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terça-feira, 26 de julho de 2011

Universo líquido e imperfeito

A Terra é azul? A Lua tem um dragão? Há vida em Marte? Existem outros planetas habitados/habitáveis? Quem somos? Estamos só? Tanta incerteza ante a infinitude que paira acima de nossas pequenas e infinitesimais cabeças... Quer ler uma boa notícia a respeito dessas e de outras questões que nos corroem por séculos? Há um quasar (foto abaixo) com um reservatório de água, em forma de vapor, que guarda, feito um poço do Universo, o equivalente a 140 trilhões de vezes a água de todos os oceanos da Terra! Não é incrível?




A má notícia (e é claro que as notícias andam juntas, caboclas que são, más e boas, unidas para contar depressa as novidades): o quasar fica a mais de 12 bilhões de anos-luz do alfinete em que nos acotovelamos, os mais de 7 bilhões de seres (razoavelmente) humanos.


A descoberta foi feita por cientistas e astrônomos. Um quasar é um objeto extremamente brilhante que emite enormes quantidades de radiação e os cientistas acreditam que quasares são alimentados por buracos negros supermassivos. Essa condensação que envolve o quasar tem 4 mil vezes mais água do que a galáxia Via Láctea, que nos contêm, ao Sol, à Lua, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Vulcão e outros planetas e outras estrelas e outras constelações e outras conspirações.


A má notícia pode se tornar ainda pior vista sob a perspectiva do Universo: segundo o conceito de ano-luz, as imagens vistas pelos astrônomos são de muito, mas muito mesmo, tempo atrás, quando o universo era um jovenzinho convulso e tinha apenas 1,6 bilhão de anos. Atualmente, o Universo tem 14 bilhões de anos (veja foto de representação gráfica dessa idade abaixo), conforme a contagem etérea feita por gente inteligente. A descoberta dessa água antiguíssima confirma que para nos dar forma (e ao Universo), foi preciso a massa e a água, enfim, que originou a argamassa de que somos feitos.




Como sou mais portador de más do que boas notícias, lá vai mais uma: para atravessar apenas a Via Láctea, território que nos é mais familiar, seriam necessários 100 mil anos humanos. Um ano-luz equivale a 10 trilhões de quilômetros. Imagine percorrer 12 bilhões de anos-luz. Não faço a conta porque me declaro incapaz de fazê-la. Ou seja, toda aquela água que, teoricamente, seria suficiente para dar irrigar a alma do Universo, além de provavelmente não existir mais, já que a enxergamos bilhões de anos depois, também estaria, de qualquer forma, completamente fora do nosso alcance.


Ou evoluímos tecnologicamente e enviamos naves a velocidade de ano-luz ao passado ou evoluímos efetivamente como humanos e passemos imediatamente a viver, pelo menos, em milhões de anos humanos. De resto, somos apenas, uma vez mais, repito, poeira do Universo. Sem água.

sábado, 23 de julho de 2011

Adeus, Amy Winehouse!

Alguns (muitos) de nós não vivem, exatamente. Sobrevivem, de sobressalto em sobressalto, assaltados por dúvidas, incertezas, desvarios, descarrilamentos. Vagões que vagam sobre os próprios pesos. Almas perturbadas, vivem como se tomassem de empréstimo a vida. E vivem de sopros, como se a súbita falta de ar fosse o fim. Uma angústia sem fim, regada a bebida, temperada com farinhas tóxicas, mantida a injeções artificiais de ânimo, suprida por artificiais pílulas com datas de vencimento já prescritas.


Foi assim com Amy desde o momento em que pusemos os olhos (e ouvidos) nela. A diva soul que, rouca, com perucas gigantes e vestido rodado, trazia de volta aquelas velhas ladies do jazz norte-americano. Pela primeira que vi um show, em DVD, fui completamente envolto pela aura de Amy.


Depois, em janeiro deste ano, a vi ao vivo. Não viva. Se posicionava inerte no palco. O vagão não tinha peso para animá-la. Era apenas uma boneca: rígida, insegura, amedrontada. Parecia não estar ali e talvez não estivesse mesmo. Magérrima, era incapaz de movimentos. Ficou o tempo todo petrificada, quase a ponto de debandar. A impressão era que se perguntava por que, afinal, estava ali, na frente de toda aquela gente.


Acabou como o previsto, inúmeras vezes. Se machucou, por certo, outras inúmeras vezes. Quando em São Paulo esteve, relataram, na festa que deu após o show, que ela estava com marcas roxas pelo corpo. Auto-destrutiva, chegou a gravar uma tatuagem com restos de vidros de garrafas de vodca. Bebia com mendigos em Londres e os acolhia em casa. Talvez por se ver mendiga da vida.


Sinto muito por toda a dor de Amy Winesouse. Que precisou de uma overdose para acabar com tudo. Alguns de nós não vivem. E tampouco sobrevivem.


Abaixo, o vídeo (uma vez mais, mal feito, sorry) que fiz de "You Know I'm No Good". Não Amy, ninguém é bom. E todos sabemos disso.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O tablet dos 10 mandamentos (ou como se comportar digitalmente)

A revista Veja publicou na edição desta semana os dez novos mandamentos, agora para o mundo digital, sobre o uso de smartphones, notebooks e tablets.




São sugestões da revista (em verde), seguidas do risco associado à quebra de cada um dos mandamentos (em azul), aos quais eu acrescento o castigo de minha própria cepa se o crime for cometido (em escarlate, porque deve sugerir sangue).


I - Não ireis, tu e teu parceiro, para a cama cada qual com seu iPhone


Isso abre a porta para muitos outros. A cama do casal é só dos dois.


Isso abre a porta, as windows, safaris inteiros e podem saltar das telas viados, tigresas, piranhas, piriguétis e outros répteis afins. Você será punido com a expulsão da cama, da casa, do jardim e do éden inteiro se pego em flagrante.


II - Não te levantarás da cama, depois do amor, para checar os emails


Ofensa gravíssima, pior do que virar para o lado e dormir, roncando.


Se te levantarás, que levante outra coisa que deve ser levantada. Se for para checares algo, cheque o saldo de seu talão de cheques e jamais dê um cheque em branco. Confrontado em falta, erga os braços e afirme, sem vergonha de parecer ridículo: É mail, tudo mail!


III - Só porás no Facebook fotos da festa se todos os fotografados concordarem


Desgraças assim evitáveis: emissões, separações e amizades rompidas.


Desgraçadamente, colocastes fotos da festa com todos os parentes, amigos e agregados ao final da festa, quando os salões se transformaram em dark rooms, as crianças já dormiam nos sótãos e restavam apenas os vagabundos e safadas de plantão, à espera da xepa. Claro que as fotos são de alto teor pornográfico. Se porventura postastes no Facebook as indecências e partes pudendas, suas e de outrens, diga que o movimento hacker LulzSec invadiu seu território digital e você não tem culpa. Espera-se que você tenha postado fotos próprias para confirmar que também foi agredido e, lógico, porque é exibicionista.


IV - Mesmo se todos concordarem, espera até o fim da festa


Exibicionismo? Carência? Descontrolados devem ficar em casa.


Vá ao banheiro de tempos em tempos e se conecte como quem aspira três ou quatro carreiras daquele pó branco. Se tiveres tremores, volte ao banheiro e acesse rapidamente tudo o que deseja, poste o que quiser e saia. Não se esqueça de limpar o nariz, digo, as digitais da tela do smartphone. Quando a festa acabar, não aja como um adicto: conduza o veículo calmamente e tente controlar os movimentos. Em casa, se o descontrole surgir, respire fundo: sempre há um papelote, ops, um teclado disponível, para ocasiões como essa. Se ainda assim for inevitável a queda, aja com decência e desmaie: será levado embora da festa e, no hospital, ficará confortavelmente instalado para se conectar durante o período em que estiver entubado.


V - Não usarás o iPad como similar de domesticação infantil


Almoço na casa da vovó é para conversar, brincar e fazer folia, à moda antiga.


Envie as crianças ao campo: ao campo de futebol, ao Campo de Marte (aeroporto em São Paulo), ao campo do além. Se casa de avó é para confraternizar, não se esqueça que as avós não medem recursos em servir comidas anti-saudáveis, quase envenenadas de tanta caloria. Dê um iPad para cada criança com o Angry Birds instalado. A cada porco tombado, uma criança será salva da obesidade mórbida. Se reprimido, use pássaros raivosos para abater aquele porcino que te acusas.


VI - Não tuitarás durante o casamento; em especial o teu próprio


Todo mundo precisa saber cada segundo da tua vida? Tens certeza?


Evidentemente que todo mundo deve saber de tudo o tempo todo, inclusive naquelas ocasiões em que você, bêbado até a alma, é capaz de voltar aos 2 anos de idade e irrigar seu colchão como se fosse um terreno árido. Poste isso, tuíte o casamento, comente que o vestido da sogra é de uma cor que lhe dá ânsia de vômito e solte impropérios ao padre com transmissão em streaming de vídeo. Aproveite para caluniar padrinhos e, eventualmente, aquele familiar que você odeia. Na saída, tire fotos e as deforme com o Instagram ou qualquer outro recurso e faça comentários abusivos sobre as pessoas. Se tentarem te deter, diga que está em estado de choque porque, afinal, casar é praticamente bloquear o acesso dos 3 mil amigos do Facebook ao seu Messenger e Skype e a toda a sorte de putaria que você pode (não que o faça) fazer no ambiente online.


VII - Só mostrarás o local das férias uma vez, e discretamente


Andar pelo resort de notebook aberto, e falando alto, é superadíssimo.


Caminhe pela praia de zíper ou botões abertos, nade nu, quebre alguns móveis do hotel, brigue com aqueles turistas indesejáveis e nunca, jamais, deixe de certificar-se de que a potente conexão 3G (que venha logo a 4G) esteja em pleno funcionamento em transmissão real time. Grave tudo, faça o upload no YouTube e depois compartilhe pelo Facebook, Twitter e, por fim, poste no seu blog. Guarde tudo em sistemas de armazenamento pagos para ter certeza de que os registros permanecerão até que sua memória se esvaia. Se a polícia for avisada e quiser lhe reprimir por atentado violento ao pudor, diga que é um teste para o próximo projeto experimental de Lars von Trier. Serás perdoado e compreendido.


VIII - Não erguerás o iPad como uma barreira à mesa do café da manhã


Valem para o tablet as mesmas regras aplicadas aos jornais.


Vale o que você quiser. Aproveite-se do recurso que lhe permite girar o dispositivo e ler tanto na horizontal quanto na vertical para, em momentos alternados, mostrar-se ou ocultar-se, tal qual uma dama árabe ao fazer o uso do chador. Você não precisa seguir complicadas regras de etiqueta dado que nunca as seguiu quando usava aquela muralha de papel que era o jornal impresso. Ah! Tempos bons aqueles, que permitiam que se desdobrasse uma cortina para que você não fosse obrigado a ter à sua frente aquela visão dos infernos! Agora, com esse equipamento minúsculo, é incrível como aquela pessoa do outro lado da mesa cresceu e tomou proporções de monstro. Se a pessoa revidar, baixe um aplicativo imediatamente, do tipo daquele que emite um som para repelir inseto, coloque tampões no ouvido e deixe o sistema processar.


IX - Acharás os aplicativos adequados a crianças pequenas


E ficarás junto delas o tempo todo. Ou preferes que abram aquelas galerias de fotos?


Fique longe delas o tempo todo. Te consomem mais do que a bateria do iPad. Deixe que abram as 85 milhões de galerias disponíveis, os 674 bilhões de vídeos do YouTube e as 9,128,634,385,021,567 páginas da internet. Você não é obrigado a garantir proteção contra tanto número. Xingado por detratores, diga que os desenvolvedores de aplicativos gratuitos são os culpados de haver tanta criança pequena no mundo.


x - Respeitarás um dia de guarda durante o qual ficarás desconectado


Semanal, quinzenal ou mensal: o importante é mostrar autocontrole.


Oi?


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

R.I.P.

A morte faz parte da vida ou a vida é que está dentro da morte? Essa é uma questão muito semelhante àquela outra que interroga se o ovo veio antes da galinha ou se a galinha é que veio antes do ovo. Obviamente, ninguém sabe a resposta. E duvido que o saberá um dia, tamanha a ignorância que temos sobre nós mesmos. O que se sabe, da vida, em definitivo, é que a morte dela faz parte e, se para uns é o fim, para tantos outros é um reinício. Interpretações, claro, conforme a fé de cada um.


Para quem se questionar o que estou a falar de morte em período de natalidade (sob a ótica cristã, que fique claro), ninguém morreu. Quer dizer, um monte de gente deve ter morrido. Neste momento mesmo em que você ler o post, algumas centenas de seres humanos estarão a definhar, entre o mundo de cá e um outro, de lá, novamente para aqueles que contam com uma saída que leve a uma outra entrada.


Ninguém morreu. Não ao menos do meu círculo. O título - R.I.P. (rest in peace ou descanse em paz) é para chamar a atenção para um filme publicitário de uma funerária de Curitiba, no Paraná. Embora possa parecer grotesco, concordo que é melhor lidar com a morte, a foiçuda, assim, com humor. Porque é a ela que nos entregaremos, queiramos ou não. Que seja com humor então.


O anunciante é a Angelus Agência e a produção do filme é da C&R/Tambour Propaganda. Assista. É divertido.



segunda-feira, 24 de maio de 2010

6 coisas que vocês não sabem sobre mim


Os desafios são duas coisas simultaneamente: excitantes e assustadores. Excitam porque se apresentam como oportunidades quase únicas de fazermos, ao menos uma vez, aquilo que tememos ou que queríamos e ainda não havíamos feito por constrangimento, vergonha ou medo mesmo. Impulsionados por algum fator, nos propomos a aceitar o desafio e ver quais são os nossos limites. Assustam porque pressupõem um comportamento extemporâneo ao cotidiano e, portanto, fora do usual. Mais do que isso, distante do habitual que cada um de nós estabelece para si mesmo e que faz com que nos preguem rótulos do tipo "ah! mas tal pessoa é incapaz de fazer isso".


Pois recebi um desafio. Veio na forma de meme. Do querido Eros. Devo dizer, dos queridos. Porque são quatro, e não Três Egos como o autor propõe no título do blog equivalente. Eu gosto bastante do Eros. Mas também há o Apolo e o Hermes. Juntos, formam a trindade do Três Egos. Curiosidade mesmo eu tenho pelo quarto elemento, o quarto ego que nunca aparece e que, ao mesmo tempo, está por detrás dos outros três e, assim, é quase um Zeus a comandá-los, os três egos subordinados. Eu poderia lançar de volta um desafio a esse Zeus que me desafiou mas lanço apenas umas flechadinhas sem maiores consequências e aceito, como bom moço, a proposição do meme.


O meme é chamado de "The Six". Mas fica melhor quando se coloca "Seis coisas que vocês não sabem sobre mim". Remete ao filme "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado" e a segredos obscuros que pretendemos abafados. Mas, como eu disse em resposta ao Eros lá no blog dele, há que se soltar alguns esqueletos e podres para que novos pecados possam se instalar no espaço desocupado dos antigos. É como fazer uma faxininha na caixa de Pandora. Vamos lá, pois, aos podres que considero que a maior parte do público desconhece sobre mim:


1. Sexo: acordei em camas estranhas (nunca direi o número de vezes) com mais de uma pessoa e pelo pouco que o flashreward me permitiu reconstituir a cena, não sei o que fiz, com quem e quando. Apenas ao acordar, sabia que estava em ambiente estranho. Não hostil. Mas me recordo vivamente que saí sem deixar vestígios. Hoje, se encontrasse as pessoas que compartilhavam comigo essas camas estranhas, não saberia dizer quem eram. Se foi bom? Foi ótimo!




2. Drogas: viajei em algum ano para Fortaleza a trabalho. Fiquei hospedado numa suíte com piscina no último andar do Caesar Park. Linda a suíte. Ótimo o hotel. Durante o dia, trabalhei, composto. De paletó e gravata. Fui tratado com a deferência que o pessoal de hotel costuma dispensar a pessoas que trabalham e se comportam sobriamente. À noite, eu, que gato pardo sou, me transmutei. Ainda assim, estava sóbrio. Tirado o paletó e a gravata, sou outro. Sou da noite e a noite é minha. Passei pela recepção, disse até logo e fui para a vida. (pausa, longo intervalo). Experimentei uma chave especial que me travou direitinho e fez com que as fechaduras da consciência fossem trancadas uma a uma, tal qual cofre do Fort Inox. Cheguei ao hotel quase à luz do dia (prefiro voltar antes do amanhecer porque tenho uma estranha tendência vampiresca de odiar o sol da manhã pós-noite orgiástica). Eu não ia dizer mas direi: não caminhei. Praticamente rastejei. Engatinhei mesmo. Ao pé do elevador, não sabia o que tinha que fazer (o elevador funcionava com a inserção do cartão e a digitação do andar e eu não sabia sequer o meu apartamento). Um gentil funcionário houve por bem me acompanhar ao elevador, ao apartamento, me acomodar, apagar as luzes e me deixar em sono profundo. Umas 14 horas depois, acordei e constatei, enfim, que havia vida ainda. Affeeee!!!




3. Bebidas: perdi, literalmente, o pescoço. Não a cabeça, e sim o pescoço. Numa festa de aniversário no extinto Pequi da alameda Santos com a rua Peixoto Gomide, ali do lado do Parque Trianon, eu estava, me recordo, eufórico. O motivo guardo para outras ocasiões. Mas, posso descrever assim: bipolares flutuam entre a depressão e a euforia e eu havia saído do estado da primeira e estava no topo da segunda. Embalado por tão repentina mudança de humor, bebi. Quis, a uma determinada hora, pinga, cachaça mesmo. O Pequi não tinha pinga! Mas veio com uma solução: o famigerado rabo de galo. Como eles não tinham pinga, misturaram vermute com algo similar à pinga. Eu e alguns outros aceitamos a bebida com convicção que somente os bêbados têm. Quando me levantei para ir embora, o pescoço tombou, sem consistência. Parecia que era feito de borracha, feito aqueles palhaços que pulam daquelas caixinhas e arrancam gritinhos nervosos de quem abre o brinquedo. Imediatamente, me dirigi a uma amiga e lhe dei as chaves do carro: "Não consigo dirigir", disse. E foi tudo. Eu não sabia nem indicar o caminho de casa. Ela me deixou como pôde e eu dormi no sofá, com a porta do apartamento parcialmente aberta.




4. Faculdade: durante a faculdade de jornalismo, eu tinha grandes ideias de pautas que, geralmente, não se confirmavam. É impressão minha ou achamos mesmo que somos originais em determinada altura da vida? Ainda bem que agora, mais contido, já não tenho nenhuma perspectiva de ser original. Se der uma cópia de alguma qualidade, já é um avanço. Enfim. Um dos trabalhos de faculdade consistia em visitar algumas zonas proibidas da cidade de madrugada para experimentar como era a vida de adolescentes e crianças que se drogavam na Estação da Luz. Fomos, um amigo e eu. Tivemos medo sim. O ambiente era realmente pesado. Mas eu fui além, depois, sozinho. Voltei lá, pronto para cometer um furo, um brilhante furo jornalístico daqueles que me atirariam direto nos braços das melhores bolsas. Oh! Pretensões bestas! Sozinho fui e senti mais medo ainda. Mas não a ponto de me fazer parar. Numa determinada hora, carros passavam para convidar as crianças e adolescentes para sexo. Claro, o público aceitava porque o crack era barato e a fissura alta o suficiente para justificar um rápido sexo oral ou seja lá o que o motorista quisesse. Eu procurava passar quase por invisível. Mas quem conhece a Estação da Luz à noite, fechada, sabe que somente fica lá quem é do ramo - drogados, gente atrás de sexo e todo tipo que jamais inspiraria confiança. Estava frio, me lembro bem, e eu usava capuz. Um carro encostou e o motorista acenou. Fui. Entrei no carro e ele me ofereceu um cigarro de maconha. Eu disse que não. Deu a partida e disse que me pagava R$ 10. Eu disse que não. A essa altura, eu estava apavorado. Quando o carro chegou ao final, quase na avenida Tiradentes, pedi para ele parar e disse que estava em investigação. Ele freou imediatamente, pediu desculpas e disse que tinha que ir embora. Eu, embora estivesse com mais medo ainda, simplesmente falei que não era nada com ele, e sim com os traficantes. Saí do carro e ele arrancou. Caminhei até a avenida Tiradentes, peguei um táxi e voltei para casa.




5. Morte: eu sempre temi a morte, a Foiçuda, a Megera, aquela figura recurvada que não caminha. Desliza sorrateira. E sempre tive comigo que, ao medo, se deve sobrepor o enfrentamento do medo. E foi o que fiz. De novo, a deixa foi a faculdade de jornalismo. Encorajado por uma outra daquelas pautas que deveriam ser originalíssimas a ponto de serem premiadas, arrumei um tema que, claro, tinha certeza que era o único a deter tanta inteligência. O tema principal era transporte. A proposta, sair do lugar comum. No dia seguinte, cedinho, fui à Funerária Municipal de São Paulo. Meu gancho: descrever o funcionamento do transporte de mortos. O serviço de funerária na cidade é municipal e, portanto, do caixão ao transporte até o cemitério, tudo é feito pela prefeitura. Mais ou menos. Cheguei lá e, acredite!, havia um colega que tinha tido a mesmíssima ideia. Como eu disse, originalidade não existe. Disputamos um pouco o direito àquela pauta e eu, firme, resisti, e ganhei a disputa. Fiquei lá, sem saber o que fazer. Olhei de um lado e de outro e somente senti o cheiro da morte. Saí, dei uma volta e conversei com um motorista. Disse que fazia um trabalho de faculdade (não falei que era de jornalismo, isso costuma assustar as pessoas, não sei porque) e o motorista se mostrou pronto para me ajudar caso eu pagasse o almoço. A pequena corrupção. Aceitei e passei cerca de 16 horas com ele. Foi inesquecível. Fizemos, ele e eu, como um assistente, três transportes de cadáveres. Buscamos duas pessoas, um homem e uma mulher, em hospitais. E uma terceira num bairro distante, do qual não me recordo o nome. Uma mulher. Nos hospitais, tudo triste e deprimente. Carregávamos os corpos em macas, levávamos ao carro fúnebre e os transportávamos para os necrotérios. Lá, se a família liberasse algum dinheiro, o próprio motorista se encarregava de maquiar os mortos, arrumar as flores. Enfim, compor o morto. Ajudei como pude, não obstante o meu pavor. Me lembro de ter enfeitado o corpo do homem com pequenas margaridas amarelas. A mulher que buscamos em casa era uma senhora querida. Na casa, tivemos dificuldade em sair. Havia um pequeno corredor, bastante estreito, e tivemos que carregá-la ao modo de mortos de guerra: num lençol puído até o caixão que estava no carro funerário. Ouvi várias histórias do motorista durante o dia. À noite, quando nos despedimos, cheguei em casa, tomei banho e chorei. Pela vida. E pela morte.




6. Adolescência: fugi de casa quando tinha 16 anos. Fuga é uma palavra que talvez não descreva com exatidão aquele gesto mas foi uma fuga sim. Pelo menos na minha concepção burlesca de adolescente problema, na época era para soar como uma fuga. A tal fuga durou menos de 20 horas e teve como consequência apenas uma reprimenda materna e uma conta a mais para agregar naquele rosário que somente crescia, pesado, cheio de rancores adolescentes. Eu estudava em Ourinhos e resolvi ir para a cidade vizinha de Salto Grande ao invés de voltar para a minha própria cidade, São Pedro do Turvo. Ou seja, pela primeira vez, não voltei para casa. Sei que criei alguma confusão. E eu esperava por isso. Queria que sentissem que eu havia fugido, que eu finalmente havia feito uma coisa grande. A viagem foi de trem. Fiquei na casa de uma amiga e simplesmente dormi, preocupado com o fato de que eu não tinha autonomia, principalmente financeira, para me mover no mundo como se independente eu fosse. Voltei, com o rabo entre as pernas, e ainda ouvi. A grande fuga, imaginada nos milhares de detalhes, não passou de uma viagem boba e apenas se somou ao amontoado de confusões que é a fase da adolescência em geral. #Fail




Acho que fui bastante sincero nas seis coisas que, eventualmente, vocês ainda não sabiam sobre mim. É difícil, em alguns casos, colocar aqui. Mas desafio é desafio e, aceito o pressuposto, coragem! O The Six - Meme pede para que se repasse a mais seis blogs a incumbência de trazer à tona seis coisas que você nunca foi capaz de dizer ou publicar. Quer dizer, pode ser também seis coisas que você acha que os demais não sabem sobre você. Lembro, assim como o fez o Eros, que ninguém é obrigado a aceitar somente porque indiquei o blog. Assim, repasso para os seguintes blogs a tarefa ingrata ou não de se revelar, seja em coisas boas ou não. Agradeço o carinho de Eros (ou foi Apolo ou Hermes??? ou ainda o quarto?) por ter me indicado e espero ter feito jus ao meme. Aos blogs, então:


- A Katana de Bambú
- Celso Dossi
- Dil Santos
- H de Homem
- Homem, Homossexual e Pai
- Why Not Now?




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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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