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terça-feira, 29 de março de 2011

A cidade dos homens?

De Redmond, Seattle, EUA - As cidades pertencem aos homens. Não? Pois supõe-se que a urbe o é porque compõe-se do coletivo, do ajuntamento de seres. Ayuntamientos, em espanhol, significam as pequenas microrregiões que derivam as cidades. Na França, se diz ayuntamientos, também, salvo engano, ou qualquer coisa parecida, que quer dizer o mesmo: pessoas ao redor de si mesmas que se juntam para, teoricamente, definir algo em comum.




As cidades modernas também se definem como metropolitanas. Temos, no Brasil, a Grande São Paulo, que extrapola o município de São Paulo e engloba nada menos do que 39 municípios/cidades que gravitam em torno do astro de todas, a própria cidade de São Paulo.


Estou agora mesmo, neste momento, numa região metropolitana. A cidade é Redmond. Mas, pertence à Grande Seattle. Aqui na fronteira com o Canadá, nessa pequena e gelada Redmond, dá para, em 15 minutos, chegar a Seattle, que é a grande fronteira que separa o Norte dos Estados Unidos do Sul do Canadá.


Assim que cheguei, tentei caminhar nas ruas circunvizinhas ao hotel. Digo que tentei porque não passou disso o meu ato: tentativas. Foram duas. Na primeira, desanimei com o tempo úmido e frio e voltei, depois de circular em três quadras. Na segunda, fui mais longe e andei umas cinco quadras.


Nessas duas tentativas, encontrei apenas dois pedestres e um ciclista. Os demais homens da cidade eram motorizados. As calçadas me comprovaram que poucos são os que se dão ao trabalho de palmilhar aqueles chãos. Musgos crescem à vontade, sinal nítido de que não se caminha nesta cidade.




No final de janeiro deste ano, estive em Orlando, também nos Estados Unidos, e fiquei estarrecido com o fato de que, para atravessar uma longa quadra e ir para o outro lado, eu não podia fazê-lo a pé: para surpresa do taxista, disse que não entendia porque, com tanto espaço (exceto pelas calçadas, que não as havia), as pessoas preferem caminhar uma ou duas quadras dentro de seus confortáveis automóveis.




Aqui, hoje, nessa pequena (mas não pacata) cidade-satélite de Seattle, que abriga uma das maiores companhias de tecnologia do mundo, as pessoas com as quais cruzei em seus carros se estranharam de me ver. Digo que as estranhei mais porque perderam o hábito de caminhar pelas ruas. Os sinais de pedestres, obedientemente, não são capazes de ficar acesos por 20 segundos: as ruas foram feitas para os carros, não para pedestres desavisados que teimam em atravessar largas avenidas.




Temi que por detrás de mim apitassem e me mandassem parar. Que eu estava a desviar a atenção do trânsito a andar como se fosse uma coisa natural. Temi que me tirassem das ruas e me obrigassem ao abrigo de um motor. Por fim, desanimado com as distâncias (uma quadra é uma grande quadra, e não uma quadra razoável como as de São Paulo), voltei ao hotel e me quedei, órfão de ruas.


Uma cidade, que, teoricamente, é dos homens, se conhece pelas ruas, calçadas, pequenas vielas e passagens. Mas, não nos Estados Unidos. As ruas pertencem aos carros e somente a eles. Os motores são os verdadeiros reis da rua. A cidade é do veículo. Os homens? São apenas condutores.




As imagens e o filme deste post foram feitos através da janela do meu apartamento em tarde fria, chuvosa e, claro, absolutamente motorizada. Porque os Estados Unidos se movem por motores. Acho que, finalmente, entendi no que veio dar a Revolução Industrial da Inglaterra. Se era para chegar a isso, melhor seria ficarmos a fiar os fios na roca mesmo.

sábado, 24 de julho de 2010

As noites selvagens dos padres gays

Mais um escândalo sexual assombra o Vaticano. A revista italiana Panorama desta última sexta-feira traz como matéria de capa a reportagem "As noites selvagens dos padres gays". Com uma câmera escondida e uma investigação cuidadosa, durante 20 dias o jornalista Carmelo Abbate, da Panorama, acompanhado de um "cúmplice gay", se infiltrou nas noites quentes frequentadas pelos sacerdotes de Roma: os padres levam uma vida dupla - durante o dia, são sacerdotes, usam as vestes clericais e realizam missas; à noite, são caçadores nos clubes gays romanos. A revista descobriu uma série de casos de padres com vida dupla e conta, na reportagem, a história de três sacerdotes: Paul, Charles e Lucas. Os nomes são fictícios para proteger a verdadeira identidade dos padres.




Paulo, um padre francês de 35 anos, conheceu o repórter da revista Panorama na sexta-feira, dia 2 de julho, durante uma festa gay do bairro romano de Testaccio. A festa incluía dois outros acompanhantes pagos (escort boys) que dançaram nus com o padre e outros convidados e praticaram sexo. Também estava na festa o padre Charles, que tem entre 45 e 50 anos. A noite terminou na casa do padre Paul e o "cúmplice gay" do repórter manteve relações sexuais com o sacerdote, filmadas pela revista com uma câmera escondida (veja o vídeo abaixo).





Na noite seguinte, Paul e Charles procuraram o repórter e o amigo gay do repórter novamente. Segundo a revista, Charles deu uns "perdidos" (sumir sem explicações na balada). A noite teve o mesmo fim, com sexo entre alguns deles. A revista testemunhou que, no dia seguinte, Paul celebrou a missa em sua casa.


Charles disse ao repórter que 98% dos padres são gays e inclusive indicou casais de padres gays que são praticamente casados. Segundo o sacerdote, há uma ala intransigente da igreja que prefere ignorar o fato, enquanto outra ala reconhece e aceita os padres homossexuais. Depois do almoço com o repórter, o amigo do repórter foi à casa de Charles e, uma vez mais, mantiveram relações sexuais, gravadas por uma câmera oculta.


O Vaticano fez o que sempre faz: manteve a fleuma com que costuma responder a escândalos sexuais (como os dos prelados pedófilos) e acusou a Panorama de provocar polêmica e desacreditar a Igreja Católica.


Mas a revista tem tudo documentado e o editor ofereceu as provas para o caso de alguém ainda duvidar. Um dos pontos de encontro dos padres gays em Roma é a danceteria Gay Village. O Vigariado de Roma apenas divulgou uma nota curta: "A finalidade do artigo é evidente: criar escândalo, difamar todos os sacerdotes com base na declaração de um dos entrevistados, segundo a qual 98% dos sacerdotes que ele conhece são homossexuais, e desacreditar a Igreja".


Para tentar fugir de mais esse escândalo, tão comum no seio da Igreja, o Vaticano teve o displante de defender os 1,3 mil sacerdotes de Roma e acusar apenas os padres estrangeiros da tal "vida dupla". O Vigariado escreveu: "Em Roma, vivem muitas centenas de padres provenientes de todo o mundo para estudar, mas que não são do clero romano nem estão empenhados na pastoral".


Caros clérigos do Vigariado: a fundação da pedra da Igreja em Roma, ao que consta historicamente, sempre esteve balizada pelos mais escabrosos escândalos sexuais, sendo que o homossexualismo é apenas mais um tijolo nessa construção secular. Basta voltar um pouco e recordar os papas gays, casados, incestuosos, bandidos e mais uma série de adjetivos com os quais se pode classificar aqueles que são, sobretudo, homens como os mais comuns dos homens e, portanto, tão suscetíveis aos deslizes da carne quanto o resto da humanidade.


É hora de o Vaticano parar com esse comportamento e tratar a realidade como se deve. Com honestidade. Porque se a mulher de César, a propósito de Roma, além de ser honesta tem que parecer honesta, a Igreja Católica, além de ser autêntica, têm que parecer autêntica para merecer qualquer tipo de crença, seja de fé ou do cotidiano mesmo. Dentro dos limites do meu conhecimento clerical, devo dizer que conheço um bom número de padres gays que não hesitariam em "pegar" o coroinha ou cair nas "noites selvagens".

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Morte à pena de morte

Eu não sabia que eram tantos: 58 países, de um total de 197, ainda mantêm a pena de morte como castigo para crimes (não sei quais, mas imagino que variam e são bastante flexíveis). Em compensação, 139 países aboliram e - espero - execram a pena de morte.


A mensagem do vídeo abaixo é linda e é da Anistia Internacional, numa campanha contra a pena de morte.



segunda-feira, 22 de março de 2010

Inúmeros números

Que eu não gosto de números e o que eles representam - matemática, cálculos que eu não tenho a menor ideia para que servem, pesos e medidas (principalmente quando estou acima dos meus), valores (particularmente porque o meu saldo nunca está alto o suficiente) etc. etc. -, todos vocês que me leem já sabem, dado que, em algum momento (quer dizer, vários), reclamei dos números.


Mas esses são números que, de tão representativos, significam, até mesmo para mim, que sou nulidade neles (dá para ser 0?), um universo em si mesmo. Veja que curioso:




- 223.115 livros foram publicados até hoje, 22 de março, apenas neste ano, no mundo todo
- 6,5 milhões de jornais circularam hoje
- 7 mil aparelhos de TV foram vendidos hoje
- 1,857 bilhão eram os usuários da internet mundial até a hora em que publico este post
- 3,6 bilhões de e-mails foram enviados até hoje neste ano
- 7,9 mil posts foram publicados até hoje (agora, 7,901) neste ano
- 3,6 bilhões de buscas foram feitas no Google apenas hoje
- 6.833.456.905 éramos os habitantes do planeta Terra até a hora desta postagem
- 30.916 milhões de pessoas nasceram entre o dia 1º. de janeiro até hoje, 22 de março, neste ano
- 13,508 milhões de pessoas morreram entre o dia 1º. de janeiro até hoje, 22 de março, este ano
- 297 mil foram os nascimentos apenas no dia de hoje em todo o mundo
- 26 mil foram as mortes apenas no dia de hoje em todo o mundo (não chegou a 10% dos nascimentos)
- 1,165 bilhão de toneladas de comida foram produzidas até hoje no mundo
- 24 mil pessoas morreram de fome hoje
- 341,566 milhões de pessoas são obesas até este momento
- 1,022 bilhão de pessoas estão desnutridas até este momento
- 1,147 bilhão de pessoas estão acima do peso até este momento (eu entre elas)
- 931,496 bilhões de litros foram consumidos no mundo somente este ano
- 22: hoje, Dia Mundial da Água (*)


E mais não direi porque chega de informações negativas. O mundo é bravo e tampouco eu ando brando.


(*) O fundo do post está em azul para, a exemplo do portal UOL, celebrar o Dia Mundial da Água (ainda que, no meu caso, não seja publicidade, como foi a iniciativa do portal)



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Pitito, Emanuelle y Nicolás por las calles de Barcelona

(uma amiga me pediu para divulgar o seguinte texto e peço, aos que puderem, para replicar a mensagem e transmitir para outras pessoas, principalmente da Espanha, que possam ajudar. O texto a seguir está em espanhol. Abaixo, em outro bloco, eu coloquei a versão em português, parcialmente.


Se você conhece algum blog ou blogueiro espanhol, notadamente de Barcelona, compartilhe esta mensagem e a faça atingir o maior número de pessoas que puder.)


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Una amiga me pidió que revelara el texto siguiente y pedir, a los que desean, para replicar el mensaje y pasarlo a otras personas, principalmente de España, que pueden ayudar.




(Pitito con uno de sus dos monos - Foto: Pedro Madueño)

"Por favor, pido toda la atención posible para un verdadero drama. Un señor de casi 100 años - don Eduardo Gamir, conocido por "Pitito" -, que és un escritor e grand decorador reconecido por sus trabajos y no solamente en Espanã vive solo con sus animales - perros, gatos y dos monos que tienen 45 anõs.


Son sus compañeros todos, tratados con amor verdadero. Son sus bebes. Es todo lo que tiene. Hoy hechan a la calle a Pitito y a sus animales. La casa donde vive ya no le pertenece (Via Diagonal - Barcelona).


Ruego que divulguen esta nota para que alguien que pudea y le importe ayude a interrumpir esta condenación a muerte. No cabe la menor duda que ninguno soportara viver separado. No tiene quien le haga una pancarta implorando por su vida y de sus animales.


Las ramblas con sus flores no interrumpirian su belleza si estuviese una pancarta implorando ayuda para ese anciano Pitito y sus animales. Sea como sea, por favor, divulguen este pedido de ayuda. Gracias."

Con el fin de saber quién es Pitito, reproduzco a continuación un texto publicado en la prensa española sobre el escritor y decorador:

"Barcelona mon amour

Pitito, personaje irrepetible 

Fue compañero de viaje en las épocas doradas de la Gauche Divine, un personaje original y estrafalario, amigo de marquesas y divos del escenario, que alegró las noches bocaccianas con sus apariciones sorprendentes.

Asiduo de Bocaccio y protagonista en la mayoría de sus viajes, Pitito organizaba siempre en ellos su show particular. A Roma llegó con dos zorrinas color caoba claro (de la especie animal) que se perdieron en plena Vía Veneto y maravilló con su dinamismo en la larga noche pasada en el aeropuerto de Ciampino.

En Ajaccio cantó junto a Odile Versois. En el Royalty Theatre de Londres, una vez empezado Oh Calcutta, entró con un traje de cascabeles y paralizó el espectáculo. Al día siguiente, en Hair, llegó vestido con flecos y una capa de leopardo que le cubría de la cabeza a los pies y los artistas bajaron del escenario para obtener su autógrafo en medio de un aplauso colectivo y atronador.

En la incombustible ciudad de Nueva York pasó el control de aduana disfrazado de Cristóbal Colón, ante el estupor de los policías americanos.

De Bangkok regresó con una mona, Emanuelle, que todavía hoy le acompaña, y así sucesivamente, en San Francisco, Amsterdam, México, Rio de Janeiro, Bali o Puerto Rico... Incluso en un viaje a la Feria de Sevilla, su mono Espartaco o tal vez King Kong se colgó de la alarma parando el tren.

Toda una hazaña para el mundo de los simios. Sigue igual, fantasioso, divertido y entrañable. La otra noche, a sus espléndidos 86 años, apareció en la fiesta de Cartier vestido con una casaca de color turquesa resplandeciente y una barretina colocada en la cabeza.

Dice llamarse Eduardo José Federico Francisco María de Constantinopla Gamir y Pavessio de Molina-Martell Vargas y Fernández de Córdoba de Carvajal, pero tras esta larga hilera de nombres se le conoce simplemente por Pitito, y se autodefine así, «soltero por religión, sin profesión por adopción, impagador de letras por devoción, trotamundos por maldición y decorador en mis ratos de ocio».

Descendiente de una familia noble e hijo de diplomático, vivió sus primeros años en Tánger, Casablanca, París y Dakar. Ya de mayor, estudió Bellas Artes en París, trabajó en la ONU como traductor, decoró la Opera durante la presidencia de René Cotty, y organizó entonces las mejores y más grandes fiestas que se celebraban en la capital parisina, la más importante en Versalles, La Fête de Siècle, un acontecimiento realmente inolvidable al que llegaron a asistir más de 3.000 invitados.

Nunca se le conocieron amantes, ni nunca se enamoró, pero ha sido y sigue siendo un apasionado de la vida, de los animales y de sus amigos.

Hoy, este provocador incorregible vive en un entresuelo confortable y barroco, en plena Diagonal, acompañado de dos monos - Emanuelle y Nicolás -, 11 gatos, tres perrillos, más una reciente camada de seis cachorros, y rodeado de recuerdos, armarios llenos de disfraces, trajes imposibles y fotografías dedicadas por amigos del nivel de la Callas, los duques de Windsor, Charlie Chaplin, Maurice Chevalier, Dalí, Juliette Greco o Rubinstein.

Un pasado glamouroso y feliz que mantiene vivo en su mente y en su charla. “Si no se avanza en el recuerdo, se va al fracaso”, dice, “la nostalgia no es un error".

texto de Oriol Regás, publicado originalmente en El Mundo em 24/11/2002

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A seguir, o texto parcialmente vertido em português:

"Por favor, preste atenção tanto quanto possível para um verdadeiro drama. Um homem de quase 100 anos - Don Eduardo Gamir, conhecido como" Pitita "- que é um grande escritor e decorador, e não apenas na Espanha, vive sozinho com seus animais - cães, gatos e dois macacos de 45 anos.

Os seus animais são tratados com amor verdadeiro. Eles são seus bebês. Isso é tudo que ele tem. Hoje, Pitita e seus animais estão na rua. A casa onde ele vive já não lhe pertence (Via Diagonal - Barcelona).

Rezo para que a divulgação desta nota chegue a alguém que se preocupa e pode ajudar a quebrar essa condenação à morte. Não há dúvida de que Pitito e os animais não suportarão viver separadamente. Ninguém fez um manifesto implorando por sua vida e seus animais.

Las Ramblas, com suas flores, não teriam sua beleza alterada se alguém portasse um cartaz e pedisse ajuda para Pitita e seus idosos animais. Enfim, por favor divulgar esse pedido de ajuda. Obrigado.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

As cidades-fênix e a chama sagrada que as mantêm

Seja por hecatombes naturais ou provocadas pela ardilosa mão do homem, a destruição de cidades inteiras acompanha a humanidade há, pelo menos, dois mil anos. Porto Príncipe, capital do Haiti, une-se a outras cidades no triste rosário de destruição. Mas há esperança! Sempre há porque, se não existisse esse sentimento tão humano, não haveria o desafio grandioso de se levantar das cinzas e, tal qual uma fênix de vastas proporções, reerguer-se uma vez e mais e mais, tantas vezes quantas forem necessárias. Porque assim é o homem, para o bem ou para o mal: apanha, bate e, com a mesma teimosia, debate-se em meio aos clamores da natureza e do próprio homem.


A seguir, em ordem cronológica, listo algumas cidades que, desde o ano 64 d.C., foram praticamente aniquiladas e, ainda assim, bateram as asas incineradas e renasceram. Porque a palavra "cidade" deriva de civilização, do latim "civitas". E civilização significa agrupamento humano, cuja ocorrência gera, na maior parte das vezes, a evolução social nas mais diversas áreas: científica, política, econômica, artística e, por que não o dizer, também humanitária?


- Roma, 64 d.C.


No dia 18 de julho de 64 d.C., a cidade foi tomada pelo Grande Incêndio de Roma, que começou na região do Circo Máximo. As ruas de Roma não eram ruas, e sim ruelas. Como que dutos condutores de fogo, essas ruelas fizeram com que o incêndio se alastrasse rapidamente nos insulares (ou cortiços), edifícios de três, quatro ou cinco andares construídos à base de madeira. O incêndio durou seis dias mas, depois de controlado, novos focos fizeram com que o fogo se propagasse por mais três dias. Ficaram destruídos dois terços de Roma.





A versão mais conhecida sobre o incêndio de Roma é a de que o imperador Nero teria ordenado o evento com o objetivo de reconstruí-la segundo seu próprio projeto arquitetônico. Essa versão é desmentida pelos historiadores. Nero, na ocasião do incêndio, não estava em Roma e, ao voltar, abriu os jardins de seu palácio para acolher os desabrigados. Isso contaria a seu favor, não fosse o fato de que, após o incêndio, Nero aproveitou para adquirir terrenos circunvizinhos ao palácio a preços vis, o que revoltou a população e a levou a considerá-lo suspeito. O certo é que Nero elaborou um novo plano de desenvolvimento urbano para aquela que seria a capital do Império Romano do Ocidente e também a cidade eterna.


Outra versão dá conta de que os moradores usavam o fogo para se aquecer e, claro, preparar a comida. Como as residências eram de madeira, houve algum tipo de acidente que, somado aos fortes ventos da cidade, fez com que o incêndio se alastrasse por toda Roma.


Segundo os historiadores da época, três bairros de Roma foram completamente destruídos e outros sete ficaram bastante danificados. Roma tinha, na época, 1,7 mil casas particulares e 47 mil insulares. E, embora não haja estatísticas confiáveis, estima-se que mais de 10% da cidade foram destruídos.


- Pompéia, 79 d.C.


Antiga cidade do Império Romano, situada a 22 Km de Nápoles, Pompéia foi destruída pela erupção do vulcão Vesúvio no dia 24 de agosto de 79 d.C. Por mais de 1,6 mil anos, a antiga Pompéia ficou encoberta pelas cinzas, até ser reencontrada por acaso. E, quando redescoberta, mostrou os horrores encobertos pela lava vulcânica, com habitantes em pleno processo de fuga e, tal qual a mulher de Lot transformada em estátua de sal, cerca de 3 mil habitantes ficaram entalhados na pedra vulcânica para contar a destruição de Pompéia para a posteridade.





Atualmente, Pompéia é uma comuna da região de Campania, na Itália, com pouco mais de 25 mil habitantes. Ao redor do vulcão, vivem cerca de 600 mil pessoas. O Vesúvio continua em atividade. Antes de soterrar a antiga Pompéia, o Vesúvio ficou inativo por mais de 1,5 mil anos. A última erupção fatal do Vesúvio ocorreu em 1944 e a cidade de Nápoles, que tem 2 milhões de habitantes, também vive sob a constante ameaça de novas erupções.


- Londres, 1666


O Grande Incêndio de Londres destruiu uma imensa parte da capital britânica entre os dias 2 e 5 de setembro de 1666. Consumiu, em quatro dias, 13,2 mil casas, 87 igrejas, 44 prédios púbicos e a Catedral de Saint Paul. Não há um número preciso das vítimas, mas os registros da época relatam um total de 100 mil desabrigados e apenas nove mortes! Infelizmente, esse número - e pesquisas mais atuais - não foi tão baixo: estima-se que morreram, sim, milhares de pessoas, já que Londres, naquela ocasião, não registrava as pessoas pobres e de classe média.





Segundo a história, o incêndio começou numa padaria em Pudding Lane e se propagou por toda a vizinhança. A rápida ação do incêndio foi favorecida pela estrutura medieval de Londres: ruas estreitas e construções de madeira, bastante próximas umas das outras. À época, os incêndios eram combatidos com a derrubada de construções para impedir que o fogo se alastrasse. E essa técnica arcaica, ainda assim, foi atrasada por um político da cidade que, evidentemente, subestimou as proporções do incêndio. Quando, finalmente, o político autorizou as demolições, já o fogo havia se convertido em labaredas gigantescas e não podia ser detido.


O rei Carlos II, que governava o Império Britânico, temeu a reação pública e determinou a imediata reconstrução de Londres. Ao invés de aproveitar a catástrofe, no entanto, e se reinventar, a cidade foi reconstruída nos mesmos moldes do modelo anterior, ou seja, em madeira e ruas estreitas. Foi nessa época que surgiu o que é, atualmente, a City of London. A Catedral de Saint Paul, completamente destruída, foi levantada novamente, sob nova arquitetura. A ponte de Londres, que já havia sido parcialmente destruída por outro incêndio em 1663, foi definitivamente consumida pelas chamas. A biblioteca de teologia do Sion College perdeu um terço dos livros.


- Lisboa, 1755


Foi no Dia de Todos os Santos, em 1º. de novembro de 1755, que Lisboa amanheceu com o sismo cujo epicentro - nunca foi precisada a exatidão do epicentro - aconteceu no mar, entre 150 e 500 Km a sudoeste de Lisboa. Mas a magnitude do terremoto - 9 graus na escala Richter - foi tamanha que os abalos foram sentidos em Lisboa entre 6 minutos a 2:30 horas, conforme o local, e provocou fissuras que ainda hoje estão presentes na capital de Portugal.





As regiões mais atingidas foram a própria Lisboa e o Cabo de São Vicente. Os sobreviventes buscaram refúgio na zona portuária e, segundo o padre Manuel Portal, que tem relatos completos sobre o terremoto, instantes após o tremor, um tsunami, que pode ter atingido 6 metros de altura, fez submergir o porto e o centro de Lisboa, com as águas a avançarem 250 metros cidade adentro. De modo que, onde a água não chegou, lá estava o incêndio, que durou cinco dias, e contribuiu para dizimar estimadas 90 mil pessoas, da população que contava, em 1755, com 275 mil habitantes.


Esses eventos destruíram 85% das edificações de Lisboa. Foram abaixo palácios, bibliotecas, conventos, igrejas e hospitais. O Palácio Real, completamente destroçado, abrigava uma biblioteca com 70 mil volumes e centenas de obras de arte, inclusive quadros de Ticiano, Rubens e Correggio. O Arquivo Real, com documentos que registravam as explorações oceânicas de Portugal, foi completamente destruído, bem como registros históricos das viagens de Vasco da Gama e Cristóvão Colombo, ambos exploradores das Américas.


- New Orleans, 2005


A pressão foi insuportável e, no dia 30 de agosto de 2005, dois dos diques que cercavam New Orleans, que foi fundada numa região abaixo do nível do mar, não aguentaram e cederam sob as águas do Lago Pontchartrain. New Orleans é cercada por águas: além do próprio Lago Pontchartrain, que foi o responsável pela sua devastação, a cidade fica próximo do Golfo do México e do Rio Mississipi. Quando as barreiras romperam, 89% da cidade foram inundados a uma profundidade de até 8 metros.





Nunca ficou claro o número de vítimas mas calcula-se que foram milhares de pessoas. O responsável por tudo isso foi o furacão Katrina, que elevou o nível de água dos reservatórios que circundavam New Orleans e provocou o transbordamento. Em 2000, apenas a cidade tinha mais de 500 mil habitantes e toda a região metropolitana de New Orleans concentrava quase 1,5 milhão de pessoas. Pelo menos 200 mil casas foram destruídas pelas águas. Alguns moradores puderam retornar apenas um ano depois à cidade e muitos foram transferidos para cidades dos estados vizinhos como Louisiana, Texas e Missouri e até mesmo mais distantes como Washington, Ontário e Illinois. Dessas pessoas, a maioria jamais retornou a New Orleans que, passados quase cinco anos, ainda tem muitas áreas desabitadas. Após a passagem do furacão, que atingiu ventos de 200 Km/hora, muitas lojas foram saqueadas e houve roubo generalizado. A lei marcial foi instituída em New Orleans para assegurar o controle de toda a região.


- Porto Príncipe, 2010


Na terça-feira, 12 de janeiro, precisamente às 16:53 horas de Porto Príncipe, teria início aquele que pode ser, a se confirmar a estimativa do governo de 200 mil mortos, uma das dez piores tragédias mundiais em termos de vítimas. Com epicentro a 15 Km de Porto Príncipe e 7 graus na escala Richter, o terremoto devastou a capital do Haiti e todo o entorno e desabrigou pelo menos mais 1,5 milhão de pessoas. Apenas na capital, viviam 3 milhões de haitianos.





Fundada em 1749 pelos franceses, Porto Príncipe (ou Port-au-Prince) ainda conta os mortos, os feridos e começa, em meio a novos tremores e muito medo, a tentar reconstruir aquela que é a capital de uma das primeiras nações independentes da América do Sul. O Haiti tornou-se independente em 1804 mas nunca foi, de fato, independente. Neste momento, é, ao contrário, totalmente dependente do mundo inteiro para se reconstruir e tentar, ao menos, sobreviver nos escombros da cidade.


As seis cidades acima descritas, em diferentes épocas da história e nas mais diversas regiões da Terra, passaram, todas, pela fúria do fogo, da água, de vulcões, de terremotos e de tsunamis. Sobreviveram. Reconstruíram-se das cinzas, feito fênix que insistem em viver. Ou apenas sobreviver. Porque há uma chama sagrada que as mantêm: se chama homem.


Não entenda 'chama' como um triste trocadilho. Não é nada disso. Chama é uma metáfora para fé, para força, resistência, vontade, esperança. E o homem - e acredito mesmo nisso - é mais construção do que destruição, mais unidade do que divisão. As catástrofes que acometeram Roma, Pompéia, Londres, Lisboa, New Orleans e Porto Príncipe contabilizaram toda sorte de destruição e a perda de milhares de vidas. Nunca, contudo, foram capazes de conter o sentimento do homem em se reerguer dos escombros, sacudir a poeira e começar a vasculhar, a limpar, a resgatar e, finalmente, a reconstruir à sua volta.


Porque se a natureza promove eventos incontroláveis, é da natureza humana manter a chama acesa. Nem que for um fio apenas a iluminar por debaixo da ruína. Nem que for para surpreender na voz da senhora que canta ao ser resgatada sete dias depois de enterrada viva. Nem que for para ouvir o choro do bebê que sobreviveu a sete dias sem água, luz, leite e a mãe. Nem que for para constatar essas pequenas chamas que insistiram em se manter acesas. Porque é da natureza humana não se apagar. Exatamente porque não são infinitas, posto que chamas, são eternas enquanto duram. E a eternidade é o tempo em que cada uma dessas chamas permanece acesa. É tempo o bastante para ser fênix.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Existe prevenção ao ato de tirar a própria vida?

Estima-se que mais de 1 milhão de pessoas cometem suicídio em todo o mundo anualmente. E as projeções para 2020 são de que esse número chegue a 1,5 milhão de indivíduos. Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em 2007, eram 780 mil as pessoas que tiravam a própria vida, o que atribuía ao suicídio mais da metade das mortes violentas na Terra. A taxa de suicídios cresceu mais de 60% nos últimos 45 anos e, numa estatística ainda mais avassaladora, calcula-se que a cada suicida, outras 20 pessoas tentaram mas não conseguiram consumar o ato.


Esses números indicam que acontece um suicídio a cada 40 segundos em todo o mundo e que, a se confirmar a expansão desse tipo de morte, em 2020 ocorrerá um suicídio a cada 20 segundos. No Brasil, não há registros oficiais mas estima-se que ocorram 24 suicídios por dia (um a cada hora). Os especialistas, no entanto, afirmam que a taxa deve ser 20% maior (ou quase 30 suicídios por dia). Ainda no Brasil, os homens são os que mais cometem suicídio (três vezes mais do que as mulheres). Mas, por outro lado, as mulheres tentam tirar a vida (sem serem bem-sucedidas) de três a quatro vezes mais do que os homens.





As principais causas do suicídio estão relacionadas a depressão, ansiedade, uso de álcool e de drogas e esquizofrenia. Na edição do jornal Folha de S.Paulo desta quarta-feira, 4, há uma matéria sobre o assunto e uma entrevista com a jornalista Paula Fontenelle, autora do livro "Suicídio: o Futuro Interrompido" - Geração Editorial - 250 páginas. O livro é sobre o pai de Paula, que se matou com um tiro em 2005. A jornalista diz que mais de 90% dos casos estão relacionados a transtornos mentais como depressão e bipolaridade. E que as pessoas que o fazem emitem sinais embutidos em frases do tipo: "A vida não tem mais sentido", "Não consigo entender porque estar vivo" etc.


Paula diz que quando se percebe que uma pessoa quer se matar, deve-se perguntar a ela se pensa mesmo em se matar e levá-la a um psiquiatra que, com complementos químicos (remédios), é o único profissional que pode fazer alguma coisa.





A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que acredita que suicídio é uma questão de saúde pública, lança hoje uma campanha de prevenção ao suicídio. A ABP distribuirá material informativo para o público leigo, manual de informações para a imprensa e veiculará, em rede nacional, um vídeo institucional de 30 segundos sobre o problema.


Não sei se existe prevenção a esse tipo de atitude extrema. Temo que não. Creio que quem quer se matar, o faz, mais cedo ou mais tarde. E sem emitir sinais. Ou ainda que os emita. Há centenas de casos relatados pelas próprias pessoas na internet (em blogs, redes sociais etc.) que dão todos os sinais de que vão mesmo cometer suicídio. E há aqueles suicídios silenciosos que chocam, causam estranheza e até mesmo preconceito.





(Campanha do Centro de Valorização da Vida - CVV - entidade voluntária que trabalha na prevenção do suicídio e na valorização da vida - veiculada em 1999)


Na minha família, há pelo menos dois casos de suicídio comprovados. Ambos os casos, vistos sob o contexto atual, indicam que as pessoas que os cometeram realmente tinham transtornos mentais. O suicídio é um tema árido e tabu. As pessoas - família e amigos - tendem a se afastar e acreditam mesmo que o suicídio é cometido por pessoas fracas, que 'não tiveram coragem de encarar a vida de frente'. Besteira. Essa é uma resposta um tanto confortável para os que não entendem um comportamento desse tipo, muito mais complexo do que um simples dar de ombros penalizado.


Há uns quatro ou cinco dias, acordei às 5:30 horas sob uma saraivada de gritos que começavam com "Socorro!". Um homem gritava na madrugada e dizia que ia se matar. Obviamente, fez tanto estardalhaço que acordou a família (suponho), os vizinhos e todo o bairro. Em questão de minutos a polícia chegou e silenciou o infeliz. Daqui de casa não dava para ver a cena mas acredito que o homem queria chamar a atenção para um problema específico, e não dar cabo da própria vida.


Quem o faz, repito, simplesmente o faz. Pula de um prédio, se dá um tiro, toma veneno ou remédio em demasia. Não grita, não se comunica. É um silêncio total. Algumas vezes, deixam bilhetes para os parentes e amigos. Outras, nada. Apenas um vazio. Um vazio que fez sofrer a pessoa a ponto de a morte arbitrária ser vista como solução única e um vazio nos que ficam, sob o pendor de uma culpa que nunca cessa. Uma vida que se esvai e outras que ficam, suspensas.


sábado, 24 de outubro de 2009

Um cavalo de pau para as modas contemporâneas

Os mesmos cientistas que resgatam os fragmentos que permitem datar e codificar a evolução da humanidade bilhões de anos atrás são os responsáveis pelo sombrio futuro daqui a alguns milhões de anos: a extinção da espécie humana.


Estou na fase final da leitura de um catatau sobre a evolução do planeta. Esse livro faz um retrocesso de alguns bilhões de anos para tentar explicar a origem de todos nós. Para trás ou para a frente, o que se sabe, quase com certeza, é que não existíamos e que deixaremos de existir.





Isso pode soar terrível porque, aparentemente, somos os controladores de todo o planeta. Mas não é bem assim e a natureza se sobrepõe à nossa fraca condição de elemento da cadeia. Somos apenas mais um traço nessa escalada e, assim como os dinossauros viveram e definharam, também nós nos desenvolvemos e chegaremos a um ápice. Depois, a decadência. E, por fim, a extinção completa. Assim como o pássaro dodô, a nossa existência será apenas isso: dadaísta, sem sentido. Dadaísmo vem da palavra francesa 'dadá' que significa cavalo de pau, o brinquedo infantil. Pois dou um cavalo de pau no comportamento contemporâneo que para mim, no mais das vezes, não faz o menor sentido.


No intervalo entre o momento em que adquirimos consciência (e essa data, creio, nunca será precisamente determinada) até o momento atual, ao qual chamamos de contemporâneo, muita coisa mudou. Mas, conforme passam os anos (dizem que as antigas civilizações datam de pouco mais de 5 mil anos atrás) e, no momento mesmo em que eu, humano, presencio o desenrolar da história, o que vejo, no decorrer das décadas, não é nada evolutivo: é castrador.






É como se fossemos, uns e outros, caça e caçador. Bastou um comportamento se desviar do considerado padrão para que alguns de nós sejamos tachados de subversivos, devassos, sórdidos e mais uma série de adjetivos que se pretendem desqualificadores. Isso vale para preconceitos, estilos de vida e até mesmo sobre o que consumimos.





Volto a afirmar, como já disse antes neste blog, que somos, na maior parte, vigiados por um Estado e uma sociedade autoritários que não hesitam em condenar sob pena de, em algum tempo, estarmos todos presos nessa armadilha hipócrita do que é ou não é correto. O certo e o errado variam, historicamente. As leis mudam, como disse o amigo Pinguim, e basta um governante e um grupo de políticos decidir, lá se vão anos de conquista e de uma pretensa evolução cultural.


Aqui em São Paulo e em algumas outras capitais brasileiras já vigoram leis bastante autoritárias que cerceiam, antes de tudo, a liberdade individual, tecla a qual nunca me cansarei de dedilhar: é a lei antifumo, a lei do silêncio, a lei do rodízio municipal que me proíbe de circular por algumas horas um dia na semana e que nem por isso me desconta os impostos (federais, estaduais e municipais) que eu pago sobre o carro e mais uma penca de leis que nascem por uma demanda de alguns hobbies ou porque alguns setores da sociedade acreditam mesmo que as leis são capazes de ditar comportamentos.





Se existem as leis oficiais, outras, por vezes piores, são leis não-escritas, mas que têm força coercitiva muitas vezes dobrada porque são daquele tipo que te intimidam socialmente e te elegem (ou ao grupo) como pária: você se transforma em exemplo a não ser seguido e é apontado como um outsider (né, Gentil Carioca?).





Hoje, contemporaneamente, por vezes sem conta me sinto um outsider. Faço parte do grupo segregado que fuma; bebo e sou recriminado por isso; tenho um comportamento que, para alguns, é visto como nocivo; e, agora, pertenço a uma categoria quase equivalente aos antigos antropófagos: gosto de carne. Não da carne humana. Bem... da carne humana não nessa conotação. Mas em todas as outras, pô! sou bem humano!


Gosto de carne de bicho morto, em vulgo português: carne bovina, caprina, suína, de aves, de caça. Toda e qualquer carne. De preferência, levemente mal passada, o que me remete, simbolicamente, aos selvagens que comiam carne crua (ah! gosto de peixe cru!) porque não dominavam o fogo e desconheciam os temperos.





Pois que agora instituíram a Segunda Sem Carne, pela qual toda segunda-feira as pessoas, espontaneamente, deixam de ingerir carne. Essa data se segue ao Dia Mundial Sem Carne (que é realizado no dia 20 de março). OK! Nada contra. Cada um opta pelo que acha mais saudável, mais prudente ou, no limite, por aquilo que a correnteza leva.


Mas me preocupa o fato de isso virar, primeiro, um debate na roda de amigos e, depois, pequenas e superficiais condenações. É como no passado quando não se comia carne na sexta-feira santa (e isso ocorreu na minha casa por muito tempo). O problema é que quem adota tal atitude quer que o rebanho (não abatido, evidentemente) inteiro se una na mesma condição.


E aí eu retruco: por que não parar de comer de uma vez? Porque, se fazemos parte da cadeia alimentar, deveríamos ter a mesma consciência com toda a gama de alimentos: vegetais, animais e minerais. Comer uma alface pode ser encarado, portanto, como um assassinato verde, não é? Ou as plantas são menos seres vivos do que os animais? Para mim, exceto pelas pedras, plantas e animais são, todos, seres vivos.


E por que cargas d'água comer um coelho ou uma vaca é um crime ambiental e comer arroz não é? Se a agricultura e a pecuária de subsistência têm os mesmos princípios? Acho que tudo não passa de conversa fiada para boi ir dormir (e, mais tarde, ser abatido). Lorotas!


Estamos de passagem por aqui e daqui a pouco não mais existiremos. Com carne de vaca ou sem. Isso é fato. Portanto, me deixem em paz com minhas picanhas. Façam suas saladas verdes e regojizem-se: estão a cometer crimes naturais da mesma forma que eu o faço. O que dizer da água que caminha para o completo esgotamento? Você vai parar de tomar água por isso? Oras, é uma questão de sobrevivência.


Repito: cada um de nós é muito provisório para que fiquemos a cuidar uns dos outros como se fossemos sobreviver aos tempos. Todos acabaremos na mesma condição: enterrados, derretidos ou embalsamados, seremos apenas carcaças. E, depois, nem isso. Seremos poeira do tempo porque a natureza é selvagem e não poupa a nada e a ninguém. Por sorte.


sábado, 26 de setembro de 2009

Sim, eu sou humano. E você?

Eu gosto de viver.
Eu gosto de namorar.
Eu gosto de gostar.
Eu gosto de tomar café.
Eu gosto dos meus amigos.
Eu gosto de dormir tarde.
Eu gosto de acordar tarde.
Eu gosto de falar besteira.
Eu gosto de estar entre as pessoas queridas.
Eu gosto de churrasco.
Eu gosto de beber.
Eu gosto de me divertir.
Eu gosto de dançar.
Eu gosto de ler.
Eu gosto de paquerar.
Eu gosto do sol.
Eu gosto do cheiro de mato.
Eu gosto da chuva.
Eu gosto de movimento.
Eu gosto de ficar parado.
Eu gosto de escrever.
Eu gosto de jantar fora.
Eu gosto de ver o pôr-do-sol.
Eu gosto de música.
Eu gosto de rir.
Eu sou um ser humano. E você?


Uma vez mais, em visita ao querido Pinguim, do Why Not Now?, tive o prazer de assistir ao vídeo que reproduzo abaixo. Não pretendo doutrinar ninguém, e sim apenas repetir, de novo e sempre, que sou humano como você e que gosto de muitas coisas que você, provavelmente, gosta. Porque sim, eu sou humano. E você? 

sábado, 12 de setembro de 2009

Muito além do jardim

Na concepção cristã e em outras religiões, o Éden ou paraíso é o jardim almejado pelos humanos na pós-morte. Quer dizer, por aqueles que creem na passagem que, eventualmente, faremos do terreno para o divino. Desconfio que, além-morte, nada mais há do que apenas a terra a me cobrir. E é só.


No entanto, respeito a crença alheia e, por um instante, chego a experimentar até mesmo a sensação de crer no quem vem depois, no eventual paraíso, na paisagem de jardins exuberantes a me esperarem, com flores, pássaros e cheiros a alegrarem a minha eternidade. Ocorre que esses pensamentos travam-se no momento em que os tenho por acreditá-los demais fantasiosos. Ao contrário, acho que, em plágio a Sartre, se o inferno são os outros, também paraíso e purgatório são os demais. A trindade divina que sustenta algumas religiões - céu, purgatório e inferno - são, pois, alegorias que experimentamos aqui mesmo, nesta terra que nos há de encobrir tanto quanto já o fez a milhões antes de nós.


Na semana passada, dois noruegueses foram condenados à morte por um tribunal militar da República Democrática do Congo. Tjostolv Moland, de 28 anos, e Joshua French, de 27 anos, foram acusados pela morte de um motorista congolês e também de espionagem, roubo a mão armada e crime organizado. O julgamento foi feito em francês, língua desconhecida para os dois acusados, e sem intérprete.




E essa informação me suscitou o pensamento principal desse post: o mote central de algumas religiões garante o acesso ao paraíso, com eventuais paradas (ou entroncamentos) e, no extremo, uma descida aos infernos - e olhe que interessante: ao céu se ascende e ao inferno se baixa, em maniqueísta definição de alto e baixo, superior e inferior, acima e abaixo, teto e subsolo.


Desprezadas eventuais escalas no purgatório, me questiono o que há além dos jardins. Na fronteira que divide paraíso e inferno deve haver uma região limítrofe, uma Faixa de Gaza e, nas definições sempre assertivas de Stephen King, essas regiões devem se parecer a estranhos territórios nos quais vagam tipos erráticos, sempre prontos para nos solapar em nossas eventuais aspirações - tal qual escapar do eventual inferno. Por isso, chamo essa região de 'muito além do jardim'. Não é o inferno (ainda que eu me resguarde na afirmação de que o inferno são os outros), mas também não é mais o paraíso.


Nessa região intermediária, figuram exatamente 58 países que, dentro dos respectivos limites geográficos, mantêm seus próprios (muito além dos) jardins. Esses países, governados sob regimes democráticos ou ditatoriais, executaram, no ano passado, 2.390 pessoas e estabeleceram a pena capital para mais 8.864 condenados, segundo dados da Anistia Internacional. Outros 139 países rejeitam a pena de morte.


A seguir, o ranking dos países que executaram pessoas no ano passado por meio de apedrejamento, forca, cadeira elétrica, injeção letal, decapitação e câmara de gás:


- China - 1.718 pessoas
- Irã - 346 pessoas
- Arábia Saudita - 102 pessoas
- EUA - 37 pessoas
- Paquistão - 36 pessoas
- Iraque - 34 pessoas
- Vietnã - 19 pessoas
- Afeganistão - 17 pessoas
- Coreia do Norte - 15 pessoas
- Japão - 15 pessoas
- Iêmen - 13 pessoas
- Indonésia - 10 pessoas
- Líbia - 8 pessoas
- Bangladesh - 5 pessoas
- Bielorússia - 4 pessoas
- Egito - 2 pessoas
- Bahrein - 1 pessoa
- Botsuana - 1 pessoa
- Cingapura - 1 pessoa
- Emirados Árabes Unidos - 1 pessoa
- Malásia - 1 pessoa
- Mongólia - 1 pessoa
- São Cristóvão e Neves - 1 pessoa
- Síria - 1 pessoa
- Sudão - 1 pessoa


Esses países e mais 33 outros que não executaram pessoas no ano passado (mas o fizeram em anos anteriores) formam um imenso território de zonas de sombra. São as tais regiões fronteiriças citadas por King que muitos de nós, em são consciência, jamais colocaremos os pés. Acabemos, pois, com esse jardim melífluo, esse não-jardim.




É bom registrar que outros países, até muito recentemente, como pode ser visto na lista abaixo, ainda tinham a pena capital como castigo para crimes nas respectivas legislações. Esses países, a partir de 1976, aboliram a pena de morte por completo. O Brasil, inclusive, para a eventual surpresa de alguns(mas) leitores(as), chegou a executar pessoas sob a pena de morte. Abaixo, portanto, o ano em que os países aboliram a pena capital:


- 1976: Portugal
- 1978: Dinamarca
- 1979: Brasil, Ilhas Fiji, Luxemburgo, Nicarágua, Noruega e Peru
- 1981: Cabo Verde e França
- 1982: Holanda
- 1983: Chipre e El Salvador
- 1984: Argentina
- 1985: Austrália
- 1987: Haiti e Liechtenstein
- 1989: Camboja, Eslovênia, Nova Zelândia e Romênia
- 1990: Andorra, Croácia, Eslovâquia, Hungria, Irlanda, Moçambique, Namíbia, República Tcheca e São Tomé e Príncipe
- 1992: Angola, Paraguai e Suíça
- 1993: Guiné-Bissau, Hong Kong e Seychelles
- 1994: Itália
- 1995: Espanha, Ilhas Maurício, Moldávia e Yibuti
- 1996: Bélgica
- 1997: África do Sul, Bolívia, Geórgia, Nepal e Polônia
- 1998: Azerbaijão, Bulgária, Canadá, Estônia, Lituânia e Reino Unido
- 1999: Timor, Turcomenistão e Ucrânia
- 2000: Albânia, Costa do Marfim e Malta
- 2001: Bósnia e Herzegovina e Chile
- 2002: Sérvia e Montenegro
- 2003: Armênia
- 2004: Butão, Grécia, Samoa, Senegal e Turquia
- 2005: Libéria e México
- 2006: Filipinas
- 2007: Ilhas Cook, Quirguistão, Ruanda e Kazaquistão
- 2008: Uzbequistão
- 2009: Burundi e Togo

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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