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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Um mar de histórias

Sempre me ressinto do primeiro humano que resolveu estabelecer as relações de trabalho que nos guiam a todos nós, independentemente dos nossos desejos. Quer dizer, por que tem que haver esse sincronismo entre as diferentes cadeias produtivas para que uns poucos apenas ganhem? Melhor: por que tem que haver o estabelecimento de cadeias produtivas?






Bem, mas isso é um tanto quanto indigesto para debater neste particular momento em que, ao menos simbolicamente, o meu próprio ano produtivo ainda nem bem começou. É apenas um pensamento para induzir a outro, mais específico, resultado de fundamentos científicos. A revista "Science" divulgou uma pesquisa na qual descreve a ação do peixe bodião-limpador (Labroides dimidiatus). Esse peixe tem por característica a tarefa (nada inglória, na minha opinião) de remover fungos, bactérias e parasitas do corpo de peixes maiores. E o faz de forma bastante eficiente, já que na própria comunidade de Labroides (não procurei, mas quase posso assegurar que há relação com 'labor'), quem não faz o serviço de forma bem-feita, é devidamente corrigido pelos colegas Labroides.





No artigo da "Science", é apresentada a forma como os peixes-limpadores aplicam a punição: os peixes que não foram diretamente prejudicados pela conduta do peixe-limpador preguiçoso tomam as dores dos eventuais clientes (peixes maiores que têm fungos, bactérias e parasitas a serem removidos) e castigam o prestador de serviço que deixou, adivinhe, o serviço pela metade.






Numa precisa correlação com a organização das sociedades humanas, os peixes-limpadores castigam-se entre si quando um dentre eles não faz o que deve ser feito. E aqui abro um parêntese breve: em livro que li - e que será alvo de post específico - defende-se a tese (na qual acredito) que, antes de chegarmos às linhas evolutivas de macacos e depois humanos (não, não descendemos diretamente de macacos, somos uma das linhas que derivaram da mesma família porém sem que tenhamos tido tatataravós símios) de que, antes de chegarmos ao solo da Terra, vivemos de forma anfíbia. Mais, que viemos, até chegar aqui, em linha evolutiva direta de peixes. Me parece boa a tese. Mas, note, apenas me parece, já que não sou especialista de nada a não ser de generalidades.







De qualquer forma, a organização dessa sociedade de peixes-limpadores funciona dessa maneira. E mais um elemento que pode soar particularmente ofensivo mas que, de novo na minha modesta opinião, é apenas um detalhe divertido: os alvos dos castigos do peixe-limpador são sempre as peixas (essa palavra não existe). As fêmeas-limpadoras, aparentemente, são mais negligentes e - ai! mas não resisto! - são elas que causam a maior parte da confusão com o alvo a ser higienizado: além de limparem parasitas, as danadas atacam as mucosas dos demais peixes. O que, ao que parece, segundo a lei pisciana, constitui-se em ato claro de agressão. Quer dizer, é meia-antropofagia, já que devoram partes dos demais peixes.





Tudo isso dito, chego a nós, homens (claro, homens e mulheres). O comportamento dos peixes-limpadores, ainda conforme o artigo da "Science", pode ajudar na compreensão da origem evolutiva do próprio comportamento humano (recorde-se da tese de que evoluímos dos peixes). O trabalho simbiótico de peixes-limpadores - inclusive com castigos a quem comete deslizes - seria uma base distante, mas bem distante mesmo, do nosso atual conceito de solidariedade.






A única objeção a que faço ao estudo (OK, sou apenas leigo mas, ao ser, eventualmente, herdeiro dos peixes, tenho o direito de fazê-la) é a de que os cientistas autores do artigo concluíram apenas pelo conceito de solidariedade que é, essencialmente, positivo. Deixaram de lado o comportamento obscuro das fêmeas que, rebeldes, desatam a comer as sobras e também o corpo de quem as alimenta. Bem, isso também nós, humanos, herdamos dos peixes. Que nos comemos uns aos outros, metafórica ou literalmente, tanto às sobras quanto aos próprios corpos que as carregam, às sobras. E, por vezes, temo, não deixamos nem sobras uns dos outros.





P.S. Para que você não fique em brancas nuvens, quer dizer, em águas turvas, já que estamos no mar, apenas as duas primeiras fotos são de Labroides dimitiatus. As demais, por as considerar bonitas, resolvi postar aqui.


sábado, 24 de outubro de 2009

Um cavalo de pau para as modas contemporâneas

Os mesmos cientistas que resgatam os fragmentos que permitem datar e codificar a evolução da humanidade bilhões de anos atrás são os responsáveis pelo sombrio futuro daqui a alguns milhões de anos: a extinção da espécie humana.


Estou na fase final da leitura de um catatau sobre a evolução do planeta. Esse livro faz um retrocesso de alguns bilhões de anos para tentar explicar a origem de todos nós. Para trás ou para a frente, o que se sabe, quase com certeza, é que não existíamos e que deixaremos de existir.





Isso pode soar terrível porque, aparentemente, somos os controladores de todo o planeta. Mas não é bem assim e a natureza se sobrepõe à nossa fraca condição de elemento da cadeia. Somos apenas mais um traço nessa escalada e, assim como os dinossauros viveram e definharam, também nós nos desenvolvemos e chegaremos a um ápice. Depois, a decadência. E, por fim, a extinção completa. Assim como o pássaro dodô, a nossa existência será apenas isso: dadaísta, sem sentido. Dadaísmo vem da palavra francesa 'dadá' que significa cavalo de pau, o brinquedo infantil. Pois dou um cavalo de pau no comportamento contemporâneo que para mim, no mais das vezes, não faz o menor sentido.


No intervalo entre o momento em que adquirimos consciência (e essa data, creio, nunca será precisamente determinada) até o momento atual, ao qual chamamos de contemporâneo, muita coisa mudou. Mas, conforme passam os anos (dizem que as antigas civilizações datam de pouco mais de 5 mil anos atrás) e, no momento mesmo em que eu, humano, presencio o desenrolar da história, o que vejo, no decorrer das décadas, não é nada evolutivo: é castrador.






É como se fossemos, uns e outros, caça e caçador. Bastou um comportamento se desviar do considerado padrão para que alguns de nós sejamos tachados de subversivos, devassos, sórdidos e mais uma série de adjetivos que se pretendem desqualificadores. Isso vale para preconceitos, estilos de vida e até mesmo sobre o que consumimos.





Volto a afirmar, como já disse antes neste blog, que somos, na maior parte, vigiados por um Estado e uma sociedade autoritários que não hesitam em condenar sob pena de, em algum tempo, estarmos todos presos nessa armadilha hipócrita do que é ou não é correto. O certo e o errado variam, historicamente. As leis mudam, como disse o amigo Pinguim, e basta um governante e um grupo de políticos decidir, lá se vão anos de conquista e de uma pretensa evolução cultural.


Aqui em São Paulo e em algumas outras capitais brasileiras já vigoram leis bastante autoritárias que cerceiam, antes de tudo, a liberdade individual, tecla a qual nunca me cansarei de dedilhar: é a lei antifumo, a lei do silêncio, a lei do rodízio municipal que me proíbe de circular por algumas horas um dia na semana e que nem por isso me desconta os impostos (federais, estaduais e municipais) que eu pago sobre o carro e mais uma penca de leis que nascem por uma demanda de alguns hobbies ou porque alguns setores da sociedade acreditam mesmo que as leis são capazes de ditar comportamentos.





Se existem as leis oficiais, outras, por vezes piores, são leis não-escritas, mas que têm força coercitiva muitas vezes dobrada porque são daquele tipo que te intimidam socialmente e te elegem (ou ao grupo) como pária: você se transforma em exemplo a não ser seguido e é apontado como um outsider (né, Gentil Carioca?).





Hoje, contemporaneamente, por vezes sem conta me sinto um outsider. Faço parte do grupo segregado que fuma; bebo e sou recriminado por isso; tenho um comportamento que, para alguns, é visto como nocivo; e, agora, pertenço a uma categoria quase equivalente aos antigos antropófagos: gosto de carne. Não da carne humana. Bem... da carne humana não nessa conotação. Mas em todas as outras, pô! sou bem humano!


Gosto de carne de bicho morto, em vulgo português: carne bovina, caprina, suína, de aves, de caça. Toda e qualquer carne. De preferência, levemente mal passada, o que me remete, simbolicamente, aos selvagens que comiam carne crua (ah! gosto de peixe cru!) porque não dominavam o fogo e desconheciam os temperos.





Pois que agora instituíram a Segunda Sem Carne, pela qual toda segunda-feira as pessoas, espontaneamente, deixam de ingerir carne. Essa data se segue ao Dia Mundial Sem Carne (que é realizado no dia 20 de março). OK! Nada contra. Cada um opta pelo que acha mais saudável, mais prudente ou, no limite, por aquilo que a correnteza leva.


Mas me preocupa o fato de isso virar, primeiro, um debate na roda de amigos e, depois, pequenas e superficiais condenações. É como no passado quando não se comia carne na sexta-feira santa (e isso ocorreu na minha casa por muito tempo). O problema é que quem adota tal atitude quer que o rebanho (não abatido, evidentemente) inteiro se una na mesma condição.


E aí eu retruco: por que não parar de comer de uma vez? Porque, se fazemos parte da cadeia alimentar, deveríamos ter a mesma consciência com toda a gama de alimentos: vegetais, animais e minerais. Comer uma alface pode ser encarado, portanto, como um assassinato verde, não é? Ou as plantas são menos seres vivos do que os animais? Para mim, exceto pelas pedras, plantas e animais são, todos, seres vivos.


E por que cargas d'água comer um coelho ou uma vaca é um crime ambiental e comer arroz não é? Se a agricultura e a pecuária de subsistência têm os mesmos princípios? Acho que tudo não passa de conversa fiada para boi ir dormir (e, mais tarde, ser abatido). Lorotas!


Estamos de passagem por aqui e daqui a pouco não mais existiremos. Com carne de vaca ou sem. Isso é fato. Portanto, me deixem em paz com minhas picanhas. Façam suas saladas verdes e regojizem-se: estão a cometer crimes naturais da mesma forma que eu o faço. O que dizer da água que caminha para o completo esgotamento? Você vai parar de tomar água por isso? Oras, é uma questão de sobrevivência.


Repito: cada um de nós é muito provisório para que fiquemos a cuidar uns dos outros como se fossemos sobreviver aos tempos. Todos acabaremos na mesma condição: enterrados, derretidos ou embalsamados, seremos apenas carcaças. E, depois, nem isso. Seremos poeira do tempo porque a natureza é selvagem e não poupa a nada e a ninguém. Por sorte.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Daqui até o fim do mundo, temos mais 3 anos ou 59 anos?



Na dúvida, já dou de graça que não estou para brincadeiras. Aliás, digo errado. Estou mais é para brincadeiras, daquelas do tipo "vamos brincar de índio", "vamos ver o que existe atrás do armário", "quem tem coragem de tirar a roupa e correr nu pela praia" e outras, nada infantis. Ah! Sei lá! Faz parte de um lado lúdico meu, sabe, mais baseado em alguns fetiches do que propriamente em uma lógica na qual prevale o lúdico como conceito de pessoa saudável...


Enquanto no Brasil comemoramos a vinda da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, tem uma série de informações - terrenas e espaciais - que podem calar nossas bocarras antes de dizermos "Ai!". Há algumas previsões nostradâmicas que insistem na teoria de que o mundo acaba exatamente no dia 21 de dezembro de 2012. Ou seja, temos que pensar e agir a curtíssimo prazo porque faltam pouco mais de três anos.





Eu resolvi que liberarei uma face mais dionisíaca - sexo, drinks/drugs e tecno - antes que a "Foice" soe a toada e um vento frio me envolva e, glup!, já era! Não pretendo fazer a prova dos nove para ter certeza se as datas cabalísticas que anunciam o fim do mundo se confirmarão ou não. Existem sites específicos para isso, como Fim do Mundo 2012, cheio de conjecturas soturnas. Estou mais para as saturnais, os bacanais e quetais.


Lá do Havaí, onde o povo deveria estar preocupado com a altura da onda para surfar, alguns nerds da Universidade do Havaí esquecem que o mar está lá para isso e se entregam a um outro fetiche: o de espionar os vizinhos. É, isso mesmo: a isso se dá o nome de "voyerismo". Só que eles são voyers do céu.
  



Segundo esses doutos senhores que gastam o tempo precioso que lhes (e a nós) resta, há uma probabilidade catastrófica que coloca o asteroide Apophis em rota de colisão com a Terra para 2068, ou seja, em 59 anos. A se crer no aumento da expectativa de vida do homem (o homem como sexo, não como ser), estarei eu, daqui a 59 anos, fatalmente vidrado e sem reação (como um ser idoso, a essa altura, deverei estar amparado por andadores ou, no limite, preso a uma cadeira ou à cama), atemorizado com a proximidade do Apophis. Antes, previa-se que havia uma chance em 45 mil do Apophis dar um chute nessa bola chamada vulgarmente de 'Terra'. E o prazo de extinção era ainda menor: 2036. Depois, outra previsão reviu a primeira e deu outra dimensão para o fim dos tempos: haveria uma chance em 37 (glup!, de novo) da pedra nos acertar, no dia 13 de abril de 2029 (precisão!).





Se nada mudar, o Apophis mostrará suas garras mesmo assim: deverá rodopiar a 30 mil Km da nossa superfície em 2029 (os satélites de comunicação ficam 'estacionados' a 36 mil Km de altura). E, refeita essa previsão, a de 2036 também precisou ser corrigida: de uma chance em 45 mil, aumentaram a nossa sorte para a proporção 1/250 mil, com o Apophis a trombar com os satélites (a 32 mil Km de altura), e não conosco. O que nos deixava, afe!, um pouquinho mais confortáveis!


Mas, para contradizer Calderón de La Barca, de que "a vida é sonho", plagio Sartre e refuto com "o pesadelo somos nós", incluso nós mesmos, humanos, e a Terra, que nos há de comer se antes disso essa pedrinha chamada Apophis não tentar nos aphophar com sua superfície de mineral.





De forma que, segundo cálculos intrinsecamente complicados sobre os quais mantenho uma distância segura de 36 mil Km, essa batidinha que pode nos transformar em caipirinha cósmica, ficou para o ora longínquo ano de 2068. E, a se fiar nessa roca, haverá uma chance em 300 mil de uma colisão. Como a roca já fez dormir uma princesa, melhor não se fiar muito nesse artefato primitivo.


Claro que tudo isso são divagações porque nem mesmo o fato dos nerds do Havaí viraram os olhos para o céu ao invés de babar ante as ondas magníficas do local é capaz de dar conta de 6 bilhões de seres que se esfalfam feito formigas para sobreviver. O Apophis, como outros corpos celestes, sofre poderosas interferências gravitacionais do sistema solar. Neste momento em que escrevo e dou um peteleco na pedrinha, Apophis, impávido feito Apolo em cavalos de fogo, passa por detrás do Sol, às escondidas, de forma que nem mesmo nossos poderosos satélites de plantão, que espiam o Afeganistão em busca de um bin lad(r)ão, podem monitorá-lo.





Mas nossos problemas, ainda que eu amenize o anúncio do final dos tempos, não acabaram: em 2010, Apophis volta com pompa e circunstância e se põe a nu, sob nossos olhos aumentados por poderosos telescópios, o que nos permitirá (pelo menos aos havaianos nerds que não estão no mar) fazer novas e catastróficas previsões.


Até lá, creio que podemos sair para as saturnais e nos divertirmos. Não sei se você soube, mas outros cientistas voyeristas descobriram um novo anel, digo, um anelão, ao redor de Saturno, o que deu ao planeta uma conotação ainda mais anelada do que já sabíamos que Saturno tinha. Esse anel estava invisível, calcula-se (aqueles mesmos cálculos dos quais estou distante 36 mil Km), há 400 anos e somente agora, com lentes infravermelhas, foi avistado pelo olho humano curioso.


Se Saturno ganhou um novo anel, podemos celebrar as saturnais. E também as bacanais. Oras! Com tanta previsão sobre as nossas cabeças e tantas contas para saber se haverá diferença de proporções numéricas baseadas em 1/45 mil, 1/250 mil e 1/300 mil, não sou eu que vou me debruçar em ábacos modernos para constatar meu próprio fim. Um brinde e saúde, se você ainda tiver (a saúde) depois de tão alvissareiras informações!


sábado, 22 de agosto de 2009

Ida e uma ida ao salão de cabelereiro

De tempos em tempos, os palenteologistas encontram algum artefato ou, mais importante, um fóssil humano a que denominam como o mais recente "elo perdido". Há vários, os elos perdidos, entre nós e nossos presumíveis ancestrais. Não conseguimos explicar exatamente a nossa origem. Quando começamos, qual foi o momento mágico (ou, conforme a perspectiva, trágico) que nos originou e ao que somos hoje como (in)civilização.

Melhor, como legado do processo evolutivo, posto que somos como Vinícius Moraes declamou: 'eterno enquanto dure'. Porque acredito que, posto que chamas, seremos eternos somente enquanto durarmos como linhagem. Depois, algum outro ser mais preparado para a(s) próxima(s) etapa(s) ocupará nosso lugar neste (Terra) ou em outros mundos.


Ida é uma senhora idosa. Talvez seja, até agora, a senhora mais idosa sobre a qual ouvi falar. Para ser exato, há 95% de chance de Ida ter 47 milhões de anos. Ida é um fóssil. Depois de dois anos de estudos, uma equipe internacional de cientistas a revelou ao mundo. A diferença entre este elo e outros é que o notável estado de preservação de Ida permite uma visão sem precedentes sobre a evolução humana.

Ida foi encontrada em Messel Pit (lago), na Alemanha, e situa-se no período de primatas antropóides - o grupo que, mais tarde, evoluiria para os seres humanos e macacos, segundo a tese de Darwin. A descoberta, como outras anteriores, preenche uma lacuna de extrema importância no estudo da evolução humana e de primatas. Os cientistas falam extasiados sobre Ida, conforme este link (em inglês).


O primata Ida foi descoberto por acaso, em um encontro casual com traficantes de fósseis (sim os há, assim como os há também de órgãos humanos - não há paz para vivos e tampouco para os mortos). Ida estava escondida do mundo há 25 anos em uma coleção particular.

A análise do fóssil pelos modernos meios de que dispõem os cientistas confirma que o primata tem 47 milhões de anos. Viveu no início do Eoceno Médio, após a extinção dos dinossauros, o que possibilitou a expansão dos mamíferos. Datam desse período, por exemplo, o início da formação do Himalaia, e o aparecimento de animais como cavalos, morcegos e baleias.

A importância de Ida, além de ser encontrada no território da Europa (e não na África), está no fato de o fóssil ser um dos mais completos primatas já encontrados. Outras descobertas anteriores encontraram apenas fragmentos: pedaços de dentes e da mandíbula. "Lucy", por exemplo, de 3,2 milhões de anos, tem apenas 40% do esqueleto original.


Ida, ao contrário, tem uma marca de tecido mole e contorno de peles, além de vestígios da última refeição. Originalmente, pensou-se que Ida era um lêmure primitivo. Mas testes comparativos revelam que o fóssil tem características antropóides (humanos e primatas). Ou seja, Ida é uma espécie de transição entre os primatas primitivos e a linhagem humana.

A face tem os olhos virados para a frente (ao contrário do rosto longo do lêmur), unhas (e não garras) e dentes similares aos dos macacos. As mãos têm cinco dedos, com aparência humana e polegares opositores. Exames com raios-X e tomografia computadorizada revelaram a idade, sexo e dieta de Ida. A identificação do fóssil como sexo feminino deve-se à ausência do báculo, que é um osso do pênis.

Os raios-X e tomografias mostraram também que Ida tinha o pulso esquerdo fraturado, o que pode ter contribuído para a sua morte. Ela teria morrido (são conjecturas) inconsciente (por conta da fratura) e teria escorregado para o fundo do Lago Messel, cujas condições (dióxido de carbono) permitiram a sua fossilização por 47 milhões de anos.


No Brasil, o canal de TV pago History Channel deve apresentar o documentário "Ida" no dia 31 deste mês, conforme consta na grade de programação no site do canal.

Agora, o inusitado, se é que um ancestral de 47 milhões de anos não tenha lhe causado espanto. Você conhece algo mais prosaico e sem profundidade que conversas de salão de cabelereiro?

Em geral, no salão, ficamos mais abertos, completamente à vontade, em estado de graça mesmo porque há outras pessoas que ali estão para cuidar de nós. Tem coisa mais prazerosa do que cuidar de si mesmo? Melhor, do que cuidar de si mesmo e fazê-lo por meio de terceiros? Pois foi no salão que uma cliente me falou de tudo isso, do nada. Justamente para mim, que estou a ler um livro extremamente envolvente sobre a evolução humana.

O que me remeteu ao inusitado da situação é que Ida jamais imaginou que, 47 milhões de anos depois, a evolução consistiria em uma ida ao salão para queimar nossos pelos sobreviventes (cabelos) com escovas, secadores e produtos químicos de toda a espécie para que nossa auto-estima receba um pequeno upgrade. Ida fez por bem mergulhar nas profundezas do lago e por lá permanecer, não é?

sábado, 11 de julho de 2009

Rir é o melhor remédio?

"Muito riso, pouco riso" ou "riso pronto, miolo tonto", rezam os ditados, rigorosos, sisudos eles, os que os elaboraram, sem deixar margem para o humor e com total desconhecimento dos efeitos do riso, da risada, do sorriso e da gargalhada.

Sempre houve um lado a tentar flexibilizar a vida e o outro a pressioná-la, isso é fato. A conter, intervir, reprimir. E o outro lado, a abrandar, a avacalhar e, sobretudo, a rir e, inclusive, de si mesmo e dos tantos que andam a correr contra o riso solto como se crime fosse praticá-lo. Pois que já foi, sim, um dia, crime rir, punível de morte para quem o fizesse defronte a majestades totalmente risíveis, de tão incultas. E já foi também pecado rir em dias santos como se tivéssemos, nós que aqui vivos estamos, que morrer junto com todos aqueles santos mortos que se esbanjam desde medievais eras.


Uma gargalhada instantânea, desatada sem mais nem porque, à toa, franca, pode mover 400 músculos do corpo, ativar o sistema imunológico e oxigenar os tecidos. Um outro ditado, de origem chinesa, observa: "Para sentir-se saudável, deve-se rir pelo menos 30 vezes por dia".

Mas, sorrir ou rir do quê? Rir-se sozinho? Forçar o riso e perder o siso? Enlouquecer na busca da gargalhada, elevada a salvadora? Rir ou não rir, eis a questão. Será que Shakespeare era vestuto ou afável? Que se ria com facilidade? Creio que, para escrever aqueles cânones todos, Shakespeare, certamente, sabia rir e, principalmente, rir de si mesmo.


Estudos científicos afirmam que, até os 6 anos de idade, rimos à razão média de 300 vezes ao dia, em diversas modalidades do riso: um entreabir de lábios, um leve esgarçar da boca, um sorriso, um riso fino, um riso alto, uma risadinha, uma risada contínua e, enfim, uma gargalhada que se converte, em alguns, pouco a pouco, em soluços que, se não abafadas, transformam-se, quase, em choro. Que ironia!

Depois dos 6 anos, limitados por todas as barreiras possíveis, tornamo-nos mais sérios. O riso é reprimido e, quase sempre, suprimido. Fica na expectativa de acontecer e, quando ocorre inesperadamente, é apontado e o autor, sem controle, é coroado com uma chuva de olhares recriminadores, sob os quais, inebriado, põe-se a gargalhar até que alguém, comovido ou incomodado, o retire do recinto, se assim o exigir a situação.


Um ser humano médio, seja lá o que for esse 'médio', pode rir entre 15 a 100 vezes por dia. Entenda-se que, na prática, a maior parte ri, efetivamente, cerca de 17 vezes ao dia (ainda conforme fontes científicas). De forma que, descontadas entre 6 e 8 horas de sono, sobram entre 18 e 16 horas do dia para rir e, ao que parece, cada hora tem uma risada garantida.

Mas, como se trata da média, existem os extremos: os que riem 100 vezes são mais felizes e a maior parte de nós, certamente, os odiamos por esbanjar tanto riso e pouco siso. E os odiamos silenciosamente, de forma repressora, com aquele sorrisinho de condescendência que tenta, a todo custo, calar a risada daquele que ri tanto. De vez em quando, também, uns de nó somos contagiados pela risada desse proprietário de uma centena de risadas.


No outro extremo, existem aqueles que mantiveram todos os sisos e nenhum riso. Esses nunca riem, nem sorriem e, se gargalharem, deixarão aos demais estupefatos, chocados, sérios, numa aparente contradição de um fato gerador de riso. São pessoas que, com olhares sóbrios, calam o nascente sorriso nas bocas alheias e, ciosos de sua própria seriedade, demarcam os limites entre riso, sorriso e gargalhada a ferro e fogo. Na maior parte das vezes, diante de pessoas assim, tendemos a nos comportar de forma algo desconfortável: remexemo-nos, inquietos, coçamo-nos e aos cabelos, passamos a língua pelos lábios e emitimos todos os sinais de bichos enjaulados, atraídos que estamos pelo magnetismo feroz que emana daquele ceifador de sorrisos.


O engraçado é que se dá um estranho fato, observado sempre nessas condições e que pode servir muito bem de tese científica para quem é do ramo: assim que tal pessoa vira as costas, os que ficam, quase que inevitavelmente, põem-se a sorrir e alguns, até, libertos, riem frouxamente. Outros baixam totalmente a guarda e é possível ouvir até mesmo um princípio de gargalhada. São risos abafados, libertadores.

Embora se estude o riso com afinco e sem dele se sorrir muito, não há muita explicação para os diversos níveis da risada. A tese científica apenas diz que o riso é uma resposta fisiológica a um estímulo neurológico que se converte em uma reação na forma de gestos e sons (guturais, vagos, finos, estridentes, altos, baixos, abafados, atravessados, é toda uma sinfonia sem maestro a lhe orquestrar uma execução que lhe dê, afinal, ares musicais). Ao rirmos (e depende da intensidade do sorriso), contraímos 15 músculos da face. Nessa ocasião, a laringe fecha até a metade e a respiração torna-se irregular (como no sexo). Por isso, há aqueles de nós que engasgamos ou ficamos vermelhos de tanto rir, por exemplo.


As convulsões espasmódicas no diafragma que se seguem ao riso provocam a contração dos músculos do abdômen (a popular dor na barriga de tanto rir). Os sons que emitimos (também a depender da intensidade do riso) formam, espante-se!, vogais de sílabas curtas, separadas por intervalos de 210 milisegundos (pergunte a Cronos do que se trata).

Por fim, em gargalhadas extremas, vertemos lágrimas e já não sabemos se estamos a chorar de rir ou a rir porque podemos chegar ao choro ao não fazê-lo. Ri-se, de forma geral, de tudo: do ridículo, próprio e do alheio; de piadas, engraçadas ou não; de situações que culminam em vexames, de preferência com outros, e não com você; rimos de absurdos, de sustos, de casos extremos, quando nervosos, quando felizes.


Há os que riem, como eu, quando tristes. Em velório, por exemplo, sou tomado de uma irrefreável vontade de sorrir, rir e gargalhar e sinto o rosto afoguear de tanto reter a risada. Sei que não é de bom tom, mas o meu riso não conhece leis de comportamento. Já fui expulso da sala de aula por rir demais e tive que deixar salas de reunião de trabalho pelo riso involuntário que de mim se apoderou. Não, não chega a ser um problema na minha vida, pessoal ou profissional.

Mesmo porque, com o passar dos anos, tenho notado a estranha tendência de me rir menos. Há dias em que não rio. Talvez apenas esboce sorrisos. As gargalhadas me são cada vez mais raras. Estou na categoria de adultos que riem pouco e temo que chegue ao dia em que não mais rirei. Que o riso me seja breve mas não me deixe. Não quero me converter em um sorumbático dom casmurro, a não rir mais. E, principalmente, não rir de si próprio. Pois que a ausência dessa capacidade converte a pessoa, rapidamente, em sombra pálida. Falta de cores de um sorriso, de um riso. OK, eu abro mão da fluência da gargalhada incontida. Mas não do riso franco, do risinho social, do sorriso de compreensão, do olhar que sorri.


Quero, ao menos, estampar na face o riso eterno de uma Mona Lisa que, por certo, está a se rir e aos outros, incapaz de se manter séria diante de tão engraçada humanidade que a assiste e ao seu sorriso. Ou então ser um sorriso misterioso, a vaguear por aí, feito o sorriso do gato de Cheshire, engraçadíssimo por ser inusitado. Rir é, sim, o melhor remédio.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A anatomia da morbidez ou de como o mórbido pode ser estranhamente atrativo

Atenção! Se você não suporta imagens cruas (e nuas), é melhor parar por aqui. Este post contém imagens as quais se definem como 'mórbidas'. E, sabido que mórbido pode ser sinônimo de doentio, talvez a minha própria morbidez tenha alguma lógica ao publicar fotos do tipo.

Por acaso, descobri um blog cujo tema é a morbidez em estado mais bruto: o blog é Morbid Anatomy (Anatomia Mórbida) e, se você seguir adiante e for capaz de ver as imagens com alguma isenção (e com certa dose de morbidez, claro), pode ir ao blog e ver muito mais.

As fotos que estampo aqui são um nada diante das fotos do blog original. Não digo que é de arrepiar, pois que não me aterrorizo tão facilmente. Mas a morbidez é um sentimento confuso (e talvez, por isso, classificado como 'doentio') que atrai de uma forma não muito saudável. As imagens abaixo, feitas de cera (portanto, não são reais, pelo menos), foram expostas no Palácio de la Escuela de Medicina da Cidade do México. No blog, há fotos reais e de todos os tipos que se encaixam tanto na categoria de 'anatomia' quanto na definição de 'morbidez".

Esqueça os sustos do trenzinho fantasma no parque de diversões. Aqui, não há diversão. Somente estranhamento e um olhar que se coaduna com a frieza das mesas de aço dos necrotérios de medicina legal e com os talhos profundos e precisos de que somente os legistas são capazes. Portanto, mais uma vez: atenção!










sábado, 16 de maio de 2009

São os homens os deuses astronautas?

O que você vai ser quando crescer? Pergunta fatídica essa, a que se submetem crianças do mundo inteiro sob a pesada inquisição de adultos que não têm mais o que fazer. Na década de 70, embaladas pelas imagens televisivas da chegada do homem à Lua, milhares de crianças no mundo todo respondiam automaticamente: "Quero ser astronauta".


Embora os voos espaciais ocorressem desde 1961, apenas no dia 20 de julho de 1969 a missão Apollo 11 pousou na Lua e o mundo assistiu, impávido, a caminhada de Neil Armstrong e Edwin Aldrin pela TV. Muitas pessoas, passados quase 30 anos dessa conquista, ainda não acreditam no feito, embora uma dúzia de homens tenha pousado no planeta desde então.


Em 1968, o escritor suíço Erich von Däniken lançou o livro "Eram os Deuses Astronautas?", com base na teoria de que antigas civilizações terrestres - como os egípcios, maias, incas e astecas - teriam se originado a partir de alienígenas ou tripulações que desceram à Terra. Na teoria levantada por Däniken, as coincidências entre construções como as pirâmides egípcias e incas, as linhas de Nazca e os moais da Ilha de Páscoa eram indícios da presença de seres extraterrestres no planeta.


Segundo a tese do livro, esses seres primordiais eram considerados divindades pelos povos antigos e por isso o nome da obra. O livro foi lançado um ano antes do homem chegar à Lua e o autor teve o mérito de vender muito e convencer muita gente com suas teses. Até hoje, o livro de Däniken é debatido.


Mas, a partir do momento em que podemos assistir ao vivo uma missão tripulada no espaço para consertar equipamentos, como é o caso dos dois astronautas da NASA que estão, neste momento, em missão no telescópio Hubble - veja aqui o link - dá para afirmar, com certeza, que os deuses astronautas são os homens (todas as imagens que estampam este post, a propósito, são da NASA, exceto, obviamente, a do astronauta russo Gagarin).


As viagens espaciais serão, durante muito tempo, inacessíveis para a totalidade dos 6 bilhões de habitantes da Terra. Apenas os "Eleitos" serão deuses, por enquanto. Contudo, é impossível não se extasiar e acompanhar quase que in loco as movimentações dos astronautas, seja por meio de imagens ou de relatos digitados no espaço via Twitter, com depoimentos em tempo real dos caras que estão lá em cima, a 600 Km de altura de nossas cabeças. Um avião, por exemplo, voa a, no máximo, 13 Km de altura da superfície terrestre.


A cachorra russa Kudriavka, da raça laika, e por isso conhecida mundialmente como Laika, foi o primeiro ser vivo a navegar no espaço, em 3 de novembro de 1957, na nave espacial Sputnik II. Apenas em 12 de abril de 1961 chegou ao espaço o primeiro homem, o russo Yuri Gagarin (morto aos 34 anos), que voou durante 48 minutos na nave Vostok I. Disse Gagarin: "Eu vejo a Terra. A visibilidade é boa". Gagarin não disse, oficialmente, que a Terra era azul e que não havia visto Deus, a despeito das lendas.


Depois disso, as viagens ao espaço tornaram-se mais frequentes (mas não à Lua, considerada uma expedição bastante cara) e, no dia 29 de junho de 2006, o brasileiro Marcos Pontes tornou-se o primeiro astronauta do País a ir ao espaço para uma missão na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), da qual o Brasil participa.


Agora, existe até mesmo o turismo espacial, que começou em 2001 quando o norte-americano Dennis Tito pagou US$ 20 milhões para embarcar numa nave russa rumo à ISS (a mesma para a qual foi o astronauta brasileiro). A partir do ano que vem, com a competição nesse segmento, estima-se que será possível baixar o preço de um voo espacial (a 65 Km de altura) de US$ 100 mil para US$ 10 mil. Voos espaciais particulares para outros planetas ainda não estão programados. Mas tudo, absolutamente tudo, é uma questão de tempo e de dinheiro. Quando, enfim, alguns de nós poderá dizer, ainda que Gagarin não o tenha dito: "É, a Terra é mesmo azul".

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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