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sábado, 22 de agosto de 2009

Ida e uma ida ao salão de cabelereiro

De tempos em tempos, os palenteologistas encontram algum artefato ou, mais importante, um fóssil humano a que denominam como o mais recente "elo perdido". Há vários, os elos perdidos, entre nós e nossos presumíveis ancestrais. Não conseguimos explicar exatamente a nossa origem. Quando começamos, qual foi o momento mágico (ou, conforme a perspectiva, trágico) que nos originou e ao que somos hoje como (in)civilização.

Melhor, como legado do processo evolutivo, posto que somos como Vinícius Moraes declamou: 'eterno enquanto dure'. Porque acredito que, posto que chamas, seremos eternos somente enquanto durarmos como linhagem. Depois, algum outro ser mais preparado para a(s) próxima(s) etapa(s) ocupará nosso lugar neste (Terra) ou em outros mundos.


Ida é uma senhora idosa. Talvez seja, até agora, a senhora mais idosa sobre a qual ouvi falar. Para ser exato, há 95% de chance de Ida ter 47 milhões de anos. Ida é um fóssil. Depois de dois anos de estudos, uma equipe internacional de cientistas a revelou ao mundo. A diferença entre este elo e outros é que o notável estado de preservação de Ida permite uma visão sem precedentes sobre a evolução humana.

Ida foi encontrada em Messel Pit (lago), na Alemanha, e situa-se no período de primatas antropóides - o grupo que, mais tarde, evoluiria para os seres humanos e macacos, segundo a tese de Darwin. A descoberta, como outras anteriores, preenche uma lacuna de extrema importância no estudo da evolução humana e de primatas. Os cientistas falam extasiados sobre Ida, conforme este link (em inglês).


O primata Ida foi descoberto por acaso, em um encontro casual com traficantes de fósseis (sim os há, assim como os há também de órgãos humanos - não há paz para vivos e tampouco para os mortos). Ida estava escondida do mundo há 25 anos em uma coleção particular.

A análise do fóssil pelos modernos meios de que dispõem os cientistas confirma que o primata tem 47 milhões de anos. Viveu no início do Eoceno Médio, após a extinção dos dinossauros, o que possibilitou a expansão dos mamíferos. Datam desse período, por exemplo, o início da formação do Himalaia, e o aparecimento de animais como cavalos, morcegos e baleias.

A importância de Ida, além de ser encontrada no território da Europa (e não na África), está no fato de o fóssil ser um dos mais completos primatas já encontrados. Outras descobertas anteriores encontraram apenas fragmentos: pedaços de dentes e da mandíbula. "Lucy", por exemplo, de 3,2 milhões de anos, tem apenas 40% do esqueleto original.


Ida, ao contrário, tem uma marca de tecido mole e contorno de peles, além de vestígios da última refeição. Originalmente, pensou-se que Ida era um lêmure primitivo. Mas testes comparativos revelam que o fóssil tem características antropóides (humanos e primatas). Ou seja, Ida é uma espécie de transição entre os primatas primitivos e a linhagem humana.

A face tem os olhos virados para a frente (ao contrário do rosto longo do lêmur), unhas (e não garras) e dentes similares aos dos macacos. As mãos têm cinco dedos, com aparência humana e polegares opositores. Exames com raios-X e tomografia computadorizada revelaram a idade, sexo e dieta de Ida. A identificação do fóssil como sexo feminino deve-se à ausência do báculo, que é um osso do pênis.

Os raios-X e tomografias mostraram também que Ida tinha o pulso esquerdo fraturado, o que pode ter contribuído para a sua morte. Ela teria morrido (são conjecturas) inconsciente (por conta da fratura) e teria escorregado para o fundo do Lago Messel, cujas condições (dióxido de carbono) permitiram a sua fossilização por 47 milhões de anos.


No Brasil, o canal de TV pago History Channel deve apresentar o documentário "Ida" no dia 31 deste mês, conforme consta na grade de programação no site do canal.

Agora, o inusitado, se é que um ancestral de 47 milhões de anos não tenha lhe causado espanto. Você conhece algo mais prosaico e sem profundidade que conversas de salão de cabelereiro?

Em geral, no salão, ficamos mais abertos, completamente à vontade, em estado de graça mesmo porque há outras pessoas que ali estão para cuidar de nós. Tem coisa mais prazerosa do que cuidar de si mesmo? Melhor, do que cuidar de si mesmo e fazê-lo por meio de terceiros? Pois foi no salão que uma cliente me falou de tudo isso, do nada. Justamente para mim, que estou a ler um livro extremamente envolvente sobre a evolução humana.

O que me remeteu ao inusitado da situação é que Ida jamais imaginou que, 47 milhões de anos depois, a evolução consistiria em uma ida ao salão para queimar nossos pelos sobreviventes (cabelos) com escovas, secadores e produtos químicos de toda a espécie para que nossa auto-estima receba um pequeno upgrade. Ida fez por bem mergulhar nas profundezas do lago e por lá permanecer, não é?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O papel do meme na teoria da evolução

"... A psicóloga Susan Blackmore, em seu ousado livro 'The Meme Machine', apresenta uma teoria mais radical sobre a seleção sexual da mente humana. Essa autora recorre ao que batizamos de 'memes', unidades de herança cultural. Memes não são genes e não têm nenhuma relação com o DNA, exceto por analogia. Enquanto os genes são transmitidos por óvulos fertilizados (ou por vírus), os memes transmitem-se por imitação. Se eu ensinar você a fazer um modelo em origami de um junco chinês, um meme passa do meu cérebro para o seu. Você então pode ensinar a duas pessoas essa mesma habilidade, e cada uma delas ensinar a outras duas e assim por diante. O meme propaga-se exponencialmente como um vírus. Supondo que todos nós cumprimos de forma adequada nossa tarefa de ensinar, as 'gerações' posteriores do meme não serão perceptivelmente diferentes das primeiras gerações. Todas produzirão o mesmo 'fenótipo' do origami. Alguns juncos podem ser mais perfeitos do que outros se, digamos, alguns dobradores de papel forem mais cuidadosos. Mas a qualidade não se deteriorará de modo gradual e progressivo ao longo das 'gerações'. O meme é transmitido, inteiro e intacto como um gene, mesmo se sua expressão fenotípica detalhada variar. Esse exemplo específico de um meme é um bom análogo para um gene, especificamente um gene de vírus. Um modo de falar ou uma técnica de marcenaria podem ser candidatos mais dúbios a memes porque é provável - estou supondo - que, progressivamente, 'gerações' posteriores em uma linhagem de imitação se diferenciem mais da geração original.

"Blackmore, assim como o filósofo Daniel Dennet, acredita que os memes tiveram um papel decisivo no processo que nos tornou humanos. Nas palavras de Dennett:

O porto a que todos os memes esperam chegar é a mente humana, mas a própria mente humana é um artefato criado quando memes reestruturam um cérebro humano para torná-lo um melhor habitat para memes. As rotas de entrada e saída são modificadas para adequar-se às condições locais e reforçadas para vários recursos artificiais que intensificam a fidelidade e prolixidade da replicação: mentes de chineses nativos diferem drasticamente de mentes de franceses nativos, e mentes de literatos diferem de mentes de iletrados.

"Dennett pensaria que a principal diferença entre os cérebros anatomicamente modernos antes e depois do Grande Salto para a Frente na cultura é que os cérebros posteriores ao Grande Salto fervilham de memes. Blackmore vai além.
"Invoca os memes para explicar a evolução do avantajado cérebro humano. Isso não poderia ser obra só de memes, evidentemente, pois estamos falando aqui de uma mudança anatômica fundamental. Os memes podem manifestar-se no fenótipo do pênis circuncidado (que às vezes passa, de um modo quase genético, de pai para filho) e até em uma forma corporal (pense em uma moda transmitida de emagrecer ou alongar o pescoço com colares). Só que a duplicação de tamanho do cérebro é outra coisa. Ela tem de ocorrer por meio de mudanças no reservatório gênico. Mas então, que papel Blackmore vê para os memes na expansão evolutiva do cérebro humano? É aqui, mais uma vez, que entra a seleção sexual.
"As pessoas tendem mais a copiar seus memes de modelos admirados. Esse é um fato no qual os anunciantes apostam seu dinheiro: pagam a jogadores de futebol, astros de cinema e supermodelos para recomendar produtos - pessoas que não têm um conhecimento especializado para avaliá-los. Indivíduos atraentes, admirados, talentosos ou por algum outro motivo renomados são poderosos doadores de memes. Essas mesmas pessoas tendem a ser sexualmente atraentes e, portanto, ao menos no tipo de sociedade polígama na qual é provável que tenham vivido nossos ancestrais, ser poderosos doadores de genes. Em cada geração, os indivíduos atraentes contribuem proporcionalmente mais tanto com genes como com memes para a geração seguinte. Blackmore supõe que parte do que torna uma pessoa atraente é sua mente geradora de memes: uma mente criativa, artística, loquaz, eloquente. E os genes ajudam a produzir o tipo de cérebro eficiente para gerar memes atraentes. Assim, a seleção quase darwiniana de memes no reservatório 'mêmico' anda de mãos dadas com a seleção sexual genuinamente darwiniana de genes no reservatório gênico. Eis mais uma receita para a evolução desenfreada.
"Qual é exatamente, nessa visão, o papel dos memes no aumento evolutivo do cérebro humano? Eis, a meu ver, o modo mais proveitoso de examinar essa questão. Existem variações genéticas nos cérebros que permaneceriam despercebidas sem memes que as trouxessem à luz. Por exemplo, há bons indícios de que existe um componente genético na variação da habilidade musical. O talento musical dos membros da família Back provavelmente deveu muito aos seus genes. Em um mundo repleto de memes musicais, as diferenças genéticas em habilidade musical salientam-se e estão potencialmente disponíveis para a seleção sexual. Em um mundo anterior à entrada de memes musicais nos cérebros humanos, as diferenças genéticas na habilidade musical também estariam presentes mas não se manifestariam, ou pelo menos não do mesmo modo. Elas não estariam disponíveis para a seleção sexual ou natural. A seleção memética não pode mudar o tamanho do cérebro sozinha, mas pode trazer à luz variações genéticas que, de outro modo, permaneceriam ocultas..."

Esse é um excerto do livro "A Grande História da Evolução" - Richard Dawkins - Companhia das Letras - 759 páginas -, que estou a ler atualmente. Faço, agora, uma analogia entre o texto de Dawkins e a teoria de Susan Blackmore com o Meme, do Yahoo!, e com as redes sociais, de forma geral. É apenas uma brincadeira e uma coincidência de nomes, claro, porque o livro de Dawkins é sério e dirigido especificamente à linha darwniana da teoria da evolução humana.

Mas, por outro lado, tudo é evolução e as redes sociais são extensões, portanto, da evolução humana. Abaixo, trechos do texto acima e (na minha opinião) os pontos de contato com o Meme e outras redes sociais:

- "... os memes transmitem-se por imitação" - uma mente criativa desencadeia o processo e as demais repostam, copiam, replicam e reproduzem. Isso ocorre no Meme, YouTube, blogs e outras redes.
-"... Você então pode ensinar a duas pessoas essa mesma habilidade, e cada uma delas ensinar a outras duas e assim por diante. O meme propaga-se exponencialmente como um vírus..." - no Meme, quem tem convite pode repassar para três pessoas e, assim como outros virais, propaga-se exponencialmente, a priori, sem limites. Caso de vídeos do YouTube como o de Susan Boyle.
-"... O porto a que todos os memes esperam chegar é a mente humana..." - em qualquer rede social, o objetivo sempre é fazer com que o conteúdo postado chegue a outra(s) pessoa(s), assim como ocorre no processo evolutivo cujo leitmotiv é se transmitir e se perpetuar.
-"... modernos antes e depois do Grande Salto para a Frente na cultura é que os cérebros posteriores ao Grande Salto fervilham de memes..." - O Grande Salto para a Frente, na sociedade da informação, pode ser interpretado como a disseminação da internet que eliminou as fronteiras e nos colocou, a todos, em potencial contato uns com os outros, pelos mais diversos meios - ou pontes -, sejam blogs ou redes sociais. O caldeirão de 'memes' origina-se dessa combustão cultural.
-"... As pessoas tendem mais a copiar seus memes de modelos admirados. Esse é um fato no qual os anunciantes apostam seu dinheiro: pagam a jogadores de futebol, astros de cinema e supermodelos para recomendar produtos..." - isso é um princípio do marketing e é válido para o mundo do Meme, Youtube, blogs e outras redes sociais. Assim que uma pessoa, referência em qualquer meio, liga-se a qualquer uma das redes sociais e divulga essa conexão, tende a arrastar atrás de si uma multidão. Caso de Ashton Kutcher no Twitter.
-"... Em um mundo repleto de memes musicais, as diferenças genéticas em habilidade musical salientam-se e estão potencialmente disponíveis para a seleção sexual. Em um mundo anterior à entrada de memes musicais nos cérebros humanos, as diferenças genéticas na habilidade musical também estariam presentes mas não se manifestariam, ou pelo menos não do mesmo modo..." - aqui, a meu ver, os memes musicais bem podem ser as bandas que se divulgam pelo MySpace e mesmo o usuário (nós) que reproduz música via Blip, YouTube, Last.fm e outras ferramentas do tipo.

Como se observa - com um pequeno esforço - a evolução está em todos os níveis, sim. Inclusive nessa cadeia gigantesca que é a internet com suas próprias forças que agem e nos empurram à frente, para um futuro completamente desconhecido e fascinante.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Os(as) feios(as) que me perdoem mas ...

A poesia "Receita de Mulher", de Vinicius de Moraes, tem, ao menos, um verso que é popularíssimo: "as muito feias que me perdoem mas beleza é fundamental". Na poesia, Vinicius, pode-se dizer em defesa do poeta, faz concessões: "as muito ...", e não apenas "as feias". Ao(à) feio(a), falta-lhe o belo e, portanto, está, desde o princípio, em desvantagem perante os semelhantes que a beleza se lhes premiou. E nem adianta afirmar que a beleza é interior e que quem ama o feio bonito lhe parece. Esses bordões foram criados exatamente por pessoas feias para que o fardo da fealdade lhes fosse mais suportável.


De tempos em tempos, no entanto, a beleza, entidade autônoma, que é estampada de todas as formas massivas em faces e corpos trabalhados de mulheres e homens, proclama sua superioridade e lança ao inferno quaisquer ideais de absolvição da feiúra.


Não sei se os criadores do site Beautiful People (Pessoas Bonitas) conhecem a poesia de Vinicius de Moraes. Inspirados ou não pelo poeta brasileiro, os desenvolvedores desse site resolveram levar a beleza a sério e inscrevê-la num Olimpo inatingível aos feios em geral. Se bem que beleza e Olimpo são redundantes, visto que deuses e deusas gregos são, por natureza, belos(as).


O portal Beatiful People deve ser aberto esta semana no Brasil (já está presente em 16 países). A taxa de rejeição é alta: apenas um em cada cinco aspirantes é aceito nos EUA; no Reino Unido, a proporção é de um a cada sete; e, na Dinamarca, a feiúra parece levar a melhor: somente um em cada 11 é aceito.


Claro que o conceito de beleza é subjetivo: "o que vale é eu me sentir bonito(a); estar de bem comigo mesmo(a); a beleza está nos olhos de quem a vê" e assim por diante. Sorry! Isso é ficção. Existe, sim, um critério de beleza muito bem definido. E esse padrão é universal. A Gi, digo Gisele Bunchen, é bonita em qualquer lugar do mundo. Assim como o são o casal Angelina Jolie e Brad Pitt. Sim. Você pode usar em sua defesa que a fama faz bem às pessoas e as torna irremediavelmente belas ante nossos ávidos olhos feiosos. Recorde, no entanto, que, mesmo antes de serem famosas, essas pessoas já eram bonitas. Ou vai me dizer que você não se surpreendeu com um(a) caixa de supermercado, um(a) frentista, um(a) recepcionista, um(a) bombeiro(a) lindo(a)??? Ahãnnnn???? O quê??? Sim, eu sei que você já viu.


Agora, para fazer parte do panteão da beleza proposto pelo site, criado por dinamarqueses, você tem que seguir alguns critérios, dos quais o mais precioso é ser o(a) mais franco(a) possível diante do espelho. Não tema o espelho e faça a fatídica pergunta: "Espelho, espelho meu, existe ...?" Seja realista. Se você se autoaprovar nessa fase, passe à seguinte: poste uma foto e informe idade, altura, cor dos olhos, peso, profissão e salário. Depois de 72 horas de pura agonia, o site Beatiful People avisará se você preencheu os requisitos.


E não adianta mentir. O site garante que tem mecanismos para coibir o uso de fotos falsas ou antigas. A filtragem e consequente aceitação ou negação a novos usuários é feita por meio de votos: homens votam em mulheres e mulheres votam em homens. Antes, a votação era generalizada. E olha só que coisa feia quando se trata de beleza: as próprias mulheres vetavam as mulheres lindas por medo da competição. Quando a administração do portal percebeu isso, tratou de mudar as regras.


Atualmente, o Beatiful People reúne 120 mil usuários. A página de abertura traz várias fotos de gente bonita. Não adianta contestar. Veja por si mesmo(a). Para te ajudar nessa empreitada, se você for um(a) dos(as) candidatos(as), reproduzo abaixo a poesia do Vinicius para lembrar a cada um de nós o nosso devido lugar. O quê? Se vou tentar me cadastrar? Não. Eu já sou bonito e não preciso que um mero portal me confirme isso.


Receita de Mulher

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar as pernas, e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão grego-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

by Vinicius de Moraes

terça-feira, 1 de abril de 2008

É tudo verdade!



Eu, que sou filho da mãe, cumprimento a minha hoje, que faz aniversário neste dia 1º. de abril. Não é mentira, é fato. Não nasci de uma chocadeira e tampouco cai de quatro, feito Macunaíma. Tenho uma mãe e é aniversário dela hoje. Parabéns, mãe (porque a minha lê meu blog).
Para ela, uma homenagem. Do recorrente, por estes dias, Carlos Drummond de Andrade.


Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Parabéns, mãe!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Origem da espécie




O lugar define a pessoa? Acho que sim. Estas fotos são de onde eu vim. É, você pode dizer que há um componente bem animal. E há mesmo. Rural, mato, verde, bichos. Eu vim daqui. Das pedras, dessa grama, desses horizontes. E tenho voltado frequentemente. Algumas coisas não mudaram. E há um certo conforto nisso. Não gostamos de mudanças. Nos deixam inseguros. Mas, há que se seguir em frente. O lugar faz a pessoa? Ou você redefine o lugar de acordo com a sua própria evolução? Não sei. É tudo secular, na verdade. O lugar fica, nós é que passamos.


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Somos uma legião

Quero dizer com isso que sou Rednecks. Somos nove. Nove rainhas? Noves fora? Prova dos nove? Não importa o que você acha. Sou múltiplo. Muitos. Contidos num só. Seremos, os Rednecks, singular ou plural, quando precisarmos. Não é assim que somos? Creio que, dessa forma, fica explícito que sofro de personalidade múltipla. À medida do possível, as personas diferentes assumirão as postagens. Por que tenho que ser apenas uma voz se posso me espalhar feito praga? Sou um organismo em expansão, multicelular. Se o universo se expande, me expandirei junto. Se big bangarei? Não sei! Afinal, os espelhos mais nos confundem que nos refletem. Difuso, como Patty, poderei ficar mais confuso ainda. Me aguarde! Rednecks para que te quero!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Romã da Turquia

Estava a perambular pela blogosfera quando me deparei com esta torta atraente recoberta de romã. Do blog, não entendi nada, porque é turco e eu não conheço a língua. Mas, de repente, a ancestralidade baixa e você sente um toquezinho vago, ainda que famiiar. Sou descendente de turcos e espanhóis e, pela conjunção desses povos, me declaro mouro. Que sempre tive nariz de turco, é inegável. Na minha cidade, existem alguns turcos e acho que, às vezes, eu bem que podia ser confundido com eles. E Istambul será a glória para mim, de várias formas: gastronomia, riqueza de cores, culturas, antiguidade. Ainda vou para lá. Mas, o motivo do post é a romã. A minha avó materna cultiva muitas plantas no seu imenso quintal na cidade. É o que se chama "data". "Tenho uma pequena data na cidade", você diz, quando quer dizer terreno. No caso da minha avó, a data começa numa rua e atravessa a quadra para acabar na rua de cima. Não é uma data, é uma dasha russa quase. Bem, nessa dacha interiorana, há um pé milenar de romã e, a cada vez que eu vou lá, há um fruto imenso. Desde que eu me lembro, existe o pé de romã e, também desde sempre, as frutas são doces e lindas. Dizem que romã dá sorte. Acho que dá mesmo. Ao ver a foto, fiz uma dancinha do download rápido e me lembrei até do gosto da romã da minha querida avó. É bom, não é não?

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

É óbvio! Ou não?

Porque nada é tão o b v i o u s quanto pensamos que é à primeira vista.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Toda nudez será castigada

Por que toda nudez precisa ser castigada? Nascemos nus e, depois da passagem, provavelmente alguém trocará nossas roupas. Eu preferia ser enterrado nu porque acho um desperdício botar uma roupa domingueira para ir ao encontro d´Ele. Enfim. Acho que a nudez é natural e não tem nada de mais. Mas, principalmente nos EUA, um monte de gente tem sido penalizada por mostrar o corpinho por aí sem maiores constrangimentos. Nos EUA, um padre foi preso em flagrante por se exercitar nu. Ele corria pelado numa escola, quando foi preso. O padre explicou que costuma suar muito quando se exercita vestido, por isso o fez sem roupas. Na Flórida, um fugitivo foi capturado nu no Rio Hudson, quando tentava fugir da cadeia. No Zimbábue, um outro homem foi encontrado nu - e morto! - no escritório. Ele pode ter morrido de causas naturais, mas ninguém sabe explicar porque estava sem roupas. Também nos EUA, outro homem saltou nu de um carro quando a polícia o perseguia por acusação de molestar sexualmente uma mulher. Em Miami, quem quiser pode ficar pelado para compor uma instalação de um artista plástico. Por fim, no México, na Suíça, na República Tcheca e em vários outros lugares, um monte de gente se despiu para protestar, seja contra subsídios de lavouras ou contra as mudanças climáticas. Então, acho que não dá para condenar a nudez. Se as pessoas querem ficar peladas, oras, deixe-as! Defendo a peladice sem vergonha de ser feliz!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

É legítimo o uso de KY?

O órgão "língua" vive em constante movimento e não hesita em formular digressões, destilar venenos e saborear a tragédia ou a comédia do alheio. A língua portuguesa não fica atrás. Para acompanhar toda a agitação do órgão, começa no ano que vem a mudança ortográfica, aprovada em 1990 pelo Congresso Nacional. As principais alterações são: rompimento do hífen (não se usará mais em algumas palavras como extraescolar); retirada do acento circunflexo (ao invés de desejar que vocês "dêem", desejarei que vocês "deem"); pela igualdade, o acento diferencial deixa de existir (ao invés de acentuar "pêlo" para definir o que você tem em lugares escondidos do corpo, você poderá usar apenas "pelo"); tremai-vos, que o trema deixa de existir (e alguém por acaso usa?); inclusão digital no alfabeto das letras "k", "w" e "y" (agora, é oficial, você pode usar o KY gel para fazer a inclusão); no grito, sai o agudo de um monte de palavras (como "jiboia" ao invés de "jibóia"); e na grafia propriamente dita, de Portugal (cai o "c" de "contacto". Óptimo? Não, é ótimo mesmo!). Essa mudança abrange os oito países de língua portuguesa e deve, segundo apontado pelo filólogo Antônio Houaiss no livro "A Nova Ortografia da Língua Portuguesa", totalizar cerca de 40 mudanças que terão de ser incorporadas ou à ortografia brasileira ou à portuguesa. É, Portugal também está nessa. Assim como Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Ainda faltam cinco países para ratificar o acordo, mas, no Brasil, estima-se que a implantação da reforma comece no ano que vem e deve durar cerca de dois ou três anos até ser absorvida pelas escolas e população. A última reforma ortográfica no Brasil aconteceu em 1971. Quero ver quem vai falar e escrever com acentos de menos e letras de mais. A única verdade disso tudo é que o KY poderá, finalmente, ser usado oficialmente na nossa língua (que lancem os sabores, pois!).

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Descansei

"... No sétimo dia, descansou ...", diz o Gênesis. Eu, ao contrário, peço para parar desde o primeiro dia e, em oposição ao "Cansei" (movimento cívico pelo direito dos brasileiros), proponho a aderência ao "Descansei". Porque, se a intenção de tal movimento (que se diz apolítico e "a" qualquer coisa) é obter a adesão em massa contra os desmandos do País, antes, terá que tirar a camada de teflon que recobre o presidente. E, no mais, me cansam muito esses movimentos civis que são lançados, divulgados, recebem apoio de tudo o que é lado (artistas em primeiro lugar, classe empresarial, ecologistas, políticos etc) e depois são relegados ao esquecimento. Dá a maior canseira e, portanto, quero descansar. Venha para o "Descansei" você também.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Objeto do desejo

A cobiça é classificada como um dos sete pecados capitais. Mas, creio que cobiçar algumas coisas faz bem para a saúde. Vai me dizer que você não cobiçou alguém até desistir, derrotado, ou até levar o prêmio (ou não!) para casa? Se a nossa doce cultura judaico-cristão nos proíbe de praticar a cobiça, desde que Eva cobiçou a vermelhíssima maçã, há várias alternativas para fugir desse padrão de comportamento que não tem nada a ver com a moral. A cobiça atiça o cérebro e, a não ser que você seja profissional do ramo, tenho para mim que é um incentivo como outro qualquer. Pratico a cobiça em vários níveis no meu dia-a-dia para atingir meus objetivos. O problema é que o seu objeto de cobiça sempre pode estar na mira de outro. Quem sabe, não é hora de olhar para o lado?

As vacas se recusam a ir para o brejo

Diz o ditado (cacofonia!) que o pote tanto vai à bica que um dia lá fica. E deve ficar atolado no brejo de tal bica. Pois é, por que então não ir direto ao brejo? Esperar para ver se as condições ideais de temperatura e pressão acontecerão é besteira. É melhor enfrentar de vez o barro e sair com pés de (barro). Mesmo porque foi dele que viestes, não? E em forma de pó a ele volverá, certo? Se até aqui está tudo combinado, sugiro que vá em grupo. Ao contrário de certas espécies que vivem de se dizimar, é melhor que o rebanho inteiro se desgarre do que uma ovelha venha contar depois o que se passou. Mas, eu falava de vacas ou ovelhas? Ou de potes? Acho que dá tudo na mesma. Porque o balido da ovelha, o berro da vaca e o som da queda do pote é tudo som e fúria. Depois, e só depois, vem a calmaria. Aguardemo-la!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Vários autores

Referência a um blog amigo (http://osquem.blogspot.com), quero deixar claro (ou escuro, no caso) que as minhas histórias não têm redenção mesmo. Fazer o que, se não consigo ser otimista? Por mim, manipulo os personagens até o limite da dor para depois fazê-los entender que tudo passa por uma grande escala na evolução do humano, com direito a passagens e paradas em cada círculo de Dante. Pois que, segundo Lupiscinio Rodrigues, "deixei o céu por ser escuro e fui ao inferno à procura de luz".

domingo, 12 de agosto de 2007

Muito barulho por nada

"O Grito" sempre me intrigou. Dá vontade de correr para uma ponte e botar a boca no trombone até fazer vibrar o concreto. Li, de certa feita, um relato impressionante de uma sem-teto. Ela dizia que morava sob o viaduto por opção, e não por falta de. A explicação que veio em seguida me comoveu bastante. Ela acreditava que tinha um barulho interno que não a deixava em paz. Na sua racionalidade (bastante avançada, creio), ela achava que dormir sob o viaduto, com todo o tráfego de automóveis, faria com que seu barulho interno se aquietasse. E, de fato, ela encontrava a paz na falta de silêncio. "O silêncio faz com que eu ouça o meu próprio barulho", disse. Numa cidade carente de silêncio como São Paulo, o barulho irrita sim. E tem horas que dá vontade de fazer como Munch e berrar sobre pontes. Mas, num mundo em que ora se demanda silêncio, e, em outra, busca-se o barulho, o melhor mesmo é abafar o berro e admirar a estranheza de um grito de angústia. Na minha opinião, o berro deve ser liberado somente se a ponte cair, de fato.

Use a bota de sete léguas

Quando a opressão for muito forte, passe batido. Você nem imagina o quanto de ator você tem para fingir que a muralha à sua frente não existe. Porque, para enfrentar, meu caro, é preciso ter pelo menos sete vidas. Até aqui, tenho somente a primeira e a Second. Sete, somente os pecados.

Você está na "hab" ou na "rehab"?

Rehab: se você não ouviu, ainda vai saber. Saiba antes por aqui. Rehab é a abreviação da palavra inglesa "rehabilitation". E é também o nome do hit "Rehab", de Amy Winehouse, considerada uma das melhores músicas deste ano. A palavra "rehab" tem aparecido cada vez com mais frequência, relacionada principalmente às superpoderosas Britney Spears (todo mundo conhece), Lindsay Lohan (estrela de "Meninas Malvadas") e Paris Hilton (até no Brasil ela já esteve). Pela ordem, porque a sequência é grande: Amy, a cantora de "Rehab", teria sido internada na Priory, uma das instituições para tratamento de alcoólatras e drogados mais conhecidas da Inglaterra. A artista teria sofrido uma overdose e teve de ser tratada com adrenalina e esvaziamento de estômago. O sogrão confirmou a overdose. Britney raspou os cabelos, entrou num programa de desintoxicação de álcool e drogas, prometeu ficar bem e caiu na vida. Teve que voltar para a "rehab". Lindsay foi presa em Los Angeles por suspeita de dirigir sob o efeito de álcool e de posse de cocaína, dias depois de concluir um programa de reabilitação. Finalmente, Paris foi presa, foi solta e foi presa novamente e teve que cumprir algumas semanas de detenção por distúrbios psicológicos. Na prisão, Paris reclamou que sua pele ficou seca porque não podia usar hidratante. Mas afirmou também que ficou muito mais espiritual. No balaio das "rehabetes", todas foram e voltaram e podem voltar ainda. Tomara que, aos poucos, elas relaxem e deixem o pessoal dos tóxicos em paz. Publicidade negativa não faz bem para negócio nenhum.

sábado, 11 de agosto de 2007

De novo, não!

Não é por nada não e nem quero ser repetitivo. Mas, o que acontece que a pessoa tem que colocar literalmente a gente lá? O cara teve a capacidade de tatuar o mundo aí. Ou a desenvoltura necessária para colocar o mundo abaixo a cada vez que frequenta o banheiro. Não sei se acho graça ou concordo.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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