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domingo, 7 de agosto de 2011

Meu rugido dominical



Ei leitores/as! Cadê vocês? Desde julho, tenho notado uma curva ascendente na visitação do blog. Tenho lido muito por aí que os blogs perderam espaço com a popularização das redes sociais como o Facebook e Twitter, mas, até então, não tinha registrado o fenômeno.


Também pode ser porque as pessoas cansaram do blog simplesmente. Acontece. Assim como acontece quando enjoamos de determinada brincadeira, objetivo, comida e, olha só, de outras pessoas. Talvez o tom monocórdio do blog (a linha mestra é uma só, seja no humor ou na falta de) soe como um combalido sino que não atrai mais ninguém. Apenas irrita.


Li ainda que outras plataformas mais interessantes, como o Tumblr, podem ser uma alternativa mais dinâmica ao blog, modelo convencional.


Realmente não sei o motivo. Pensei que eram as férias escolares de julho. Com as férias, as pessoas tendem a relaxar e a sair de frente da TV e do computador (acho).


Findas as férias, o movimento foi ainda menor. Essa semana, na média, os visitantes não chegaram a 50/dia. Para comparar quando quero dizer que é visível a descendência, este blog chegou a registrar, em média, 140 visitantes/dia. E não faz tanto tempo assim.


Por isso, quero sinceramente saber que rumo tomar. Talvez esteja na hora de dar um tempo. Acabamos, o blog e eu, de fazer aniversário. Quatro anos. Sim, quatro anos eu, blogueiro, e o blog. Será que cansou? Cansei eu? Cansou o/a leitor/a, enfadado/a de tanta informação nem sempre útil depois da overdose de informação que já recebe pelas plataformas tradicionais?


Não sei. Uma das coisas de que mais gosto é de escrever. Escrevo aqui porque gosto. Não me sinto nem um pouco obrigado a fazê-lo. Tudo o que posto é porque, de uma forma ou de outra, me chamou a atenção e valeu o tempo para o registro.


Como homem de comunicação, no entanto, me dirijo a um determinado público. Se a audiência não existe, qual é o sentido de escrever? Para mim mesmo? Então é melhor fechar o acesso do blog. Isso é fácil.


Não sei. Na minha percepção, a blogosfera passa por uma mudança radical. Sim, são as redes sociais e serviços como o Tumblr. Mas, depois disso, virá algo mais. Pode ter certeza. Em 15 anos, a internet tem mudado tanto que é impossível determinar que modelos prevalecerão.


Hoje mesmo me disseram que a geração atual, ante a anterior, tem um vocabulário cotidiano de 1 mil vocábulos a menos do que a anterior quando na idade desta. Na Inglaterra e nos EUA, já existem escolas e cidades que abdicaram da escrita cursiva (aquela pela qual você escreve com caneta, não em letras de forma, e sim na sua própria e peculiar caligrafia). Nos EUA, chegaram a dispensar a escrita cursiva e de forma para adotar de vez os tablets como tábuas de alfabetização. Essas crianças não saberão escrever?


Mais uma vez, se me apresenta uma encruzilhada, a do fim do texto longo. Acho que vamos em direção a vídeos e imagens. Muito mais do que palavras. Responda-me rápido: você conhece alguém que neste exato momento esteja lendo um livro? Quantas pessoas? Se me retornar com uma, ficarei feliz.
E é essa a explicação que encontro para a ausência de visitantes: a lenta e gradual perda de interesse em ler, em buscar outras ideias, em fazer do pensamento alheio estruturas para formar o próprio. Não, não vejo como o fim, o caos e nem nada. Apenas lamento.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Você tem que me amar!



Me falaram hoje que era o meu dia e eu respondi que todos os dias eram meus.


Me desejaram muita luz e eu disse que eu já a possuía em quantidade suficiente para iluminar o meu mundo.


Me disseram que eu deveria continuar com essa alegria e eu retruquei que a tinha sem medida para me divertir.


Me parabenizaram e eu aquiesci por natureza.


Me cumprimentaram por telepatia, por telefone, por voz e mensagem, por texto, por sílabas, por chamadas entrecortadas e completas, por tentativas, por acaso, por amor, por educação, por e-mail, pelas redes sociais. Me dirigiram as melhores energias. Foram centenas as mensagens e eu as tomei gentilmente para crescer meu ego inflado.


Me abraçaram, beijaram, até mesmo cantaram intercontinentes e eu amei cada som que se dissipou pelas linhas de cobre e ondas de rádio porque a música, dizem, é o que há de mais sublime que temos para oferecer.


Me cercaram de tantos afagos que os demais dias, todos meus, terão que ser preenchidos pelo carinho concentrado em 24 horas e redistribuído à exaustão por todos os demais.


Me enriqueceram e eu senti o coração, o cérebro e o corpo cheio, mas nunca o bastante, que não o é efetivamente.


Me afirmaram, e nunca neguei, que nunca estou satisfeito o bastante com o que me é dado.


Me orientaram, de quatro formas diferentes, a me olhar no espelho e pedir aquilo que eu desejar, tal qual uma rainha má, e ouvir do reflexo que não, não existe mais nada a não ser o que a imagem mostra e tentar não trincar nem de brincadeira.


Porque carinho, amor, amizade, lealdade, lembrança, dos de sangue aos conquistados, dos de toque aos tocados, o sentimento todo é bem-vindo e torna-se uma liga tão forte que não pode ser quebrada.


Eu sou um pedinte, sempre, e sempre reclamarei que o copo está quase vazio quando deveria dizê-lo quase cheio, que a sopa está quase fria quando deveria prová-la quase quente, que o pão está mole quando poderia achar que estava macio. Que bastam os instantes, lampejos, do que faísca alguma.


Digo que não porque sou esfaimado. Não guloso. Não nesse caso. Porque quase que digo que você tem que me amar para eu ser. Sem as provas e mostras, quase que não sou.


Obrigado a todos pelos gestos e mensagens, de todas as cores, desejos e tecidos. Tive um maravilhoso aniversário alimentado o dia todo por todos aqueles que me concederam algum momento do dia. Você tem que me amar sim. Ou feneço rapidinho e murcho. Beijo para todos, sem exceção alguma, pelo carinho enviado das mais diferentes formas, das mais diversas tonalidades, com as variações possíveis de intensidade. Beijo! P.S. Pode fazer tudo de novo e de novo e de novo amanhã, depois, no sábado, domingo, no mês que vem, em setembro, outubro, novembro e dezembro, em 2012, 2013, 2014...

domingo, 24 de julho de 2011

Meu rugido dominical



- O proprietário de uma das três maiores empresas de mídia do mundo, Rupert Murdoch, desceu do pedestal, admitiu que uma dezena de seus jornais trabalhava de forma totalmente anti-ética e anunciou que deixa a News Corporation para se dedicar aos filhos que, frutos de três casamentos, viram suas vidas ruírem conforme o pai se casava com a mulher seguinte.


- Na Noruega, a tragédia que causou a morte de 93 pessoas, afinal, era apenas um treinamento. Ninguém morreu, foi apenas um teste realista demais. Macabro, mas que não passou de uma brincadeira elaborada pelos administradores do camping. Quanto à explosão no centro de Oslo, descobriu-se que era um problema similar ao do Rio de Janeiro: apenas bueiros sob pressão.


- No Rio de Janeiro, os quase 20 bueiros que explodiram revelaram um tesouro: a cidade-maravilhosa por cima também o é por baixo. As explosões foram causadas por doses extras de felicidade que, de tanto volume, expandiram-se até contraírem-se em explosões e fazerem voar as bocas dos bueiros.


- Amy Winehouse deu um susto em Londres e no mundo. Era apenas uma peça que a cantora queria pregar nos fãs. A Scotland Yard, depois dos escândalos com o brasileiro Juan Charles de Menezes e o envolvimento com as empresas de mídia de Murdoch, pediu que Amy seja mais discreta para não causar comoção. Claro que não foi atendida.


- No Brasil, a presidente Dilma Rousseff demitiu todo o primeiro escalão do governo e, de forma emergencial, convocou empresários e executivos de todos os segmentos para gerenciar o Brasil. Num segundo momento, fará seleções rigorosas para a ocupação de cargos, inclusive os de ministros. As inscrições, conforme o cargo, estão abertas a todos os brasileiros, desde que sejam maiores de 18 anos e alfabetizados.


- Todos os brasileiros acima de 8 anos são alfabetizados, conclui levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Pela primeira vez, o Brasil tem 100% de alfabetizados. Inclusive, exceto os abaixo de 18 anos, sondados, os mais de 190 milhões de brasileiros afirmaram querer concorrer aos cargos da administração federal, que dispõe de mais de 120 mil vagas que pagam um salário inicial de R$ 13 mil.


- O governo acabou com o Bolsa Família porque, no mesmo levantamento do IBGE, confirmou-se que a miséria acabou no Brasil. E aproveitou para instituir o Bolsa Felicidade. Para sacar sua cota (com valores que variam entre R$ 5 mil e R$ 18 mil mensais), basta se dirigir a uma agência da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil ou, ainda, dos Correios. O valor é atribuído conforme os anos trabalhados.


- O Brasil, ante a dúvida global, acabou neste domingo, 24 de julho, todas as obras emergenciais para a Copa de 2014. Com mais de dois anos de antecedência, o País tem tempo de sobra para pequenas iniciativas. Uma dessas iniciativas prevê que São Paulo terá mais 543 km de metrô ainda em 2012. As obras já começam nesta segunda-feira.


- Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, decidiu, com o apoio do Congresso, que a dívida interna do país, que ultrapassa os US$ 5 trilhões, não faz o menor sentido. Diante disso, a dívida foi considerada apenas um número entre tantos outros. A decisão fortalece os mais de 200 países que fazem parte da Organização das Nações Unidas (ONU). Estima-se que, em média, cada país deva ser beneficiado com um aporte gratuito de US$ 20 bilhões para gastar com o que quiser. O Brasil receberá US$ 100 bilhões e cobrirá todo o território nacional com internet de alta velocidade de, pelo menos, 100 Mbps, o que nos coloca à frente do Japão e da Coréia do Sul. Tudo de graça.


- Um pacto nacional jamais feito neste País estabelece que, a partir desta segunda-feira, 25, todos os setores terão um mínimo de qualidade para executar qualquer coisa que seja: o asfalto das ruas não pode ser feito de areia e terá uma durabilidade mínima de 25 anos; as grandes cidades, como São Paulo, plantarão duas árvores para cada habitante. E cada duas árvores terão os números IP do respectivo morador para que seu desenvolvimento possa ser acompanhado assim que se ligar o computador. Não serão cobradas taxas. O pacto leva em conta que embalagens, roupas, sapatos, pessoas, automóveis, pássaros etc. etc. merecem um determinado nível de qualidade. O que tiver fora do padrão, num primeiro momento, será devolvido para a China. Num segundo momento, a China terá que devolver os produtos de má qualidade com selo Made in Japan.


- Acabam-se as câmaras municipais, assembleias legislativas estaduais e fóruns quetais. Ninguém sentirá a menor falta, conforme constata pesquisa Datafolha. Acabam-se os mirabolantes projetos de criação de 14 novos estados e territórios. O País fica com a atual configuração. E, se por acaso um estado foi 100% deficitário em relação a outro, será incorporado, em iguais proporções, pelos estados vizinhos geograficamente. A tendência, apontada por estudo de economistas, é que os atuais 26 estados e o Distrito Federal tornem-se apenas 9 estados. O Distrito Federal acaba porque é considerado uma ode à corrupção.


Essas são as notícias que eu preferia ter lido nestas duas últimas semanas. No entanto, a estupidez humana não tem limite e as notícias verdadeiras são justamente o oposto dessas. Como eu postei outro dia, é o pior dos mundos possíveis e não há nada que possa ser feito a respeito se continuarmos a acreditar nisso.

domingo, 17 de julho de 2011

Meu rugido dominical



O jornalismo, brasileiro e mundial, enfrenta uma crise de identidade. No mundo todo, se debate o fim do jornalismo impresso e as migração dos veículos para o ambiente digital (internet, sites, iPad e tudo o que se relaciona ao espaço baseado no sistema de códigos binários). Não sou vidente. No entanto, por cobrir justamente esse setor, o que posso afirmar é que, a despeito das muitas disponibilidades da mídia digital, o papel ocupa, ainda, um lugar de destaque e, com raras exceções, em todo o globo, é considerado, no meio jornal, nobre.


Parte dessa nobreza, entretanto, foi destruída durante as duas últimas semanas quando começou a vir à tona a lama que encobre o mundo de Rupert Murdoch, um dos mais poderosos homens de mídia do mundo, proprietário da News Corporation, que controla mais de 200 veículos de mídia em todo o planeta (jornais, revistas, TV etc.).


O pivô foi o tabloide News of the World (conhecido no Reino Unido pela sigla NoW). A última edição do NoW foi às bancas no domingo passado, dia 10, e encerrou os 168 anos de existência do veículo. O escândalo que nem o jornal poderá mais enrolar em suas folhas abrange mais de 4 mil escutas ilegais que remontam ao início dos anos 2000 e envolvem tanto as vítimas do 11 de Setembro (2001) quanto o brasileiro Jean Charles Menezes, morto pela Scotland Yard em 2005.


Murdoch teve que sacrificar alguns cordeiros ante a pressão do governo britânico e do clamor público: demitiu a diretora da News International, a poderosa Rebekah Brooks, tida pelo próprio magnata como sua 'sétima filha'. Ainda, estão envolvidos no caso o ex-porta-voz do primeiro-ministro britânico, o ex-diretor executivo do NoW, que trabalhou como consultor para a Scotland Yard e até a própria Polícia Metropolitana de Londres, acusada de receber subornos para amenizar investigações sobre o NoW. As escutas ilegais de celulares chegaram a atingir membros da realeza britânica. Por fim, outro diretor da News International, responsável pela Dow Jones, que publica o prestigiado The Wall Street Journal, também saiu do grupo. Rebekah foi presa neste domingo, 17, e solta após pagar fiança.


Na carta publicada nos principais jornais do Reino Unido na última sexta-feira, 15 (veja a foto abaixo), Murdoch pede desculpas pelos "danos causados às pessoas afetadas. Me dou conta de que pedir perdão não é suficiente", registrou o proprietário da News Corporation.




Aparentemente, o pano de fundo que originou a crise foi a pretensão de Murdoch de obter o controle total da mais importante operadora de TV por assinatura do Reino Unido, a British Sky Broadcasting (BSkyB), que tem mais de 10 milhões de assinantes. O empresário, que já tem 39% das ações da BSkyB, queria chegar aos 100%.


Murdoch é de origem australiana, naturalizado norte-americano. É considerado, pela revista Forbes, a 13ª. pessoa mais influente do mundo. O empresário é temido, admirado e odiado, creio que em iguais proporções.


Claro que as escutas ilegais, feitas desde 2000, não são o único motivo que deu início a esta onda imensa na mídia britânica, com respingos internacionais. Tenho para comigo que o governo britânico está muito pouco contente de ver um homem nascido numa ex-colônia dominar os meios de comunicação mais importantes da Grã-Bretanha. Há mais sujeira entre as gráficas do NoW e os corredores de Downing Street (residência do governo britânico) do que sonham as mais vãs filosofias.


Mas, no sentido local, já que a crise de Murdoch se reflete globalmente, o encerramento do NoW fornece combustão para apressar a queima dos veículos de papel. Depois de lançar o primeiro jornal exclusivo para iPad, The Daily, Murdoch começa a arruinar os títulos impressos. Não sei não. Lamento apenas que, junto com os jornais de papel, vão embora uma infinidade de empregos (nossos) e o antigo uso do jornal velho: embrulhar peixe. Tentei embrulhar um peixe no iPad e não combinaram, peixe e iPad, ambos escorregadios. Tal qual nosso futuro, o de jornalistas, que vejo mais liso do que nunca em plena descida de tobogã.

domingo, 3 de abril de 2011

Meu rugido dominical



Li neste domingo um artigo da revista Veja que afirma, peremptoriamente, que a chance de encontrar a alma gêmea pela internet (redes sociais, sites de relacionamentos ou correlatos) é 42% maior do que a possibilidade de conhecer a outra metade da laranja nas ruas (bares, baladas, festas e relacionados).


Sobre isso, digo apenas que já me ocorreram as duas situações e que não existe um padrão. Não sei se de fato as possibilidades aumentam com a internet. Sei que, é fato, não conhecerei em vida todos os contatos que tenho nas inúmeras redes das quais participo.


O que, é certo, também não me garante que, se as conhecesse, identificaria entre essas pessoas aquela que, eventualmente, me cabe e eu a ela.


A minha verdade é que tanto se me ocorreu conhecer pessoas interessantes na rua (real) quanto na rede (virtual). Nos dois casos, também, se deu o inverso, no qual a pessoa se mostrava uma e se revelava, depressa até demais, outra. Para o bem e para o mal.


Acabei de voltar de viagem e cruzei, rapidamente ou não, com dezenas de pessoas. Não! Não as contei. Calculo que foram dezenas. Em alguns casos, houve cruzamentos diretos, daquele tipo que o olhar prende, avalia e emite sinais inequívocos de mensagens, cifradas ou não. E que, dadas as circunstâncias, ficam a vagar, essas mensagens, sem que se concretizem.


Dessas dezenas de encontros, porém, destaco apenas duas situações efetivas. Já admiti algumas vezes minha dificuldade com os cálculos. Ainda assim, entendo que a matemática continua a ser referência e, ainda que se trate, tudo, em última instância, de sensações e trocas, são os números que confirmam ou desmentem algumas teorias. O percentual apresentado pela matéria da Veja é originado a partir de uma complicada fórmula matemática da qual não gravei nem o nome.


Mas, posso fazer uma conta simples da minha própria experiência empírica. Como disse, encontrei dezenas de pessoas. Para fechar num número, digamos que encontrei 120 pessoas. Dessas, apenas duas foram além do esbarrão, do olho-olho-descarte. Não dá nem 2% do total.


Ainda assim, é um número alto, dado que, nas redes sociais, somados, devo ter amigos (virtuais e reais) que ultrapassam, em quantidade, 3 mil pessoas. Que, de fato, existem. Mas, dos quais a maior parte eu simplesmente tenho (quando tenho) contato virtual.


E, admito, desde que participo dessas redes (de 2007 para cá, de forma mais intensa), nunca se me ocorreu de encontrar qualquer uma dessas pessoas reais, porém, virtuais. O que dá 1 x 0 para a vida real.


Também, dos últimos contatos reais que tive, foram por meio de situações geradas pela rua (de novo, bares, baladas, festas), e não pela internet. De forma que, a grosso modo, desminto, também peremptoriamente, o argumento da reportagem da revista.


Ao mesmo tempo, meu histórico faz com que eu reflita e não descarte a web como um local para se conhecer as pessoas. Isso, como eu disse, já me aconteceu antes. E não descarto a hipótese da repetição, posto que nem sempre a história se repete como farsa, como ousam dizer os historiadores.


A minha indignação se dá num único ponto, seja no mundo real ou no universo virtual: por que mesmo que sempre fica no ar a indagação do que poderia ter sido um contato se houvesse tempo para viabilizá-lo e concretizá-lo? Ou por que mesmo quando se dá um passo à frente, no terreno virtual, dois passos são dados para trás, o que contraria expressamente a teoria dos seis graus de separação, segundo a qual estamos apenas a seis passos de cada pessoa no mundo?


O que vejo em minhas andanças são apenas as pontas dos icebergs. Que passam, vagarosos. Mas que se deixam entrever apenas de ponta, um pedaço só. E os quais, em geral, nunca tenho oportunidade ou tempo para explorar as bases. E isso se dá em todas as dimensões, reais ou virtuais.


Portanto, a tese da revista para mim, no fundo, não quer dizer nada. O que está em jogo, definitivamente, é a disponibilidade, e não a possibilidade de encontrar mais ou menos pessoas pela vida. Fácil é se estar na vida, real ou não. Difícil é se colocar efetivamente disponível. E aí não há fórmula matemática para se chegar a um resultado.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical



Há um seriado atualmente no ar na HBO, "The Big C" (onde "C" significa câncer), em que a protagonista, Cathy (interpretada pela ótima Laura Linney), ao descobrir-se portadora da doença, radicaliza. Mas, não da forma convencional. Ela simplesmente não conta, ou não consegue contar, para as pessoas - marido, filho, amigos, irmão, pai - que tem câncer.


O que pode soar pretensioso, na verdade, é bastante realista. Quando Cathy tenta contar a verdade, as pessoas se desesperam. Não por ela, e sim por si próprias. Ou de como dependem dela para continuar a viver. Irônico. Engraçado que, até a descoberta da doença, Cathy é desprezada por todos. O câncer, ao invés de lhe prostrar, lhe dá outros parâmetros de vida. Parâmetros de morte, de fato, já que, imagino, quando se lida com data de validade, as perspectivas mudam muito.


Não tenho a mínima ideia de como lidaria com uma notícia dessas se a mim me fosse dada. O que fazer quando se sabe que a vida tem uma data marcada para acabar? A inexorabilidade da morte não é forte o suficiente para que nenhum ser humano (ao menos eu não conheço nenhum) se porte como se tivesse um dia e hora certos para acabar, deixar de existir.


Portanto, se alguém me comunicasse que eu teria duas semanas, três meses, um ano, vinte anos que fossem, não sei como agiria. Ou se reagiria. Por uma série de eventos, conheci e conheço pessoas terminais. As que conheci, obviamente, já estão mortas. E lidaram com o conhecimento da morte de forma a mais diversa possível: umas se anteciparam e cometeram suicídio. Outras, lamentaram-se, choraram e criaram outras possibilidades dentro daquilo que lhes era permitido. Outras, ainda, foram condescendentes consigo mesmas e aceitaram os fatos como lhes foram colocados, amparadas que estavam pela fé ou pela simples aquiescência da vida que resulta em morte, precocemente ou não.


Não sei se é mórbido, mas, às vezes, me pego a pensar sobre a fatalidade de uma doença recair sobre mim. Ou então de um acidente, de um assalto, de qualquer coisa que interrompa o fluxo (considerado normal) da vida e faça da vida como eu a conheço outra vida, com datas e prazos encurtados.


Penso, quando me imagino vítima dessa circunstância, que poderia ter as mais diversas reações, a começar com uma revolta contra tudo e todos. Penso também que essa pretensa revolta feriria a mim mesmo e a mais ninguém. Penso que seria difícil, por vezes quase impossível conviver com a ideia da morte a chegar, inexorável, sem meias palavras. Penso que talvez é mais seguro não pensar nisso.


O que constato nas pessoas que conheço e lidam com esses prazos terminais é que não há como lidar com isso. OK, no decurso das horas, dias, meses e anos, aparentemente, você contorna a morte. Mas, ao deitar a cabeça no travesseiro, provavelmente, essas pessoas datadas terão taquicardia ao fazer mentalmente a contagem regressiva.


O que me leva a levantar esse tema é a impotência ante o desconhecimento. Acho que vi num filme que somente tememos a morte por temer o desconhecido. E não escrevo aqui sobre o desconhecimento místico (céu, inferno, purgatório, ressurreição, transmigração de alma etc. etc.). Não! Mesmo porque, ao me opor a tudo isso, seria muito leviano da minha parte debater essas questões pelas quais não tenho o menor interesse. Falo sobre o desconhecimento da morte em si, do temor da dor, do medo de ficar só, na infinitude do apagar da consciência. Deve ser essa eternidade, a do infinito apagar-se, inconsciente, e não ser, não saber, não sentir. Ser apenas um nada dentro do nada. Deve ser essa a eternidade.


Temos tanto medo do desconhecido quanto tinham medo da escuridão os nossos precedentes antes do domínio do fogo. Havia riscos lá fora, na imensa escuridão que cobria o mundo. A luz trazia o conhecimento do perigo, da sobrevivência. O medo do desconhecido, de um outro lado (seja da rua, do bairro, da vizinhança, de um outro país) é sempre forte, sempre companheiro da escuridão.


Hoje mesmo ouvi de uma pessoa que não pode haver nada pior do que a perda de controle do cérebro. Quer dizer, ela não me disse exatamente nessas palavras. Me disse que os problemas de cabeça são infinitamente piores do que quaisquer outras dores físicas. Piores até que o Big C, talvez. Concordo. Uma perna dolorida, um joelho que bambeia, um braço com tendinite ou um coração fraco são todos, à sua maneira, administráveis. Porque conhecidos. Sabe-se lhes a origem, o eventual tratamento e os riscos inerentes. Agora, quando o cérebro se lhe dá de ter descompassos que ponham em perigo o cotidiano, a normalidade, todos temos pavor. Receio de que enlouqueçamos? Pode ser. É o medo do desconhecido. Porque não se tem controle sobre o cérebro. De forma alguma.


Ao assistir "The Big C", constatei uma vez mais que lidamos mal e porcamente com o fim prescrito da vida. Ainda que saibamos que há limitações físicas e vamos todos na mesma direção, estou para encontrar um ser que me declare corajosamente querer saber o dia e hora exatos do derradeiro arquear de sobrancelhas.


Posso parecer algo sinistro com tal tema por aqui. Não, lhe asseguro que temo tanto quanto você a foice da Velha Dama. E que tampouco quero saber de datas. Sai! Queria era ter um conhecimento amplo. Para saber controlar o cérebro. Para ao menos poder tomar decisões. Mas, isso não existe. O livre arbítrio, portanto, é uma falácia. Apenas um pedaço. Se ao meu cérebro lhe ocorrer de ter vontades próprias que não as minhas, eu já era! Tenho medo do desconhecido. Medo de me perder de mim mesmo. Em tempo: não creio que esteja em processo de enlouquecimento; o medo referido é bem natural ao ser humano.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Meu rugido dominical



Do final do ano passado para o início deste ano, fui acometido de um incrível processo de metamorfose, à moda das borboletas. Não! Não que eu estivesse fulgurante, a bater asas sob o sol a pino, com o esfuziante colorido das borboletas. Mas, digamos, eu estava em equilíbrio. OK, em perene equilíbrio. Ainda assim, não havia ameaça de mudanças a curto-prazo, para o bem ou para o mal.


Mas, ao contrário das vaporosas borboletas, a minha metamorfose se processou de forma totalmente inversa: de uma borboleta pesada, a praticar apenas voos rasantes e curtos, passei a casulo, roliço e com dificuldade contrária à dos insetos. Não de sair da casa, e sim de entrar nela. Casa é, neste caso, as roupas. A casa encolheu e eu me expandi e ante essa contração/expansão, ficamos, casa e eu, incompatíveis.


Tenho para mim que algum duende pervertido se apoderou do meu guarda-roupa durante a minha ausência nas férias e refez todo o acabamento das minhas roupas. Claro que, nessa alfaiataria, o danadinho cortou partes importantes das minhas peças de roupa para incorporar ao seu próprio cajon de sastre.


O que importa é que, de um momento para outro, me vi casulo sufocado. As tramas das calças e camisas insistem em bloquear partes do meu corpo que, por sua vez, insistem em se tornar cada vez mais, e ofensivamente, proeminentes.


Cansado desse jogo de entrelaçamentos, apertos, incômodos físicos e dificuldades impostas pela sobrecarga, tomei uma decisão. A princípio, apenas uma mudança na dieta do almoço: incorporei de vez as saladas e legumes, completei com um grelhado e cortei todo o resto: arroz, feijão, massas, batatas e qualquer outro ingrediente que, às vezes, muita raramente, anima o insosso menu ao qual sou submetido diariamente.


Esse processo começou no final de janeiro. Depois de duas semanas, achei, ingenuamente, que haveria algum resultado. Ao enfrentar um mar verde formado por verduras e legumes que eu, desde a minha tenra idade, rejeito continuamente, pensei que o esforço seria recompensado. O engano foi dolorido. Todas as gramas consumidas em verdadeiros pastos, pastagens e gramas que compõem o tal do cardápio saudável formado pela flora alimentar não resultaram em nada, a não ser numa crescente e irritante sensação de fome.


Decidido a romper o casulo e quiçá alçar voos dignos de borboletas azuis (porque as amarelas ficam no nível do solo), radicalizei e, além da dieta contida do almoço, resolvi adotá-la também no jantar. Estou no começo e sinto calafrios. De medo da fome que se anuncia, rancorosa.


Ontem, por exemplo, almocei tomates e frango. Com sabor de nada, claro. Minha irmã me disse que nós, homens, devemos consumir frutas e alimentos vermelhos. Não a carne vermelha, e sim os alimentos vegetais vermelhos. Pode vinho, a bebida? Não, apenas vermelho, as frutas. Oras! Odeio tomates, sejam verdes, vermelhos, fritos ou secos. Odeio cáqui, odeio maçã. Talvez odeie menos morangos. E olha lá.


Saí para jantar disposto a não romper com o pacto vegano-diabólico feito comigo mesmo. Mas, eu não tinha ideia do que estava por vir. Fui a um restaurante de nome francês e porções idem. O prato, claro, de francês não tinha nada e tinha tudo, simultaneamente. Comi uma entrada de pequenas torradas, minúsculas, com patê de azeitona preta e extrato de anchovas. Sim, extrato, porque as anchovas, porventura, talvez estivessem a nadar despreocupadamente nos mares enquanto eu as tentava pescar no meio de um mar negro de azeitonas.


Se bebi? Sim. Uma caipiroska de frutas vermelhas que, esgotado o líquido, revelaram-se parcamente existentes no fundo do copo. Muito gelo, alguma vodka e pedaços isolados de framboesa e amora. Nada suficiente para atingir a porção diária dos tais alimentos vermelhos prescritos pela minha irmã.


Finalmente, exaurido e faminto, fui ao prato principal. Havia carne. Mais frango e de vaca. Rejeite-as, orgulhosamente. Fui direto nas quiches. Minha amiga escolheu uma de queijo de cabra. Eu, do alto da minha prepotência recém-adquirida de consumir o mínimo, optei pela quiche de shitake, delicados cogumelos japoneses que têm gosto de nada.


Chegaram os pratos e, com eles, um enorme rendado verde. Eram alfaces a ocupar quase todo o território do prato. Precisamente, dois terços do prato. A quiche vinha junto, tímida, quase a se desculpar por invadir aquela mata selvagem de alfaces. Mas eu fui forte: devorei quiche e alfaces como se fossem finas lascas de foie gras com um maravilhoso pão de ervas finas levemente adocicado. Não satisfeito com essa demonstração de bravura indômita, devorei as alfaces da amiga, que as rejeitou como se elas fossem ervas daninhas e venenosas.


Cheguei em casa com ganas de comer portas, janelas e paredes, e deixar intocadas apenas as plantas que decoram o apartamento porque já estou farto da cor verde. Me acalmei, tomei um litro de água, joguei FarmVille (que me atiçou a fome ainda mais, por incrível que pareça) e me quedei imóvel diante da TV. Vi alguns filmes que, ironicamente, traziam cenas de comida.


Antes de dormir, com um monstro no estômago a me rugir impropérios, assaltei o parco conteúdo da geladeira, esvaziado já na intenção de não prover de tentações este ser que vos escreve. Havia água de coco e, possuído, esvaziei meio litro. Não me satisfez. Tive impulsos de correr ao supermercado e comprar leite condensado, barras de chocolate, derivados de amendoim, refrigerantes, pudins, sorvetes de quilo! Não fiz nada. Deitei, maldisse a minha má sorte e dormi o sono dos famintos. Devo ter sonhado com carneiros e os abatido num glorioso churrasco, provavelmente.


Hoje, refeito do surto, tomei apenas café puro com torradas. Pequenas, tão escassas que tive até pena de devorá-las. Mas, diante do mandamento da cadeia alimentar, fui mais forte e as venci. No almoço, cozinhei sem vontade brócolis e comi, comiseradamente, com peito de frango. Ambos, brócolis e frango, com gosto de papel. Os peitos de frango são um caso à parte: parecem fiapos de panos de prato de tão insossos.


Não gosto nem um pouco de alimentos integrais: arroz, pão, pastas. Aliás, exceto quando me dizem que vou receber dinheiro integralmente, costumo odiar a palavra integral. Se sou íntegro? E isso lá importa a essa altura? O que importa é que, vencido os primeiros obstáculos, pretendo fazer acontecer a metamorfose. Até quando? Até eu conseguir sobreviver com as indefectíveis alfaces e água, feito aquelas experiências de feijão no algodão. OK, corro o risco de ficar verde-musgo. Corro o risco de ter alucinações e enxergar picanhas e galinhas fumegantes a cada vez que ver o sinal piscar ou ler as mensagens no celular. Corro o risco de desmaiar, até. Mas vou seguir bravamente e tentar desbravar o sertão selvagem e verde desse reino vegetal que eu tanto odeio. Se eu for vencido, o serei pela fraqueza e, talvez, bem lá no fundo, animado pela sobrevivência. Porque, se nem de pão vive o homem, eu acrescento que não apenas do pão, mas também da carne, dos cremes, das frituras, do Mercado de La Boqueria inteiro. Ao menos este homem que vos escreve é assim, nascido para devorar.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Meu rugido dominical



Até às 23:59 horas deste domingo, a macabra contabilidade dos mortos na Região Serrana do Rio de Janeiro chegava a 637 pessoas, número que deve subir e pode chegar a quase 700 corpos conforme avança o trabalho de voluntários, bombeiros e equipes especializadas.


Não sei bem a quem dirigir o Rugido. Aliás, não um Rugido, e sim um lamento, um choro, um som agônico ante tanta mortandade. A pergunta que costuma se seguir a tragédias deste tipo é por que? A segunda pergunta é por que comigo?


Estivesse eu no meio das pessoas que lá estão, certamente é o que eu questionaria. O problema é que várias são as respostas: fenômenos naturais, com intensidade de chuvas em região geologicamente comprometida (num processo de milhões de anos), fenômenos sociais, com ocupação irregular por total falta de alternativa ou, pior, por exploração econômica mesmo, ou, simplesmente, acaso e destino, em que se está no local errado na hora errada.


Não há respostas. Pode haver uma explicação pontual para alguns. Mas, o fato é que não existe resposta para tanta morte. Quase 650 almas extintas, sem a menor possibilidade de sobreviver ante tanta lama que, como larva de vulcão, arrastou pessoas, casas, carros, ruas e cidades inteiras. Ao menos cinco municípios cariocas - Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto -, tradicionalmente ponto de turismo para os moradores do Estado e de outras partes do País, foram tragados pela dor e pela força bruta da natureza.


Não existem repostas. Existem iniciativas, ações e saídas. Que, no caso, foram todas tolhidas. Culpe-se o governo, o próprio cidadão, a natureza, Deus (para os crédulos), o diabo que for. Não há respostas.


Ainda hoje falamos, uma amiga e eu, sobre a precariedade do corpo humano que, cadáver, perece feito fruta podre. E num processo tão rápido que, conforme as normas das sociedades, deve ser enterrado em poucas horas.


Somos assim, os humanos, perecíveis. Somos também tudo o que se vê: solidários, vivos que não choram os mortos, e sim tentam fazer viver sobreviventes. Que alimentam com a saliva um bebê que morre de sede e, como ave filhote, abre a boca sedenta à espera do líquido. Que carrega o cachorro nos braços e, sem saída, deixa o cão se ir na correnteza. Somos assim, solícitos na tragédia. Perdoam-se todos os pecados, todas as pequenas e grandes faltas. Não é hora de fazer balanços do bom e do mau vizinho. É hora de entregar-se, de dar, de ajudar porque é nesse espírito que se encontra sentido para uma vida que se viu esvaziada de sentido.


Solidarizo-me com todos os envolvidos nesta que é a maior tragédia natural do Brasil. Lamento que tenhamos que assistir pela TV os relatos emocionantes de tantos que ficaram órfãos de pais, filhos, tios, primos. Que perderam velhos e novos. Que perderam casas e carros. Que perderam ruas, a vizinhança toda. Que tragédia! Que ano novo é esse?


Sinto muito. Sinto pelos cariocas que foram engolidos pela boca furiosa da natureza. Pelos demais brasileiros que morrem a cada estação chuvosa. O Rio de Janeiro mesmo foi palco de tragédia semelhante no ano passado. Assim como o foi São Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e tantos outros. Eventos semelhantes aconteceram na Austrália e não vimos a contabilidade macabra dos corpos contados girar feito uma caixa registradora gulosa.


Que tragédia! Encerro com a mesmíssima questão que aflige a todos: por que?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Meu rugido dominical



Existem pessoas que são verdadeiramente visionárias. Nessa categoria, estão alguns artistas e escritores. Contemporaneamente, considero visionário o escritor Michel Houellebecq. E, de forma surpreendente, um outro autor, que infelizmente morreu subitamente antes mesmo de conhecer o sucesso de sua principal obra, foi capaz de antever o novo mundo que une o universo digital, com tudo o que lhe é peculiar - anonimato, grau de alcance e meios para driblar toda e qualquer tentativa de cerceamento - a um profissional que está, na minha opinião, num processo de transformação e desgaste, sem saber ainda onde vai parar, o jornalista.


Esse autor é o sueco Stieg Larsson, criador da trilogia Millenium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, A Menina Que Brincava Com Fogo e A Rainha Do Castelo De Ar. Larsson, jornalista ele próprio e ativista político conhecido na Suécia, morreu em 2004, antes de conhecer o maior fenômeno do jornalismo nos dias de hoje, o WikiLeaks. Os personagens centrais da obra de Larsson são o jornalista Mikael Blomkvist e a hacker Lisbeth Salander.


Justamente os mesmos pilares que compõem o fundamento do WikiLeaks, entidade transnacional sem fins lucrativos, sediada (é modo de dizer, já que esse tipo de site não tem pátria) na Suécia, fundada em dezembro de 2006, há quatro anos. Os colaboradores do WikiLeaks são dissidentes, jornalistas e, claro, hackers de todo o mundo. O WikiLeaks tem uma face: é o australiano Julian Assange, neste momento detido por acusação de estupro e de violência sexual, que também é jornalista e ciberativista. O WikiLeaks não tem qualquer vínculo com a Wikipedia ou com a Wikimedia Foundation.


Larsson não poderia imaginar que a ficção de Millenium fosse encontrar reflexo na realidade: o WikiLeaks tornou-se um fenômeno mundial (tal qual Millenium) somente a partir de abril deste ano quando divulgou o "Afghan War Diary", compilação de quase 77 mil documentos secretos do governo norte-americano sobre a Guerra do Afeganistão. Entre esses documentos, o de maior repercussão foi um vídeo que mostra civis iraquianos mortos durante um ataque aéreo das forças militares dos EUA.


Em outubro, o WikiLeaks se articulou com empresas de mídia globais - The New York Times, The Guardian, El País, Le Monde e Der Spiegel - e publicou mais 400 mil documentos secretos. Desta vez, era "Iraq War Logs", sobre torturas de prisioneiros e ataques a civis pelos EUA e aliados na Guerra do Iraque.


Depois, em novembro, foram publicados telegramas secretos de embaixadas e do governo norte-americano e mais 250 mil documentos. A partir daí, começou a perseguição a Julian Assange, assim como na trilogia Millenium se empreende uma gigantesca busca pela hacker Lisbeth Salander. E, sucessivamente, outras iniciativas foram tomadas para conter a represa cheia de vazamentos do WikiLeaks: a Amazon expulsou o site de seus servidores, o EveryDNS retirou o domínio original do WikiLeaks do ar (http://wikileaks.org) e continuam, atualmente, mais esforços de governos - dos EUA e de todos os cantos do mundo - para barrar potenciais vazamentos de novos documentos comprometedores.


Mas, o WikiLeaks, se for efetivamente contido, o que eu duvido que ocorrerá, assim como tem detratores mundiais, também tem defensores: até este momento, o site dispunha de quase 2 mil espelhos, sites que funcionam como uma espécie de backup caso o site-mãe fique indisponível. Por enquanto, o site está hospedado num servidor na Suíça, e pode ser acessado pelo endereço www.wikileaks.ch.


A princípio e por princípios meus, inerentes ao que sou e à minha profissão, eu mesmo jornalista, sou completamente a favor da transparência. Aos que delatam o WikiLeaks e o acusam de colocar em risco a vida de outras pessoas, eu contraponho o argumento usado pelo próprio Assange: nenhum governo ou empresa tem o direito de manipular dados e informações e trabalhar com duas faces - uma para consumo externo e outra para razões diplomáticas - que, teoricamente, afetarão a vida de outras pessoas como ocorreu com os civis das guerras do Afeganistão e do Iraque.


O que o WikiLeaks evidencia é que, malgrado o suposto fim da guerra de informações que a derrocada da Cortina de Ferro pressupunha, as embaixadas, serviços secretos e forças militares dos países continuam a produzir informações e a processá-las conforme seus interesses políticos e econômicos. Denunciar e expor os documentos que comprovam esse tipo de comportamento deve ser celebrado pelos civis de todo o mundo. Tentar calar a voz dissonante é a atitude previsível de governos e de empresas. Se o WikiLeaks terá fôlego para continuar essa empreitada, não sei. Sei que o trabalho de hackers do site mudou, neste ano, o jornalismo mundial. E só tenho a defender o colega australiano. Em que pese, contudo, o fato de que todos - jornalistas e fontes - temos interesses em divulgar determinado dado.


Abaixo, reproduzo excelente artigo de Tiago C. Soares, jornalista e editor de web do Portal da Fundação Perseu Abramo. O artigo dimensiona o que o WikiLeaks representa para a imprensa. Publicado no dia 10 de setembro deste ano, o artigo não contempla os desdobramentos do WikiLeaks e do fundador Julian Assange, evidentemente, porque tais fatos ocorreram, como sói acontecer no mundo da internet, nos últimos dias. O que sugere que, quando este próprio post for publicado, já estará defasado. E é esse o conflito que se nos apresenta, a nós, profissionais da mídia e que, ao contrário do jornalista Mikael de Millenium, não dispomos de uma prestativa hacker para desencavar informações feito torrentes de dados.


"Na virada de julho para agosto de 2010, o jornalista e programador australiano Julian Assange publicou na internet um arquivo de 1.4 gigabyte chamado “insurance.aes256”. Sobre o documento, criptografado, especula-se muita coisa. Para alguns seriam as últimas informações sobre hipotéticos erros e crimes de guerra do exército estadunidense no Iraque. Para outros, é nada mais que um blefe.


O nome do arquivo, "insurance" ("seguro", em português) carrega uma ironia e uma verdade. Isso porque o jornalista promete que, caso alguma coisa lhe aconteça, a chave criptográfica será instantaneamente liberada na web para os milhares de usuários que baixaram o documento. E os estragos para a política externa dos EUA, acredita-se, poderiam ser consideráveis.


Assange poderia ser apenas mais um paranoico da internet empolgado com teorias de conspiração. Mas ele é mais que isso. Ele é o homem atrás do Wikileaks.org, o website que, com uma mistura de jornalismo, trabalho militante e culture jamming1, trouxe mais do que um pesadelo a comandantes do Pentágono, corporações financeiras e regimes autoritários.


Em todos os lugares


Criado em 2007, o Wikileaks pretende ser um grande banco de dados de informações sensíveis aberto às massas. Alimentado com vazamentos de fontes privilegiadas e hacks de redes ativistas online, o website conta com alegadas dezenas de milhares de arquivos potencialmente desastrosos para executivos e burocratas com algum esqueleto no armário.


Embora simples em seu princípio, o Wikileaks é resultado de anos de intenso esforço tecnológico, editorial e político. Tendo em Julian Assange seu maior articulador, foi construída uma rede de militantes de expertises diversas, um pequeno exército com ramificações na comunidade hacker, no setor público e na sociedade civil organizada. Um grupo de trabalho dedicado a frentes de ação variadas, do desenvolvimento e manutenção de softwares e servidores ao desenho de soluções para ameaças jurídicas, passando pela checagem dos vazamentos publicados no site e pela criação e divulgação de artefatos de mídia baseados no seu banco de dados2.


Os objetivos editoriais do site são claros. Em declaração recente dada ao repórter Raffi Khatchadourian, da revista estadunidense The New Yorker, Julian Assange afirma querer “determinar um novo padrão: o 'jornalismo científico'”. E prossegue: “Se você publicar um paper sobre DNA, os bons jornais de biologia determinam que sejam oferecidos os dados que embasaram sua pesquisa – a ideia é que outras pessoas repliquem, chequem, verifiquem. Isso é algo que precisa ser feito também com o jornalismo”.


Para garantir amplo acesso ao banco de dados do Wikileaks, sua hospedagem é pulverizada em diversos servidores espalhados ao redor do mundo. Entre os responsáveis pelo serviço, entidades como a PRQ (companhia notória por sua ligação com o serviço de torrents Pirate Bay), e o Partido Pirata da Suécia. Mais que técnica, a solução é também política: ao publicar seu conteúdo em países com diferentes marcos jurídicos para a imprensa, o site garante que o seu conteúdo continue online, mesmo quando contestado em alguma jurisdição.


Anônimos no labirinto


O gerenciamento das conexões ao Wikileaks é uma questão especialmente delicada. Além da necessidade de garantir o anonimato em duas mãos – tanto para os que publicam novos vazamentos (que podem deter posições delicadas nas cadeias de comando das quais a informação é vazada) como para aqueles que os baixam (que podem estar na articulação de ações estratégicas ou na mira de regimes de exceção) –, há a preocupação de oferecer ao público rotas de acesso não rastreáveis por governos que restrinjam as conexões para o site.


A solução para o problema foi a adoção de softwares livres e/ou acessíveis para publicação e criptografia, bem como redes de tráfego que permitam navegação anônima. Com estrutura técnica baseada no administrador de conteúdo MediaWiki (o mesmo usado para a Wikipedia), o Wikileaks traz na manga soluções de criptografia e anonimato como Freenet e PGP. Mas é com o software Tor e a rede de comunicação nele baseada que o site parece ter tirado o coelho da cartola.


Nomeado por conta da sigla para The Onion Router (em português, "O Roteador Cebola", numa alusão à multiplicidade de camadas de tráfego permitidas pelo programa) o Tor é o motor do Projeto Tor, uma rede de comunicação online dedicada ao tráfego anônimo de dados na internet. Explicando de uma maneira simples, ele reconstrói o caminho feito pela informação ao circular pela rede. Em vez de sair de um ponto A e passar por um caminho padrão de servidores para chegar ao ponto B, com o Tor os dados são ricocheteados pela arquitetura da web, atravessando numa lógica distinta os muitos, variados (e, não raro, ocultos) nós de rede mantidos pelos colaboradores do projeto mundo afora. O pulo do gato está em embaralhar o caminho feito pela conexão, não permitindo o rastreamento dos pontos de entrada e saída que acessem o Wikileaks.


Com a questão do anonimato resolvida (Assange garante que, noves fora ocasionais imperfeições, o sistema do Wikileaks é “vastamente mais seguro que qualquer rede bancária”), o banco de dados do site tornou-se destino seguro para todo tipo de informação primária, sejam atas das reuniões do Grupo Bilderberg, manuais da Igreja da Cientologia ou mensagens hackeadas da conta de email privada da política conservadora estadunidense Sarah Palin3.


Dos baús do Pentágono


Apesar de bem resolvido tecnicamente, o Wikileaks debruça-se ainda sobre o desafio de transformar a maior parte da informação vazada para seu banco de dados em produtos de mídia, em peças informativas que possam virar manchetes e pautar os noticiários. As dificuldades são consideráveis: além do óbvio abismo entre a estrutura colaborativa de publicação – tocada pelos mantenedores do site – e a lógica e rotina das redações da imprensa corporativa, há o problema relativo à curadoria, checagem e tradução editorial do material que, não raro, desembarca no Wikileaks como informação codificada em estado bruto.


O que significa que, além de todo o trabalho envolvido na elaboração de pautas e no processamento de conteúdo, jornalistas que passearem pelos escaninhos do Wikileaks precisam também decifrar a lógica de escrita e sistematização dos memorandos, relatórios e planilhas garimpados no site – num novo tipo de prática usualmente chamada de “jornalismo de dados”4.


E foi com a implementação de iniciativas para a diminuição das distâncias editoriais e da energia gasta na investigação e no processamento de suas informações que a equipe do site conseguiu emplacar no noticiário duas pautas de se parar as proverbiais rotativas mundo afora.


Em 2009, a equipe técnico-editorial comandada por Assange publicou na web um vídeo secreto que, gravado pelos militares estadunidenses no Iraque, evidenciava a utilização de força excessiva e a perpetração de crimes de guerra pelas forças dos Estados Unidos. As imagens, relativas ao ataque, em 12 de julho de 2007, efetuado por um helicóptero Apache contra insurgentes numa área urbana de Bagdá, mostram disparos em civis (entre estes, dois repórteres da Reuters) e a implosão desnecessária de um prédio de apartamentos.


Antes de se espalhar pelo mundo, o vídeo teve uma cuidadosa estratégia de divulgação. Os dados receberam tratamento editorial elaborado, com criação de hotsite5 e edição de uma versão, compacta, da íntegra da gravação. Para a mídia em geral, foi organizada uma coletiva de imprensa na qual o próprio Assange apresentou as peças jornalísticas criadas por sua equipe, ao mesmo tempo em que oferecia as informações brutas para veículos e jornalistas interessados em investigar a pauta.


Num outro episódio, Assange articulou a publicação de outro vazamento – dessa vez, envolvendo as ações das tropas lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão – com o diário britânico The Guardian e o jornal estadunidense The New York Times, além da revista alemã Der Spiegel. Os dados foram oferecidos antecipadamente aos três veículos, que mobilizaram separadamente pessoal e tecnologia para decodificar as informações, levantar as ações e planos por elas relatados e contrapor esses dados às informações veiculadas pelo Pentágono. Publicados simultaneamente pelo Wikileaks e pela imprensa em 25 de julho de 2010, os inúmeros documentos secretos revelam a ineficiência, ao contrário do oficialmente divulgado, de diversas ações militares dos Estados Unidos no conflito afegão.


A lógica por trás da ação de Assange abrange muitas frentes: além de mobilizar estruturas jornalísticas profissionais para a decodificação dos papéis militares, o processamento editorial (levantar dados relevantes, checar, decidir o que publicar) das informações brutas por três veículos distintos oferece volume para o estabelecimento da pauta como agenda, ao mesmo tempo em que oferece ao público pontos de vista múltiplos. Tudo isso com a essencial vantagem de, ao publicar o furo em diversos meios de comunicação de países diferentes, minimizar o risco de as reportagens sumirem da internet por conta de alguma ação jurídica do governo dos Estados Unidos.


Claro, o Pentágono e o Departamento de Estado dos Estados Unidos não ficaram felizes com as iniciativas do Wikileaks. Mas também não parecem ter encontrado muito o que fazer além das simples ações de controle de danos. Imobilizados pela volátil e altamente pulverizada rede que sustenta o site, pairam ainda sobre os militares os estragos de relações públicas que seriam desencadeados por alguma ação de censura – afinal, as informações mostram que, além de ineficazes, governo e militares estariam, antes de tudo, mentindo.


A notícia, o hack


A princípio, o Wikileaks parece apontar para uma completa descentralização do fazer jornalístico, nivelando o jogo entre o público e veículos da grande mídia. Todos seriam repórteres-editores-gatekeepers-checadores. Cada indivíduo, o jornal de um homem só.


Mas talvez não seja exatamente assim.


Mesmo com o bem sucedido trabalho de divulgação jornalística do vídeo sobre o ataque do helicóptero militar no Iraque, a pauta sobre o fiasco afegão demandaria da equipe do Wikileaks verba e trabalho descomunais. E, ao transferir essa demanda para veículos de imprensa tradicionais, dotados dos aparatos técnico e profissional necessários para a produção de conteúdo a partir de material tão arcano, o Wikileaks ganha pernas para centrar esforços na articulação de sua rede, levantando e checando novos vazamentos e desenhando estratégias de divulgação.


Mais que isso: uma vez decifrados por jornalistas profissionais, os caminhos para os documentos-fonte tornam-se acessíveis para a aferição do público, que pode simplesmente utilizar os métodos e cruzamentos sugeridos pelas reportagens. Num exemplo recente, o britânico The Guardian chegou a produzir matérias explicando aos seus leitores as rotinas, soluções e ferramentas tecnológicas utilizadas por sua equipe de jornalistas e desenvolvedores para decifrar os documentos do Wikileaks sobre a guerra no Afeganistão.


Ao propor à imprensa constituída o papel central na resolução dos cada vez mais complexos quebra-cabeças nos quais se encerra a informação, o Wikileaks resgata, numa nova chave, o há tempos esmaecido aspecto colaborativo da prática jornalística. No ofício das redações, desde sempre constituído em torno da eterna negociação entre os detentores de diferentes conhecimentos e habilidades, o leitor emerge em novo papel, elo essencial do circuito de produção da notícia.


Com acesso aos dados hackeados de documentos primários, o público torna-se eixo central para as negociações de pauta. Toda informação torna-se reprogramável, passível de checagem, complementação, contraposição de dados. O próprio tratamento dado às informações cruas torna-se parte da narrativa jornalística.


Grandes poderes, grandes responsabilidades


Lógico, a premissa da transparência absoluta traz consigo questões editoriais relevantes. Os limites para a publicação jornalística de dados sensíveis tem sua própria ética, articulada em eterna negociação. Afinal, existem fronteiras que, pelas leis das redações, simplesmente não devem ser cruzadas.


Uma vez decodificados os documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão, por exemplo, especula-se que milícias afegãs passaram a vasculhar o banco de dados do Wikileaks, listando para extermínio os nomes de possíveis informantes das tropas estadunidenses. O que levou a Anistia Internacional (AI), entre outras entidades, a pedir – sem sucesso – que o site revisse sua política de publicação irrestrita. Curiosamente, a mesma AI premiou Julian Assange, em 2009, pela divulgação de relatórios que expunham a ação de esquadrões da morte no Quênia.


Ainda que informações primárias traduzidas de bancos de dados precisem de certo trabalho especial em seu processamento, seu levantamento irresponsável e sua replicação infinita, sem volta, abre a eterna possibilidade de estragos. De todo modo, é também fato que a prática de vazamentos e dossiês criminosos é (muito) anterior à dinâmica de produção jornalística proposta pelo Wikileaks – o que, se não isenta o site de pontos cegos quanto a algumas de suas implicações editoriais, também não justifica que vista a fantasia de vilão.


O Wikileaks é um projeto em construção, que, ao trazer para o centro de sua nova geometria os velhos atores e circuitos de produção da informação, remodela suas práticas e conceituações. Sintoma dos novos caminhos de poder e da nova participação popular desenhados pela internet, sua rede articula-se para além de seu banco de dados, e acena com a intenção de novos espaços de reflexão e resistência.


Como um iceberg informacional, que esconde sob seu cume arestas prontas a romper a fuselagem da mídia tradicional."

domingo, 21 de novembro de 2010

Meu rugido dominical



Existe um conceito chamado "amizade" que, na escala de importância na vida, em minha opinião, perde apenas para aqueles que nos fecundaram e nos deram a própria vida. Amigos nós formamos, feito uma árvore. Que pode ser frondosa ou secar, conforme o trato que se dá a essa árvore ao longo da vida.


Durante esse processo de viver, alguns galhos ficam fortes e criam vínculos profundos que nenhuma tempestade é capaz de podá-los. Outros, mais raquíticos, às vezes caem, se quebram, trincam ou apenas secam e se descolam. É natural, exatamente como ocorre com as árvores.


Ontem, sábado, e hoje, domingo, ouvi de duas amigas que são galhos fortes duas coisas sobre mim mesmo: a primeira disse que sou ouro a ser descoberto. A segunda, que brilho.


Pela centésima vez, antes de tudo, deixa eu contextualizar: sou leonino. Tais predicados, no entanto, longe de me envaidecer e fazer eriçar a juba, apenas me fizeram pensar. E, ao pensar, resolvi interiorizar essas reluzentes opiniões a meu respeito.


Minha amiga que comentou sobre o brilho disse mais. Que temos, ela e eu, esse brilho. E que, se as pessoas que nos interessam são incapazes de perceber tal brilho, devemos passar reto, ir brilhar em outra freguesia. "Porque não temos mais idade para isso", me alertou. Concordo. A grosso modo, temos, ela e eu, urgência. Que a vida urge, rápida, e não há tempo em consumir a chama (ou o brilho) com potenciais velas voláteis, ainda que as velas e chamas sejam, por princípio, voláteis em si mesmas.


O que quero dizer é que entendi perfeitamente o recado de ambas e não estou (e não é de agora) mais disposto a brilhar feito um vagalume perdido no meio do mato. Aliás, nem mesmo o vagalume emite luz sem razão: o inseto o faz para atrair a parceira e, até onde eu entendo do reino dos vagalumes, são bem-sucedidos com seus brilhos.


Então é isso: vou assumir que valho ouro e que brilho. Tanta riqueza assim deve ser desfrutada por quem o mereça. Não, não vou aqui me colocar em um pedestal. Tampouco vou rastejar por migalhas. Quero o que me cabe. Nem mais nem menos. Quero o que mereço. Pelo que sou, pelo que valho. E valho muito. Eu sei. Aproveito para colocar um vídeo que reproduz essa sensação que sinto neste momento:





domingo, 7 de novembro de 2010

Meu rugido dominical



Paul McCartney, Eminem, Black Eyed Peas, Jonas Brothers, Lou Reed, Starts With You (SWU), Ultra Music Festival (UMF), Planeta Terra e até a Fórmula 1 (F1). Esses eventos e shows aconteceram ou acontecem por esses dias em São Paulo e não teve um, nenhum sequer, que acontecesse sem que houvesse problemas, fosse de transporte, de infraestrutura ou de organização.


E afirmo isso com propriedade: amigos que foram a um ou mais eventos ou eu mesmo pudemos constatar a total precariedade da cidade e mesmo do Estado (no caso do SWU, que aconteceu em Itu, interior de SP) quando se trata de (des)organizar um show ou evento de grandes proporções.


Dos acima relacionados, fui apenas ao show do Black Eyed Peas, que aconteceu na última quinta-feira, 4, no Estádio do Morumbi, em SP.


O show começava às 21 horas, com a participação do DJ David Guetta e do rapper Akon, com palhinha da musa do Black Eyed Peas, Fergie. Pois conseguimos entrar no estádio apenas às 21:45 horas. O Black Eyed Peas começou a tocar pontualmente às 22 horas. Antes de chegar ao estádio, um calvário: trânsito entupido, motorista do microonibus desinformado e perdido e confusão sobre qual o portão correto a que teríamos acesso ao estádio. Não fosse a providência gentil das centenas de organizadores, eu teria que ter saído e tentado entrar por outro local. Pessoas simpáticas e prestativas me conduziram prontamente para a pista. Mas, isso apenas aconteceu porque o meu ingresso me dava acesso a local privilegiado. Se não fosse por isso, tenho certeza que teria que procurar por mim mesmo e talvez tivesse perdido uns 30 minutos.


Depois, para sair, levamos mais de uma hora entre a saída e a chegada na ponto de encontro de onde havíamos partido. Ao redor do estádio, uma completa desorganização, muita desinformação e, a despeito de não ter tido problema, tenho certeza que muitos por ali tiveram transtornos com a falta de segurança. Engraçado que, para entrar, a polícia é mais do que eficiente: eu portava uma mochila cheia de canetas e cadernos de notas, já que fui direto da redação. O policial que me revistou ficou intrigado com tanta caneta e caderno e me questionou várias vezes sobre o conteúdo. Sossegou apenas quando lhe mostrei meu crachá de jornalista. Na saída, não vi a menor pegada de policiais.


No SWU, que se queria um festival, sobretudo, de sustentabilidade e, portanto, com forte apelo ecológico, tudo o que se viu, segundo amigos, foram montanhas de lixo para todo lado, poeira e lama, alternadamente, já que o local onde o evento se realizou foi uma fazenda. Claro que é um local adaptado nas coxas para receber milhares de pessoas.


Outro local que abriga shows internacionais em São Paulo é a Chácara do Jóquei, zona oeste da cidade. Lama e poeira se alternam no local, que já recebeu, inclusive, o meu queridinho Radiohead. E quem quiser que coma pó ou se lambuze com a lama porque, até chegar ao local, há que se empreender uma verdadeira trilha quase rural no meio do nada.


Finalmente, na sexta-feira, 5, o Eminem fez show em São Paulo, no Jockey Club da cidade, que fica na zona sul, na beira da Marginal Pinheiros, local dos mais inóspitos quando se trata de trânsito de São Paulo e, notadamente, numa sexta-feira. Eminem estava no set do F1 Rocks, novo evento musical atrelado à Fórmula 1, que aconteceu neste domingo na cidade. Desde manhã, a marginal Pinheiros esteve congestionada. Passei duas vezes pelo local, por força do trabalho, e vi apenas congestionamentos sem trégua.


Ontem, sábado, houve desdobramentos ainda do F1 Rocks e do treino para a própria F1. Claro que a confusão se estendeu. Ontem também aconteceu a primeira fase do Enem (Exame Nacional do Ensimo Médio), com 4,6 milhões de alunos inscritos em todo o País este ano. Em São Paulo, a confluência de eventos fez com que muitos alunos, presos por 4 horas no trânsito, perdessem a prova e, com isso, um ano de estudos: a nota obtida no Enem é obrigatória para os que prestarão vestibular para as universidades de todo o Brasil.


Todos esses fatos acima relatados são para comprovar, para mim mesmo, que a cidade de São Paulo não está preparada, em absoluto, para receber eventos de grande magnitude. Especialmente um evento como a Copa do Mundo, da qual São Paulo será uma das doze cidades-sede. Pior: São Paulo, muito provavelmente, fará a abertura e o encerramento da Copa do Mundo.


Se não damos (a prefeitura, o Estado, a iniciativa privada) conta de shows com 60 mil pessoas, o que dizer de uma Copa do Mundo, com milhares de visitantes estrangeiros, caóticos congestionamentos, absoluta falta de transporte coletivo e um deficiente sistema de táxis que não são capazes de escoar o público?


Pode parecer birra minha, eu que, desde o princípio, fui contra o Brasil (e não apenas São Paulo, note) sediar uma Copa do Mundo. Não estamos preparados. E nem estaremos, estou certo disso. E se você passa por São Paulo ou vive por aqui, sabe muito bem disso: para ir da zona sul (Berrini, Nações Unidas etc.) para o aeroporto de Cumbica (Guarulhos), em pleno horário de pico (17 e 18 horas) é bom que o seu voo seja a partir das 21 horas. Do contrário, você perde o avião, a paciência e um pouco (ou muito) da razão. São Paulo torna-se, por vezes, um círculo do inferno no qual você roda, roda e roda e não sai do lugar.

domingo, 31 de outubro de 2010

Meu rugido dominical



Às 20:12 horas deste domingo, pouco mais de três horas após o término do segundo turno das eleições, tínhamos, no Brasil, a primeira mulher eleita para o cargo de presidente da República. Dilma Rousseff é, portanto, a nova presidenta do Brasil, a partir de 1º. de janeiro de 2011.


Esta eleição foi, sem dúvida, a mais emporcalhada já vista neste País desde a redemocratização, em 1985. O lixo começou a se amontoar no primeiro turno e terminou neste segundo turno como um aterro sanitário saturado. Abutres de todas as espécies sobrevoaram o montulho e ajudaram a colocar mais carniça na montanha de sujeiras em que se converteu a política brasileira.


Não sou militante de partido algum e tampouco me posiciono à esquerda ou à direita do espectro político. Me cobram isso a todo o momento. Como se eu precisasse de um rótulo para dar cabo das minhas convicções. Não, não preciso ser esquerdista ou direitista. Não preciso ser militante ou afiliado. Não preciso estar aliado a qualquer nomenclatura para ter um pequeno discernimento do que acho correto ou não para mim e o meu próprio País.


Me perguntaram muitas vezes em quem eu votaria. Declarei, desde cedo, meu voto em Dilma Rousseff. Não, também não sou lulista. Antes, sou anti-serrista. Sou anti-PSDB. Mas, nem por isso, sou PT. Tenho claramente para mim mesmo que o derrotado candidato do PSDB, José Serra, é um homem cujos princípios beiram o totalitarismo. Contudo, isso não me toldou o suficiente a visão para enxergar que Lula, como militante, era melhor ter ficado calado.


Que desconfio enormemente dos avanços petistas sobre a liberdade de imprensa deste País. Mas, também sei, em larga escala, de uma meia dúzia de vezes que José Serra ligou em pessoa para algumas das redações mais importantes deste Brasil e pediu a cabeça de uma série de colegas jornalistas. E foi atendido.


Não comungo com aqueles que exaltam os feitos do governo Lula, da decantada elevação de 20, 24 ou 27 milhões de brasileiros à classe C. Para mim, em que pesem algumas iniciativas dos oito anos do governo Lula, a atual conjuntura brasileira é uma soma de feitos que se acumula nos 25 anos de democracia neste País. E Lula não fez nada sozinho. Ao contrário, é bom que se recorde que se aliou, inclusive, a pessoas com as quais lutou como Sarney e Collor. Imagina! Chamou de amigos alguns cães que morderam seus calcanhares durante anos.


Então, não tentem me convencer de que o governo Lula é maravilhoso. Acho que é o que é porque, mais do que o governo, quem faz este país somos nós, o povo. E justifico meu voto em Dilma porque acredito que a presidenta tem mais consistência de levar o projeto todo adiante do que o Serra, além das óbvias razões já citadas acima.


Agora, não tenho dúvida alguma de que, em algum momento, quando Lula vestir o pijama, Dilma mostrará a que veio. Talvez não haja uma cisão radical. No entanto, duvido que a intimidade entre Dilma e Lula permaneça nos três primeiros meses de governo.


Não tenho ilusões com políticos e, aqui mesmo neste espaço, já defendi o fim da obrigatoriedade do voto e o faço de novo. Não compartilho da chamada "festa cívica". O que é obrigatório não pode ter coloração de festa.


Ao mesmo tempo, confesso que passei os últimos meses enojado. Dos candidatos, da falta total de compromisso em divulgar verdadeiros planos e, principalmente, das pessoas que, ao me questionarem o voto e receber a resposta, tentaram, por inúmeras vezes, me demover.


De novo: não sou militante. Ainda que eu tenha votado em Dilma nos dois turnos, nunca tentei convencer ninguém das minhas idéias. Acho horrível isso. Eu tenho opinião. Não preciso que me digam o que fazer. E, agora, vejo, já agora, pouco mais de duas horas após a confirmação do resultado, dezenas de pessoas em luto, indignadas, prestes, praticamente e de novo, a se dirigirem ao aeroporto mais próximo e deixar o País. Vão, façam boa viagem! Levem consigo o comportamento paroquial e incivilizado. Odeio esse discurso. Assim como não imputo meu desejo, minhas crenças (ou falta de) ou minhas ideologias (se as tenho, que nem sei), desejo, ardentemente, que não me escarrem esse sentimento pequeno, falto de qualquer civilidade, por serem maus perdedores.


Já perdi muito mais na vida do que um reles voto. E, sinceramente, não é um político locado em Brasília que fará qualquer diferença na minha vida que segue sua rota independentemente (e a despeito) de quem ocupa o cargo de maior projeção política no Brasil. Minha própria vida é maior do que uma eleição. Por favor, os cães ladram e a caravana passa. Sou caravana nessa condição literal: passo pela vida e os cães me ladram e eu os observo e os vejo diminuir de tamanho até sumirem-se com o horizonte. Sou mais eu.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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