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domingo, 10 de julho de 2011

Meu rugido dominical



A principal porta de entrada de um país é o aeroporto. Relatório publicado pela Organização da Aviação Civil Internacional (Icao) aponta que o número de passageiros transportados por avião chegou a um total de 2,5 bilhões de pessoas no ano passado, conforme dados do site EcoD. Ou seja, mais de 30% da população global voou o ano passado (número cumulativo, não significa, necessariamente, que 2,5 bilhões voaram, e sim que, na soma, 2,5 bilhões viajaram, seja uma ou 200 viagens por ano). E justamente os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) foram, em parte, grandes responsáveis por essa expansão. É o tipo de transporte mais usado no mundo. Portanto, a principal porta de saída de um país também é, consequentemente, o aeroporto.


Para ficar no Estado de São Paulo, dispomos de três aeroportos: os dois principais, Cumbica (Guarulhos) e Congonhas, ficam na Grande São Paulo e dentro da cidade, respectivamente. O terceiro fica num raio de 100 km e é o Aeroporto de Viracopos, em Campinas. Cumbica é a principal entrada aérea do Brasil. É por onde chegam mais de 85% dos voos internacionais. Congonhas é o aeroporto doméstico mais movimentado, com intenso fluxo de decolagens e aterrissagens, de passageiros e carros. E Viracopos, mesmo a 1 hora de distância, tornou-se, por incrível que pareça, alternativa para as pessoas que precisam de locomoção rápida.


Vou fazer relatos da minha experiência com aeroportos. Não conheço Viracopos. Mas sei bem de Congonhas e Cumbica. Congonhas está, em trânsito razoável (o que é quase impossível), há 20 minutos de casa, de carro. Portanto, se eu tenho que ir ao Rio de Janeiro (45 minutos de voo, em média, com tempo bom), basta sair de casa, chegar 30 minutos antes, embarcar e, no total, gastar cerca de 2 horas entre a minha saída de casa e o meu destino na capital carioca.


Claro que isso nunca aconteceu. Todas as vezes em que viajei ao Rio e voltei, tanto cá como lá, entre a saída e a chegada (ponto a ponto), gastei, pelo menos, 5 horas. As viagens domésticas exigem que se chegue ao aeroporto 1 hora antes do embarque. E isso não é apenas protocolar: ouse se atrasar e perderá o voo (aconteceu comigo, porque cheguei 45 minutos antes, e não 1 hora antes).


Portanto, esteja preparado/a para gastar 5 ou mais horas entre a saída de casa e a chegada ao destino final quando a rota é São Paulo-Rio de Janeiro. Já bati recordes: fiz SP/RJ em 7 horas!!! É mais do que viajar de carro (5 horas, em boa média de velocidade) e de ônibus (6 horas, em geral) pela rodovia Dutra, que liga as duas cidades.


Se o voo for internacional, a aflição começa ainda mais cedo. Da última vez que viajei, meu embarque estava marcado para as 22:15 horas. Saí de casa às 18:15 horas (4 horas antes!), de táxi, e cheguei com vantagem. Fiz o check-in sem despachar bagagem e esperei quase 3 horas. Dentro do avião, esperamos, sem saber direito porque, quase 40 minutos para, finalmente, decolar. Chegamos ao destino cerca de 7:30 horas (com fuso horário de 1 hora menos), quando a previsão era de chegada às 6:15 horas. Quando, finalmente, cheguei ao meu destino final, o relógio local marcava quase 10 horas da manhã. Portanto, descontado o fuso horário, foram quase 15 horas entre um ponto e outro. Fora todo o movimento extra decorrente da viagem (arrumar a mala, conferir se está tudo carregado - notebook, celular), se tudo está dentro dos padrões conforme as exigências da aviação etc. etc. Pode-se dizer que, para uma viagem de 10 horas (Estados Unidos ou Europa), você, obrigatoriamente, gastará ao menos umas 20 horas até que consiga colocar o primeiro pé no destino final. Com sorte!


Os relatos acima se referem às dificuldades de embarque em São Paulo: trânsito, falta de infraestrutura (em Congonhas e Cumbica) e um sentimento de que todas as companhias conspiram para que os atrasos sucedam-se uns aos outros. Ainda, o fator tempo (nublado, chuvoso, neblina etc.) pode piorar a situação.


Para se chegar a Congonhas, que fica no Campo Belo, zonal sul da capital, o acesso é (exceto, de novo, pelo trânsito) relativamente fácil. Vou pelas avenidas 23 de Maio e Washington Luiz. Ambas não são, exatamente, um primor de beleza. Como estamos, os brasileiros, dentro de casa (voos domésticos), porém, não vejo maiores inconvenientes a não ser a absoluta falta de estrutura do local em acomodar tanta gente simultaneamente.


A recente reforma dos fingers (acesso do solo às naves) poderia ter resolvido o fluxo intenso. Mas, estive em Congonhas em dois momentos diferentes: na inauguração das novas salas de embarque e no início deste ano. É como se nada tivesse acontecido, tal o congestionamento do lugar. Sem falar no mais antigo problema do aeroporto: a fila de táxi. A espera por um carro é mais lenta do que voar entre Rio e São Paulo. Isso nunca aconteceu num aeroporto internacional em que estive. Afora os táxis, o acesso a Congonhas somente pode ser feito por automóveis particulares ou ônibus. Não há nenhuma estação de metrô num lugar pelo qual embarcam e desembarcam mais de 15 milhões de pessoas (em Cumbica, no ano passado, circularam 26 milhões de passageiros). Esses números não incluem as pessoas que apenas passam por ambos os aeroportos e não embarcam.


Cumbica fica em Guarulhos, município que faz parte da Região Metropolitana, chamada de Grande São Paulo, a cerca de 25 km do centro da capital. O percurso da minha casa até lá, de novo com trânsito razoável, pode ser feito em 40 minutos (de carro). Como o trânsito para lá nunca está razoável, melhor contar 1 hora ou mais.


É grande a área do Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos Governador André Franco Montoro. Esse é nome oficial, careta, caretíssimo, fruto de uma longa tradição deste País de se dar nomes de políticos a lugares grandiosos. O bom é que ninguém dá a mínima e o nome não fica. O que fica é Cumbica, nome próprio, da terra brasilis que, em tupi-guarani, quer dizer "neblina", "nuvem baixa". Perguntinha: se já os índios sabiam que o lugar era coberto pela neblina, por que insistiram em construir ali o principal hub da América Latina? Incríveis esses políticos. Deveriam ser devorados pelos índios tal qual o foi o bispo Sardinha!


A região que forma o complexo aeroportuário de Cumbica é uma pequena cidade: são 14 quilômetros quadrados, dos quais cerca de 5 km quadrados são construídos. Há apenas uma via, em mão dupla, com um largo canteiro central, que leva ao aeroporto: Hélio Schmidt. Feia, é circundada por uma série de construções, hotéis, postos de gasolina e não sei o que mais. Às margens, enfileiradas, uma série de placas imensas que, de uma forma grotesca, vendem de carros a passagens de avião. Para se chegar a essa avenida, cujos canteiros poderiam formar um lindo e formoso jardim, cheio de árvores baixas e bem cuidadas, há duas opções: a rodovia Dutra (que liga São Paulo ao Rio e que passa por Guarulhos) e a rodovia Ayrton Senna (que leva ao litoral norte do Estado e à região do Vale do Paraíba).


São, ambas, mal cuidadas. E feias. Sem vida. É a porta de entrada do Brasil. Assim. Cheias de falhas, primeiro a avenida principal do aeroporto e, depois, as rodovias, desaguam na Marginal Tietê, confusa, pesada, com placas apenas em português (até no Irã há placas em inglês). Desaguam é maneira de dizer porque comparar trânsito com a fluidez da água é algo incompatível nessas paragens. E mais, dizer de água à beira do esgoto que é o rio Tietê é ofender a água.


Assim se chega ao Brasil: em vias pobres, feias, cheias de falhas e com mau-cheiro. Estive poucas vezes no exterior. Posso afirmar, contudo, que as vias de acesso (exceto pelas cidades norte-americanas) são bem cuidadas (Pequim, Helsinque, Lisboa, Madrid, Frankfurt), preparadas como um tapete para receber as pessoas. São a primeira impressão. A que fica.


Observe que nem me atrevo a falar sobre a chegada dos turistas para a Copa de 2014. Terei tempo para falar disso. No entanto, não se trata apenas de estética. E sim de um cuidado, de um carinho que se deveria ter com a porta de entrada, com as janelas todas. Carecem, portas e janelas, de demãos de tinta, de retoques, de repaginação. Somos feios de chegada e de partida, em todos os sentidos.

domingo, 26 de junho de 2011

Meu rugido dominical



Nesta próxima terça-feira, 28 de junho, celebram-se 42 anos dos eventos que aconteceram no Stonewall Inn, bar e, agora, ícone gay, que fica na 53 Christopher Street, no Greenwich Village, tradicional bairro gay da cidade de New York. Por puro esquecimento, quando estive no TriBeCa Grand Hotel, há apenas 1,1 km de distância, não fui até lá registrar o local histórico, que permanece em atividade até os dias de hoje.


Sem os acontecimentos do Stonewall, a Parada Gay que aconteceu em São Paulo neste domingo, 26, não seria possível. No dia 28 de junho de 1969, o bar Stonewall sofreu uma batida da polícia. É bom recordar que, na década de 60, o homossexualismo, nos Estados Unidos (e em muitos outros países) era considerado uma doença mental.


A batida policial foi feita justamente para prender os gays que estavam no bar por "atos obscenos" ou "imorais". Mas, naquele exato dia, os frequentadores, cansados da atitude policial e social contra eles, resolveram enfrentar a polícia. Os protestos se expandiram de dentro do bar para o bairro e, dali, tomaram corpo em todo o mundo. Foi o primeiro ato de resistência pública dos gays e marcou a reviravolta pelos direitos dos homossexuais. Um ano mais tarde, em 1970, os mesmos frequentadores que haviam confrontado a polícia realizaram a primeira parada gay da história. O canal pago GNT transmite parte dessa história no documentário "A Revolta de Stonewall", na madrugada desta segunda-feira, 27, à 0:30 hora.


Portanto, a Parada Gay de São Paulo, em 15ª. edição, somente existe porque houve, antes, Stonewall. Até o momento, a organização não divulgou os números oficiais do evento, mas, espera-se que os participantes tenham chegado aos 4 milhões de pessoas, número superior ao da edição do ano passado, o que a torna uma das maiores gay pride do mundo.


Com tudo isso, a mesma avenida que serve de cenário principal para a Parada Gay de São Paulo, a Avenida Paulista, foi, entre o ano passado e este ano, palco de vários atos violentos contra os gays. O que significa que, passadas mais de quatro décadas e com o apoio explícito de 4 milhões de pessoas que acompanham a Parada Gay de São Paulo, o preconceito está perto o bastante para que as pessoas vivam suas vidas (sexualmente e integralmente) da forma como quiserem.


Na minha curta estadia em NY, fiquei na região gay por excelência da cidade: entre TriBeCa, SoHo e Greenwich Village. Mas, andei por outras regiões também e o que vi, em toda a cidade, do aeroporto ao Central Park, foi o respeito mútuo. Vi casais gays em todo lugar. E não vi preconceito. Não vi olhares estranhos dirigidos a ninguém. Foi o que eu mais gostei na cidade, conforme postei outro dia.


As relações homoeróticas datam da mesma época do aparecimento do homo sapiens, há mais de 12 mil anos a.C. Por ora admitida (Grécia antiga na Antiguidade), por ora punida (Inglaterra e grande parte da Europa na Idade Média), por ora considerada crime capital, punível de morte (grande parte do Oriente Médio e África nos dias atuais), a homossexualidade sempre provocou reações as mais diversas.


Tenho experiência o bastante para saber que estamos longe de uma vida nova iorquina, infelizmente. Mas, também estamos longe de países como o Egito e o Iraque, que podem conduzir gays à morte apenas pelo fato de serem gays.


Ontem mesmo uma amiga me relatou que, cada vez mais, ela ouve gays se dizerem cansados do apêndice 'gay'. Funciona assim: ele é jornalista e gay. Ou: ele é médico e gay. Ainda: ele é ator e gay. Ninguém diz: ele é piloto e heterossexual. Ou: ele é engenheiro e hetero. Ainda: ela é diretora e hetero.


Eu também estou exausto desse apêndice. É como se a certidão trouxesse inscrita a palavra. Ou como a identidade oficial minha dependesse de ter tal definição para eu ter uma identidade completa.


Não participei da Parada Gay hoje. Por uma série de motivos que não vêm ao caso relatar. Temo que haja uma carnavalização do evento. Ainda assim, muito melhor tê-la, com tanta gente a simpatizar com a gente, que ter apenas o silêncio. Isso não impede, contudo, que, na rotina do dia-a-dia, o preconceito prevaleça. Hoje mesmo, domingo, 26, dois eventos praticamente se cruzaram: um jogo de futebol (Corinthians e São Paulo, às 16 horas, no Pacaembu, que é entorno da Paulista e da Consolação) e a Parada Gay (cujas principais vias são exatamente a Avenida Paulista e a Consolação). Li que os policiais tomariam o máximo de cuidado para que os "dois diferentes públicos" não se encontrassem. Vê? É disso que falo. Enquanto houver, na cabeça das pessoas, "diferentes públicos", não há parada que resolva a parada!


domingo, 19 de junho de 2011

Meu rugido dominical



Nos últimos dias, dois eventos marcaram a cidade de São Paulo: um apagão parcial por conta de uma chuva mais forte em pleno outono e um caladão parcial no serviço de banda larga da operadora majoritária do Estado.


As duas concessões - de energia elétrica e de telefonia - foram dadas a duas empresas estrangeiras. A primeira, de energia elétrica, foi para a AES Eletropaulo, que é de capital norte-americano. A segunda, de telecomunicações (telefonia, banda larga, banda estreita e TV paga), é de responsabilidade da Telefónica, de capital espanhol.


A primeira foi concedida pelo governo do Estado de São Paulo em 1999, no programa de privatização das estatais de energia elétrica. A segunda foi concedida pelo governo federal em 1998, também dentro do programa de privatização que passou grande parte das empresas governamentais para a iniciativa privada.


Sou absolutamente a favor da privatização. Na minha modesta opinião, as empresas gerenciadas pelo governo são cabides de emprego ineficientes e servem apenas como peso na hora das moedas de troca que ocorrem nos gabinetes e plenários deste País. Claro que algumas áreas, estratégicas, devem permanecer sob o controle do governo. Mas, certamente, áreas como energia elétrica e telecomunicações não devem ficar sob o controle do Estado.


Quem viveu na era pré-privatização, especialmente da telefonia, pode muito bem se lembrar das filas de anos à espera de uma linha telefônica e do quanto era precário o serviço.


O regime de concessão significa o direito que o Estado outorga a uma empresa de capital privado para explorar determinado serviço. Concessão é sinônimo de permissão. Ou seja, é permitido que a AES Eletropaulo e a Telefónica explorem energia e telefonia, respectivamente.


Para que explorem tais serviços, no entanto, as empresas privadas assinam contratos. E, entre as cláusulas contratuais, estão claramente descritas as obrigações. Das quais a principal é fornecer ambos os serviços ininterruptamente, 24 horas ao dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Tolera-se um percentual aceitável de inoperância do serviço. Mas, embora eu não saiba qual é o limite dessa tolerância, imagino que os serviços devam ser prestados em 99% do tempo, com 1% de margem para ficar fora do ar.


Ambas as empresas foram privatizadas nos governos estadual e federal do PSDB. A Eletropaulo passou ao controle do grupo norte-americano AES em 1999, sob o governo de José Serra. Antes, em 1998, a Telebrás inteira, que controlava quase 30 operadoras de telefonia estatal, passaram à iniciativa privada sob o comando do presidente Fernando Henrique Cardoso. Portanto, as empresas privadas que operam no Estado de São Paulo vêm dos programas de privatização tucanos.


Com o último apagão da AES Eletropaulo, o atual governador do Estado, Geraldo Alckmin, veio a público reclamar que a empresa não tem sido eficiente no fornecimento de energia, pela qual pagamos um alto preço. O atual governador também é do PSDB.


A Telefónica, que opera em todo o Estado de São Paulo, tem figurado, nos últimos anos, como uma das piores prestadoras de serviço de telefonia no Brasil, nas listas mensais divulgadas pelo Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon-SP). A empresa nos fornece telefonia, internet (banda larga e estreita) e, mais recentemente, TV paga. Em 2009, a operadora foi proibida de vender novos acessos de banda larga até quer conseguisse melhorar a qualidade do serviço.


Ambas, Telefónica no ano passado e AES Eletropaulo nesta semana, compareceram com anúncios longos na TV para mostrar seus grandes feitos. Ambas se exibiram para o infeliz consumidor e asseguraram que têm feito tudo o que é possível para nos fornecer um serviço com a mínima qualidade.
Num regime de concessão, no limite, as permissões podem ser retiradas dos concessionários. É o que o governo deveria fazer com essas duas empresas que, no Estado mais rico do País, andam a fornecer serviços de terceiro mundo: uma espiada em países como o Afeganistão e você pode constatar: lá, a luz elétrica e o telefone são raridades.


Aqui, de tempos em tempos, esses serviços também são raridades. Basta uma tempestade, a queda de uma linha de transmissão, o roubo de cabos de fibra óptica e pronto! Ficamos todos no escuro e mudos!


Atualmente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, numa tentativa midiática de se conservar evidente, resolveu defender a descriminalização da maconha (marijuana, beck, baseado ou o que for). Acho louvável sim, a partir do momento em que acredito que a liberação do consumo reduz mesmo o negócio do tráfico. O que acho detestável é que o ex-presidente jamais ousou abrir a boca (a não ser durante a primeira campanha, quando afirmou ter usado maconha) para vir a público defender o tema.


Portanto, creio que o PSDB, como partido que governou o Brasil durante oito anos antes da era Lula, e que tem administrado o Estado de São Paulo nos últimos 16 anos, tem se mostrado completamente fracassado como representante dos interesses do povo.


Primeiro, porque eu mesmo nunca votei no PSDB. Portanto, não os considero representantes das minhas aspirações enquanto cidadão político, embora lhes reconheça a legitimidade. Segundo, um governo é um ente administrativo. Lhe cabe gerenciar a coisa pública. E é tudo o que o governo, notadamente o deste Estado de São Paulo, não tem feito.


Quero luz e voz. Quero qualidade por serviços mais do que taxados. Pago alto pelo consumo de ambos, não tenho muitas opções de escolha (no caso da luz, nenhuma alternativa) e, portanto, quero ligar a luz e tê-la 24 horas. Quero tirar o telefone do gancho e ouvir o som de discar. Quero me conectar ao acesso de banda larga e tê-lo com a velocidade contratada, seja de 1 Mbps, 2 Mbps ou 10 Mbps. Quero o que pago. Se me derem luz, voz e internet, minimamente 23:50 horas por dia, não agradecerei. Não é um presente. É um serviço pelo qual pago.


PSDB, tire suas ancas das cadeiras palacianas, pare de tragar o baseadinho que Fernando Henrique Cardoso resolveu por bem acender, e acenda a luz. Ilumine esse Estado com luz e com internet. Ou ficaremos com a Idade Média do Afeganistão, às escuras.

domingo, 8 de maio de 2011

Meu rugido dominical



"O órgão sexual é um plus, um bônus, um regalo da natureza. Não é um ônus, um peso, um estorvo, menos ainda uma reprimenda dos deuses", afirmou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, ao votar a favor da união estável gay. Ou os deuses da Justiça enlouqueceram e o ministro, jocosa e ludicamente (e talvez ao pensar no próprio prazer) se animou ao votar, ou, finalmente, alguém entendeu que gay é um conceito que extrapola o sexo e significa alegria em todos os âmbitos, afetivos ou carnais, que seja. O fato é que o STF, do Poder Judiciário, fez o que o excelso Congresso Nacional, do Poder Legislativo, não teve coragem: tirou do armário a união estável gay e, com isso, abriu portas, armários, janelas e um País inteiro para uma parcela da população que, até então, tinha 112 direitos a menos do que os casais dito normais, os heterossexuais.


Em julgamento histórico, o STF reconheceu, no dia 5 de maio de 2011, por unanimidade (10 votos a favor e uma abstenção), que a união estável entre pessoas do mesmo sexo é válida. Agora, casais gays (homem-homem ou mulher-mulher) passam a ser considerados, pela lei, como uma unidade familiar semelhante a qualquer outra no Brasil. Essa decisão tem o que, no direito brasileiro, chama-se "efeito vinculante", o que significa, na prática, que os demais tribunais estaduais devem adotá-la em julgamentos similares em todas as 27 unidades da federação.


Entre esses direitos estendidos aos gays, estão a comunhão de bens, a pensão alimentícia, pensão do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que garante o direito à aposentadoria, planos de saúde e herança. No entanto, isso não funciona de forma automática. Como todos esses processos envolvem a Justiça, os casais gays, assim como os heterossexuais, terão que ir aos tribunais para fazer valer seus direitos. Particularmente, conheço um casal gay que está junto há mais de 50 anos e que, na iminência da morte, se precaveu, antes dessa lei, por meio de testamento, para garantir ao que continuar vivo direito ao patrimônio construído durante todo esse tempo. Também sei que as famílias de ambos, que desaprovam a união, já sobrevoam a potencial herança feito abutres. É contra esse tipo de atitude, sobretudo, que a nova lei agirá.


"Por que o homossexual não pode constituir uma família? Por força de duas questões abominadas pela Constituição: a intolerância e o preconceito", afirmou outro ministro do STF, Luiz Fux. Da forma como se espera de um ministro da mais alta corte judiciária do País, Fux disse que a homossexualidade é um traço da personalidade. Logo, caracteriza a humanidade de determinadas pessoas, completou. Apropriadamente, o ministro criticou o Congresso Nacional: "O reconhecimento da união homoafetiva é uma travessia que o legislador não quis fazer, mas que esta Suprema Corte sinalizou que fará". Como fez, afinal. No Congresso, projetos sobre a união gay ou mesmo o casamento gay (que ainda continua em suspenso) são debatidos desde 1995 sem qualquer resultado. Ou seja, o STF deixou no chinelo o Congresso, que engatinha sobre o tema há 16 anos.


É claro que há muito a ser comemorado com a decisão do STF. É um avanço sem precedentes no Brasil, País cujo legado judaico-cristão, que não pratica o laicismo, e cuja democracia se estende, no máximo, até o ponto em que fica proibido que namorados gays se beijem (seja na rua ou na TV) ou que as pessoas usem uma kilt ao seu bel-prazer. Quer dizer, democracia, a fundo, em que o indivíduo não é tolhido nos seus direitos institucionais, não existe, de fato.


Mas, ainda há um imenso caminho a ser percorrido, do qual o mais extenso, na minha opinião, é o preconceito. De nada adianta estabelecer no papel o que pode ou não quando minha família, amigos, vizinhos e estranhos me considerarem "diferente". E diferente na acepção triste, não na que distingue as pessoas e as torna tão plurais.


Ao mesmo tempo em que mentes abertas às atuais demandas da sociedade votaram a favor da união estável gay, cabeças obscurantistas e barrocas, relacionadas, claro, às vertentes religiosas, igreja católica à frente, refutaram a aprovação: "Polígamos, incestuosos, alegrai-vos, eis aí uma excelente oportunidade para vocês", indignou-se o excelentíssimo advogado da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Hugo José Cysneiros. A CNBB é porta-voz oficial da Igreja Católica no País. Engraçado que a CNBB pense logo nesses termos, dado que conheço mais de um padre gay, que adora festinhas, drogas e algum rock'n'roll.


Os próximos passos, certamente, ainda são polêmicos. O casamento gay, em si, não foi aprovado. A Constituição, ipsis literis, reconhece a união estável entre o homem e a mulher. O que implica que a equiparação do casamento gay não é tão simples e deve demandar debate na Justiça.


Outro ponto polêmico, para as cabeças obscuras, convictas (!) de sua sexualidade, é a adoção por casais gays, também não encampada pela atual aprovação.


De qualquer forma, esse é um pequeno passo para a sociedade e um grande salto para a comunidade gay, afirmo, em alusão à caminhada lunar. O Censo revelou, no final de abril, que 60.002 brasileiros afirmaram morar com cônjuges do mesmo sexo, o que corresponde a 0,03% da população total do País. Ou seja, três pessoas a cada grupo de 10 mil outras afirmam ter uma união estável gay constituída na prática. De imediato, a aprovação da união gay estável pelo STF dá a esse grupo os 112 direitos antes reservados apenas aos casais heterossexuais.


No mínimo, o Brasil se alinha, agora, a quase 30 países do mundo que reconhecem a união estável entre pessoas do mesmo sexo para efeitos de herança e outros direitos legais. De qualquer forma, se o Brasil está atrasado, com o debate que tramita no Congresso Nacional desde 1995, o mundo, na comparação, não é tão diferente assim: foi apenas em 2001, há dez anos, que a Holanda tornou-se o primeiro país do mundo a permitir o casamento entre gays.


Até agora, no entanto, pouco menos de uma dezena de país permite esse tipo de união. Nos demais, o "casamento" gay varia entre união civil integral (caso do Brasil, com essa nova legislação) e união civil parcial. A maior parte do mundo, entretanto, permanece refratária à questão. Se quase 30 países avançaram, outros quase 30 ainda consideram o homossexualismo crime, passível de prisão. E quase outra dezena está na Idade Média: homossexuais, nesses países, sobretudo na África e Oriente Médio, são condenados à pena de morte.


Há muito a se caminhar nesse mundo, enfim.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical


Nos EUA, na última quarta-feira, 23, o presidente Barack Obama, na voz do secretário de Justiça Eric Holder, finalmente começou a cumprir uma das promessas de campanha. Obama, como se sabe, não tem feito um governo exatamente revolucionário tal qual a sua própria eleição e tem sido, ao contrário, bastante criticado por posições ou nulas ou tardias.

Mas, na quarta, ao que parece, Obama começou a rever suas iniciativas. Ou melhor, algum assessor resolveu que o presidente dos EUA está em débito com o povo norte-americano: Obama ordenou ao Departamento de Justiça que não mais defenda a lei federal que define o casamento como uma instituição apenas entre um homem e uma mulher. Dessa forma, o casamento homossexual deve ser examinado sobre critérios mais amplos e não há nenhum fundamento racional para discriminar os casais do mesmo sexo. Ou seja, Obama resolveu defender o casamento gay.

A mudança de orientação indica que Obama passa a trabalhar, oficialmente, pela legalização das uniões homossexuais nos Estados Unidos. Até agora, apenas seis estados - Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Vermont e Washington - autorizam o casamento gay.

No Brasil, na quinta-feira, dia 24, o ex-Big Brother Brasil (vencedor da quinta edição do programa da Rede Globo, com o prêmio de R$ 1 milhão) e agora deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) fez seu primeiro discurso na Câmara dos Deputados. Ao falar, disse que, como primeiro deputado federal assumidamente homossexual eleito no Brasil, trabalhará principalmente pela garantia dos direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT). O deputado deve apresentar uma proposta de emenda constitucional (PEC) que reconheça o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

"É preciso mostrar que aquela família de comercial de margarina não existe ou existe ao lado de muitas outras famílias diferentes. A ausência de leis não significa que a realidade (da união de pessoas do mesmo sexo) não exista", discursou. Jean deixou claro que o casamento civil é diferente do reconhecimento da união estável entre gays, que está em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. O casamento garante os direitos sucessórios, algo que a simples união estável não faz.

Jean é parte de uma bancada gay e de simpatizantes do Congresso Federal que tem ainda a senadora Marta Suplicy (PT-SP), Manuela D'Ávila (PC do B-RS) e Fátima Bezerra (PT-RN), que devem trabalhar juntos pela criação de uma Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT.

E o trabalho do deputado já começou: pela primeira vez, este ano a Secretaria da Receita Federal (que gerencia o Imposto de Renda) incluiu parceiros homossexuais como dependentes para fins de dedução fiscal. Claro que uma contra-ofensiva, formada por parlamentares evangélicos, tenta derrubar a iniciativa da Receita Federal. Como providência, o deputado disse que vai discutir esta semana com outras lideranças da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT, ainda em reestruturação, uma maneira de barrar o movimento articulado pelo deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), que considera o benefício ilegal.

Isso é apenas o início de uma longa batalha pelos próximos quatro anos, que é o tempo do mandato de Jean Wyllys. Pelo histórico do Congresso Nacional e pela própria atuação da ex-deputada Marta Suplicy, agora senadora, todas as tentativas semelhantes foram mal-sucedidas. Sempre a bancada evangélica derruba qualquer esforço de evolução num debate que, na minha opinião, deveria passar ao largo de qualquer teor religioso. Embora sejamos um Estado laico, por definição, bancas evangélicas (e, claro que sim, católicas) entendem que a minha vida, a sua (se você é gay) ou a de qualquer outro ser está nas mãos delas. Xô!!! Sai satanás, que não preciso de homens obtusos, que recolhem dinheiro de fieis desinformados, para conduzir a minha vida sob essa ou aquela lei.

A única lei que vale é a lei do livre-arbítrio e eu decido o que quero fazer, com quem e quando. Espero que o deputado consiga levar adiante alguma novidade nesse debate. Circulou pela internet a informação de que a página de Jean Wyllys no Facebook havia sido bloqueada a semana passada. Isso teria ocorrido, segundo o deputado, menos de 24 horas depois de ele ter começado a percorrer a Câmara para pedir assinaturas para a criação da Frente Parlamentar LGBT. Uma série de usuários combinou de denunciar a página do político juntos para causar o bloqueio prévio até que a direção do Facebook analise se as denúncias procedem. Eu acessei hoje mesmo a página de Jean no Facebook e a encontrei em operação normal. É uma guerra que, de santa, não tem nada. Apenas o apelo ao imaginário popular que ainda acredita que alguns deputados agem mesmo pela fé. Eu digo é que agem pela má-fé.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical



Até este domingo, 6 de fevereiro, eram oito os países do Oriente Médio que estavam em diferentes fases de crises e conflitos: Tunísia (que deu início à onda de protestos no mundo árabe), Argélia, Líbia, Egito (no qual a adesão massiva da população é mais patente), Líbano, Jordânia, Territórios Palestinos e Iêmen. Em diversos graus, cada um desses países, rigidamente dominados por governos muçulmanos e totalitários, está num nível em que as perspectivas - de vida, de emprego, de saúde, de liberdade de expressão, de evolução social - são de zero para números negativos.


A degradação e a pobreza desses países e a incessante opressão, conduzida sob o nome de Alá, acabaram por resultar na imolação de um camelô na capital tunisiana, Túnis, que, feito rastilho de pólvora, provocou a convulsão em cadeia de toda a região.


As primeiras reações foram tipicamente aquelas tomadas por governos ditatoriais: repressão policial, corte das comunicações - TV, internet, telefone -, e censura, com violência, sobre a imprensa estrangeira. Uma situação déjà vu em muitas outras regiões deste planeta.


Uma onda similar ao tsunami que acossou uma outra parte do globo na Ásia e em parte da África em dezembro de 2004, quando mais de 300 mil pessoas morreram, tomou conta de parte, de novo, da África e de um pedaço do Oriente Médio. Ambas as regiões, observe-se, dominadas, sobretudo, pela miséria e pela falta absoluta de perspectiva.


Exceto pela Arábia Saudita, Emirados Árabes, Qatar, Bahrein (o país proporcionalmente mais rico do mundo) e Kuait, os países atualmente envolvidos na revolta árabe e mais o Marrocos, Mauritânia, Líbia, Omã, Síria, Somália, Sudão, Djibuti e Ilhas Comores estão em algum processo de revolta, silenciosa ou não. São, todos, majoritariamente, muçulmanos.


Isso não significa que a religião os torne mais oprimidos e menores ante os demais países do mundo. Não, ao contrário, o mundo árabe é responsável por uma série de grandes invenções e de processos que deram origem ao que chamamos de sociedade moderna hoje. Significa que os respectivos governantes - famílias ou clãs poderosos que, vindos das mais arcaicas tribos árabes, dominam sob o inclemente calor do sol e a peso da areia toda aquela vastidão.


Mas, um povo não sobrevive de cânones religiosos. Vive de pão e de água. E se não os há, ou se os há insuficientes, não demora que o levante se estabeleça. Isso é histórico e diz muito sobre os processos políticos que levam a massa a se subelevar. É isso que tem dado o combustível aquelas áridas areias produtoras das maiores fontes de petróleo do mundo. Apenas isto.


Meu protesto particular aqui é apenas pela forma como o mundo ocidental, tão auto-declaradamente democrático, se porta. Como de resto, em outras situações similares. Mais particularmente, chamo a atenção para o papel da mídia estrangeira, a grande imprensa mundial que, efetivamente, filtra a história.


Os grandes meios de comunicação, notadamente grupos norte-americanos e europeus, glorificaram o papel das redes sociais - Twitter, Facebook, YouTube - como ferramenta da revolta árabe. Assim como aconteceu no Irã no ano passado, o mundo colocou a internet e as social networks como responsáveis por essas manifestações que atingem escala mundial. Besteira!


Como a primeira providência desses governos é cortar o acesso à internet e a outras formas de comunicação, e dada a total falta de infraestrutura para que os organizadores dos protestos se reorganizem, é evidente que as redes sociais têm pouca influência no processo. São, sim, meios. Mas, o gás que move as pessoas é a busca por perspectivas, e não os meios tecnológicos que as reúnam em torno desses mesmos objetivos.


A mídia ocidental recolheu-se e esperou que aparecessem as primeiras vítimas fatais. Covarde, assim como o fez no Irã, repetiu o mesmíssimo comportamento. Primeiro, não deu atenção e, sobretudo, não conseguiu nem antever os movimentos que precederam a revolta. A grande mídia pouco se lixa para sociedades consideradas, por essa mesma imprensa, medievais. Um único interesse move imprensa e governo, juntos: o econômico. Quando os levantes indicam consequências financeiras, como o aumento do barril de petróleo ou eventuais incêndios nos poços produtores (lembre-se do Iraque), aí sim a grande mídia mundial - CNN, News Corp., The New York Times, Guardian, ABC, CBS e umas outras tantas se envolvem.


Faço uma única restrição, honrosa, a todos esses manipuladores da história mundial: a TV Al Jazeera, que transmite em inglês e árabe. A TV do Qatar é o único veículo que conhece a região e é capaz de fazer o relato isento. Não é à toa que, no Cairo, Egito, o escritório da Al Jazeera foi devidamente saqueado e incendiado e seus jornalistas, presos.


Enquanto a mídia fizer par com governo - e isso vale para os EUA, Europa, Brasil e qualquer outra região na qual imprensa e poder público se unem ao redor de semelhantes valores -, dificilmente as pessoas conseguirão elevar suas vozes. As redes sociais? São, repito, ferramentas que, como foices, enxadas e machados, podem ser usadas precariamente. E é só. O mérito está nas pessoas, e não na internet ou em qualquer outro meio.

domingo, 5 de setembro de 2010

Meu rugido dominical



Quem procura, acha. Não? Pois penso que sim, que as respostas estão todas por aí, à espera das perguntas certas apenas.


Depois de reclamar por semanas, talvez eu mesmo tenha obtido retorno às minhas inquietações e anteveja um horizonte onde as nuvens são baixas e monocromáticas, verdadeiras ovelhas a pastar alegremente contra o azul da atmosfera.


Veja o que a revista The New Yorker publicou e me diga se ainda tenho esperança na minha busca incessante:


Você está doente e cansado(a) da eterna busca do falso romance e do imaginário ideal da 'alma gêmea'? Você está interessado(a) em encontrar aquela pessoa especial que é uma espécie fugidia sob uma luz fraca? Você é um dos milhões de solteiros(as) que decidiu largar mão e quase admitir que está tudo bem com o fato de ser sozinho? Pois o SettlingDownward.com (começar a ter uma vida estável e ordeira ou ser calmo(a), numa tradução livre) é o site para você. Finalmente, há um serviço de encontros para as pessoas com as quais se pode ser feliz. Em primeiro lugar, no entanto, é ncessário que sejam respondidas algumas questões para que o site ajude a criar o seu próprio perfil pessoal. De preferência, com baixas expectativas que é para não sair em desvantagem desde o início.


Vamos às questões.


1. Como você classificaria a sua aparência?


(A) Medonha.
(B) Remendada (seja por plástica ou qualquer outro meio que não ouso nem sugerir).
(C) Por que eu deveria usar calças quando nem pernas eu tenho?


2. Por que você acha que nunca conheceu alguém especial?


(A) Porque eu não tenho permissão para viver perto de uma escola primária.
(B) Porque homens/mulheres são superficiais, e são atraídos(as) apenas pelas pessoas com dinheiro, boa aparência e lenços.
(C) Porque eu ainda não encontrei a portinha que dá acesso à TV.


3. Qual é a sua ideia de uma ótima maneira de passar uma manhã de sábado?


(A) Pegar algum café, ler o jornal, pegar um filme e ficar todo o tempo sentado no vaso sanitário.
(B) Andar de mãos dadas pelo parque, sozinho/a (ou seja, com as mãos dadas consigo mesmo(a), seu(sua) louco(a)!).
(C) Passar o dia inteiro na cama, com meus pais.


4. Como você explica o término do seu último relacionamento?


(A) O meu computador travou.
(B) A boneca inflável explodiu (mas eu disse para todos que era de felicidade).
(C) Eu tenho sarna.


5. Qual é a sua definição de amor verdadeiro?


(A) Alguém que não diga "Quando eu olho para você, eu quero vomitar" no meu aniversário.
(B) Um sentimento especial que me faz querer lavar todos os lugares que as pessoas possam ver.
(C) Ser capaz de terminar as frases um do outro com um mínimo de segurança.


6. Onde gostaria de ir em sua lua de mel?


(A) Fora.
(B) A um cinema para ver um filme no qual as pessoas atraentes se apaixonam e saem em lua de mel.
(C) Para a Terra Média (morada de Peter Pan), fora de temporada.


7. Qual é o seu requisito mínimo de um(a) companheiro(a)? (pode escolher até três).


(A) Fechar a porta da geladeira.
(B) Fechar a porta do banheiro.
(C) Nunca dizer "estou fazendo uma nota mental".
(D) Nunca se irritar com os juízes enquanto assiste a uma competição de dança na televisão.
(E) Nunca murmurar sobre meus defeitos para o gato.
(F) Lembrar que ainda é casado(a) e continua na minha casa.


8. Você ficaria com alguém que já tem filhos?


(A) Claro, porque suas vidas não seriam minha culpa.
(B) Sim, se as crianças tiverem nomes de uma única sílaba, mais fáceis de lembrar.
(C) Somente se ele (ela) tiver oito dessas (crianças) e eu significar mais do que elas.


9. Que palavras ou frases que você usa durante a relação sexual?


(A) "Corra, menina! Encontre Timmy!".
(B) "Isto não é uma tatuagem".
(C) "Sim, essa é a minha mão. Depois que eu terminar, pague por isso".


10. Qual é a coisa mais romântica que alguém já fez para você?


(A) Picou meu marido/minha esposa.
(B) O detetive disse que eles não estavam "cem por cento certos" conforme a lógica da polícia (creio que é alguma referência a um tipo de violência escabrosa, como assassinato).
(C) Se esqueceu de verificar a sua identificação de chamada.


11. O que você considera ser o seu ativo físico mais atraente?


(A) Meu olho (o único, note, não os dois).
(B) A pele sob a minha atadura.
(C) Minha coleção de pornôs dos anos 70.


12. Consideraria namorar alguém mais velho? Quanto mais velho?


(A) Tom Brokaw (âncora da TV NBC entre 1982 a 2004).
(B) Abraham Lincoln (16º. presidente dos EUA, que governou entre 1861 a 1865).
(C) Alguém que já era adulto quando Tom Brokaw e Abraham Lincoln ainda eram calouros.
(D) O primeiro macaco a andar ereto e que depois trabalhou com Tom Brokaw e Abraham Lincoln.

Calma, muita calma nessa hora. O site referido pela revista não existe, é fictício. E eu, até onde consigo controlar os neurônios e sinapses do meu próprio cérebro, NÃO SOU UM SERIAL KILLER! Acho. Somente pensei que, se existisse um site de encontros desse tipo, muitas coisas poderiam ser resolvidas antes do primeiro encontro. Né?

domingo, 29 de agosto de 2010

Meu rugido dominical



"É um ambiente hostil e potencialmente mortal para seres despreparados. Altas temperaturas causam perda rápida de água devido ao suor e à ausência de fontes de água para recuperar o líquido perdido, o que pode resultar em desidratação e morte em poucos dias. Os seres humanos desprotegidos também ficam sujeitos ao risco da insolação. Os humanos podem ter de se adaptar às tempestades - e não apenas nos seus efeitos nocivos para o sistema respiratório e olhos -, mas também nos efeitos prejudiciais sobre os equipamentos como filtros, veículos e outros."


O texto acima faz parte de uma descrição rápida do deserto do Saara, na África. Mas poderia se referir à cidade de São Paulo que, desde a semana passada, sofre sob um inclemente clima que fez a umidade relativa do ar chegar a 10% (em agosto do ano passado). No deserto do Saara, a umidade relativa média varia entre 5% e 15%. Em São Paulo, tivemos 13%, 15% na mesma semana.


Isso significa que vivemos numa cidade que, ora por conta dos fatores climáticos, ora por iniciativas políticas, praticamente está à mercê de grandes catástrofes. Eu sempre temi a possibilidade de São Paulo sofrer um terremoto. E, sim, temos registro quase anuais de tremores na zona central da cidade. Pequenos abalos que são registrados por moradores no lustre que se balança, na sensação de enjoo e de tontura. Mais: tenho certeza de que, em algum momento, nos próximos anos, registraremos a primeira ocorrência de neve na cidade. É questão de tempo.


Mas essa não é uma questão local. São Paulo é apenas mais um exemplo do que acontece no mundo: dos mais de 40 graus centígrados na Europa aos deslocamentos cada vez mais rápidos de icebergs vindos do Ártico, é um fato que a temperatura média na Terra se eleva em patamares jamais vistos antes.


Em geral, não sou catastrofista, predisposto a pregar o fim do mundo, com choro e ranger de dentes que se somam às gigantes catástrofes naturais que assolam regiões como New Orleans, os países orientais devassados pela tsunami, os tremores que soterram centenas e milhares na América Central e na China.


Contudo, a sensação que tenho é que seremos solapados por eventos cada vez mais frequentes e precariamente previstos. E, de forma ainda pior, jamais estaremos, pelo menos por aqui, no Brasil, preparados para tais eventos.


Como morador de São Paulo por um período razoável, registro, por minha conta, uma mudança no clima da cidade. Onde havia, nas manhãs brilhantes, uma nuvem branca de neblina que dava uma coloração juvenil à cidade, hoje temos faixas de poluição a tomar conta da linha do horizonte. Ao pôr do sol, equivoca-se quem pensa que o amarelado/alaranjado do céu é poético. Está mais para profético, com os prenúncios de um mundo em colapso.


Neste domingo mesmo mal consigo respirar. As narinas fremem, doem. A pele está seca, feito o leito de um rio extinto. Toma-se água, um litro, dois, três. E nada é capaz de conter a sensação de secura, de mal-estar.


Olho para as árvores ao redor de casa e tudo o que vejo são galhos esturricados. Pobres árvores. Pobres aves que as habitam. Pobres de nós que, inclementes, continuamos a persistir com nossas individuais emissões poluentes.


Na última sexta-feira, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), pediu que os motoristas deixassem os respectivos carros em casa para ajudar na melhoria do ar da cidade de São Paulo. Nesse mesmo dia, eu estava agendado para fazer a inspeção veicular do meu próprio automóvel (que, casualmente, eu não uso para trabalhar; vou de ônibus e, graças à gentileza de uma colega e vizinha, volto de carona). É o programa de inspeção ambiental veicular, o Controlar, que tem como mote ajudar a melhorar o ar de São Paulo. Na minha opinião, é apenas mais um meio de sacar dinheiro do bolso dos paulistanos. Na prática, veja só: em São Paulo, o rodízio de veículo - a cada dia, dois finais de placa são proibidos de circular no centro expandido (um perímetro entre 7 a 10 km a partir do centro da capital) das 7 às 10 horas e das 17 às 20 horas - não resolveu nada em termos de poluição, motivo pelo qual foi implantado. Na semana passada, o rodízio completou 15 anos e não resolveu nem o problema ambiental e tampouco o congestionamento no trânsito, que passou a ser o principal motivo para mantê-lo.


Nunca soube de nenhuma medida ampla que, por exemplo, incentivasse o plantio (e manutenção) de árvores pelos moradores. Vi na TV, também na semana passada, uma experiência de um edifício em Tóquio que é, literalmente, atravessado pelo verde: na fachada e também no interior, onde existem verdadeiras lavouras e jardins. Magnífico. Tenho cerca de dez plantas dentro de casa. Valorizo o verde. Nasci no mato, no meio do verde, e vivi esse verde por mais de 15 anos. Quando estou no interior, não tenho problemas de respiração, meus olhos não congestionam e não sinto como se estivesse num Paris-Dakar. Reparei agora mesmo que no meu ambiente de trabalho, pelo menos à minha volta, há apenas uma planta. Para mais de 40 pessoas! Nem mesmo eu tenho uma planta na minha mesa!


Você pode sugerir que eu volte para o meio do mato. OK! Mas isso é uma solução individual, paliativa. Com o tempo, a continuarmos assim, estaremos todos, urbanos e rurais, no mesmo deserto. Sem oásis.

domingo, 22 de agosto de 2010

Meu rugido dominical



Você é solteiro(a), casado(a), divorciado(a) ou curioso(a)? Seja qual for o caso, adoraria saber a opinião de cada pessoa a respeito de relacionamentos. Na média, o senso é comum. Mas, de perto, como ninguém é normal, esse senso desanda e pode ser tudo, menos comum.


A principal revista semanal do Brasil, a Veja, traz como matéria principal a instituição do casamento e afirma: Casar faz bem. Será?


Eu sou solteiro (saco, meleca, merda, droga, uó do borogodó, jezuismariajosé!). Portanto, o que posso falar do casamento? O que sei funciona mais ou menos assim (mais ou menos!): quem está fora quer entrar, quem está dentro quer sair.


Não há consenso. Absolutamente! Os solteiros (aka encalhados, por assim dizer) vivem feito umas mariposas. Circulam em volta das lâmpadas e caem de bêbados. Quando muito, se aferroam a alguns outros ferrões para depois levantar voo feito libélulas no lago - ficam numa circulação inglória, giram sobre si mesmos e passam a maior parte do tempo numa contemplação, talvez narcisista, da própria vida (nossa! fui tão franco nesse parágrafo!).


Mas, desplugado o botão que faz a liga momentânea, o que resta é um abandono, um estado meio sem sentido das coisas, uma falta total de perspectiva. Agora há pouco, uma amiga ferina disse que eu tenho que namorar. Nojenta! Só porque eu celebro conquistas no FarmVille. Será que estou em estado de surto e em ritmo avançado de regressão à infância?


Uma outra amiga é testemunha: tenho preparado o meu casamento há muito. Só falta um detalhe: o outro lado.


Outro colega, dia desses, ficou estarrecido quando disse que também eu queria me casar. Me disse: "Você? como assim?". Gente! Tem um monte de gente que se casa. Mas parece que estou mais para quatro funerais e cinco batizados do que para um casamento.


Não, nunca senti o bafejo que ronda recém-casados, aquele círculo invisível que parece contaminar todo mundo e que, de vez em quando, faz com que desconhecidos encontrem, entre a cerimônia e a festa, suas respectivas caras-metade.


Quero casar! Quero porque quero. Me mandam namorar, me acusam de ser solteiro por convicção (coisa que, definitivamente, não sou) e, o pior, sou padrinho de dez casais sem que tenha recebido a menor recompensa por ter suportado os cânones católicos! Injustiça, claro que é.


Não li a reportagem da revista Veja. Não sei se casar faz bem. Não sei se o casamento pode me fazer bem. O fato é que a solidão, certamente, não faz. Não sofro exatamente de uma solidão crônica. Não tenho crises, daquelas de conversar comigo mesmo no espelho (a despeito de eu adorar me ver refletido) e me perguntar: por quê? por quê? por quê? OK! Pareceu meio histérico tanta interrogação mas eu juro para você, não sofro de ataques histéricos. Ah! Outro dia bebi e ri muito e tive vontade de quebrar um monte de coisa no bar. Mas não fiz nada. Em casa, lembro apenas de ter desmaiado convenientemente.


Queria que alguém me contivesse. Não, não para me conter, me impedir, me limitar. Que me contivesse em si, dentro de si (sexo? também, mas dentro de si é mais do que isso!). Que me contivesse feito aquelas equações matemáticas que afirmam que A está contido em B, sabe?


Se é preciso casar para isso? Olha, não sei. Sei que quero casar. Vou publicar proclamas de um só: Redneck Abóbora da Silva comunica que casa este final de semana e se alguém tiver alguma coisa contra, favor entrar em contato com a 31ª. comarca deste foro. Ué? Não posso? Por que não? Posso tudo o que eu quiser, inclusive não casar. Mas eu quero casar. Saco!

domingo, 15 de agosto de 2010

Meu rugido dominical



Existem algumas ondas que, de tempos em tempos, estouram nas praias brasileiras, vindas sabe-se lá de que mares! Essas ondas começam com brisas fracas, crescem em volume na medida em que são alimentadas por ventos e algumas tempestades e, por fim, arrebentam. No mais das vezes, acabam em espuma, como, de resto, todas as ondas. Todo mundo acha que conhece o secret point (onda secreta). De fato, se todo mundo acha isso, de secret, o point não tem nada, não é? Mas o fato é que o swell (sequência de ondas perfeitas) depende mais do acaso do que de doutrinas, isso sim!


Uma das mais apreciadas ondas neste momento pelos surfistas que se dizem antenados com as melhores práticas para alisar em boa formação é a política da sustentabilidade. Acho isso tudo tão inconsistente que, no final, todos - quem acha que conduz a prancha e quem assiste - acabam por tomar um bom caldo.


Assim, ao invés de entubar a onda, o surfista é por ela entubado e acaba em banco de areia ou, pior, no inside (arrebentação). Todo cuidado é pouco para evitar tanto as marolas quanto as tsunamis porque, para furar a onda e ir além dela, é preciso um pouco mais do que marketing e conceitos sem consistência.


Por definição, sustentablidade é um conceito relacionado à continuidade de aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade. Ao mesmo tempo em que as pessoas precisam preencher suas necessidades, têm que preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais. Ou seja, se você consome - qualquer coisa - deve fazê-lo de forma consciente. Os requisitos da sustentabilidade são a prática da ecologia, viabilidade econômica, justiça social e práticas culturais aceitas.


Agora, transposto esse conceito para o ambiente corporativo, que é o que tem feito um sem-número de empresas, percebe-se, como sempre, que os surfistas nadam, nadam e nadam para morrer na areia. Ocorre que o conceito, na essência (e no qual eu não acredito nem um pouco), ao ser assim usado, se banalizará da mesma forma que a qualidade prevista pelos padrões ISO (International Organization for Standardization ou Organização Internacional pela Padronização). Tantas e as mais inúmeras empresas correram atrás de certificados de qualidade ISO que mais ninguém dá a menor bola para isso e, tenho comigo, o ISO se flexibilizou tanto a ponto de a qualidade ser apenas uma palavra solta. Basta observar algumas empresas de call center que têm certificações de qualidade ISO e ser atendido(a) por elas para confirmar, na prática, que tal qualidade, certificada ou não, é uma ilusão.


Da mesma forma, quando as empresas fazem marketing sobre sustentabilidade disso e daquilo, eu olho e ignoro. É apenas uma onda. Que será furada em breve pela banalização a pretexto de venderem mais e mais. Vender. Esse sim é um conceito legítimo porque é para isso que foram criadas as empresas e seus produtos e serviços. Por enquanto, alguns grommetts (surfistas jovens, iniciantes) acreditam nessa onda.


Eu, como haole (surfista de fora, forasteiro), duvido muito dessa e de outras ondas que desaguam todas em todas as praias. Espumas, todas elas. Apenas espumas. Escrevi antes que não acredito na essência do conceito de sustentabilidade e explico porquê: como ser sustentável se nem ao menos temos, a maior parte de nós, sustentação financeira para sobrevivermos?


Odeio as campanhas, como a atual, de uso de sacolas de tecido ou qualquer outro material em oposição ao uso das sacolas de plástico dos supermercados. Gente! Isso é nada! E o lixo que separo, semanalmente, na minha casa? É um engodo! Separo o lixo orgânico do lixo reciclável há anos apenas para saber que a cidade de São Paulo, no meu caso, não tem capacidade para processar o lixo reciclável e, portanto, mistura tudo nos mesmos lixões dessa cidade! Isso é sustentabilidade? E vêm as cadeias de supermercado me ensinar a trocar a sacola de plástico por outra, que vendem? Bulshit!


As mesmas redes de supermercados que poluem com barulho e sujeira e vendem uma série de produtos vencidos (caso do Extra da Brigadeiro Luis Antonio) para trouxas que compram de imediato essas ideias de sustentabilidade! É de causar indignação!


Por isso, faço minhas as palavras de um colega que disse que, se uma empresa precisa fazer campanha de seus projetos sustentáveis, muito provavelmente esses projetos não se sustentam sobre si mesmos. Se você precisa vender a ideia ao invés de colocá-la em prática e obter adesões voluntárias, é porque  sustentabilidade, em si mesma, acaba de, como a qualidade (e ISO 9000, 14000 e outras certificações), tornar-se mais um selo para apor no produto ou no serviço na hora de, adivinhe!, vendê-lo. E é só isso.


Portanto, read my lips: é a economia, estúpido! É só isso que move o mundo, nada mais. No surf, a crista da onda chama-se lip. Na vida real, lip é lábio e a frase "Ready my lips: it's the economy, stupid!" serviu para alavancar a campanha de Bill Clinton e levá-lo à Casa Branca nos EUA. No nosso caso, particularíssimo, é apenas lábia. Uma onda quebra-côco, oca, que não dá ao pobre surfista a menor chance de entubá-la, quanto menos de surfá-la.

domingo, 8 de agosto de 2010

Meu rugido dominical



Em abril deste ano, o ator norte-americano Sylvester Stallone esteve no Brasil para as filmagens de "The Expendables" (Os Mercenários). Durante a feira de cultura pop Comic-Con 2010, na Califórnia, ao lançar o filme nos EUA, Stallone fez uma piada grosseira e uma crítica para o Batalhão de Operações Especiais (BOPE): "Filmamos no Brasil porque lá você pode machucar as pessoas enquanto filma. Você pode explodir o país inteiro e eles ainda dizem para você 'obrigado e tome aqui um macaco para você levar para casa'", disse. Até agora eu não entendi essa história de levar um macaco para casa.


Sobre o BOPE, o Rambo em músculos e cérebro afirmou: "Os policiais de lá usam camisetas com uma caveira, duas armas e uma adaga cravada ao centro. Já imaginou se os policiais de Los Angeles usassem isso? Já mostra o quão problemático é aquele lugar (Rio de Janeiro)". Engraçado é que foi justamente a polícia de Los Angeles que desenvolveu o Special Weapons Attack Team (Grupo de Ataque com Armas Especiais), mais conhecido pela sigla SWAT.


Em dezembro do ano passado, assim que o Rio de Janeiro foi anunciado como cidade-sede das Olimpíadas de 2016, o ator (também norte-americano) Robin Williams concedeu entrevista ao programa de David Letterman, nos EUA, e soltou: "Chicago enviou a Oprah (Winfrey) e a Michele (Obama). O Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó (cocaína). Não foi uma competição justa". Robin Williams é exatamente conhecido por seus problemas contínuos com o uso de drogas.


No desenho animado "Os Simpsons", em episódio passado no Rio de Janeiro, a cidade é vista como perigosa para os turistas, com macacos na rua e o sequestro de Homer Simpson por um taxista. Em outro desenho, "South Park", o presidente Lula teve participação especial, com Nicolas Sarkozy (França) e Gordon Brown (Grã-Bretanha), ao resolver dividir dinheiro de alienígenas entre si ao invés de devolvê-lo.


Em 2007, um integrante da delegação norte-americana, durante os Jogos Panamericanos no Rio de Janeiro, escreveu em uma das sedes do Pan: "Bem-vindo ao Congo". O integrante era gerente de relações com a imprensa e foi enviado de volta aos EUA.


Na TV e no cinema, a história se repete e a origem sempre são os EUA. No seriado norte-americano "Law and Order", uma empresa multinacional, que tinha a promessa de assinar um contrato para fazer a segurança dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, tenta corromper um integrante do Comitê Olímpico Internacional (COI) na Bélgica para votar no Rio como cidade-sede e garantir a assinatura do contrato.


No filme "Turistas", de 2006, o Brasil é retratado como um lugar perigoso. De novo, norte-americanos visitam o País e são roubados, apanham, são drogados e torturados para a retirada dos órgãos para transplante. Em "Anaconda", de 1997, a bola da vez é Manaus, no Amazonas, em que uma cobra gigante atormenta a vida de norte-americanos. Liderado pelo pai da Angelina Jolie, Jon Voight (putz! que decadência!), o filme é do tipo horror show barato. O presidente Lula, em comentário sobre a Copa do Mundo de 2014, em que Manaus será uma das cidades-sede, pediu em discurso para que os turistas tomem cuidado com a "sucuri destreinada" da Amazônia. Por certo, em referência a "Anaconda".


Antes desses episódios todos, no entanto, os EUA e, particularmente, os estúdios de Hollywood, sempre foram pródigos em fazer fugir para o Brasil os bandidos de seus filmes. Durante toda a minha vida, sempre assisti a filmes com essa referência.


"Os estereótipos são duros de matar. As coisas mudam, o país é visto de forma mais séria, mas os estereótipos não deixam de existir. O estereótipo ainda é o mesmo, de futebol, carnaval, festa. Mas acho que o mais forte é a praia mesmo, pois as pessoas não entendem nem o que é carnaval", discorre o brasilianista Joseph A. Page, da Universidade Georgetown, de Washington, EUA.


O pesquisador diz que esse tipo de desconhecimento - emitido por pessoas públicas, mídia estrangeira, TV e cinema - em relação ao Brasil é uma frustração porque ele mesmo sempre trabalhou para divulgar a cultura e realidade brasileiras. O fato de o Brasil ter aparecido cada vez mais na mídia internacional faz com que as pessoas saibam sobre a existência do País mas, ainda assim, as nuances sobre o Brasil ficam na superfície. Page, que é autor do livro "The Brazilians" (Os Brasileiros), de 1990, morou muitos anos no Brasil e assegura que esse tipo de comentário e opinião, considerados ofensivos pelos brasileiros, não refletem, de fato, preconceito contra o Brasil. "Acho que nunca houve preconceito contra o Brasil. As pessoas sempre são muito atraídas pelos brasileiros e pelo país", afirma.


Concordo e discordo com Page. Concordo quando ele afirma que os estereótipos são difíceis de serem enterrados. Isso vale para o Brasil e para uma centena de outros países, nos mais diversos matizes que podem ter os estereótipos - "os árabes são perigosos", "os chineses são sujos", "os franceses não tomam banho", "os ingleses são homossexuais enrustidos", "os russos são bêbados" etc. etc. Há uma lista imensa de clichês, de conhecimento público, sobre cada um dos povos.


Discordo quando o escritor afirma que as opiniões emitidas por personalidades que têm ressonância pública não têm cunho preconceituoso. Claro que têm! É a mesma coisa que Pelé, Lula, Paulo Coelho e Gisele Bündchem passarem a afirmar, a cada vez que abrem suas bocas, que os EUA, por exemplo, é um país burro, que não conhece nada além do próprio umbigo. Que confunde Buenos Aires e Brasília e que acha que tudo o que está abaixo da linha do Hemisfério Norte resume-se a florestas, macacos, índios, pobreza, fome e África.


Sim, há um crescente interesse dos países estrangeiros sobre o Brasil. O fato do País estar prestes a tornar-se um gigante produtor de petróleo, de sediar em dois anos dois grandes eventos mundiais - Copa do Mundo e Olimpíadas, de exportar modelos de inclusão social e de distribuição de renda criados e desenvolvidos durante o governo Lula, de provocar polêmicas ao se aproximar de países considerados "perigosos", sobretudo pelos EUA, como Irã e Venezuela e de se ver como um tijolo vigoroso dos Brics tem provocado todas as reações - preconceituosas e maldosas. Também não sou nenhum ingênuo que, feito molequinho de curso primário, chora porque o coleguinha do lado me xingou e tentou me bater.


O que nos faz, aos brasileiros, sermos o que somos, primeiro, é o nosso jeito de ser e viver. Somos otimistas por natureza. Somos passionais em algumas coisas (como o futebol) e completamente suíços (nulos, olha o estereótipo) em outras (corrupção do governo). Somos ótimos anfitriões. Somos festeiros e barulhentos e, por isso, muitas vezes odiados em terras estrangeiras (sim, já fui testemunha disso). Por outro lado, somos, sim, queridos. Nas poucas viagens internacionais que fiz, bastou me identificar como brasileiro para angariar o carinho do estrangeiro, fosse na China, na Finlândia ou na Argentina. Portanto, além de botar a boca no trombone e berrar contra o desconhecimento e preconceito contra o Brasil - via Twitter e na internet, de forma geral -, temos é mais que nos orgulharmos desse imenso e lindo País que nunca registrou uma guerra de grandes proporções, não tem pena de morte, não sofre com terremotos e não precisa mostrar força bélica e invadir países do outro lado do mundo para provar que tem poder. Amo o Brasil!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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