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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O que pode vir de podre do reino da Dinamarca

Na próxima sexta-feira, 2, 97 membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) votam na cidade-sede das Olimpíadas de 2016. Estão no páreo Chigaco (EUA), Tóquio (Japão), Madrid (Espanha) e Rio de Janeiro (Brasil).


Todos os representantes de cada país estão reunidos em Copenhague (Dinamarca) para o anúncio de sexta-feira: Barack Obama, a apresentadora Oprah, o rei Juan Carlos, Lula e Pelé. Sobram farpas e acusações (oficiosas) por todo lado. São muitos os argumentos a favor e contra, conforme a vertente e a cidade.


O jornal Folha de São Paulo fez uma série com as cidades-candidatas de domingo até hoje, quarta-feira, e os orçamentos, somados, chegam a US$ 32,4 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões em valores do dólar desta quarta-feira, dia 30). É dinheiro que não acaba mais. Para dar a dimensão do montante, a arrecadação federal brasileira de julho deste ano foi de R$ 58,6 bilhões. É o mesmo valor também que o diretor executivo-chefe da siderúrgica britânica ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, considerado o homem mais rico da Inglaterra, perdeu ao final do ano passado em função da crise mundial.





O Brasil, depois de levar a Copa de 2014 (e os Jogos do Pan de 2007), agora quer sediar as Olimpíadas. Tudo bem não fosse a ausência de infraestrutura básica em uma centena de áreas. Para não dizer que sou pessimista, dou um exemplo do que ocorre no bairro onde moro, distante da Avenida Paulista apenas duas quadras: toda vez que chove mais forte, parte do bairro fica às escuras, com todo o caos que isso acarreta. A Avenida Paulista é considerada a mais importante via da cidade de São Paulo e, quiçá, centro nervoso financeiro e empresarial da América Latina. Como sou da opinião de que a minha aldeia (no caso, bairro) é local mas capaz de se refletir em termos globais, dou de graça que o que ocorre no meu bairro se espalha pela cidade e, por etapa, pelo Brasil, incluso o Rio de Janeiro.





Não vou nem entrar em temas macros que poderiam ser considerados. Mas, das quatro cidades, três pertencem às grandes economias que, efetivamente, mandam no mundo: EUA, Espanha e Japão. Nós, ainda que me considere otimista, afinal, com o Brasil, somos apenas a franja do mundo, ladeados pelo imenso continente africano que se despregou de nós desde Pangea.





Temos mais afinidades com a África em termos financeiros e culturais do que gostamos de admitir, e não com a Europa, os EUA ou a Ásia (a parte rica, claro). Dos quatro orçamentos, o Rio de Janeiro não quer posar de patinho feio. Não! É o cisne negro: o Rio oferece o maior orçamento ao COI: são US$ 14,4 bilhões. Na comparação, Tóquio acena com US$ 7,1 bilhões, Madrid com US$ 6,1 bilhões e Chicago, que pertence à maior economia do planeta, com modestos US$ 4,8 bilhões.





Fala-se muito no retorno que um evento do porte das Olimpíadas (ou da Copa do Mundo) traz para o país ou cidade-sede. Uma campanha bem-humorada, idealizada por um publicitário de Chicago, aponta as razões pelas quais o evento deve ocorrer no Rio, e não em Chicago. Você pode acompanhar pelo site Chigacoans For Rio 2016. Interessante observar no site os prejuízos que as cidades que já sediaram o evento acumularam. O Brasil (e seja que cidade for) não está preparado para arcar com prejuízos desse porte pelo simples fato de querer ostentar ao mundo que somos, finalmente, o país do futuro. De um futuro que não se concretiza nunca e que apenas arranha as portas daqueles que realmente dão as cartas.


Os dados estão nas mesas de Copenhague. Somente espero que algo de podre não nos seja presenteado do reino da Dinamarca.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O que Sugar Baby Love encontrou através da vida

Trata-se, claro, de uma campanha de publicidade. Mas é tão divertida e, simultaneamente, dramática que, garanto, muitos se identificarão com o personagem. A campanha, de prevenção à AIDS (ou SIDA), é francesa e foi vencedora do Leão de Prata do Festival de Cannes 2006 na categoria saúde pública.


A despeito do tema (prevenção e saúde), no entanto, eu chamo a atenção para as idas e vindas na vida do personagem que, se não fossem dramáticas, até poderiam ser cômicas.


Ou, dito de outra forma, se não fosse realidade, poderia ser risível. O fato é que, ainda que seja apenas uma representação em desenho animado, o vídeo é realista o bastante. Exceto o final com o qual discordo totalmente. Por que? Oras, então tá que a vida real é tão virtuosa assim!!! Vi o vídeo no informativo e divertido blog Cinema, Homens e Pipoca. Vale a pena assistir!



segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O que Alice encontrou através do espelho

Alice sonhou ou viveu? Não importa a resposta, e sim o que o livro conta. Pois a ficção é muito mais interessante do que, de fato, teria acontecido realmente. Para saber as respostas, basta ler o livro (recomendo de pronto a maravilhosa edição comentada que inclui "Aventuras de Alice no País das Maravilhas", "Através do Espelho e o que Alice Encontrou por Lá" e o episódio "O Marimbondo de Peruca", suprimido de "Através do Espelho" - Lewis Carroll - editora Jorge Zahar Editor - 303 páginas).


Afirmo, com propriedade, que muitas coisas podem ser encontradas através do espelho. Claro fica que meu espelho, neste momento, passa a ser a tela do computador no qual digito as palavras que, eventualmente, você, leitor(a), lê. E você passa a ser, assim, o 'através' do espelho, o lado de lá.





Acordados ambos, você e eu, quero dizer que tenho viajado através desse mágico espelho e, para tanto, tomo a liberdade de me portar feito um Lewis Carroll e divagar - ora como se tivesse a tomar chá com um Coelho e um Chapeleiro malucos, ora como se tivesse a me contornar ante as peripécias de uma Rainha Vermelha.





Pois muito bem que posso ser um Redneck Alício, a sonhar com superfícies mais profundas do que simplesmente a tela plana desse iMac que está à minha frente. De tanto ver a maçã que faz as vezes de logotipo da Apple, feito um Adão tentado, vou dar uma mordida e desvendar o que há por detrás desse espelho. Claro está que, a propósito do quadro que ilustra o topo deste blog, poderei ser expulso. Mas, qual o quê! Expulso de onde? Do refúgio? Só se for. Porque o paraíso é que não é. E por não temer o inferno, pois há quem tenha dito que fugiu do céu por ser escuro e foi ao inferno à procura de luz, me lanço, aliciamente, fácil fácil pelas dobraduras, melhor ranhuras, desse meu espelho.


Pois ao atravessar o espelho, me dei conta que, se Alice sonha, eu realizo. Ontem, estava a pedir afagos e abraços. Ontem ainda, os tive, se não fisicamente, de uma forma que transcende o físico. Confirmo, portanto, que a minha viagem através do espelho tem sido frutífera - ainda que eu não tenha abocanhado nenhuma maçã. Entretanto, me salta aos olhos o conhecimento, a descoberta, o ver através. Se estancou a cegueira paradisíaca que eu supunha haver comigo. Vieram abraços alados, lá daquele velho continente que, um dia, parece, estava cá emendado a este chamado novo continente.





De maneira que, não obstante a massa d'água que se interpõe, o espelho houve por bem conduzir de um lado a requisição -> me dê um abraço! Do outro lado, veio, feito um murmúrio de ondas -> abraçado estás! Se eu perguntasse "Espelho, espelho meu, existe alguém do outro lado da areia, da prata e do estanho de que você (espelho) é feito?", poderia o espelho, autêntico fosse, dizer que "não, nada mais existe além da sua fantasia louca".





Mas incorre em erro o espelho. Que não foram, em absoluto, fantasias de minha parte. Ainda que virtuais, foram, sobretudo, pessoais. Assim, devo afirmar que, se Alice encontrou efetivamente algo através do espelho (e encontrou, sim), Redneck Alício também encontrou. Encontrou amigos com quem quer tomar chá e ter conversas malucas sobre coelhos, chapeleiros e rainhas com pessoas que conseguem se enxergar através (e apesar) do espelho. Eles, esses amigos, não os nominarei. Porque, como me disse um deles, não é necessário que se nomeiem todas as coisas (ao contrário daquela tradição que saiu a nomear tudo o que povoava a terra). Basta que saibamos, entre nós, o que somente nós vimos, um de cada lado, o que o espelho tinha para nos dizer. E, ao afirmar isso, como Alice, desperto de um sono profundo. E está dito ou vão me falar que estou a delirar!

domingo, 27 de setembro de 2009

Meu rugido dominical

Hoje vou inovar no formato e postar neste espaço um vídeo.


É que, ao contrário de um rugido, que se supõe um manifesto, um grito ou repúdia, quero expressar um sentimento: a vontade de abraçar e ser afagado de volta.


Não é nem carência nem nada. É gratuito mesmo.


O mundo (incluso eu mesmo) precisa de mais carinho, de afeto. E dar afeto significa receber de volta. Se desprender, ser só sensação. Ainda que por detrás das grades. Ainda que não seja um amor domesticado. Ainda que reste, sempre, um rastro de animalidade e de fera. Ainda assim, quero carinho.


Talvez seja porque não o tenho tido ultimamente. Porque não tem havido quem afague a minha juba. Quem não sinta temor de se aproximar.


Talvez seja porque, de rugido em rugido, eu tenha deixado as pessoas afastarem-se, temerosas de pesadas patas. E, sem querer ou propositadamente, tenha entreposto entre as pessoas e eu pesadas barras de ferro. Talvez.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sim, eu sou humano. E você?

Eu gosto de viver.
Eu gosto de namorar.
Eu gosto de gostar.
Eu gosto de tomar café.
Eu gosto dos meus amigos.
Eu gosto de dormir tarde.
Eu gosto de acordar tarde.
Eu gosto de falar besteira.
Eu gosto de estar entre as pessoas queridas.
Eu gosto de churrasco.
Eu gosto de beber.
Eu gosto de me divertir.
Eu gosto de dançar.
Eu gosto de ler.
Eu gosto de paquerar.
Eu gosto do sol.
Eu gosto do cheiro de mato.
Eu gosto da chuva.
Eu gosto de movimento.
Eu gosto de ficar parado.
Eu gosto de escrever.
Eu gosto de jantar fora.
Eu gosto de ver o pôr-do-sol.
Eu gosto de música.
Eu gosto de rir.
Eu sou um ser humano. E você?


Uma vez mais, em visita ao querido Pinguim, do Why Not Now?, tive o prazer de assistir ao vídeo que reproduzo abaixo. Não pretendo doutrinar ninguém, e sim apenas repetir, de novo e sempre, que sou humano como você e que gosto de muitas coisas que você, provavelmente, gosta. Porque sim, eu sou humano. E você? 

A capacidade de ter schadenfreude versus compor com a gestalt

Schadenfreude, em alemão, é o nome que se dá à capacidade de se ter 'felicidade com a desgraça alheia'. É o mesmo que dizer que você se sente feliz ou alegre com o sofrimento ou a infelicidade alheia. Há, inclusive, um ditado alemão que diz: "Schadenfreude ist die schönste Freude, denn sie kommt von Herzen" - Schadenfreude é a alegria mais bela, já que ela vem do coração. Por outro lado, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer afirmou: "Neid zu fühlen ist menschlich, Schandenfreude zu genießen teuflisch" - Sentir inveja é humano, gozar da Schadenfreude é diabólico.





Em oposição a esse conceito 'do mal', os próprios alemães criaram uma outra teoria, que se aplica muito bem ao universo da arte e da psicologia. É a 'Gestalt' ou psicologia da forma. 'Gestalt' significa o que é colocado diante dos olhos, exposto aos olhares. Teoria com ampla aplicação prática, significa um processo de dar forma ou configuração. No sentido mais estrito, representa a integração de partes em oposição à soma do todo. Ou que o todo é maior do que a soma de suas partes. De forma que, ao se definir um processo como uma 'gestalt', é o mesmo que afirmar que tal processo não pode ser explicado pelo mero caos, a uma simples combinação de causas desconexas, e sim que a essência de tal processo é a razão de sua essência.





É meio complicado, sim. E não dá para elaborar a teoria inteira em post limitado. Mas, numa aplicação prática, a 'Gestalt' pode ser usada na pintura (na configuração da proporção áurea - tamanho das falanges, favos de uma colmeia, repetição de padrões das conchas do mar etc.), na publicidade (uso de símbolos que possuem alto poder de atração - pregnância) e na arquitetura (junção de formas que são agradáveis aos olhos humanos). Entre outros, fizeram uso do conceito o pintor Giotto (baseado na proporção áurea), Salvador Dalí e Marcel Duchamp (ilusão de ótica ou segregação figura-fundo, pela qual não se pode enxergar um objeto sem separá-lo do seu fundo).





Pois bem. O que tem a ver a felicidade com a desgraça alheia (Schadenfreude) com o todo que é maior do que a soma de suas partes (Gestalt)? Tem a ver com humanidade, com humildade, com uma percepção de que o mundo, como um todo, é superior às partes (sejam compostas de raças, credos, culturas, países mais ou menos ricos) e que a desgraça alheia significa, em grande medida, a própria ruína, com o quê, então, não tem fundamento comemorar com regojizo a desgraça alheia.





Porque, de certa forma, a decadência (ou desgraça, ruína, queda) do alheio (vizinho, parente, outra cidade, outro país) significa, desde já, que uma das partes que compõem o todo não é indivisível desse todo e, sendo assim, qualquer parte afetada provocará consequências, em geral, irreversíveis na composição do todo e o desequilibrará irremediavelmente.





Para mim, ambos os conceitos - Schadenfreude e Gestalt - aplicam-se perfeitamente ao mundo contemporâneo. Vivemos em sociedades extremamente competitivas que orgulham-se de feitos e desprezam os losers (fracassados). Rimos quando somos bem-sucedidos e também quando os outros não o são. Pisa-se constantemente nas cabeças alheias para galgar mais rapidamente os degraus de uma pretensa ascensão que, no fundo, não se traduz em felicidade. Ou seja, rir-se da desgraça alheia não traz a felicidade almejada. Apenas confina uma das partes do todo em ridículas prisões para, no fim, entender que a desgraça alheia compõe com a própria decadência.





A ideia toda de confrontar Schadenfreude e Gestalt me surgiu quando li no jornal uma entrevista com o filósofo e escritor suíço Alain de Botton que, de maneira nada polida, e sim troglodita, escreveu no blog do jornalista Caleb Crain, do 'The New York Times': "Odiarei você até minha morte. Observarei você com interesse e schadenfreude", disse De Botton, sobre uma crítica pouco elogiosa aos seus escritos.





Quando li isso, logo pensei que os filósofos, escritores e jornalistas podem, sim, ser bastante venenosos. E o são, efetivamente. E me surpreende (um pouco, apenas) que um filósofo seja capaz de emitir opinião grosseira assim, levianamente. Não estou a defender a classe dos jornalistas, a qual pertenço, porque sei do que somos capazes, munidos de palavras.





Ao contrário, me espantou que De Botton, cujo livro "Os Prazeres e Desprazeres do Trabalho" - editora Rocco - 328 páginas - que sai agora no Brasil, seja capaz de buscar o significado dos ofícios a ponto de seguir a trajetória de um atum do oceano Índico até a mesa de uma família em Bristol, na Inglaterra, e, simultaneamente, de se rir com a eventual desgraça do jornalista do outro lado do Atlântico.


O problema é que o livro aborda justamente a felicidade (ou não) no trabalho. A felicidade que, eventualmente, vem a ser mesma que De Botton pretende sentir quando Caleb Crain cair em desgraça. Faltou a De Botton, portanto, avaliar que tanto ele quanto o jornalista do 'The New York Times' formam a gestalt e, assim, dão forma a um mundo assombrosamente destituído de gestalt e, de forma aterradora, prenhe de schadenfreude. A mim me apavora essa condição humana. De verdade.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou


Você conhece efetivamente alguém que tenha saído de casa para comprar cigarros na padaria ou no bar da esquina e nunca mais voltou? Alguns tendem a afirmar que isso é uma lenda urbana. Outros conhecem alguém que conhece alguém que... Eu não conhecia ninguém até a semana passada...





Bem, o fato é que, anualmente, no Brasil, desaparecem mais de 200 mil pessoas entre adultos, crianças e adolescentes. E, desses, entre 10% e 15% (20 mil e 30 mil) jamais retornam a suas casas. É muita gente. Os números são da Associação Brasileira de Busca e Defesa das Crianças Desaparecidas (ABCD), mais conhecida como Mães da Sé.





O tema me ocorreu porque o filho de uma conhecida sumiu na última segunda-feira e ficou 'desaparecido' por 24 horas. E o que ele fez foi justamente isso: saiu para comprar cigarros no bar da esquina, sem documentos, de chinelos, bermuda e camiseta e sumiu!


Ficou mais de 24 horas numa zona cega, sem que a mãe soubesse o que lhe havia acontecido. Claro que o desenrolar da história foi algo mais prosaico: bêbado, perambulou sem rumo pelas ruas e foi bater na casa da esposa, com quem tinha brigado. A mãe, que não sabia do paradeiro, sequer imaginou em procurá-lo justamente de onde tinha saído tão raivoso. A despeito dos problemas que causou, afinal, ninguém sumiu ou se machucou seriamente. Mas alguns sinais ficaram e as mágoas, já se sabe, acumulam-se em camadas de difícil remoção.





Mas essa história, real, é uma exceção. Na cidade de São Paulo, estima-se que 30 pessoas ou mais desapareçam diariamente, por iniciativa própria ou não. São pessoas que nunca mais serão vistas pelos parentes. Que sumirão num rastro indefinível e que mais parecem suicídios em vida. Daquele tipo de suicida que não deixa bilhetes, que não justifica a saída repentina dos palcos. Simplesmente vai. Sem possibilidade de volta.


A história que relatei tem elementos que, racionalmente, justificam (na minha opinião) o desaparecimento: total ausência de afeto, um lar desfeito, pouco dinheiro e muito gasto, falta de perspectiva, alcoolismo, ambiente de drogas. É um perfeito retrato de milhares de outros brasileiros que vivem em situação similar. Também eu, se estivesse nessa posição, pensaria, em algum momento, em sumir.





Sabe aquelas piadas de cúmulos? Pois dizem que o cúmulo do absurdo é morar sozinho e fugir de casa. O que a piada não diz é que não se pode fugir de si mesmo, viva-se só ou com cinco ou oito pessoas. Portanto, não sei dizer o que leva as pessoas a ir para a esquina sob o pretexto de comprar cigarros (pode ser pão, caixa de fósforos, pó de café, qualquer coisa, mas eu fico com o cigarro mesmo porque estou por aqui com a campanha do antitabagismo!) e sumir, afinar junto com a linha do horizonte até que não reste nem a silhueta.


O problema dessas desaparições que mais parecem abduções é tão grave (por envolver, em muitos casos, crianças, adolescentes e pessoas com deficiências mentais) que existe uma lei - 11.259/06 - para regulamentar isso: todas as delegacias brasileiras são obrigadas, ao registrar a ocorrência de desaparecimento de uma criança ou adolescente, a iniciar, de imediato, as buscas e acionar, simultaneamente, aeroportos, portos e terminais rodoviários. Claro que isso é teoria. Na prática, a não ser que os parentes se empenhem, nada disso acontece.





Para fins práticos, no entanto, qualquer pessoa que se veja envolvida com o desaparecimento de familiares, conhecidos ou amigos, deve contatar o serviço de Disque-Denúncia ou o 190 (Polícia Militar). Existem, inclusive, alguns sites especialmente dedicados a agregar informações sobre pessoas desaparecidas. É o caso da própria entidade Mães da Sé (ou ABCD), do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas (CNPD), da ONG Desapareceu, do site Pessoas Desaparecidas e do serviço da Prefeitura de São Paulo.


No entanto, se os casos de desaparecimento de crianças, adolescentes e pessoas com problemas mentais é um caso de polícia, volto ao princípio do post: o que dizer de adultos que o fazem voluntariamente, de caso pensado? De pessoas que resolvem 'esquecer' a vida atual e começar do zero? Que tornam-se, de repente, clandestinas? Rostos desconhecidos que, repentinamente, aparecem em outro ponto do País sem que lhes saibamos a origem, o nome, o estado civil? Essas pessoas, para mim, perderam a identidade de si mesmas e, mais do que fugir dos problemas, fogem de si mesmas. E forjam, sem o conseguir jamais, uma outra vida, suspensa entre a vida anterior e a nova vida que nunca se concretizará. Ficam, para sempre, em esquinas do mundo, a fumar cigarros sem filtro, acrescentados do amargor da vida pregressa. Sem amor. Sem compaixão. Sem saída.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nude do dia

Ela não se intimidou nem um pouco em posar de gostosa no vídeo que promove a turnê "Fame Kills", na qual se junta ao não menos polêmico cantor de hip hop Kanye West (foi ele que, no VMA, da MTV norte-americana, tomou o microfone de Taylor Swift para defender Beyonce). Lady GaGa, que de gagá não tem nada, aparece nua em vídeo de 30 segundos, filmada pela própria produção do show que compõe a turnê.





quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Cartão vermelho: coisas que, sem o menor pudor, eu expulsaria do campo da visão e das ideias

A mim me agradam muito alguns tipos de desafio que me propõem. É o caso do assunto deste post. Recebo, pois, o desafio, do amigo transatlântico Pinguim, do transmissível Why Not Now?, de apresentar o cartão vermelho para conceitos, atitudes, atos, fatos e pessoas que, a meu ver e segundo o meu próprio (ou impróprio) juízo de valor, mereçam expulsão sumária do campo da visão (o que os olhos não veem, o coração não sente) e do terreno das ideias.


Como trata-se de um meme (leia aqui para entender mais o conceito), ao aceitá-lo, aquiesço também para algumas regras. Claro que isso não é uma regra fechada, mas, no caso dos memes, gosto de dar continuidade ao tema sem romper com a corrente. Nesse caso, a proposta é que eu enumere dez coisas ou pessoas merecedoras do meu fuzilamento com o cartão vermelho e repasse igual incumbência para outros dez blogs à minha escolha.


Vamos, portanto, ao top ten dos que recebem o vermelho cartão. O cartão vermelho, como se sabe, significa, em vários esportes - futebol, esgrima, artes marciais, voleibol, futsal, rugby, hóquei e pólo aquático -, a expulsão do jogador de campo. É o que farei a seguir, ao menos do meu campo particular. Portanto, expulso, com o cartão vermelho na mão:





1. A falta de educação: a educação, a meu ver, independe da norma culta para ser cultivada. Tanto faz se você tem formação formal ou se é analfabeto(a). Ou você a tem ou não. É um princípio e a cada vez que me deparo com pedestres que andam nas calçadas públicas como se estivessem em seus próprios quintais, a espetarem guarda-chuvas nos olhos alheios, penso que a incivilidade grassa cada vez mais. O mesmo vale para motoristas de todos os calibres. Me incomodam, portanto, pessoas que furam filas, que se esbarram e não se desculpam, que não pedem, e sim mandam, que buzinam sem o menor motivo, que se irritam ante ao menor contratempo e, de forma geral, que se acham superiores aos demais. No Brasil, a falta de educação está associada, apropriadamente, ao termo 'malandragem', surrupiado dos bandidos, e usado para dar nome ao feio costume de se praticar pequenos atos impróprios com o fim único de se obter vantagem sobre os demais.



2. O preconceito: de todos os tipos - religioso, de raça, de orientação sexual, político, econômico, cultural. Qualquer tipo de preconceito sugere a prevalência de um conteúdo ideológico sobre outro com a consequente certeza de que a sua opinião deve se sobrepor à minha. Abomino.



3. A sujeira: me refiro à sujeira tanto no sentido de lixo quanto à sujidade moral, com o fim de prejudicar ou ofender. A sujeira, em oposição à limpeza, faz com que, de alguma forma, todo o ambiente se contamine e, ao final, nada mais reste que um imenso chiqueiro em que todos os tipos de porcarias, físicas e morais, são praticadas.



4. O politicamente correto: o conceito filsófico do politicamente correto partia do princípio de se evitar a utilização de termos discriminatórios para construir uma sociedade mais igualitária. Como nunca acreditei nessa premissa, o que vejo, atualmente, é um uso amplo do conceito em todas as coisas. Resta que usa-se o politicamente correto para acobertar algumas políticas totalmente incorretas e para formar juízo de valor, num claro desvirtuamento do conceito. Por esse motivo, expulso o politicamente correto de campo.



5. A intransigência (que também pode atender pelo nome de fanatismo): para mim, qualquer pessoa que defenda um ponto de vista e que queira converter os demais para a sua causa sem argumentos válidos, rapidamente se esgota em si mesma. Não suporto verdades absolutas e a falta de discernimento nas pessoas que se dão ares de doutas e, em flagrante contradição, não têm flexibilidade para ouvir opiniões divergentes.



6. O barulho: me esgotam os barulhos e ruídos de todos os formatos e feitios. Da conversa exacerbada e em altos brados aos ruídos diuturnos que não deixam mais ninguém em paz. O mundo precisa ouvir um pouco de silêncio para ser mais sereno. Nas cidades, não se ouve mais o som da natureza. O que se ouve é uma sinfonia industrial de grandes proporções. Portanto, estamos surdos ante os pequenos encantos auditivos e, quanto mais surdos, mais gritamos uns com os outros.



7. O falso moralismo: odeio quando a pessoa ser arvora de guardiã de qualquer tipo de moral em público e, em privado, é capaz de imoralidades inomináveis. Em compensação, tenho para mim que essas pessoas são feitas de papel ou de areia e se dissolvem com o tempo.



8. Os políticos em geral e o Congresso Nacional em particular: não consigo ver qualidades nem naqueles os quais ajudei a eleger. Desmerecem que eu fale demasiado sobre isso.



9. As amizades flutuantes: as chamo de flutuantes as amizades que se prestam pontualmente a determinado objetivo e, admito que, na medida em que amadureço, esse tipo tortuoso de amizade rareia. São pessoas que se aproximam por determinado interesse e que podem ficar muito tempo na sua vida. Mas, como não são autênticas, fenecem, mais dia, menos dia. Tenho horror, particularmente, dos 'amigos flutuantes' que, depois de longa ausência, confrontados com você, fingem ter te visto ontem ou, pior, disfarçam e fingem não te conhecer.



10. A memória: falo das memórias todas, boas e ruins. De repente, eu gostaria de ser imemoriado, não de doença ou por acidente, mas simplesmente ser assim, não ter memória alguma. Porque se as há, as boas memórias, em maior proporção existem as memórias ruins. E o pensamento pode pregar peças e atear fogo somente com o poder das memórias, tanto as boas quanto as ruins. De forma que dou um cartão vermelho para a memória, entidade independente que ousa trazer à tona certos pensamentos que deveriam estar arquivados no mais profundo dos hard disks cerebrais.


Com isso, encerro o rosário de 'avermelhados' e passo a bola para outros campos que, se assim o quiserem, podem expulsar seus próprios demônios:


- O Quem
- Carnet de Route
- Ricardo Soares
- O Mundo Mágico de HorseMan
- Histórias Que Nos Contam na Cama Antes da Gente Dormir
- Eu Só Queria um Café
- Construção e Desconstrução
- Mais de Mil Motivos para Combinar Palavras
- Cotidiano
- Algo Se Perdeu na Tradução

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A sagração da primavera

Às 18:18 horas desta terça-feira, 22, tem início, oficialmente, a estação da primavera no Hemisfério Sul e, consequentemente, no Brasil. É uma estação festiva e alegre que se segue ao inverno e precede o verão. É, pois, o tempo do reflorescimento da flora. Aqui em casa as plantas já começaram a despontar com vigor em alguns brotos, camuflados que estavam pelo inverno. No Hemisfério Sul, a estação é chamada de 'primavera austral', em oposição à 'primavera boreal' do Hemisfério Norte.


Pelas leis da astronomia, a primavera no Hemisfério Sul começa no equinócio (momento em que o sol cruza a linha do equador) e termina no solstício (momento em que o sol atinge a maior declinação em latitude, que é o ângulo entre o plano do equador e a linha normal da superfície terrestre).


Mas, independentemente das leis físicas que nos regem e ao universo, na prática, trata-se de celebrar a estação das flores. Para comemorar a chegada da estação, convoquei algumas fontes bem famosas: Igor Stravinsky, autor da música do balé "A Sagração da Primavera" (Le Sacre du Printemps) que, junto com o poderoso coreógrafo Vaslav Nijinsky, montou e estreou o espetáculo referido em 1913, no Théatre des Champs-Élysées, em Paris (veja uma parte no vídeo a seguir, na versão da companhia de Maurice Béjart). Esse balé clássico dá o nome ao post, portanto. "A Sagração" é um espetáculo em duas partes: A Adoração da Terra (com oito seções) e O Sacrifício (com seis seções).





Sandro Botticelli, pintor italiano - 1445-1510 -, que pertenceu à Escola Florentina do Renascimento, é mais um famoso que se junta à sagração da estação. É dele a pintura que abre as ilustrações deste post - "A Primavera", de 1478, quadro com técnica de têmpera sobre madeira. A obra foi encomendada para a família Médici e estampa, no centro, Vênus (ou Afrodite) e seu filho Eros (ou Cupido). À esquerda de ambos está Clóris, sendo tomada por Zéfiro, e que se transforma em Flora. No quadro estão ainda as Três Graças: Tália (com flores), Aglaia (que representa brilho e esplendor) e Eufrosine (que traz júbilo e alegria).


A seguir, capitaneadas por "A Primavera", de Botticelli, 22 fotos (em referência a este dia 22) de jardins do mundo inteiro - dos hemisférios norte e sul - para celebrar a estação:






































































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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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