidade da Califórnia começaram a pesquisar sobre a habilidade da memória dessa mulher há sete anos, quando ela os procurou para reclamar que se sentia exausta e que as lembranças eram como um fardo a ser carregado. Nas suas palavras, as lembranças são como "um filme que nunca pára".

A partir dos relatos da paciente, a equipe do neuropsicólogo James McGaugh realizou testes e identificou uma nova síndrome de supermemória, batizada de hyperthymestic (nome em inglês, baseado no grego, thymesis, que significa lembrar). Os cientistas ainda não conseguiram identificar a causa da habilidade extraordinária da memória da mulher. No entanto, a capacidade de recordar memórias autobiográficas pode estar relacionada com uma falha nas atividades cerebrais, o que faz com que as pessoas esqueçam fatos supérfluos.

"O esquecimento funcional é crucial para o bom funcionamento da memória. Um sistema que recorda todos os detalhes e torna esta informação disponível com freqüência irá resultar em uma confusão em massa", diz o cientista Dan Schacter, da Universidade de Harvard. Para McGaugh, que investiga o caso, a paciente tem "qualidades obsessivas". Ele sugere que, assim como os autistas, ela é interessada em datas e no calendário. Além disso, há 32 anos ela mantém um diário, guarda os guias de televisão de vários anos e diz que "sempre precisou de organização". Segundo o cientista, os comportamentos compulsivos podem reforçar a memória, ao invés de incentivar o arquivamento e o esquecimento das informações pelo cérebro.

Só para ficar na seara do cinema, eu me recordo (sou péssimo de memória) de três filmes que abordam a estranheza dos cérebros. Um deles é "Como se fosse a primeira vez", com Adam Sandler e Drew Barrymore. São um casal normal. Mas, todos os dias, a personagem de Drew sofre de perda de memória temporária e nunca se recorda do dia anterior. Assim, o personagem de Sandler precisa descobrir no dia seguinte uma nova maneira de conquistá-la. É uma historinha açucarada, mas, dá conta de como cérebro é um universo desconhecido.

Outro filme é "Amnésia" ou "Memento". Leonard Shelby, vivido por Guy Pearce, era um investigador de uma companhia de seguros. Certo dia, ele e sua esposa tiveram a casa invadida por um bandido enquanto ele dormia. O bandido estuprou e matou (supostamente) a esposa de Leonard. Na tentativa de impedir o bandido, Leonard levou uma forte pancada na cabeça, que o fez adquirir o problema de perda de memória recente. Tudo que acontece na vida de Leonard desde então é esquecido poucos instantes depois. Ele passa a usar artifícios como a tatuagem de recados no corpo, fotos com inscrições no verso e até mesmo post-its. Leonard passa a realizar uma busca insana pelo assassino de sua mulher e, quando ele finalmente descobre a verdade, sua devastada memória não permite que ele a lembre, e ele se mantém na mesma insana busca. O legal do filme é que a história é contada de traz para frente, numa brincadeira com a nossa própria memória, que tem que montar o filme de forma a entendê-lo. Memento, em latim, significa "lembra-te".

Finalmente, há "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", com Jim Carrey e Kate Winslet. Joel (Jim Carrey), é um homem ordinário que fica surpreso ao descobrir que a sua namorada, Clementine (Kate Winslet), apagou as lembranças do tumultuado relacionamento que tiveram. Desesperado, ele contata o inventor desse processo para também remover Clementine de suas lembranças. Porém, à medida em que as lembranças de Joel desaparecem, ele começa a redescobrir o seu amor por Clementine. A uma certa altura, fica claro que Joel não consegue tirar Clementine da cabeça.

Os três filmes são, cada um à sua maneira, três belas versões do estranho mundo do cérebro. É uma das áreas do corpo humano menos devastadas. E costuma-se afirmar que o homem conhece mais o universo do que o próprio cérebro. "Conhece-te a ti mesmo", disse Sócrates. Se eu desconheço o ser que habita meu corpo e cérebro, como conhecer o outro?

E como remover da memória lembranças nefastas? Ou resgatar dos escombros do velho arquivo lembranças preciosas que me escapam? Como selecionar a memória de forma a esquecer cheiros, sorrisos, dentes, expressões, um cabelo solto, uma pequena espinha? Se você procurar na memória, certamente resgatará detalhes das pessoas. Pequenos flashes que incendeiam a imaginação e que há muito pensávamos enterrados no peso dos anos. Não é assim? É como os sonhos: há os que lembram de cada detalhe (eu, sempre) e os que juram que nem sonham. De repente, alguma palavra ou gesto traz, num piscar de olhos, memórias tão fortes que fica difícil respirar. Chegamos a corar com algumas lembranças, não é? Ou ficar com os olhos marejados por outras. Ou sentimos aflorar a raiva, a paixão, a saudade e mais uma série de sentimentos.

Já disse neste espaço que gostaria de deletar muitos arquivos do meu disco rígido. Que houvesse uma flash memory, um pen drive, que eu pudesse desconectar da porta USB e deixar em casa, guardada. Porque há, de monte, arquivos corrompidos. Arquivos com vírus, bichados. Mas, isso não é possível. E, como aquela velha fotografia amarelada, de repente, nos confrontamos com o passado que, embolarado, insiste em se contrapor às maravilhosas fotografias de milhões de pixels do presente. Ora! É tudo uma ilusão! O cérebro age por conta própria. Desencava. Trabalha, incansável. É um exército inteiro a revolver as terras férteis que fazem germinar velhas sementes, esquecidas. Ah! Memória, memorável, memorabilia, memento, enigma. Que quero ter amnésia, por vezes. Por outras, lembrar até do grão de poeira que naquele dia exato pairou no ar e desmanchou-se. Só para te ter, memória, à mão, como se uma casca de noz fosse e coubesse o universo inteiro dentro.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Telefonia celular 2.0

Nem só de trivialidades vive este blog. Como cubro o setor de telecomunicações profissionalmente, acho que tenho a obrigação de informar, de vez em quando, alguma coisa que não envolva o meu próprio ego. Quer dizer, mais ou menos. Se você, como eu, se sente como uma múmia ante o olhar de desprezo (e ouvidos moucos) dos atendentes, está na hora de reagir.

Hoje, 13, começam a valer as novas regras para a telefonia móvel, que têm o objetivo principal de diminuir as queixas contra as operadoras junto aos Procons de todo o Brasil. O setor de telefonia - fixa e móvel - está no topo das reclamações. Com 122 milhões de assinantes móveis e mais 39 milhões fixos, a telefonia, desde a privatização, em 1998, não saiu mais da lista dos setores mais odiados pelos consumidores (disputa e ganha até mesmo do setor financeiro e dos planos de saúde). No ano passado, foram contabilizadas 3.437 queixas relacionadas à telefonia fixa - com a primeira posição e 21,6% do total. Em segundo lugar, estavam os aparelhos de telefone - destes, aproximadamente 90% são celulares -, com 10,9% das reclamações e 1.758 registros. A categoria telefonia celular ficou na quinta posição, com 735 queixas.

Para tentar amenizar essa situação, o governo, por meio da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), criou uma série de novas regras para adequar o atendimento das operadoras de telefonia ao Código de Defesa do Consumidor e reduzir o número de reclamações do setor. O objetivo é facilitar para o assinante o cancelamento da linha do celular, dar maior proteção contra cobranças indevidas e mais prazo para usar créditos em aparelhos pré-pagos. Abaixo, as principais mudanças:

- Cancelamento da linha: uma das principais reclamações é a dificuldade em cancelar uma linha. Pelas novas regras, as empresas terão 24 horas para cancelar o serviço após o pedido do usuário, o que poderá ser feito em qualquer loja autorizada, e não apenas pelo atendimento telefônico. Aumentou também a punição para as operadoras que cobrarem valores a mais dos usuários. Essa é a principal reclamação registrada em 2007 pelo Procon de São Paulo.


- Portabilidade: permite que o cliente troque de plano e operadora sem perder o número do telefone. Essa funcionalidade começa a valer, no entanto, apenas a partir de agosto deste ano (nas maiores cidades, somente em março de 2009). Na telefonia fixa, o consumidor poderá trocar de empresa dentro do seu município (ou localidade com continuidade urbana, quer dizer, o mesmo prefixo como a Grande São Paulo, com 39 municípios com prefixo 11) sem perder o número do telefone. Não será permitido, no entanto, levar o mesmo número para outra cidade (por exemplo, pessoas que estão de mudança para São Paulo, vindas dos cafundó). No caso do celular, é possível manter o número dentro da área de mesmo DDD, que pode incluir mais de uma cidade. Para fazer a mudança, o usuário terá de pagar uma taxa, mas, se a operadora nova quiser, poderá facilitar e não cobrar essa taxa do assinante.


- Atendimento pessoal: chega de esperar horas no call center (eu vou estar passando, eu vou estar informando, eu poderia estar matando etc. etc). As operadoras terão que melhorar o atendimento pessoal ao usuário. Claro que isso demora e deve se tornar realidade, de fato, apenas a partir de 2010.

- Pré-pago: mais de 80% dos usuários usam a telefonia pré-paga. As operadoras serão obrigadas a oferecer créditos pré-pagos com validade de até 180 dias. Hoje, o prazo máximo é de 90 dias. Além disso, as empresas terão de revalidar os créditos antigos toda vez em que o celular for recarregado. Quem ficar sem créditos, poderá continuar com o celular pai de santo (que só recebe) ou realizar ligações a cobrar por um prazo de 30 dias. Depois desse prazo, todos os serviços serão bloqueados, com exceção das ligações gratuitas de emergência (polícia e bombeiro, por exemplo. Graças a Deus! Sem bombeiros, o que seria da vida!!!). Somente depois de mais 30 dias o cliente poderá perder o número do telefone, mas terá de ser comunicado com antecedência pela operadora.

- Pagamento da conta: para os clientes de telefones pós-pagos haverá aumento nos prazos para contagem da inadimplência. O usuário ficará impedido de realizar chamadas 15 dias após o vencimento. Após 45 dias, também deixa de receber chamadas. Depois de 90 dias, a operadora poderá rescindir o contrato. Depois disso, a empresa terá de notificar o consumidor e esperar mais 15 dias antes de encaminhar o nome do devedor ao serviço de proteção ao crédito.

- Cobrança: a operadora somente poderá cobrar chamadas realizadas há mais de 60 dias após negociação com o usuário. O prazo anterior era 90 dias. O cliente do pós-pago também poderá solicitar, a cada seis meses, uma simulação para comparar o seu plano com os outros oferecidos pela operadora. A comparação será feita com base nas ligações feitas nos últimos três meses. Dessa forma, ele poderá saber se escolheu o melhor plano para suas necessidades.

Vai, não torce o nariz. De vez em quando, eu tenho que fazer alguma coisa séria. E depois, a minha porção de samaritano é tão rara que eu tenho que aproveitar quando recebo de frente - e rapidamente - uma Madre Tereza de Oh! Calcultá! OK, OK, já fui!!!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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