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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Eu sei o que vocês fizeram a noite passada


Patty e eu nos encontramos ontem, depois de um breve interlúdio marcado pela: a) Minha transformação física que, de humano, passei a dragão e, mais tarde, a Quasímodo; b) Pela aventura de Patty em Buenos Aires que, miraculosamente, saiu ilesa na ponte aérea São Paulo-Buenos Aires, com alguns toques surreais que soam acontecer especificamente com ela.

Ontem, resolvemos nos encontrar para nos vermos e também para eu celebrar com a amiga, tardiamente, o meu aniversário. Fomos ao Veloso, para uma rodada de chopp e das maravilhosas coxinhas-creme do lugar, que estampam este post e das quais eu trouxe uma porção adicional para casa.


Como sou, antes de tudo, um observador curioso e abelhudo (né, Man in the Box?) da vida alheia, resolvi ir até lá de metrô porque:


2. Porque era meu rodízio.

Cheguei lá antes da Patty, que mora nas proximidades, mas, que tem o pendor de me deixar na espera (sorry, Patty, mas, é verdade). Enquanto esperei, comecei a estudar (dissimuladamente, creio, porque estava ainda no primeiro copo) os frequentadores. Claro que fingi que mexia no iPhone - no intervalo, acessei o blog, procurei músicas e enviei um SMS para Patty.

Mas, em simultâneo, observei, observei e observei. Tenho ao menos três histórias para contar, resultado de tanta observação. Mesmo após a chegada de Patty (e conversamos muito a despeito da teoria defendida por ela de que à medida que escrevemos mais, falamos menos), continuei no exercício (doce) de registrar os companheiros de boteco. O que vi:

História 1 - Um casal feiíssimo cuja libido era tão grande quanto o teor de fealdade que somavam os dois que, em alguns momentos, uniam-se num só bloco. Ele, de bigode, ela, magra. Ambos, feios, bonitos se lhes pareciam reciprocamente. Comeram-se e aos quitutes e se foram, com toda a feiúra, bonitos no apelo sexual que emanava de ambos.

História 2 - O casal gay chegou com todo o estereótipo possível - bem-vestidos, com tênis originais, cabelos bem cortados e completamente absortos um no outro (se bem que houve olhares sorrateiros de ambos para as mesas vizinhas). Um deles tinha tatuagens simétricas nos dois braços, o que denota, mais uma vez, um princípio estético inerente aos gays, em geral. De forma bastante discreta, conversaram pouco, pediram os pratos, comeram - sem muita movimentação, inclusive com os pés em posição pas de deux (um deles, o tempo todo), pediram a conta e saíram. Em oposição ao ardor que emanava do feio casal, eles exalaram perfumes conhecidos e também um certo constrangimento que me pareceu algo meio mal-resolvido. Parecia que estavam ali mais por obrigação do que por vontade.


História 3 - Havia uma grande mesa, para uns dez ou 12 lugares, reservada. Quando cheguei, não havia ninguém à mesa. Pouco depois, chegaram duas meninas. No balcão, ao meu lado, havia um cara sozinho. Houve uma troca de olhares que ligou o balcão à mesa. E só. Conforme o tempo avançou, a mesa começou a ser povoada. Chegaram cerca de umas sete ou oito mulheres e uns três caras. Uma das meninas que chegou acenou para o cara do balcão e o levou até à mesa. Pelo menos umas três, nitidamente, se voltaram para ele. Por algum tempo, calculei que ele imediatamente ficaria com uma delas. Não foi o que ocorreu. Ao contrário, e para a minha surpresa, aos poucos ele e o outro cara que estava ao lado começaram a conversar e desprezaram as mulheres. E, para falar a verdade, acho que houve mais que integração: chegou 
um determinado momento em que eles estavam frente à frente, com uma linguagem corporal bastante explícita - pernas e tronco completamente voltados um para o outro. Não sei se Patty viu tudo isso. Ela estava de costas para a mesa. O ápice foi quando um deles tocou o rosto do outro uma, duas e três vezes. Quando se levantaram, sorriam um para o outro. Ainda comentei com Patty sobre porque os dois haviam se entrosado, e não com as meninas da mesa. "Porque eles têm mais em comum entre eles e, para ficar com as mulheres, não é preciso conversar tanto. Eles sabem que ficarão e pronto", me disse Patty, sem dó nem piedade. Foi mais ou menos isso que ela me disse e creio que tinha razão. O que eu não supunha era que o "em comum" fosse tanto em comum.


Voltei para casa de táxi (cujo taxista acabara de ser multado e, claro, estava possesso) e repassei mentalmente o que havia visto. É o moto-contínuo, não é? Se ontem Quasímodo, e anteontem dragão, hoje estou reflexivo e também quero ser observado e que contem histórias sobre mim.

Para que eu seja protagonista de um post num blog, vou agora mesmo para a rua. Nem Quasímodo nem dragão, apenas eu mesmo. Que gosto das pessoas. Se escrevi sobre elas nas histórias acima, é porque gosto delas. Feias, caladas, surpreendentes, somos, todos, assim, não é? É o "meu outro olhar", Patty.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Quasímodo saiu do armário


Vi o mundo hoje, quarta-feira, 30. Caminhei à larga pela Avenida Paulista, parei no Center 3, no Conjunto Nacional, fiz um pedaço da Augusta. Caminhei sem medo da multidão. Do dragão que ontem fumegava, um Quasímodo distendido resolveu sair da torre e se misturar aos mortais.


Explico a metamorfose de dragão em Quasímodo: depois de mais de 48 horas sentado em posição de Lótus moderno (em frente ao computador, digo), claro que a escoliose assumiu proporções de corcunda. Por isso, Quasímodo.

Minha vetusta torre não é nenhuma Catedral de Notre Dame e tampouco São Paulo é Paris. Mas, entre soltar o dragão e ser detido pela Guarda Metropolitana e sair à francesa, digo, à Quasímodo, vi que era melhor passar por monstro 2 (Quasímodo) do que por monstro 1 (dragão).

Conservo a barba dos dias de purgação. Por que eu haveria de fazer a linha da face lisinha se, de bebê, Quasímodo não tem nada? Se bobear, há um pequeno filete prateado que escorre da boca. Mas, a minha loucura, ainda bem, não tem sintomas exteriores, só internos.

Daí que resolvi sair do armário. Por três horas, fiquei na rua, sem um objetivo estabelecido. Apenas vagar. Sempre que concluo grandes jobs, tenho vontade caminhar sem rumo. Talvez para fazer escoar de mim o peso de tanta informação que, no final das contas, não me diz nada. Que prefiro as palavras como as encaminho por aqui, soltas e sem uma linha racional que as ligue. Se pudesse, cortaria o fio de Ariadne para me perder em definitivo no reino das palavras.

Da minha experiência de Quasímodo fora do armário, devo dizer que não assustei nem os cachorros. Talvez acostumados por monstros 3, 4, 5 ..., os cães, de forma mais esperta que os donos, identifiquem nos Quasímodos, dragões e afins mais afinidades do que se supõe haver entre humanos. E, você sabe que é bom andar por aí com cara de louco que foge do hospício?

De fato, tem um monte de loucos na rua, mas, ninguém admite. Daí que não cruzei, em absoluto, com olhares apavorados. Antes, recebi olhares recíprocos, de outros que saíram do armário e que insistem em parecer normais.

Até - e isso é extremo - fiz uma linha social. Dei passagem para alguns apressados na calçada, conversei (????) com um cara cuja loja mudou de lugar, brinquei (????) com a menina do café e sorri para algumas pessoas (com 15ª.s intenções).

Concluo que Quasímodo não mete medo em ninguém. Ou sentem pena, e, portanto, o acolhem com susto e dissimuladamente, ou o corcunda de Notre Dame está melhor no ranking social do que eu mesmo. De volta à catedral, estou em paz. A corcunda começa a pesar menos e o dragão, vencido pelas últimas três noites de trabalho, recolhe-se à caverna para mirar os traços dos pré-humanos (leia "A Caverna", de Saramago, e o inacabado "O Castelo", de Kafka. Encontrará em ambos os dragões todos que me habitam e, com alguma sorte, um Quasímodo).

terça-feira, 29 de julho de 2008

Na caverna do dragão


Estou a poucos passos de me tornar efetivamente um dragão encurralado na própria caverna: como eu disse ontem, também hoje é dia de Maria: encerra-se à meia-noite o meu próximo deadline. São ao todo quatro matérias que somam pouco mais de 20 mil caracteres. Três já foram expedidas, com a graça da banda larga.


O dragão? Sou eu! Estou com uma barba bandida, sem comer nada a não ser umas maria-moles e tomar litros de café. O cigarro ajuda, confesso. E compõe o dragão, porque sou, antes de tudo, antenado com a mise en scène.

Acabei de ler no blog da Patty uns comentários sobre a viagem da fofa para Buenos Aires e as aventuras a que a pobre (!) foi submetida nos pampas. Alguém comentou sobre o incidente em Antares, ops!, Sauípe, e me lembrei que nos referíamos a ela como um dragão encerrado na caverna.

Patty, neste momento, em que me isolo para terminar o trabalho, creio que posso avaliar a extensão de se ser um dragão. Estou dentro de casa há mais de 36 horas e a única certeza que tenho de que há vida fora da caverna é que:

1. Tenho janelas

2. Ouço ruídos (ou serão da minha cabeça?)

3. O telefone toca

4. A internet funciona

5. O jornal foi entregue na porta

Fora isso, sei que estou mesmo com cara de dragão. Do jeito que levantei, me pus a escrever. Minhas pretensões de trabalhar madrugada adentro acabaram no instante em que eu pousei olhares de carinho para a minha cama.

Mas, admito que, se há um dragão cá dentro, faltam-me asas. Se eu as tivesse, as bateria e sairia a queimar algumas redações pela cidade. Não é cólera, Engraçadinha, é amor!

Quanto às chamas, essas as tenho e, teúdo e manteúdo, as mantenho, intermitente e continuamente, que nem mesmo a inexistência de dragões pode extinguir.

O calabouço auto-imposto, no entanto, está prestes a ser rompido: com o fim do cigarro, o dragão aqui terá que mostrar a cara e as garras na rua. Falta pouco (para o cigarro, não para o trabalho). Se cruzares comigo, desviais-vos do meu caminho ou te queimarei com meu fogo!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Meu aniversário!


Cumprido o ritual de passagem, sabe que nem doeu? Há pouco mais de duas semanas, retornei do interior com a missão de dar cabo de dois jobs: um, com deadline para hoje, 28; outro, amanhã, 29.

Porque, na vida de um freelancer, os jobs se aglutinam ou são escassos. Nunca equilibrados. Daí que você tem que tomá-los ainda que não saiba muito bem o que será de você quando tudo findar.

Nas duas últimas semanas, fiz dezenas de entrevistas, apurei fatos, busquei dados, obtive boas entrevistas. Tudo o que compõe a matéria redondinha que você, leitor(a), lê e gosta ou não.

Como trabalho para publicações especializadas, e não para a Caras ou a Contigo, muito provavelmente você nunca leu minhas matérias - técnicas, laboriosas, cheias de especificidades para áreas segmentadas.

Foram praticamente duas semanas inteiras de apurações e, no final, o que sobra são dezenas de anotações: palavras riscadas rapidamente em cadernos para acompanhar o entrevistado. Depois, o trabalho minucioso para decifrar aquela letra que nem a medicina produz equivalente.


Hoje, com um dos prazos finais estabelecidos, foi, a um só tempo, um dia glorioso e exaustivo. Desde a última sexta-feira, escrevo. Deslizo os dedos pelo teclado para dar forma às oito matérias finais que comporão um só bloco que, no mínimo, deve ser de fácil leitura.

De ontem (domingo) para hoje, escrevi das 14 horas às 5 horas da manhã. A produção foi boa, mas, não a ponto de eu concluir tudo. Sobraram-me três matérias e alguns box (pequenos textos). Os concluí, finalmente, às 23 horas desta segunda.

Hoje, segunda, 28, atordoado por tanta informação que deve ser compilada em número exato de caracteres, fui cercado da vasta multidão que são minha família, amigos, irmãos, primos, colegas, blogueiros e até mesmo pessoas que não conheço (ou penso que não).



Recebi mensagens por e-mail, por celular, atendi chamadas durante todo o dia (ainda fiz algumas entrevistas), recebi um presente maravilhoso (que você, que me deu, tem uma sensibilidade perfeita, em sintonia com o meu momento), recebi um cartão cujo remetente também teve o timing perfeito entre o envio, lá de longe, e a recepção, por mim, no dia exato.

Recebi carinho de todos os lados, o que fez com que minha exaustão, minha fome, meu sono, meu modo de lidar com tantas informações fosse tudo mais ameno. Estive sozinho o dia todo, colado à tela do computador. Contudo, das 9 horas da manhã às 23:58 horas, me senti mais do que frequentado por todos vocês.

Não sei que melhor meio de se trabalhar do que este: estar cercado por todos, de diferentes origens e laços. Ainda não tive tempo para agradecer individualmente. Orkut, Facebook, SMS, e-mail, ligações não-atendidas (me perdoem, a linha estava ocupada, quase sempre, e, quando não atendo o celular, é porque estou em plena entrevista de trabalho).

Queria abraçá-los, a todos, todos vocês que fizeram algum tipo de conexão comigo nesta segunda-feira. Porque garanto que me senti cercado por essa corrente, sem pretensões esotéricas ou qualquer outro tipo de explicação sobrenatural. Apenas carinho, foi tudo o que senti.

Agora, nesta terça-feira, 29, parto para mais um job que, até às 24 horas, deve ser entregue. Aproveitarei a imensa energia que recebi para concluir o às vezes muito árduo ofício do jornalismo.

Um beijo, um abraço. Amo todos vocês!

(me desculpem a falta de jeito: as fotos são de um bolo de chocolate e de maria-mole. Por quê? Me deu vontade, me deu saudade da maria-mole lá do interior e, ao contrário do que se clama que em casa de ferreiro, o espeto é de pau, em casa de cozinheiro, a colher é que é de pau. Fiz o meu próprio bolo e as maria-moles por vontade, gula, sim, mas, sobretudo, por simples vontade e para me livrar do computador por alguns momentos. Ah! O bolo tem recheio e cobertura!)

domingo, 27 de julho de 2008

Meu rugido dominical


Amanhã, segunda-feira, 28, faço aniversário. Nem vou cobrar de você, leitor(a), as respectivas mesuras porque seria redundância. Quero comentar aqui os ciclos de vida, ou de passagem, ou, ainda, de uma forma mais arcaica, os ritos de passagem.


Me lembro que, quando eu tinha 16 anos, eu estudava na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo. Fiz o curso técnico de comércio (sou contador também, acredita?). Na ocasião, a cidade ainda tinha cinema. Eventualmente, passo por Santa Cruz (estive lá agora em julho), mas, não sei se a cidade dispõe de alguma sala de cinema ainda.

Sei que, na ocasião, estreou no cinema o filme "O Império dos Sentidos". Na época - e agora - tudo o que era proibido atraía mais. Fui ao cinema, na esperança de ver o tão comentado filme. Claro que fui barrado. Fiquei possesso. Prometi a mim mesmo que teria 18 anos o mais rápido possível só para poder entrar em qualquer cinema e assistir a qualquer filme que eu bem desejasse. Também na época estreou "E.T.". Nesse eu entrei, seguido por um bando de adolescentes dos quais eu (ainda) fazia parte. Bãhn!

Hoje, em retrospecto, queria voltar, claro, sem as limitações bobas. Não mais para assistir um determinado filme, mas, voltar àquela vida mais ingênua. Daqui, dos meus não-tão verdes anos, vejo que muita água rolou sobre as pontes que construí entre o adolescente que queria ver "O Império" e o adulto que anda relapso com o cinema, com um monte de salas à disposição.

Quando adolescente, claro que eu tinha aspirações, algumas perspectivas e muita dúvida. As perspectivas, com o passar dos anos, ficam mais reduzidas, na verdade. Ou, melhor dizê-lo, mais realistas. Ou você pode ou não. Não tem mais aquele clichê bobo "querer é poder".

De lá para cá, mudei. Mudei de cidade, de vida, de mundo. Sou eu e não sou eu mais. Sou muito mais auto-crítico, até demais. Sei mais do que gostaria, talvez. Não tenho complexo de Peter Pan, mas, às vezes, um pouquinho, queria não ter crescido tanto (por dentro e por fora, pode crer!). Prefiro-me atual, o que sou, ao adolescente confuso. No entanto, lamento a perda de uma pureza que nunca mais a terei. Com toda a confusão daquela época, eu estava intocado pelo mundo, até então.

Mas, insatisfeito, busquei o mundo. Não sei dizer se transgredi. Na minha essência, o que vejo, de fato, é que me encontrei. Ainda não por inteiro, mas, uns 80% estão sob meu controle. Os ciclos se sucederam nestes anos e me reinventei de várias maneiras, profissional e pessoalmente. De bancário passei a jornalista e, da minha condição de jornalista, talvez eu migre para ser um cozinheiro em abafadas cozinhas. Não sei. O que sei é que sou um insatisfeito atualmente.

Neste exato momento em que escrevo, por exemplo, penso nas matérias que tenho que fechar ainda hoje. Domingo, sol lá fora, às vésperas do meu aniversário e a minha única expectativa é a de escrever cinco ou seis matérias ainda hoje e entregá-las. Certamente, não estou nada satisfeito.

Não creio que nada de especial marque uma passagem como o dia do aniversário. Já passei da euforia ao desprendimento nesta data, da surpresa à decepção para esperar que uma megasena emocional me surpreenda. Claro que, como leonino, adoro ser paparicado e receber as homenagens. Mas, o que importa, mesmo, é que o tempo trata de suavizar as cobranças e demandas e tudo o que diz respeito a demandas emocionais começa a se cristalizar em pequenos momentos.

O aniversário me soa muito como um final de ano. Inevitavelmente, a despeito de eu rebater o jargão, faço um balanço. Ao meu aniversário atrelo a minha migração para São Paulo, que ocorreu poucos dias depois de eu fazer 19 anos. Dessa forma, sempre ligo uma data à outra. E, também em retrospectiva, avalio o que significa, de fato, eu morar aqui.

Creio que, pessoalmente, realizei muito ao vir para cá. Mas, ao mesmo tempo, em um pequeno lapso de sentimento bovariano, lamento o que perdi, se é que eu os teria, aqueles momentos perdidos.

Se há uma ponte que me liga, o eu atual ao eu adolescente, o nome dessa ponte é interrogação. Sou o mesmo, nesse contexto. Aumentaram em mim algumas percepções, antes apenas vislumbradas. Reduziram-se outras ilusões. Atrelei-me a um modo de ser que, visto em lupa, tem uma série de fissuras que podem corromper a armadura duramente forjada.

Assim como estou em constante mutação de direções para a minha vida profissional, quero também me despir dessa armadura na minha vida pessoal. Se tem alguma coisa que a idade traz, além dos acessórios físicos dispensáveis, é a percepção cada vez mais crítica de mim mesmo. E, da pessoa que vejo, neste momento, eu não gosto.

O que me cria, mais uma vez, o ensejo de buscar um outro. Que me satisfaça até os próximos meses ou anos, quem sabe? Mas, que preciso de novas pontes a me ligarem a outros continentes, preciso. Sair do casulo, mais uma vez, e ver o mundo. Que não nasci para ser um carmelito descalço e passar a vida enclausurado!

sábado, 26 de julho de 2008

Os livros me negaram três vezes

Perambulei por toda a tarde de hoje pela Avenida Paulista. Depois da reforma, as calçadas ficaram mais largas, mais convidativas às caminhadas. Não digo que gostei do acabamento final da avenida, com um monte de alterações, a começar dos pisos das calçadas.


Reconhecida como a principal avenida do País, a Paulista bem que merecia calçadas mais vistosas. Enfim, não tenho notícias de que alguma prefeitura (exceto as capitais européias) se preocupe com algo tão chão como a estética das calçadas das cidades.

Aliás, se a cidade passasse por uma repaginação como ocorreu com a Oscar Freire, creio que São Paulo seria ainda mais convidativa ao passeio a pé. Acho estranho, desde sempre, que não tenhamos bancos espalhados pelas calçadas. Isso, de alguma forma, nos reduz a meros passantes, sem chance de apreciar de fato cada pedacinho desta cidade.

Mas, o meu assunto é outro. Ontem, pedi luz. A tive hoje na forma de uma tarde típica de outono, com um sol que não maltrata. Antes, anima. Saí para fazer algumas coisas pequenas que, tenho a impressão, acumulamos para o fim de semana como pretexto para quicar aqui e acolá como bolas para saracotear pela cidade. Isso é bom!

Não cumpri metade das minhas intenções: um lugar do qual eu gostava fechou, outro mudou e a maior parte das lojas de rua fecha depois do almoço.

Claro que, independentemente da minha vontade, sempre acabo nas livrarias. E aqui, sim, o motivo deste post: os livros me disseram não, em raro momento de rebeldia. Fiz a via-crúcis das três livrarias: Cultura, no Conjunto Nacional, fnac, em frente ao prédio da Gazeta, e Martins Fontes, antes da Brigadeiro. As três livrarias, em uníssono, ecoaram um gigantesco não. Foram três negações, todas na mesma tarde, ao contrário daquele Outro que foi negado pela madrugada adentro.


Em geral, sou atraído rapidamente pelos livros. Não preciso mais do que cinco minutos para decidir. Até enrolo um pouquinho para dar a impressão de que não descobri um tesouro e quero sair o mais rápido possível para desfrutá-lo. É um comportamento meio bobo, eu sei, mas, a mim me parece que vou e volto o mais rápido possível, com medo das pessoas. Não é verdade. Bem, um pouquinho é. Mas, não sou hermético suficiente a ponto de dar um berro se alguém falar comigo (exceto os atendentes, para os quais já estou previamente preparado).



Ao escrever assim, posso passar uma impressão de que sou um esteta esnobe ou um completo bucéfalo. Nem uma coisa nem outra. É só uma impressão. Sou afável, educado e uso perfume.

Bem, sempre eu escorrego, quer dizer, nado no córrego das palavras. Voltemos aos livros. Os danadinhos não me quiseram, de alguma forma, neste sábado. Sempre tão cúmplices, tão fluoxetínicos conforme meu próprio fluxo A ou B, desta vez me desertaram feito soldados gays do exército.


Mantiveram-se impávidos. Soldadinhos de chumbo. De capa dura ou não, foram duros comigo. Palmilhei metros de prateleiras na cultura fnac martins fontes e permaneci sem fontes, sem martins, sem cultura e sem fnacs. Voltei liso e leso. Me senti despido.


Creio que está em curso uma revolução livresca, grotescamente orquestrada quiçá pelas traças dessas livrarias. Não consigo atinar com explicação mais plausível. Ou então, num rompante, as editoras me bloquearam ou aos títulos que poderiam me atrair.

Despido da roupagem de livros que carrego feito talismãs, estou meio sem rumo. Se eu fosse supersticioso, diria que esse rompimento súbito tem a ver com o fato da corrente que eu não tiro do pescoço ter se arrebentado (encontrei a danada enroladinha no tapete do quarto e mal consigo imaginar porque batalhas passamos eu e a corrente durante a noite a ponto de eu arrebentá-la e atirá-la longe de mim).

Como no creo en las brujas pero que los hay una infinitud de misterios por el mundo, decidi que, por enquanto, os livros que permaneçam impávidos. Eu, colosso, vou ignorá-los. Com solenidade, porém, sem confronto. Não quero desencadear uma guerra por tão pouco.

O que me acalma, na falta da fluoxetina, é que mantenho um estoque de livres virgens (os há, creia-me!). Estou a meio caminho do final de um livro do qual esperava mais - "Ponto de Vista de um Palhaço", de Heinrich Boll, Estação Liberdade - e, por favor, que as livrarias não me leiam, tenho dois ou três virgens por aqui, prontos para serem devassados (deflorados seria grosseria, talvez desfolhados fosse o caso). Hehehe!!! Por enquanto, 1 x 0 para mim. Será que estou em algum surto? Não responde, melhor não!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Ordinariazinhas

Na Argentina, um homem de 45 anos foi à polícia reclamar porque uma mulher armada o atacou, o levou a um terreno baldio, roubou suas coisas e tentou fazer sexo com ele.



Segundo o próprio argentino, devido à tensão do momento, não conseguiu ter ereção e, portanto, o abuso sexual não se concretizou.


A mulher, compreensivamente, ficou furiosa com a falta de ereção e atirou na cabeça do infeliz. Por sorte, a bala não disparou. A bandida roubou todo o dinheiro do coitado e mandou ele tirar as calças e fazer sexo com ela. A polícia confirmou a veracidade do caso e o classificou como tentativa de abuso sexual.


Outro dia, num filme, uma personagem citou uma pesquisa (não sei se fictícia ou não) que dava conta que é mais fácil uma mulher sofrer um ataque terrorista do que casar.



Por conta disso e de uma série interminável de reclamações de uma vasta ala feminina que conheço, creio que entendo as razões da muchacha. A argentina decidiu que se o sexo não acontecer por bem, será por mal mesmo. Da próxima vez, sugiro que ela leve junto um psicólogo para que o "sortudo" não falhe.

Ou, então, teremos que andar com protetores genitais porque, ou muito me engano, ou essa onda pode pegar (quer dizer, nos pegar), tendo em vista que há cada vez mais mulheres à beira de um ataque de nervos só porque não têm sexo. Pode? Que besteira!

Luz

De fato, elas não têm nada em comum. Nadinha!


Mas, de uma eu preciso de um raio de luz.

Da outra, dos dois sóis, que um me é pouco neste momento.

Ainda que o dia esteja luminoso. Ainda assim.





quinta-feira, 24 de julho de 2008

Emigrantes


Hoje, quinta-feira, 24 de julho, deixa o País uma grande amiga. Outra emigrante do meu não tão extenso círculo de amigos. Sou de poucos amigos. Me basta o pouco.


Com a viagem da La Voyageuse, serão quatro os amigos que vivem no exterior. La Voyageuse se vai para Montreal, Canadá. E vai porque tem que ir. Tem um dado momento que você deve partir, seja do seu País, da casa dos pais, da sua própria casa. A mudança é o moto-contínuo que faz a girar a roda do mundo.

Outros três amigos vivem em NY (EUA), Bruxelas (Bélgica) e Luanda (Angola). Estão longe geograficamente, mas, nunca os sinto longe demais que não estejam ao alcance de meia dúzia de palavras. Um contato por e-mail, um recado no Facebook, uma passadinha no Orkut. E, voilà! Estamos conectados novamente.

Com a partida da La Voyageuse, serei povoado virtualmente de quatro diferentes cantos do mundo, quatro distintas culturas. Tenho a facilidade da osmose, que me permite viver, por afinidade, muitos dos momentos desses amigos. Não preciso estar no local para compartilhar emoções. Vivo com os relatos, com as notícias. Até com a falta de notícia, viu Alessandra e Ana?

Navegar é preciso, viver não é preciso, disse o luso. Concordo. Navegar é buscar. É partir. Não sou egoísta a ponto de sentir que "perco" esses amigos. Ao contrário, os ganho no mundo. 

Libertaram-se de raízes que, no final das contas, não estavam alicerçadas a ponto de não poder serem removidas.

E, como eu disse para La Voyageuse, o que nos mantêm e nos ata ao lugar? O trabalho? Duvido! Os amigos? Esses os temos a qualquer hora e em qualquer lugar, segundo minha crença. Então, o que nos prende? Nada.

Somos, sim, pássaros. Podemos bater em revoada a qualquer momento. O que me prende ao Brasil? O fato de eu ter nascido aqui? Nada mais me limita ao meu território.

Se há alguma vantagem na globalização, para mim, é o sentido que esse conceito dá à expressão "aldeia global". Um vôo me separa dos demais continentes. Se a minha bisavó fez uma travessia dura pelo Atlântico ao deixar a Espanha e vir dar origem a nós, seus descendentes, aqui no Brasil, e dispendeu entre 3 e 4 meses no mar, onde entregou aos peixes dois filhos, hoje eu refaço o mesmo caminho em apenas 9 horas.

De um solo a outro, o que muda é a língua. No fundamento, somos, todos, iguaizinhos, sejamos brasileiros, ingleses, espanhóis ou macedônios. Oras! Leia nos livros e assista nos filmes: estão lá, todos os seres, com as mesmas aflições e questões. Nada de diferente.

Então, La Voyageuse, vai. Navegue, trilhe, caminhe. Respostas? A quê? Às respostas prefiro as perguntas, o novo, as descobertas. Leve consigo apenas sua própria moradia, que é você mesma. Leve consigo seus temores, suas perspectivas, suas motivações, suas angústias. Essas são a sua morada.

Embaixo da terra, em Montreal, ou nas tundras canadenses, não importa. Seja o chão de neve, de barro, de calcário, é o mesmo chão desta Terra que, se me permite, nos pertence. Daqui, do mirante do nono andar, somente o que vejo são chegadas, em oposição às partidas.

Um dias desses nos encontramos num aeroporto qualquer. Um café, uma conversa familiar, risos e novidades. Só para satisfazer as demandas físicas. Porque, as demandas emocionais são atemporais e independem do espaço que lhes cabe no latifúndio imenso que é a Terra. Boa viagem!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Perdi a cabeça

Amanheci sem rosto. Senti uma leveza, ao me espreguiçar, e não senti os movimentos correspondentes da boca, dos olhos, a coceira no nariz, o arquear das sobrancelhas, o difícil e penoso abrir dos olhos depois da semi-morte do sono.


Desconfigurado, me senti leve. Sem necessidade da máscara. Como bônus, não mais me ver ao espelho. A princípio estranho, me dei conta de que a opacidade era bem-vinda. Porque, muitas das vezes, reconheci, me olhei ao espelho e não vi nada.

Sem rosto, não havia mais a fileira de dentes para a obrigatória escovação. Os cabelos, que os quis longos, curtos, nenhum, lisos, ondulados, coloridos, negros, desfiados ou acalmados pela pomada, já não faziam sentido.

Definitivamente sem rosto, iniciei o dia. Não o sabia claro ou cinzento, ensolarado ou nublado. Perdi, a um só tempo, quatro dos cinco sentidos: fala, audição, visão e paladar. Restou-me o tato.


Que fazer privado de tantos sentidos? Claro, pela sua lógica cartesiana, você me pergunta: mas, você consegue continuar a pensar sem cérebro? Claro que sim, respondo, da minha lógica ilógica. Pois que o cérebro me vazou para a barriga no processo de perda de rosto.

E pensar com a barriga dói, confesso. Aquela massa cinzenta que olha para a direita e enxerga a esquerda, que constrói respostas elementares ao menor sinal de perigo, se alojou na minha barriga. Que, com isso, ganhou uma dimensão extra, protuberante, uma camada a mais na cebola que já é redonda.

E pensar com a barriga efetivamente dói. Livre da cabeça, acabaram-se as dores de cabeça. Intensificaram-se as dores na (não de) barriga. Não é fácil conduzir corpos estranhos na barriga. Ouvi risadas das mães?

Com tanta perda, concluí que havia ganho mais no menos: ver o nada, ouvir o nada, sentir o nada, falar nada. Quanto ganho! Havia sido premiado, escolhido, era um iluminado (não o sabia porque não o podia ver, mas, a barriga me dizia que sim).


Poeticamente, avaliei minha nova situação. Como fui despojado de várias vestes simultaneamente, haveria alguns benefícios: sem boca, sem palavras e sem comida, logo, seria considerado ponderado, porque sem argumentação e aquiescente. Por etapa, magro, no pressuposto de que não haveria mais comida. Talvez sondas intravenosas com soros protéicos.

Sem olhos, perderia a faculdade de avaliar a autenticidade do outro pela intensidade do olhar. Em contrapartida, ganharia ao deixar de ver o feio.

Sem ouvidos, perderia porque não haveria mais música. Ganharia ao deixar de ouvir os ruídos adjacentes e dispensáveis. Não mais ouvir o telefone tocar, grande ganho! Finalmente, um mundo de silêncio. Mas, as vozes interiores ainda assim se fariam ouvir, dado que o cérebro acondicionado na barriga processava febril as sinapses.

Acordei bruscamente e, pelo tato, toquei meu rosto. Registrava que havia sobrado apenas o tato. Não tive coragem de abrir os olhos, apurar os ouvidos e engolir a saliva. Por instantes, me privei automaticamente dos quatro sentidos perdidos. Tive um pavor momentâneo de tê-los perdido. Em simultâneo, me arrepiei de pensar que era apenas uma sensação. E era. Entre a perda e o resgate da cabeça, não pude mensurar o tempo. Pode ter sido uma eternidade ou segundos. A teoria da relatividade deve explicar. O fato é que nesse intervalo de tempo desconhecido, fui um sem-cabeça, uma aberração para os padrões humanos. 

O arrepio do susto me conduziu ao arrepio do frio. Me levantei, olhos abertos, ouvidos afinados, boca em "O" de alívio/decepção. Fui ao banheiro. Me conferi no espelho. A face do espelho me devolveu minha face. Estava tudo lá. Havia também um sinal: ?

(Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais terá sido mera coincidência.)

terça-feira, 22 de julho de 2008

A Vida Secreta das Palavras

Assisti há pouco o filme "A Vida Secreta das Palavras", de Isabel Coixet (roteiro e direção). A sinopse: uma mulher (Sarah Polley) cuida de um homem (Tim Robbins) numa plataforma marítima de petróleo.


A diretora e a atriz já trabalharam juntas em "Minha Vida Sem Mim", tão denso quanto este que acabei de assistir.


O que mais me impressionou não foram as histórias dos dois personagens, e sim o motivo que leva as pessoas a se isolarem numa plataforma em alto-mar por meses. Alguns personagens afirmam literalmente que não conseguem viver em terra firme: "Tenho tremores quando estou em terra firme", diz um dos personagens. Outro diz que é mais fácil viver em meio a tanta água do que conviver com o "resto" do mundo.

Eu moro no nono andar do meu prédio. Às vezes, me sinto isolado como se estivesse numa espécie de torre. Daqui, tenho uma visão bastante abrangente de grande parte da Bela Vista e, com um pouco de esforço, ouço as grandes manifestações que ocorrem na Avenida Paulista. Vejo a 9 de Julho. Ouço eventos do Anhangabaú. E, a despeito de alguns me desacreditarem, até mesmo o barulho de shows do Anhembi.

Nos (raros) dias de pouca poluição e céu limpo, sou capaz de enxergar os contornos da Serra da Cantareira. É uma visão e tanto!

Mas, ainda assim, e com todo o barulho, vida, trânsito, ruídos de cidade grande, me sinto isolado. Só não há o barulho das ondas que batem nas vigas de aço da plataforma, mas, do contrário, quase que me sinto em um oceano infindável.

O filme é bonito. Sim. Ainda que faça concessões à redenção (o que nunca me agrada, né Alessandra!), gostei. Porque os diálogos, o cenário e a cegueira de um dos personagens realçam a vida secreta da palavras, como alude o título.

As palavras é que valem, no final das contas. Na torre/plataforma/nono andar, as palavras não concedem. Antes, contudo, distendem. Estraçalham, esgarçam, ressoam. Doem! E curam!

Foi assim que interpretei o título do filme. Porque, a cada livro que leio e a cada conversa que tenho, percebo mais e mais que as palavras têm vida (secreta) própria. Sim, nós as emitimos, certamente.

Mas, essas palavras podem ser como pássaros, que voam ao longe. Podem ser sinos de bronze que ressoam. Alarmes estridentes. Repetitivos. Podem ser ecos. Sim, têm vida própria. As há, as palavras mais duras, que não morrem nunca. Pairam enregeladas em nuvens que não se dissolvem. As carregamos feito fardos por toda a vida.

Como é mesmo que disse o Bandeira? "Estrela da Vida Inteira"? Acho que era isso. Ele dizia de estrelas, mas, significava palavras da vida inteira. Que brilham mais ou menos, assim mesmo, como nas constelações. Umas que podem ser vistas a olho nu. Outras, nem com potentes telescópios. As há, as palavras, assim como as há, as estrelas, que brilham intermitente ou eternamente.

Fiquei mais atado ao filme pelo nome do que pelo enredo, a princípio. Creio que as palavras impressas na tela com o nome do filme me disseram mais do que os diálogos. E o cérebro, que assim como outras partes do corpo, insiste em ter vida própria, não queria assimilar de forma alguma o nome do filme. Achei estranho. Fui e voltei com o controle várias vezes para lembrar o nome do filme. Por fim, desisti e escrevi. A memória trai, a safada! Está aí outra que deve ter uma vida secreta, separada de mim. Uma vida sem mim, a danada tem.

Aliás, que nomes, esses filmes da diretora! Ambos me tocam. Me fazem viajar no segredo das palavras, em suas vidas secretas e sem mim. Como ousam, suas tolas? Ousam porque estão soltas. Quantas palavras um ser humano fala por dia? E, quando nos calamos, em que dimensões ressoam todos os sons emitidos? Morrem? Anulam-se? Entrechocam-se em ondas magnéticas que se anulam feito prótons e elétrons?

Quantas palavras as há natimortas! As que estão a nascer! As bem-vindas. Esperadas. Ansiadas. Quantas são as não-ditas!

Tenho que dar a mão à palmatória: as palavras têm vidas secretas e, mais importante, vivem por aí, sozinhas, sem dar o menor valor a quem as emitiu. Encontram-se nas esquinas, descaradamente, a zombar de todos nós. Que nossos vocabulários são miúdos para tanta produção, devem dizer, sorridentes!

Minha vida sem mim. Minhas palavras emitidas e nunca mais recuperadas. Perdidas para mim. Será que ganhadas por outrem? Duvido! Desprezamo-as, as que emitimos e as que recebemos. Por isso, rebeladas, estão soltas, independentes, roliças até, de tão flexionadas.

Invejo a vida secreta das palavras. Independem de ar, de água, de calor, do frio. Vivem eternas, soberanas. São as caravanas que passam enquanto as ladramos, selvagens. Indomáveis, riem-se da nossa precariedade rota e com rota traçada: começo, meio e fim.

Porque, até mesmo ao fim, zombam de nós: "Aqui jaz!". Vitoriosas, voam feito anjos felinos, gatos pardos que nem a luz do dia ameaça. Adoro as palavras. As invejo, suas danadas!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

The Queen Is Back

A Disco Queen (Rainha da Disco) está de volta. Donna Summer retorna ao topo das paradas norte-americanas com "Crayons", álbum lançado em maio deste ano. Havia 17 anos (desde 1991) que Donna não lançava nada novo.
Depois de lançar "Crayons" e de cantar na final da última temporada de "American Idol", The Queen Is Back! Absolutely! Good save the queen and queers too!


Chico Balanceado

No sábado da semana passada (12/07), quando eu ainda estava no interior, fizemos na casa da minha irmã um jantar multicultural: comida espanhola, baiana e mineira. No domingo, estendi um pouco mais, já na casa da minha mãe, para a cozinha libanesa.


Fizemos (minha irmã foi a assistente e preparou a sobremesa sozinha, sob minha orientação, of course): Fabada Asturiana (prato espanhol), Bobó de Camarão (Bahia), Arroz com Aletria (Líbano) e Chico Balanceado/Manezinho Araújo (região Sul e Pernambuco, respectivamente).

Não me dei conta hora e nem depois. Mas, ao pensar nas escolhas do cardápio, percebi que uni minhas raízes de alguma forma na produção dos pratos: pelo lado materno, somos descendentes de espanhóis, da região da Cataluña; pelo paterno, alguma coisa que vem do lado da Síria ou do Líbano ou, ainda, do que se convenciona de chamar de "turco" aqui no Brasil; pela minha cidade de origem, fundada por mineiros. O Bobó, da Bahia, até onde eu sei, não tem significado nenhum nas minhas origens. Mas, vai saber!

De qualquer forma, achei engraçado o fato de ter juntado na cozinha três diferentes influências que, de alguma forma, me tornaram quem eu sou. E aos meus irmãos também.

Fiz os pratos para estimadas 15 pessoas. Somos, na minha família, minha mãe, cinco irmãos, três cunhados e quatro sobrinhos. Ao todo, somos 13. Não estou acostumado a cozinhar para tanta gente de uma vez e tripliquei as receitas. Foi muita comida e, segundo meu paladar, nada (a não ser a sobremesa) ficou como deveria ficar.

No entanto, o Bobó fez grande sucesso. A Fabada, em menor grau, foi consumida ao longo do jantar de sábado e pelo domingo afora. E o Arroz com Aletria se deu num compartilhamento do fogão materno (a despeito de certa má vontade da genitora que, percebi, não gosta de compartilhar o fogão). Sei que tomei de assalto o arroz que ia para a panela e o converti em um prato libanês que, admito, era muito arroz para o meu parco domínio daquele fogão que não é o meu.

De qualquer forma, a surpresa mais agradável foi a sobremesa, o Chico Balanceado, preparado inteiramente pela minha irmã e que, no dia seguinte, estava um primor. A pedidos, registro aqui a receita do Chico Balanceado, que também na faculdade fez bastante sucesso:


Chico  Balanceado

Rendimento: 8 porções

Ingredientes

Creme

- 4 gemas de ovos
- Essência de baunilha a gosto
- 1 lata de leite condensado
- 30 gramas de amido de milho
- 2 latas de leite integral

Calda

- 40 ml de água
- 200 gramas de açúcar
- Canela em pau à vontade

Merengue

- Raspas de limão à vontade
- 4 claras de ovos
- 180 gramas de açúcar

Modo de Preparo

1. Prepare a calda antes: misture o água e o açúcar. Cozinhe até o ponto de caramelo. Reserve.

2. Misture os ingredientes do creme - gemas, baunilha, leite condensado, amido de milho e leite - e leve ao fogo. Mexa sempre, até engrossar. Reserve.

3. Faça o merengue. Aqueça as claras e o açúcar a 50 ºC em banho-maria. Bata a mistura até levantar picos.

4. Forre o fundo de um refratário com a calda. Por cima, coloque o creme e espalhe uniformemente. Cubra com o merengue.

5. Leve ao forno pré-aquecido a 200 ºC até dourar. Retire do forno e deixe esfriar.

6. Decore com raspas de limão e sirva gelado.

domingo, 20 de julho de 2008

Meu rugido dominical


Um livro, um filme e uma conversa: todos giraram sobre o mesmo tema nesses dias, coincidentemente. Sobre o julgamento que as pessoas (você, eu e todos) fazemos uns sobre os outros o tempo todo.

Julga-se desde a cor da roupa, o comprimento da saia, a calça com a cueca à mostra até o comportamento escrachado, tímido ou que (pelos padrões de cada um, já em pleno exercício de julgamento) extrapola o que se convenciona como "normal".

Se uso ou não um acessório (brinco, piercing, unhas com esmalte preto, cabelo com reflexos, cabelos sobre os olhos), se me visto com a barriga à mostra (homens e mulheres), se rebolo ou não ao andar, se faço a barba ou deixo de fazê-la, se emagreci ou engordei, tudo, absolutamente, serve de referência para um comentário, para uma maldade, uma brincadeira. Não me excluo em nenhum momento desse tipo de comportamento porque o faço também, com frequência.

O juízo de valor de cada um vem de várias fontes: da primeira, que é a família, onde nascem os pre-conceitos, as formalidades, a noção de moral, de vergonha, de pudor; da rua, sob a influência de amigos, de colegas, do trabalho, da "tribo" (não gosto desse termo porque aprisiona num conceito indígena um comportamento urbano que não cabe, antropologicamente, numa definição tão parca); do próprio eu, seja por influência da leitura, da genética ou da conduta pessoal de cada um.

Amparados nesse tripé somos, aos olhos dos demais, liberais ou conservadores (outro pré-julgamento). Aceitamos com maior permissividade ou não o comportamento alheio. Somos flexíveis ou não.

Defendo, sempre, que a minha própria conduta não se paute pelo olhar e opinião alheios: as pessoas, conhecidas ou não, não sabem o que sinto, o que penso, o que faço, do que sou capaz. 

Se eu não disser, ipisis literis, ninguém saberá realmente o que sou e o que espero, com todos os meus conceitos e pré-conceitos.

Daí que há uma preocupação generalizada (eu me incluo neste rol) sobre o comportamento alheio. Estou para descobrir se existe algo mais agradável do que falar sobre os outros. Digo que não é nem um passatempo, e sim uma característica humana. Do mais astuto e articulado observador ao menos informado, somos, todos, condutores de comentários gentis, atrevidos, venenosos e cruéis. Uma fala é suficiente para derrubar o outro. Um gesto pode soerguer uma pessoa.

Ninguém é uma ilha (livro de J.M. Simmel) é mais do que um título: é uma assertiva. Nem mesmo uma freira que fez voto de silêncio ou um eremita conseguem prescindir do outro. O mundo é povoado por bilhões de pessoas e está cada vez mais difícil se isolar.

Enganamo-nos, penso, quando acreditamos que viver numa cidade como São Paulo é ser acobertado pelo manto do anonimato. Isso não existe. Mesmo porque considero uma falácia qualquer tentativa de isolamento. Até mesmo sozinhos somos capazes de julgar. Pior: é exatamente nesses momentos que fazemos auto-julgamentos e as consequências podem ser desastrosas.

O que sei é que o mundo é assim. Vivemos cercados de pessoas que vão (como nós mesmos) nos julgar pela aparência, pela posse material, pelos adornos, pela estética do corpo, pelo apelo que temos (ou acreditamos ter). É difícil não se pautar pelo outro quando o que mais esperamos é justamente a aprovação desse outro. É mesmo uma dependência química.

Se você pensar no mundo do reino animal, verá que, com raras exceções, também os bichos se amontoam em comunidades. Um cavalo quer a companhia de outro. Um carneiro bale porque está separado do rebanho. Uma galinha cacareja se está afastada do galinheiro. O bezerro berra quando longe da vaca. Se eles, os bichos, têm a necessidade da proteção do rebanho, que dirá de nós, humanos que pensam que pensam? Que pensam que realizam, que se amontoam em bandos justamente para não se confrontar com as próprias fragilidades?

A mim me parece que julgo o outro para, primeiro, me divertir (o que pode ser considerado um comportamento irascível e desprezível), e também para que, ao criticar o outro, eu tente reduzir em mim os efeitos daquilo que critiquei no outro.

Em outro viés de auto-julgamento, não me considero pior nem melhor do que ninguém. Vivo no mesmo meio que todos e sou tão afetado pelo ambiente quanto os demais. O fato de eu ter uma consciência diferente da sua não faz com que eu seja mais iluminado. Tão-somente me faz ter percepções de outras formas, mas, no fundo, não tão diferentes de um caboclo que viva no meio do mato.

O humano, em geral, guia-se primeiro pelo instinto. O pensamento, articulado, vem do aprendizado. E não significa que esse aprendizado te eleve a outros níveis (outro julgamento). Significa apenas que você pode ter ferramentas mais adequadas para se projetar. Apenas isto.

O que é claro para mim é que acendemos fogueiras diariamente e ateamos fogo em fariseus (sob a nossa ótica) porque os julgamos e condenamos. Que queimamos os filmes alheios por acharmos que a minha, a sua, a nossa opinião tem mais validade do que a do outro. Formamos júris para defender e para acusar.

Quando, ao final de todo o processo, ninguém, você e eu inclusos, encontraremos absolvição, redenção ou condenação. Restará apenas o vazio. Sem respostas. Sem olhares. Sem benevolência. Porque até mesmo a condescendência é um sinal de julgamento.

sábado, 19 de julho de 2008

Ordinariazinhas

Olhei para um. Deu vontade!



Olhei para outro. Deu vontade também!


Na dúvida, achei por bem levar logo os dois.



Se você me disser que é carência, nego até o fim!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Priceless

Na semana passada, me dei uma folga e viajei para o interior, para a casa da minha mãe. Se tem uma coisa que me dá prazer, é sair de São Paulo de madrugada e ter a estrada inteira à minha frente. São quase 400 Km da minha casa até a garagem da casa da minha mãe.


No meio do caminho, invariavelmente, eu paro num dos postos mais atrativos da Castelo Branco, o Rodoserv Star, que eu já citei por aqui. É surpreendente o que você pode encontrar nesses postos. Neste, especificamente, tem pão italiano, pão sovado, doces portugueses, árabes e uma variedade que dá água na boca.

Nesta última vez, parei, na ida, como sempre, e pedi um café. Desisti e pedi um chocolate quente (estava frio). Olha o tamanho do chocolate:


Conclusões:

1. Cinco pedágios, gasolina e sem multa por excesso de velocidade (somente ida): aproximadamente R$ 150,00.

2. Meio maço de cigarro consumido: R$ 1,60.

3. Chocolate: R$ 3,20.

4. Caixinha para o atendente do posto: R$ 2,00.

5. Contar com a camaradagem dos caminhoneiros, que apagam as luzes nas ultrapassagens; sentir o vento da madrugada da Castelo Branco; ouvir música no último volume no iPhone e ter alucinações ao volante; agir como se estivesse numa pista de F1: não tem preço!

Tattoo


Começa hoje, 18, em Florianópolis, a Tattoo Pro Floripa 2008, segunda edição. Eu já disse aqui no blog antes: tenho três tatuagens e planos de fazer mais algumas (ouvi alguns suspiros de desaprovação, hein mãe??).


Minhas tattoos, em ordem cronológica, são: uma lagartixa no ombro (feita em Fortaleza e que precisa ser restaurada pelo meu bom tatuador, o Átila, da Scorpion), um Ícaro (na lateral da coxa direita) e uma pantera (não direi onde). O Ícaro e a pantera foram feitos aqui em SP pelo Átila (que também trabalha na Led's).

Adoro tatuagens e não é de hoje. Fiz as minhas porque a lagartixa significa regeneração, o Ícaro representa o sonho de voar, voar, subir, subir, e a pantera tem algo a ver com uma busca do felino selvagem que eu me pretendia e também por conta do filme "A Marca da Pantera", com Nastassia Kinski, que me marcou de forma estranha há muito tempo.

Em outubro, é a vez de São Paulo. Entre os dias 19,20 e 21, acontecerá a 11ª. Convenção Internacional de Tatuagem na cidade, com tatuadores e body-piercers do Brasil e do exterior, com mais de 140 expositores. By the way, tenho piercings também. Não sei porque, mas, tattoo e piercing estão irremediavelmente atrelados um ao outro.

A história da tatuagem é antiga. Há notícias de uma múmia encontrada na Itália em 1991, datada de 5.300 anos antes de Cristo, com sinais de tatuagem. Veja mais no Portal Tattoo.

A tatuagem é cultural (índios, arborígenes), é código (presidiários, máfia japonesa), é dress code (gays, tribos urbanas). A tatuagem é homenagem.

Tatua-se a pele para dar maior valor àquilo que se ama, que se almeja, que se acredita. São inúmeros os motivos. Talvez o maior motivo seja a tentativa de imortalizar aquilo que é perene.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Make love, not war

Aposto que todo mundo desejou, ao menos por um instante, que o mundo fosse possuído de algo parecido com os vídeos abaixo. Tá! Pode chamar de degeneração, como o clip, ou de feromônios, como o filme.


Mas, que seria interessante, seria ...



Degeneration, by Mylene Farmer



cena do filme "O Perfume"

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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