A felicidade como direito previsto na Constituição
Hoje, 12 de junho, sábado, é Dia dos Namorados no Brasil (humpf!). O humpf é meu sinal de consternação. Ainda há pouco vi postagens no Facebook e inclusive uma foto de Santo Antônio (o santo casamenteiro) de cabeça para baixo. Comentaram que deveriam tirar a criança dele para que ele agisse. Eu não sei. Sei de simpatias que ensinam a mergulhar o santo na água e deixá-lo lá até que apareça no horizonte da pessoa que o fez alguma coisa diferente, tipo, uma outra pessoa. Eu não tenho uma imagem de Santo Antônio em casa mas, se tivesse, amarraria a imagem e a penduraria aqui na sacada do meu apartamento e o deixaria suspenso desde o sexto andar, sob o risco de soltá-lo caso não acudisse por mim.
Exageros à parte, o fato é que a data é simbólica. Mas o fato aterrador é que, justamente pela simbologia, te faz olhar no espelho e se questionar. Por que? Por que estou só mesmo? Sou eu ou os outros? Por que? Já desisti de encontrar respostas para perguntas desse tipo.
No tempo em que se acreditava nos deuses do Olimpo, já os humanos acorriam aos favores de um e de outro para obter bens materiais, vitórias e casamentos. Mudou o Olimpo mas não as querências. Os santos modernos, creio, estão muito ocupados em cuidar de outras transações menos mundanas e, inclusive, livrar uns e outros de um fogo que pode arder mais tarde em eterna chama, ouvi dizer.
Enquanto isso, fico aqui, a me fiar em mandingas pagãs mesmo. No ano passado, matei Cupido porque tive que creditar a ele a ausência de uma figura que pudesse, com poder egoístico, chamar de minha. Este ano, morto Cupido, clamo a Santo Antônio e atribuo a ele a disponibilidade da minha própria pessoa. Li outro dia que artistas e entidades brasileiros criaram uma iniciativa, o "movimento + Feliz", cuja principal meta é defender a proposta de emenda constitucional (PEC) que inclui na Constituição
Brasileira o direito do(a) cidadão(ã) à felicidade. Uno-me prontamente a esses sonhadores. O movimento, inclusive, tem colhido assinaturas no Congresso Nacional para que a proposta seja efetivamente debatida. A iniciativa quer, sobretudo, que o bem-estar de cada um de nós seja um dever do Estado.
Claro que ter alguém no Dia dos Namorados não está, exatamente, dentro das atribuições do Estado. Mas obrigar o Estado a prover a felicidade é um caminho que a mim muito me agrada porque, tendo a felicidade assegurada em outras áreas, provavelmente (ou não), eu teria um Dia dos Namorados uma escala mais feliz. Talvez...
A iniciativa brasileira não é inédita. A declaração de independência dos EUA, de 1776, prevê o direito da "busca pela felicidade". Os franceses também têm assegurada a "felicidade geral" desde a Queda da Bastilha, em 1789. Outros países tão diversos como Japão e Butão também usam o termo "felicidade" em leis federais. Há quem critique a proposta e ache tudo uma bobagem. Não, não é bobagem. A felicidade deve ser nomeada, chamada, escrita, impressa, falada, gritada e urrada. É tão pouca, a felicidade, que qualquer acréscimo de felicidade, ainda que seja via decreto, será bem-vindo.
O que isso tem a ver com o fato de Santo Antônio não ter feito a parte dele no meu latifúndio? Oras, nada, obviamente. Mas eu bem que poderia usar a lei, se existisse, para fazer um ruído e processar céus e terras, santos e demônios. Não acredito que resolveria algo mas o meu Dia dos Namorados não passaria, uma vez mais, em brancas nuvens, a propósito de céu e santos.
Que droga!