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terça-feira, 12 de julho de 2011

É o pior dos mundos possíveis e nada pode ser feito a respeito

A história, irremediavelmente, conduz a humanidade à felicidade. Calma que não estou louco e nem bipolar (pelo menos não neste momento). A frase que dá título ao post é expressão do pensamento do filósofo Schopenhauer e a primeira frase que inicia este post é exatamente o conceito oposto proposto pelo também filósofo Hegel. Da Alemanha, ambos, pensavam o mundo como se em dois extremos estivessem. Para os dois, o mundo é negativo e positivo, respectivamente.


Outros dois livros - "The Optimism Bias - a tour of the irrationally positive brain"(O Viés Otimista - um tour pelo cérebro irracionalmente positivo) e "The Human Side of Cancer" (O Lado Humano do Câncer) -, ambos sem edição no Brasil, tratam, respectivamente, dos lados obscuro e solar do cérebro (e mente) humano.


Todo esse enunciado foi assunto no jornal Folha de S.Paulo, edição desta terça-feira, 12. De um lado, o articulista João Pereira Coutinho, com sua visão do "ser positivo" ante a vida. De outro, o caderno Equilíbrio apresentou pesquisas e tascou: quem é otimista demais, quebra a cara. No caso, ambos concordam: atitudes positivistas e otimismo exacerbado não fazem bem. Ao contrário, podem muito bem camuflar o lado 'real' da vida: doenças como o câncer, uma aceitação dos fatos de forma submissa, confiança num deus que nunca é confirmado.




Tendo a ser, mais ou menos, com pendões para baixo ou para cima, equilibrado. Veja que, numa curta frase, me foi difícil simplesmente articular a palavra 'equilíbrio'. Exatamente porque não somos, os seres humanos, equilibrados. Nossas balanças pendem o dia todo para todo lado e o pêndulo não consegue se aquietar numa posição apenas.


O caderno Equilíbrio recorreu a diversas pesquisas para atear à fogueira as bruxas e bruxos do otimismo, aqueles que confiam cegamente num futuro radiante apenas pela fé que têm, sem ter o correspondente lastro que assegure esse otimismo. Listo abaixo alguns exemplos:


- Pesquisadores japoneses constataram que, de 101 obesos submetidos durante seis meses a uma dieta, os mais otimistas perderam menos peso do que os realistas.


- Nos EUA, outra pesquisa constatou que pessoas otimistas demais têm maior possibilidade de fumar e costumam trabalhar menos, enquanto os realistas investem, poupam e trabalham mais.


- Estudo norte-americano apurou que otimistas vivem menos.


- Por fim, outro levantamento verificou, também nos EUA, que os muito otimistas têm maior chance de atrasar os pagamentos do cartão de crédito.




Não estou a fazer um libelo do pessimismo. Longe disso que não sou maniqueísta. Nem tanto cá, nem tanto lá. Mas, estou longe de me enquadrar na categoria dos otimistas (a despeito de alguns pontos coincidirem com as pesquisas por outros fatores). Tendo, a princípio, por exemplo, a não confiar demais nas pessoas. Mas também não desconfio plenamente. No início, em relacionamentos (de amor, amizade ou trabalho), sou arredio. Me aproximo aos poucos. Minha fé no divino inexiste. E tampouco creio que haja algo mais do que isso que já temos por aqui. É o suficiente.


O brasileiro médio é um otimista por natureza:


- 64,1 pontos: é o índice de otimismo do brasileiro medido em junho passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A escala vai de 0 a 100.


- 81% das famílias acreditam que em um ano terão mais dinheiro e 74% acham que estão melhor em termos financeiros do que estavam há um ano.


- 51,5% pensam que é hora de fazer compras e 42,6% acham que não.


- 50,5% dizem não ter nenhuma dívida e 17,8% acreditam que conseguem pagar todas as contas atrasadas.


Não sei se esses dados espelham um momento de felicidade e otimismo no instante em que colhidos porque, se a mim fossem questionados esses pontos, certamente que entraria no rol dos pessimistas. O que me faz um desbrasileiro.


Ser positivo, diz o articulista citado acima, segundo a sabedoria popular, impede que as pessoas fiquem doentes (inclusive de câncer). Não ser positivo o suficiente, portanto, abriria a porta para o câncer (o exemplo citado se refere a um relato pessoal do colunista). O autor não concorda com isso. Eu tampouco. Se curássemos doenças com o poder da positividade ou do otimismo, médicos e indústria farmacêutica não existiriam.


Também não mantenho os pés no lodaçal do pessimismo. Acho que administro bem as dosagens de otimismo e pessimismo. Não sei se pela idade cronológica ou experiência, ou ainda ambos, o fato é que nessas questões, não sou de extremos. Aliás, raramente tenho pensamento ou comportamento extremista. 


Só acho que aqueles que vivem a irradiar o sol do otimismo o fazem para camuflar eventuais dias cinzentos que trancafiam em suas existências sem se darem conta disso. Também acho que aqueles obliterados pelo peso dos dias escuros e noites tenebrosas escondem os pequenos sóis que insistem em lançar sobre eles seus raios.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

American beauty

Foi a minha primeira vez. Antes, houve, pelo menos, uma meia dúzia de tentativas. Mal-sucedidas todas. Nem sei direito porque. Até acho que sei. Mas, melhor guardar comigo mesmo. Entrei pela porta mais escancarada. Que descortina todo o resto que vem depois de si. Sem expectativa alguma. Juro!


O arco da entrada foi a meca latino-americana. Miami. Em português, dá para fazer jogo de palavras com me ame. Prefiro não. Porque não foi assim, um amor à primeira vista. Não mesmo. Em quatro dias de Estados Unidos, lhe asseguro que nada me conquistou. O decantado american way, na minha talvez embaçada visão, vá lá, não passa de uma moldura plástica bem feita para vender o produto.


Cheguei por Miami, fiquei quase quatro horas dentro do aeroporto. Pode chamá-lo de portal latino-americano. Ouvi 90% espanhol, 5% português, 3% de outras línguas e uns 2% de inglês. Dos EUA. Voei de American Airlines e a companhia faz jus aos comentários no Facebook e Twitter de ser péssima. De Miami, fui para Orlando. Antes, porém, direito a duas horas de espera dentro do avião porque alguma porta de algum compartimento não fechava. Disseram que era a porta das refeições. Não nos serviram nem água. Como se fossemos todos imigrantes clandestinos a atravessar a aridez com a fronteira EUA-México. Talvez, aos olhos da AA e aos dos norte-americanos, não passemos mesmo disso. Um bando de clandestinos regularizados pela força do visto que querem (segundo a ótica deles) viver no país.


Fui para a terra da fantasia e, sem dúvida, fosse eu a escolher o meu destino, teria ido para Nova York ou para Boston. Jamais para Orlando e para a Disney. Mas, eu fui a trabalho. Em Orlando, cheguei atrasado - eram seis horas a mais já em relação ao roteiro original. Esperei mais um pouco e fui de micro-ônibus para aquela terra absurda concebida por Walt Disney.


Fiquei no Dolphin Hotel, sobre o qual, encimado no topo da entrada, um gigantesco golfinho goza de posição privilegiada. Na outra extremidade da edificação, há o Swan Hotel, sobre cujo topo igualmente repousa um enorme cisne. A visão não me animou nada. Antes, me assustou a cafonice.


Foram quatro dias, de domingo a quarta. Foram dois dias intensos de evento, no qual os norte-americanos corresponderam à minha expectativa plenamente: uivavam nas falas dos grandes executivos, sorriam, conversavam, planavam feito cisnes e jorravam alegria feito golfinhos.




(O ator Kevin Spacey na abertura do evento o qual eu cobri; Spacey é o protagonista do filme 'American Beauty' ou, no Brasil, 'Beleza Americana')

Terminado o evento, voltei a Orlando na quarta-feira. Na Disney, não tive tempo para nada absolutamente. Apenas antevi da minha janela a imensa bola que caracteriza o Epicot Center. Nada mais.


Em Orlando, fui ao Florida Mall, templo do consumo norte-americano exatamente como se vê nos filmes e como se imagina. Sim, estão lá todas as grandes marcas americanas. GAP, M.A.C., Mac/Apple, J.C.Penney, Macy's, MM, Dillard's, CSV e outras, tantas que se perde o fio da meada e a própria meada.


Não, não fiquei extasiado. Apenas constatei que, se há um mercado consumidor, ele existe e fica nos EUA. Uma surpresa: não há calçadas. Questionei o taxista e ele me disse: porque não há pedestres. E não há mesmo. Todos andam de carro. Todos os carros, de novo uma infinidade de marcas. Algumas as quais eu jamais sonhei existirem. Precisei tomar um táxi para chegar do lado oposto do Florida Mall, na Best Buy.


Queria um livro e, entre tantas mercadorias, foi a única coisa que não encontrei. Me disseram, os taxistas, que em Orlando fecharam duas grandes livrarias recentemente. Uma dentro do Florida Mall e outra ali perto. Sobrou apenas a Barnes & Noble. Na qual também não achei o livro. Me disseram também que é porque os americanos andam a consumir apenas e-books, os livros digitais, lidos em e-readers e tablets como o iPad. Duvido.


A comida americana me causou, desculpe, asco. Do começo ao fim. O café, intragável, me fez ter dores de estômago. Come-se qualquer coisa e me parece que nada tem gosto efetivo de comida. Sabe do que gostei? Os americanos não dão um passo sem dizer excuse-me (com licença) ou sorry (desculpe). E thanks for everyone! São educados. A diferença é visível no voo: de Miami a Orlando, na ida, havia mais americanos. Na volta, havia mais brasileiros do que assentos. Claro que o voo com americanos foi muito mais ameno.


Na viagem de volta para o Brasil, a American Airlines provou que é mesmo de uma falta absoluta de qualidade: mais duas horas dentro do avião por um outro problema não-identificado (para nós, passageiros). As comissárias não serviram água de novo. Deve ser uma espécie de rito: deixe que morramos de sede porque assim morre também um eventual desejo de voltar ao nosso país (devem pensar, não sei).


Em relação ao Brasil: tudo funciona, exceto a American Airlines. As estradas são bem pavimentadas e há quase um ônibus para cada dez passageiros dentro da Disney, para levar as pessoas de um parque para o outro. As ruas são limpas e o tráfego flui. Tudo é bem sinalizado.


Existe um profissionalismo em tudo que não vejo no Brasil de forma alguma. Mas, quando desembarquei em Cumbica, Guarulhos e vim para São Paulo pela Ayrton Senna e marginais, vi todas as diferenças gritantes. Mas, lhe juro, respirei o poluído ar da cidade com a satisfação de estar aqui. O american beauty, por mais bonito que seja, me pareceu extremamente artifical e fake, desde o golfinho e cisne do hotel até a pasteurizada alimentação. Fico com o Brasil e, para contrapor ao jogo de palavras com Miami, com relação à antiga exortação dos governos militares brasileiros "Brasil: ame-o ou deixe-o", digo ao povo que fico, e o amo.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Lavra, louvor, lavoura, lavar a alma

Terminei 2010 sob a lavra das palavras e começo 2011 ainda não com a lavoura, que essa necessita de cultivo para ser farta, mas, com louvor suficiente para lavar a alma. A passagem de ano, por si só, não significa nada. É apenas uma convenção do calendário gregoriano. Se outras fossem as calendas, como a dos chineses ou dos judeus, nem ao menos no ano novo estaríamos, os seguidores do calendário gregoriano, a matar um ano e fazer nascer outro.


De certo mesmo é o efeito revestido de simbologia que carrega a transição de um ano para o outro. E, daí sim, a entoação do tal louvor, a ourivesaria com as tais lavras de palavras, o cuidar da lavoura que se quer colheita farta, a lavação da alma, como se assim o fazendo, expurgasse com o ritual de purificação os males/sujeiras do corpo e também os da alma, embutida que vai dentro do corpo.


Se me vão os dedos pelo teclado a trovejar lavras sem sentido, digo que, ao contrário, caro/a leitor/a, o sentido está naquilo que o colocamos e, ao ler tanta aliteração de 'l', talvez o sentido lhe brote como a mim me brotam tais sementes que as pretendo cultiváveis.




Por fato, reporto que lavrei: carpi, uma vez mais. A cavalo, tombei sob o peso do corpo um bezerro nascedouro e me vi, repentinamente, numa réplica de manjedoura, sem reis magos a contornarem o campo ou estrelas-guias a me dirigirem. Foi simples assim: três homens, um menino, um gado (nelore, bravio), quatro bezerros recém-nascidos. Eu, depois de uma década sem cavalgar, me vi montado num cavalo que eu o conduzia ou ele a mim, e, ao entrar no cenário de presépio real, éramos, no final das contas, três reis, talvez um pequeno príncipe, a empreender a cura de quatro bezerros de dois ou três de vida. Que não eram de ouro os bezerros. Mas, o era o sol que nos banhava, sol do por do sol, dourado, alaranjado. Uma vermelhidão de sangue até, condizente com a cena que fazia banhar sangue também do umbigo de cada um daqueles bezerros prenhes de vida e, por um fio, um ataque aéreo de uma ave de rapina, chamada urubu, prenhes também de morte.


Encerrado o ritual de bruxaria moderna (a cura por remédio pecuário de laboratório suíço, multinacional), apeado do cavalo, ainda olhei ao redor e confirmei que a visão de manjedoura e três reis caia bem naquele cair do sol. Colocamo-nos os três (e mais o menino, posto que três eram reis e o quarto um príncipe) a cavalo e retornamos à casa.


Caiu a chuva sem aviso prévio e, para confirmar a lavra com que essas palavras são feitas, lavou-nos a chuva a alma, o corpo, os resquícios de bichos mortos pelo veneno suíço de origem, de bezerros curados e de cheiros de pasto e de gado. E talvez de perfumes, ainda que não recendêssemos a incenso, pois que os perfumes costumam escoar dos pequenos e dos grandes frascos sem que consigamos contê-los a contento.


Não foi sem louvor que compreendi e aceitei toda a cena encenada sem a menor pista de que aparentada do natal comercial fosse. Como assim? Não havia luzes, noeis, renas, nada disso. Apenas carneiros, vacas, bois, galinhas. Pastoreio, me entende? Era ou não um presépio?


Louvei o dia, o contexto, a noite negra já de chuva. Mais tarde, me doeram as pernas, condoídas de si mesmas do trotear a que foram expostas sem a devida proteção. Que importava? A cena viera e fora e se desenhara toda na minha frente, ao vivo, em cores, sem artificialidades de um velho barbudo que vem lá do gelo, longe da tropicalidade que aqui viceja.


Foi esta a cena de final de ano e é, portanto, com este conteúdo, este pequeno aparte do real que migro, simbolicamente, para este nascedouro ano de 2011 (no calendário gregoriano, que outros há mais antigos) e te desejo vistas semelhantes à minha, de lavar a alma, por segundos que fossem, que durarão eternos enquanto eu tiver memória para enxergá-los e sentido para os ver se materializarem. Foi assim. Só.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Contatos imediatos de primeiro grau

Passei quase quatro anos isolado num local em que chamava "torre". Como se fosse eu um Barba Azul, sem as respectivas vítimas (devo tê-las feito, ao longo desse período, mas não de forma direta como fazia Barba Azul), me isolei nas alturas do nono andar e me encerrei, numa fuga talvez motivada pelo cansaço da rotina jornalística e por falta de sentido. Nesse meio tempo, fiz uma faculdade inteira: me graduei chef de cozinha. A prática não a tenho, mas a técnica e a boa literatura gastronômica me abriram um novo mundo que eu intuía. Ainda não sei as consequências da faculdade de gastronomia na minha vida. Mas, a guardo em escaninho dileto, para dali sacar, talvez, um horizonte que, por ora, não suspeito.


Depois desses quase quatro anos, voltei, em abril deste ano, ao ambiente de uma redação. Voltei ressabiado, duvidoso da profissão em si e do meu próprio destino. Depois de 8 meses, devo dizer que pertenço, sim, à redação. Que, aos contatos virtuais feitos ao longo dos quatro anos, fiz, este ano, vários contatos imediatos de primeiro grau.




Sem falsa modéstia, domino a técnica jornalística e faço uso completo da minha melhor empunhadura, que é a palavra escrita. As palavras, de mim, costumam sair como se eu as lavrasse na terra. Sou a terra e a enxada, a semente e água da chuva que, juntas, fecundam os textos. Pode parecer romântico ao olhar alheio, alheio ao que se me vai dentro, mas, asseguro, as palavras, em mim, ainda que profissionalmente, reverberam e encontram terreno fértil.


Creio que, ao voltar ao convívio diário da redação, retomei alguns pontos que estavam eclipsados por outros interesses, por outras visões. Equivocadas talvez. Ou não. Quero acreditar que as pessoas que conheci ao longo do ano, a maior parte delas, não são colegas de profissão. São pessoas, algumas sobretudo, que as terei comigo para sempre. Tenho novos amigos, novas ideias, novas faces, novos olhares sobre a vida.


Ao mesmo tempo em que me voltei para a vida real, física, presencial, a minha presença neste espaço que me é tão querido se distendeu. Muitas noites tive ímpetos de escrever mais um post, crispar neste blog as agruras, reais ou não. Me refreei mais por cansaço do que por temor. Nunca temi publicar nada neste blog. Me confesso, me jogo, me atiro daqui desta janela virtual para o vazio. Sempre tive a consciência do eco que reverbera de volta.


De forma que, se amigos reais contabilizei este ano, amigos virtuais ficaram relegados. O que lamento. É o cotidiano contemporâneo que atropela vidas real e virtual. Tenho tido, ao longo do tempo da existência deste blog - pouco mais de três anos - experiências as mais ímpares. Algumas pessoas vieram e se foram. Outras chegaram e se instalaram no meu coração. Outras estão em suspenso, tal qual as palavras que as telas dos computadores estampam. Se lamento a ausência compulsória deste blog, não posso deixar de me alegrar aos(às) resistentes amigos(as) virtuais que me resgatam. Aos comentaristas que nunca arrefeceram ante meu silêncio. Aos que romperam, inclusive, o silêncio.


Portanto, celebro este ano heterodoxo em que ganhei pessoas reais na minha vida real. E também a manutenção das pessoas no ambiente virtual. Algumas, quase as conheço, de tão vívidas. Outras, são um lampejo, se deixam ver apenas o contorno. Assim como eu mesmo devo refletir várias tonalidades.


Chega agora o tempo que eu chamo de período das aves migratórias. Me vou, uma vez mais, para os meus. Estive com a minha família há sete meses e isso é tempo demais na cronologia desses anos que correm céleres.


Me afasto da vida real da redação, de São Paulo, e me aproximo da vida real da minha família, do novo (há um bebê, de 10 meses), do precedente (há uma avó, de quase 90 anos) e do conhecido, conhecidíssimo universo do qual eu vim. Me vou de novo, empreendo a migração sazonal. Pelos próximos 15 dias, torno-me invisível neste blog. Descanso eu e descanso você de mim.


Não falarei palavras doces sobre o dia de amanhã porque tenho sérios conflitos em relação a esta data. Mas, te desejo, expressamente, que amanhã e os próximos dias, semanas, meses e ano sejam do jeitinho que você queria. Seja em reuniões familiares, como é o meu caso, seja na balada, com os amigos, na praia, no exterior, na rua. Que seja apenas da forma, ou o mais próximo da forma, que você idealizou. E já será o bastante. Falamo-nos em 2011. Um lindo e ousado 2011 para você. Beijo!


P.S. Deixei este post em modo de publicação automática. Ou seja, quando for postado, estarei bem longe, ainda na estrada, mas longe da tela do computador. Peço desculpas pela saída à francesa, mas o fato é que não gosto muito de despedidas. 



terça-feira, 9 de novembro de 2010

O que vem do Coração

Dizem que o que vem de coração é sempre uma coisa boa, ligada à pureza, a bons sentimentos, bons fluidos, desejos salutares e autênticos. Mas, será que aquilo que vem do Coração reflete essa percepção? Um olhar mais apurado, melhor, um aprofundamento no coração (e na mente) das pessoas revela que o coração não está nem aí para esses estereótipos, esses maniqueísmos de bom-ruim. Ou, dito de forma mais apropriada, o Coração mostra que é autêntico mesmo, ainda que cruel.




Por Coração, entenda-se Hospital do Coração, o HCor, de São Paulo. A entidade acabou de divulgar uma pesquisa estarrecedora quando se trata do que vai no coração alheio: metade dos paulistanos e dos cariocas afirmaram que não se casariam com uma pessoa obesa. Paradoxalmente, 49% da população brasileira estão acima do peso, conforme indicam dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Esse dado inclui tanto quem está cima do peso quanto quem é, de fato, obeso.


Os homens são os que mais rejeitam a ideia de se casar com uma pessoa gorda: 54% responderam que não se casariam, ante 46% das mulheres. E é aqui que já começa o descompasso, com 8% do público feminino em desvantagem. E quanto mais instruído, maior é o preconceito: 66% dos homens da classe A, 44% da classe B e 51% da classe C se disseram refratários ao casamento com mulheres com sobrepeso. Para o total de entrevistados, 81% afirmam que o excesso de peso interfere no sucesso profissional.


Para 51% dos homens, a obesidade é uma doença. E para 73% das mulheres também. A obesidade interfere diretamente nas relações sociais. Para 78% dos homens e mulheres, a obesidade interfere no casamento. Para 77%, prejudica a escolha do transporte público (?!). E para outros 77%, dificulta a prática de esportes. E a pesquisa avança: 66% dos respondentes disseram que a obesidade é um obstáculo para a escolha do veículo para aquisição e outros 57% relacionaram a obesidade à dificuldade de se estabelecer roteiros de viagem (acessos a locais complicados, por exemplo).


A Catho, que é uma empresa de recrutamento profissional, demonstrou em estudo que a obesidade é a terceira causa de objeção do empregador na hora de contratar as pessoas. A obesidade fica atrás apenas da inconstância (mudança de emprego contínua) e do tabagismo.


E a morbidez da obesidade, aliada à morbidez do preconceito, faz ainda mais mal para quem está cima do peso ou está gordo: especialistas relatam que o preconceito em relação aos obesos é tão nocivo quanto os problemas de saúde atrelados à própria obesidade. Isso pode deixar os obesos mais doentes. E, para finalizar esse descarrego do Coração sobre os corações acima do peso, a mulher sofre ainda mais preconceito do que o homem quando se trata de sobrepeso ou obesidade. E, portanto, são também as maiores vítimas da anorexia. Tem coisas que coração algum suporta, com ou sem sobrepeso.

sábado, 23 de outubro de 2010

Nude do dia

O Kommune 1 (ou K1) foi um dos grupos políticos pioneiros de manifestantes organizados surgido na Alemanha na década de 60. Era um grupo de oposição formado por estudantes e foi criado para rebater a família pequeno-burguesa como reação ao pensamento e à sociedade conservadores. A foto abaixo entrou para a história quando ainda não era moda se despir como forma de protesto.




Sediado em Berlim (Ocidental, na época), o grupo, como em geral acontece, a meu ver, com todos aqueles que constituem qualquer tipo de oposição a qualquer ideia, perdeu-se. E perdeu-se nas drogas, ao confiarem no instinto de fazer sua própria revolução. Engraçado que essa história se repete e ninguém aprende nada. Depois disso, os membros se dispersaram e, embora eu não tenha feito pesquisas a respeito, posso imaginá-los, os membros restantes, que não morreram pelas drogas, pacíficos, em aconchegantes famílias pequeno-burguesas. É a vida: se revoltar, provocar polêmica, começar a trabalhar e, para isso, unir-se ao sistema, constituir família e torcer para que a aposentadoria seja doce.




O Kommune 1 foi resgatado pela organização não-governamental Oxfarm que replicou a foto histórica. A Oxfarm também é formada por ativistas que, nas gerações atuais, travestem-se de ONGs e que se dispersam da mesma forma que os antigos manifestantes. A foto (acima) reconstituída pela Oxfarm, contra o antigo Muro de Berlim, é para registrar os 40 anos da promessa feita (e não cumprida) pelos países-membros da ONU em doar 0,7% da receita para ajudar o desenvolvimento dos demais países. Ai, que cansaço que dá constatar que, seja em 1967 ou 2010, o mundo não mudou nada. Até as bundas se parecem. Com a diferença que tiraram da reprodução o menino porque, nos dias de hoje, mostrar uma foto de criança nua pode, que ironia, levar as pessoas à cadeia.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia das Crianças

Hoje, 12 de outubro, celebra-se, no Brasil, o Dia das Crianças. Faço minha própria homenagem a todos nós, crianças um dia, Peter Pan alguns, crianças em corpos de adultos outros, crianças crescidas. Todos fomos crianças. Todos recaímos na doce tentação de voltar a ser criança. Parabéns a todas as pessoas. À criança que jamais deixará o corpo de cada um de nós. Tenho saudade da criança que era e da inconsciência da vida que tinha. A criancice é um estado de espírito.


Meu pai, José




Minha mãe, Nelci


Minha irmã, Luciene, à esquerda; eu, ao centro; e minha prima, Adriana, à direita




Minha irmã, Luciene, à esquerda; minha irmã, Marisa, ao centro; e eu, à direita




Meu irmão, Flávio




Minha irmã, Denise




Não coloquei aqui a terceira geração, dos sobrinhos, porque seria imputar a mim mesmo o peso dos anos e, já que estamos a tratar de crianças, não combina misturar frescor com rugas. Assim, fico de bem comigo mesmo e com os irmãos. De qualquer forma, sobrinhas e sobrinhos, parabéns para vocês também.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

2666

Calma, não é um número de candidato a nada. Nem o número da besta em dobro. Tampouco é alguma conta maluca a que eu cheguei ao fazer cálculos mais estranhos ainda. 2666 não significa nada, na verdade. Pelo menos o livro "2666" - Roberto Bolaño - Companhia das Letras - 852 páginas, em si mesmo, não remete a nenhum significado aparente. Se o tem, o número 2666, significado, esse ficou guardado com o autor, que já é morto. Estou a ler o livro há meses. De tempos em tempos, leio um trecho. São cinco romances dentro de um livro. Quero destacar um texto, um textículo pelo qual acabei de passar que muito me agradou:




"Há coisas mais esquisitas que a sacrofobia, disse Elvira Campos, sobretudo se levarmos em conta que estamos no México e que aqui a religião sempre foi um problema, na verdade, eu diria que todos os mexicanos, no fundo, sofremos de sacrofobia. Pense, por exemplo, num medo clássico, a gefirofobia. É algo de que muita gente padece. O que é gefirofobia?, perguntou Juan de Dios Martínez. É o medo de atravessar pontes. É verdade, conheci uma pessoa, bem, na realidade era um menino, que sempre que atravessava uma ponte temia que ela caísse, de modo que atravessava correndo, o que era muito mais perigoso. É um clássico, disse Elvira Campos.


Outro clássico: a claustofobia. Medo dos espaços fechados. Mais outro: a agorafobia. Medo dos espaços abertos. Esses eu conheço, disse Juan de Dios Martínez. Mais outro clássico: a necrofobia. Medo dos mortos, disse Juan de Dios Martínez, conheci gente assim. Se você trabalha na polícia, é espeto. Também tem a hematofobia, medo de sangue.


Certíssimo, disse Juan de Dios Martínez. E a pecatofobia, medo de cometer pecados. E depois tem outros medos, que são mais raros. Por exemplo, a clinofobia. Sabe o que é? Não faço a menor ideia, disse Juan de Dios Martínez. Medo de cama. Como é que alguém pode ter medo ou aversão a uma cama? Pois é, tem gente que tem. Mas isso dá para atenuar dormindo no chão e nunca entrando em um dormitório.


Depois tem a tricofobia, que é medo de cabelo. Um pouco mais complicado, não é? Complicadíssimo. Há casos de tricofobia que acabam em suicídio. E também tem a verbofobia, que é o medo das palavras. Nesse caso o melhor é ficar calado, disse Juan de Dios Martínez. É um pouco mais complicado que isso, porque as palavras estão em toda parte, inclusive no silêncio, que nunca é um silêncio total, não é?


Depois temos a vestiofobia, que é medo de roupa. Parece raro mais é muito mais difundido do que parece. E um relativamente comum: a iatrofobia, que é medo de médico. Ou a ginofobia, que é medo de mulher e de que, naturalmente, só os homens sofrem. Difundidíssimo no México, embora disfarçado com as mais diversas roupagens. Não é um pouco de exagero seu? Nenhum pouquinho: quase todos os mexicanos têm medo das mulheres. Não sei o que dizer, falou Juan de Dios Martínez.


Depois há dois medos que no fundo são muito românticos: a ombrofobia e a talassafobia, que são, respectivamente, o medo da chuva e o medo do mar. E outros dois que também têm um quê de românticos: a antofobia, que é o medo das flores, e a dendrofobia, que é o medo das árvores.


Alguns mexicanos sofrem de ginofobia, disse Juan de Dios Martínez, mas nem todos, não seja tão alarmista, senhora.


O que o senhor acha que é a optofobia?, perguntou a diretora. Opto, opto, uma coisa relacionada com os olhos, na certa, medo de olhos? Pior que isso: medo de abrir os olhos. Em sentido figurado, isso contesta o que o senhor acaba de dizer sobre a ginofobia. Em sentido literal, produz transtornos violentos, perdas de consciência, alucinações visuais e auditivas, e um comportamento em geral agressivo. Conheço, não pessoalmente, é claro, dois casos em que o paciente chegou à automutilação. Arrancou os olhos? Com os dedos, com as unhas, disse a diretora. Puxa vida, disse Juan de Dios Martínez.


Depois temos, é claro, a pedifobia, que é medo de crianças, e a balistofobia, que é medo de bala. Essa é a minha fobia, disse Juan de Dios Martínez. Sim, suponho que seja de senso comum, disse a diretora.


Outra fobia, esta vem aumentando, é a tropofobia, que é o medo de mudar de situação ou de lugar. Que pode se agravar se a tropofobia se torna agirofobia, que é o medo das ruas ou de atravessar uma rua. Sem esquecer da cromofobia, que é o medo de certas cores, nem da nictofobia, que é o medo da noite, nem da ergofobia, que é o medo de tomar decisões. E um medo que está começando a se difundir é a antropofobia, que é o medo de gente.


Alguns índios sofrem de forma acentuada de astrofobia, que é o medo dos fenômenos metereológicos, como trovões, raios, relâmpagos. Mas as piores fobias, a meu ver, são a pantofobia, que é ter medo de tudo, e a fobofobia, que é o medo dos próprios medos. Se o senhor tivesse que sofrer de uma das duas, qual escolheria? A fobofobia, disse Juan de Dios Martínez. Tem seus inconvenientes, pense bem, disse a diretora.


Entre ter medo de tudo e ter medo do meu próprio medo, escolho este último, não se esqueça de que eu sou policial e que se tivesse medo de tudo não poderia trabalhar.


Mas se o senhor tem medo de seus medos sua vida pode se transformar numa observação constante do medo e, se estes se ativam, o que se produz é um sistema que se alimenta a si mesmo, um círculo vicioso de que seria difícil escapar, disse a diretora."


Eu? Padeço de autofobia, que é o medo de si mesmo ou de ficar sozinho, também conhecido como monofobia ou isolofobia. #prontofalei (não que eu não tenha falado antes de 2666 diferentes formas)

sábado, 25 de setembro de 2010

Ilha de Man

Esta semana, escrevi uma pequena matéria para o serviço online da publicação em que trabalho e citei a Ilha de Man. De fato, eu a verti para o português, a Ilha do Homem. A Ilha de Man (Isle of Man) é quase um montículo localizado entre a Inglaterra, a Escócia e a Irlanda do Norte.


Antes, era um reino nórdico, estabelecido pelos vikings. Depois, a Noruega cedeu a Ilha para a Escócia e, por fim, o local foi transferido para a Coroa Britânica. Tem uma área total de 572 km2, 48 km de comprimento e, em alguns lugares, a largura chega a 24 km. A população, conforme dados de 2006, é de pouco mais de 80 mil pessoas.


Formalmente, a Ilha de Man não faz parte do Reino Unido, é uma dependência da Coroa Britânica. E, por isso, a defesa e as relações externas são de responsabilidade do governo britânico. Uma organização extraparlamentar, Mec Vannin (filhos de Man) pretende alterar o estatuto da ilha e elevá-la a república soberana independente. Devo ter ouvido falar da Ilha de Man umas duas ou três vezes até aqui. Quando escrevi a nota a que me referi, foi com surpresa que encontrei o nome da Ilha entre os demais países.




(bandeira da Ilha do Homem)

Mas, a Ilha não é o meu foco, é apenas o nariz de cera (introdução do post). Passa-se que, assim que a nota foi ao ar, um leitor escreveu um comentário e alertou que nem ele nem qualquer outra pessoa que ele conhece chamaria a Ilha de Man de Ilha do Homem. Ou seja, eu havia escrito errado o nome da Ilha.
E me ocorreu que as pessoas - eu, você e todos, provavelmente todos os seres pensantes que habitam esse mundo - são bem rápidas em apontar incorreções, erros, equívocos e informações sobre as quais não têm certeza. Apontamos (e eu me incluo sim) rapidamente, ainda que não tenhamos ao menos checado se a informação que supomos deter é, definitivamente, a correta.


Pois o leitor assim agiu, por certo sob a guarida da convenção que determina que a Ilha de Man é Ilha de Man, e não, nunca Ilha do Homem. E mais não disse, não apontou fundamentos para o seu próprio comentário. Eu, particularmente, não respondi ao comentário. O serviço é da empresa e, para falar a verdade, não sei bem como é responder diretamente ao leitor sem argumentar e entrar em searas outras, longas como este post. Por isso, me calei. E note que eu não assino a matéria do serviço online.


Contudo, depois fiquei a pensar que muitas vezes, na minha vida, erros e incorreções que eu cometi me foram imediatamente apontados. Meu pai costumava gritar quando eu fazia algo errado ou diferente daquilo que ele supunha certo. Sempre me lembro disso. Não havia negociação. Era apenas de um jeito, do dele. E o apontamento era sempre rígido, sem maiores rodeios.


Depois, quando comecei a trabalhar no mercado formal, continuei a ouvir das mais variadas pessoas sobre algum serviço que eu havia feito e que estava errado. Ou apenas que não tinha sido feito conforme um determinado padrão. O padrão, no caso, é sempre da pessoa que está imediatamente num nível superior ao seu - pai, padrasto, chefe, o motorista do táxi (que detém o poder de me dirigir), o gerente do banco (que decide sobre minha eventual saúde financeira), o motorista (quando estou pedestre) e assim por diante. Há uma hierarquia da qual não se consegue fugir.


De sorte que, de tempos em tempos, erros, incorreções e equívocos me são apontados por todo lado. Claro que, por minha vez, eu os aponto também e o cachorro, como elo final da cadeia, deve correr atrás do gato para se vingar do humano. O gato vai atrás do rato que, por outro lado, rói tudo o que o humano faz. E assim, num círculo verdadeiramente monumental, comemos a própria calda e nem nos damos conta.


O que me chamou a atenção não foi o puxão de orelha do leitor. Foi o outro lado. Pouquíssimas vezes, raras mesmo, ouvi o contrário. Que o trabalho estava correto, que a informação havia valido a pena, que a matéria atendia determinada demanda, que o pasto roçado havia ficado segundo a vontade do meu pai. Não, isso é raro de acontecer. Eu podia carpir uma roça inteira (e eu o fazia) e me orgulhar do meu trabalho (e eu me orgulhava). Meu pai, no entanto, nunca disse uma palavra de retorno. OK, em sua defesa, posso dizer que foi assim que meu avô o tratou e era assim que ele imaginava que as coisas deveriam ser. Mas bem cedo eu era carente dessa afirmação positiva, desse reconhecimento, ao menos uma vez, de que tudo estava certo.


E isso, assim como o dedo apontado sobre os erros, continuou pela minha vida profissional. Você comete 9 acertos e 1 erro. E será para sempre lembrado por esse erro. Os acertos nunca são bons o bastante para se sobrepor aos erros. Jamais. Se eu informei bilhões ao invés de milhões, em matéria de qualquer coisa, cairão por cima de mim a fonte, o editor, o leitor e até mesmo colegas. É obrigatório que eu acerte sempre, que jamais erre.


Então, ao ler o comentário do leitor sobre a Ilha de Man, eu senti um enorme cansaço. Toda uma vida que, me pareceu, é vivida para apenas acertar. Nunca errar. Porque você será imediatamente punido, de uma forma ou de outra. Mas, se acertar, você não ganhará nada. É obrigação. Está implícito no grande contrato social que eu, afinal, nunca assinei.


Este post é apenas um desabafo. De uma exaustão que carrego comigo há tempos. E não vejo mais sentido em tanto acerto se sempre serei cobrado por erros, sejam enormes ou minúsculos. É cansativo. Não almejo condescendência e tampouco recompensas. No entanto, a cobrança milimétrica sobre tudo o que faço cansa. E não tenho mais energia para lidar com isso.


A propósito, sim, me é permitido nomear a Ilha de Man de Ilha do Homem. Eu não inventei a tradução. O engraçado é o nome da ilha. Ou, melhor, tem tudo a ver exatamente com o man.


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ferinos x felinos

Nesse mundo online e sempre ligado (always on, exceto quando o #Failed #NET #Virtua insiste em ficar off, em estado sometimes on), todo crime será imediatamente castigado em rede mundial, com a respectiva audiência global a replicar ad infinitum quaisquer pecadilhos que se cometam corriqueiramente.


A fofa inglesa não sabia que (acho que vi...) jogar (...um gatinho) o bicho ao lixo geraria quase imediatamente a emissão de uma fatwa contra ela e que teria que buscar proteção policial sob o risco de sofrer punições severas pelo ato.


Alguém mais inteligente e menos obscurantista do que legisladores de fatwas resolveu o caso em lance divertido e muito mais viral.


A história toda é que uma mulher viu uma gatinha, achou divertido jogá-la numa lixeira, jogou-a e foi embora. Os proprietários da gata encontraram a bichana 15 horas depois e, ao assistirem o big brother da vizinhança, viram a cena. A mulher foi imediatamente condenada a padecer no inferno daqui para a frente. Como a internet tem a velocidade de um raio, uns engraçadinhos travestiram-se de gato (Frajola) e senhora inglesa e inverteram o ato: o gato atira a senhora à lixeira. Divertido? Sim. Mas me preocupa mais a intensidade com que simples atos se propagam e como as pessoas condenam rapidamente, inclusive com sugestões de fazer justiça com as próprias mãos. O mundo moderno, de terno, nada tem.





segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Na ponta do pau

Está decidido! Chega de lamentos e tudo o mais. Descobri que tenho inúmeras possibilidades. Enquanto alguns meninos do Rio praticam uma insinuação de pole, radicalizarei e vou desafiar o pau, digo, o poste.


Procuro desde já uma escola indiana que me ensine a fazer maravilhas em cima de um pau, digo, poste.


Essa é a minha mais importante decisão deste ano. Chega de temores e medinhos. Vou me jogar.



sábado, 14 de agosto de 2010

Embalos de sábado à noite

Em dúvida sobre o que fazer num sábado à noite? Quer dançar? Tem desejos secretos de rodopiar o mundo e girar, girar, girar? Seus problemas acabam e começam simultaneamente aqui. Eu, como conselheiro compreensivo-afetivo-amoral-atemporal-canalhal e que tal, posto este vídeo especialmente para você que não tem a mínima ideia de como começará sua noite de sábado.


E muito menos como terminará, o que pode tanto ser bom quanto péssimo. Em tempos andróginos, não se acanhe. Promova-se, travista-se. Toda ideologia é válida desde que seja a sua própria. Para o inferno com as convenções. Mas não se esqueça que o paraíso está reservado apenas aos que andam na linha.




Porque aqueles que andam nas pontas do pés, a esses estão reservadas pistas, muitas pistas e faiscantes luzes que podem significar um bocado de coisas, das quais a mais simples é que aquela chuva de meteoros que acabou de cair não é a mesma coisa que uma explosão de fogos de artifício e tampouco indica que você é uma festa.





Nada disso. Conheço pelo duas ou três pessoas que querem muito ser Tinky Winky e que são capazes de sair no braço para ter a posse da bolsinha desse andrógino ser que povoa os (pesadelos) sonhos de alguns marmanjos que foram obrigados a assistir a isso na infância. Alguns tomaram para si a tarefa de dar continuidade a esses tubos teles. Outros, traumatizados, devem ter arrepios (não sei se de comoção ou terror) ao resgatar tais imagens. Vai que a noite lhe pertence. E, talvez, o seu corpo também, se não foi abduzido antes.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O reino da pequena literatura

Era uma vez um planeta. Azul. Habitavam lá alguns bilhões de seres. Que, se bem contados, chegavam, certamente, a trilhões. Viviam em desordeira harmonia ou desarmoniosa ordem. Ora a cair, ora a levantar, os seres juntavam-se, dispersavam-se, acorriam quando um deles morria subitamente e acorriam também quando um deles nascia. A eles, se lhes parecia que tanto a morte quanto a vida eram surpresas. Não haviam dominado, portanto, a técnica da frieza e da vã filosofia de ver e crer. Ver a vida e crer que aquilo era convencional. Assistir a morte e lhe avaliar como um fim justo. Era sempre a mesma coisa: vida! Ohhh!!! Morte! Huuuuhhh!!!


Esses seres, certamente, tinham um problema. Sério, na minha prosaica avaliação. Avaliação essa, por decerto, contaminada, visto que eu mesmo estava entre aqueles seres. Portanto, assim, qualquer ato julgatório deixa de ser fiel se participo da trama e tramo contra ela.




Mas isso é uma avaliação minha e eu a faço como bem desejar. E quem quiser que conte outra. O Google contou. Maldito Google. Num futuro antevisto por um escritor do naipe de Will Self (google, by the way). Ah! Uma pausa: Will Self, numa tradição liberal (a faço como desejar, sem usar Google Translate), seria algo como por si mesmo se fará. Combina com ele. Reward and play: num futuro antevisto por um escritor do naipe de Will Self (google, by the way), o Google será deus. Tenho certeza. Ao buscador e empresa de software serão atribuídos poderes de vida e morte, a propósito do estranho estranhamento humano ante nascimentos e falecimentos. O Google terá poderes inimagináveis por ora. Se não for o Google, outra empresa com tendências equivalentes o fará.


Pois que o Google contou. Uma conta mundial. Cheia de tabulações, contas de reduzir, adicionar, variantes, raízes quadradas, noves fora e chegou a um número: 129.864.880. Até o último domingo, dia 8, era esse, de acordo com o modo google de calcular, o número de livros existentes no mundo. Livros, aqui, quer dizer títulos diferentes. Portanto, existem quase 130 milhões de livros diferentes publicados em todo o planeta que, visto de cima, parece, é azul.


Numa Terra que tem 6.861.601.621 (pouco antes da meia-noite desta terça-feira, 10 de agosto), há um livro para cada 0,0189 habitante. Colocado de outra forma, não chegam a 2% o total de livros em relação aos habitantes desse planeta em que os seres são bilhões - se bem contados os considerados 'burros' como animais, vegetais, eis que se chega aos trilhões referidos acima.


Portanto, grassa a estupidez. Não é coincidência. É fato. Leio de 5 a 6 livros por mês e mesmo que lesse de 500 a 600 ou 5.000 a 6.000 a cada semana, não daria conta de reduzir a montanha dos 'sem-literatura' que forma a estranha Babel deste mundo que, se diz, é azul.


Eu o diria, esse mundo, translúcido. Transparente. Falto de impressão, de letras, palavras, orações, frases inteiras. Impressas. Portanto, falta impressão no mundo. E dada a falta de impressão, a impressão que se tem é que nada se expressa. Tudo se exprime, se espreme. E o único caldo que resulta disso é uma tinta que vai rio abaixo, sem a menor possibilidade de preencher brancas páginas, translúcidas mentes de bilhões. O mundo, meu(minha) caro(a), não é azul. É zebrado. De tanta inconsistência e de tanta falta de literatura. Se as pessoas lessem, o mundo seria branco no preto, tinta na página. Consistência. O mundo é um breu!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dia ou noite, noite ou dia, dia ou noite...

Que somos fascinados por uma certa instabilidade, todos, humanos ou não (sim, os há), é um fato. Os seres humanos (e os não-seres) somos, por natureza, instáveis: ora preferimos o dia, ora a noite. Se temos cabelos lisos, os queremos cacheados. Se os temos crespos, os queremos lisos. Se nosso nariz é aquilino, reclamamos porque certamente ficaríamos melhor se fosse arrebitado. Se é achatado, ficamos chateados porque não é aquilino. Se temos pelos no corpo, fazemos depilação. Se não os temos, reclamamos que queríamos ser recobertos feito gorilas. É assim a insatisfação do ser humano. Sempre a olhar com laivos de inveja e luxúria para o gramado alheio enquanto o próprio padece com ervas daninhas.


O filme abaixo trata exatamente dessa dicotomia.

sábado, 31 de julho de 2010

Leonino feliz: modo de fazer

O Leão (ou leo, lion) é o quinto signo astrológico do zodíaco, entre Câncer e Virgem, e está associado à constelação de Leo. É, junto com Áries e Sagitário, do signo de Fogo. É, ainda, um dos quatro signos fixos - com Touro, Escorpião e Aquário. Os leoninos são pessoas que nasceram entre 22 de julho e 22 de agosto.


Se diz do leonino que tem personalidade vibrante e espírito de liderança. Que costuma chamar a atenção das pessoas naturalmente pelo otimismo. Que, embriagado no deleite da admiração das pessoas, pode se tornar presunçoso e orgulhoso. Que deve evitar a tendência à arrogância e vaidade. Que os nativos desse signo são dominadores, espontâneos, criativos e de natureza extrovertida. Que têm graciosidade, dignidade e personalidade francamente expansiva. Que adoram aparecer. Que têm coragem, ambição, determinação, positivismo, independência, auto-confiança e lealdade. Que são detentores de uma generosidade quase ingênua e se decepcionam com pessoas nas quais confiam. Mas que se saem bem ao se afastar dessas pessoas. Que são bonitos, elegantes e detêm um charme admirável que conquista qualquer pessoa ao seu redor. Que são um pouco egocêntricos mas sempre respondem ao amor correspondido. Que têm grandes habilidades artísticas. Que adoram namorar e não dispensam aventuras. Que, quando tristes, não se trancam dentro de casa. Vão dançar e ouvir sons que rompem os tímpanos.




Se o elemento é o Fogo, o regente do leonino é o Sol (claro que sim!). O metal é ouro (absolutamente!). As pedras são diamante (nenhuma dúvida!), rubi e topázio. O perfume, âmbar. As plantas, narciso (precisamente!), girassol (por quê?), tulipa e malmequer (começo sempre do bemmequer para terminar com bemmequer), os animais são o próprio leão e, surpresa!, o pavão. Os países são a Itália (sensuais), a Romênia (sou cigano na essência) e França (sou natural de San Pierre de la Turvè), as cores são o laranja (amo!) e o amarelo (mais ou menos), o órgão é o coração (demais até!), o dia é domingo (maybe) e o verbo, olha só, é "ser" (sou). Se diz que o leonino é naturalmente atraído pelos signos de Aquário e Escorpião e eu digo que o limite são os 12 signos do zodíaco.


E tem mais: perseguimos, os leoninos, sempre, uma imagem ideal de nós mesmos. Desejamos evoluir e nos auto-afirmarmos. Tememos, frequentemente, sob tanta insegurança, parecermos não corresponder à imagem que queremos passar. Somos voluntariosos, empreendedores, generosos e, ao mesmo tempo, autoritários. Falta-nos capacidade de fazer a felicidade alheia segundo nossas próprias leis pessoais.


Somos verdadeiramente organizados (sou), ignoramos a mesquinharia (odeio) e detestamos a mediocridade (certamente). Atribuímos grande importância à estima das pessoas e desejamos, bastante, ter o poder de construir a própria auto-estima (com sucesso, digo).


Temos boa disposição, somos amigos, capazes de gestos magnânimos. Líderes, se não recebemos a atenção, perdemos completamente o interesse (verdade). Aparência brilhante e sorridente (mais do que menos). Delegamos. Gostamos de ser elogiados mas não aceitamos pressões.


Orgulhosos (e rancorosos), não esquecemos as ofensas (concordo). Sociais, somos românticos, dominadores ao ponto de "faça o que eu digo ou então não faça". Determinados, queremos projetar-nos. Extrovertidos (somos?) - se diz que não há leonino introvertido, apenas fingimos sê-lo. Estamos sujeitos a febres, doenças inesperadas e violentas mas raramente crônicas (para chamar a atenção, o quê mais?). Nossas costas (que suportam o peso do mundo) e a hérnia de disco (para suportar o peso do mundo 2) são vulneráveis.


Nossos corpos são energéticos, vigorosos e harmoniosos, de porte médio (médio alto) e altivo (empinado sim!). O olhar é magnético (confio no meu olhar). Temos boa resistência física. Tendemos ao bélico (guerra). Estamos propensos a enfartes (uia!!!) e congestão (medo!). As referências (em nós mesmos) anatômicas são o coração, o dorso e o sistema circulatório. As referências (nos outros) anatômicas são o corpo todo! Hehehehehe!


As ervas que harmonizam conosco são a manjerona, o louro e as folhas de uva. Os incensos que mais nos agradam são o patchouli, almíscar, sândalo e ópium. Nossa psique é movida pela intuição (muito) e a vontade prevalece sobre a base física (quase como uma mente a conduzir). O ego é viril (oh!), com necessidade de auto-afirmação constante. Uma vez mais, tendência ao narcisismo e egocentrismo (como assim?). Temos impulsos primários autoritários (coisas de bebê, diriam os feios, sujos e malvados). Gostamos de proezas e hábitos requintados e aristocráticos (minha linhagem retrocede aos colonizadores de Damasco, na Síria, e conquistou a Cataluña, na Espanha).


Afetivamente, somos protetores, viris e idealistas. A sexualidade é estética (muitoooooo!!!!), com paixões exaltadas (ahãn!!!). Buscamos prestígio também pelo afeto. O amor é nobre, atencioso e dominador (ciumento mesmo!).


Creio que 99,9% do que está escrito acima me define. Para me fazer, um leonino, feliz, a receita é tudo o que está descrito acima.


Mas também, e sobretudo, e principalmente, é olhar para mim, lembrar-se de que eu sou, eu existo e, logo, preciso de você. Porque não sou sozinho. Apenas estou sozinho. Na última quarta-feira, 28 de julho, foi meu aniversário. Desse ente leonino que é muito leonino. O maior presente que eu recebi foi mais de uma centena de telefonemas, mensagens ao celular e no Facebook e Orkut. Somadas, as manifestações foram mais de cem! Foi uma corrente que percorreu algumas cidades e quatro dos cinco continentes. Senti e vibrei com todas as energias que me foram remetidas. Não existe uma receita para me fazer (ou a qualquer outra pessoa) feliz. Mas o modo de fazer passa, necessariamente, pelo carinho. E foi isso que senti no dia 28: um carinho que percorreu cabos submarinos para chegar pela minha conexão de internet, que percorreu cabos os mais distantes para se realizar em voz ao meu telefone, que se traduziu em textos na telinha do celular e na tela do computador. Isso é um modo de me fazer feliz. Obrigado a todos e todas que o fizeram. Fiquei ainda mais leonino e, certamente, um pote de felicidade foi adicionado no meu arco-íris. Amo todos vocês que o fizeram!


P.S. O título deste post é dúbio: tanto quer dizer "modo de fazer" no sentido conhecido, de ensinar a lidar com, quanto significa "vou fazer tal pessoa" no sentido sexual. Apenas quero dizer que os dois modos estão on!


P.S. 2 Na próxima quarta-feira, 4 de agosto, outro leonino celebra o aniversário. Criatura dileta deste criador que vos escreve, o outro leonino é este blog, nascido a 4 de agosto de 2007. Entramos, eu e o blog, em novas idades cronológicas mas mais atormentados do que nunca. Nunca mais, nunca mais, diria o corvo de Poe. Eu digo que o corvo que me corrói o fígado continua a me mordiscar e a grasnar sempre mais, sempre mais...



terça-feira, 13 de julho de 2010

Caramujos e veados combinam

"Nós nos imaginamos na pele do animal. Nos perguntamos onde será que ele pisa? Em caramujos e samambaias. Os sabores combinam. Caramujos e veados vivem juntos. Têm uma simbiose". Parece uma citação de Charles Darwin, não? Ou, se você deixar a imaginação correr, poderia dizer que é alguma elocubração de Alice perdida no País das Maravilhas e às voltas consigo mesma. Nem uma coisa nem outra. Se bem que Darwin calha bem nesse contexto porque o "Homo homini lupus" ou o homem é o lobo do homem, de acordo com Thomas Hobbes.


Mas já vai adiantada a hora e não tenho que divagar mais do que deveria. Na verdade, há muito tempo não abordava esse tema, um dos meus preferidos depois de mim mesmo (hehehehe!!! é brincadeira, bobinho(a)!!!). Falo sobre a gastronomia. E, exatamente por fazer tanto tempo, o faço com luxo: o post é sobre o Noma, o restaurante número 1 do mundo, a se confiar na The S.Pellegrino Best Restaurant in the World, da revista Restaurant.


A frase grafada em itálico no início do texto é do chef Rene Redzepi, do badaladíssimo restaurante Noma, de Copenhague, Dinamarca. "Muito do que vemos é comestível", diz o chef, que gasta parte do tempo na caça de novidades no próprio solo (e mar) da Escandinávia. Redzepi é o que se chama de "ser instintivo", como se definiria um neanderthal em busca de caça. Primitivo, experimenta ervas - cocleária, azedinha, coentro do mar, mostarda silvestre, campânulas - que comporão seus pratos com outras excentricidades como ovos de papagaio do mar da Islândia e carne de muskox (mamífero do Ártico conhecido como bisonte). Tem uma coisa no chef Redzepi de que eu gosto muito: ele usa apenas ingredientes da região nórdica, com as notáveis exceções do café e do chocolate.




O Noma foi aberto em Copenhague em 2003 e os frequentadores não só não entendiam a comida de Redzepi como a reprovavam. Enquanto ele servia cloudberries (erva nativa das regiões boreais), as pessoas queriam foie gras, por exemplo. Bastaram apenas sete anos para que o Noma fosse inscrito, a partir do reino de gelo da Escandinávia, no mundo contemporâneo da gastronomia mundial.


Estamos em 2010 e o Noma tem duas estrelas Michelin. Recebe reservas com três meses de antecedência e tem apenas 12 mesas que acomodam 40 pessoas. O chef do Noma é um chef locavore - que promove e pratica a gastronomia com ingredientes locais. O chef afirma que o melhor que um restaurante pode oferecer é servir a comida mais fresca e mais autêntica naquela região em que está incrustrado. No caso, a região escandinávia. E ao pensar assim, Redzepi desencavou, com o auxílio de dois historiadores da comida dinamarquesa, tradições esquecidas como o sea buckthorn (frutinha que tem gosto de laranja picante), rose hips (rosa canina, google-se) e aglio orsino (google-se again) para compor um tira-gosto completamente original.




Os dinamarqueses usavam cinzas de feno como tempero no passado. O chef resgatou a cinza. A cinza de feno tem um leve sabor de pipoca (eu nunca experimentei mas lembro de batatas doces assadas na brasa que trazem consigo o sabor da madeira queimada) e Redzepi as serve como guarnição para ovos e centoias (sorry, você terá que googlar ad eternum). Uma das entradas combinas tubos finos e longos de carne de molusco envolta em salsinha servidos em "neve" de rabanete congelado e suco de salsinha e molusco. O sabor - depoimento de quem o experimentou - remete a sushi com wasabi, mas mais limpo, luminoso (!) e cortante.




O quintal de Redzepi é pródigo - Dinamarca, Islândia, mar Ártico, Suécia, Finlândia, mar Báltico - e é onde ele obtém langoustine, que devem ser comidas com as mãos de forma que os dedos cavuquem a carne da lagosta. Isso é a conexão com a natureza que o chef pretende obter. Por isso, legumes crus são apresentados à mesa em vasos cuja "terra" é feita de farinha de avelã maltada com emulsão de iogurte de cabra, estragão e outras ervas. Em outra vertente, marítima, um prato de camarões e pó de ouriço do mar é montado à guisa de uma paisagem praiana, com pedras e tufos de grama.




O Noma tem 24 cozinheiros de seis países diferentes. Aos 15 anos, Redzepi foi fazer uma escola de restaurante apenas para seguir um amigo. Foi quando descobriu a simbiose com o fogão. Da Dinamarca, foi para a França e, depois, para o el Bulli, de Ferran Adriá, na Espanha. Foi quando aprendeu que as regras podem ser jogadas janela afora. "Voltei com senso de liberdade". Passou ainda pelo californiano The French Laundry, de Thomas Keller, e de lá extraiu a ordem impecável na cozinha.




O Noma encontrou, nas expedições do chef Redzepi, o ponto em que caramujos e veados trilham o mesmo caminho, sobre as samambaias dinamarquesas. E associou, portanto, que veados deveriam ter assimilado, em algum momento, tanto a samambaia quanto o caramujo na alimentação. E viu nisso a simbiose entre caramujos e veados. É, a diversidade combina. Inclusive e ostensivamente na cozinha. Noma vem de "No" (nórdico) e "ma" de "mad" (alimento). O alimento nórdico não tem preconceito. É livre, como o chef Rene Redzepi.


(a maior parte deste conteúdo foi extraído de matéria publicada originalmente no The New York Times e reproduzida pelo portal iG, no Brasil)

sábado, 26 de junho de 2010

Perdemos nossa inibição

O título deste post faz parte da música-tema da World Cup 2010: "As we lose our inihibition". É, a música que é da Coca-Cola. Porque cada pedacinho da Copa do Mundo é pago, é conversível em publicidade. OK. A Copa do Mundo é de uma entidade particular, da FIFA, e não um evento sem fins lucrativos.




Mas nem por isso quero deixar de registrar um sentimento que, presumo, acomete o mundo em duas grandes ocasiões: durante uma Copa do Mundo e nas Olimpíadas. De dois em dois anos, dos 6 bilhões de passageiros desta nave incerta que é a Terra, alguns milhares concentram-se para reproduzirem em algum lugar deste planeta um show de integração.



Hoje estamos a meio caminho deste evento. São 15 dias de Copa do Mundo e faltam apenas outros 15. Até agora, dos 32 países que foram à África do Sul, 16 já disseram adeus. Outros 16 engalfinham-se. Certo, há uma ligeira semelhança com tons de guerra. Mas, pode-se dizer que nesta guerra, as regras são mais rigorosas e quase que cumpridas, com baixas aqui e ali, mas sem morte. Espero.




O que quero dizer é que dos EUA à Coreia do Norte, durante 30 dias há pessoas dos cinco continentes que, representadas por um determinado percentual de torcedores que tem condições de ir pessoalmente ao evento, perde a inibição e é capaz de desfazer, por poucos dias, a babel duramente construída pelos seculares tijolos humanos que deram início à nossa grande tragédia, da humanidade, de nos separarmos tanto a ponto de parecermos diferentes.




No entanto, apenas parecemos diferentes. A língua, que é o elemento mais evidente dessa diferença, não quer dizer muita coisa, na minha opinião. Já viajei para terras "estranhas" o suficiente para dizer que a comunicação, quando necessária, se faz. Basta que sejamos, você e eu, humanos. Nos entenderemos perfeitamente por gestos, olhares, mímicas ou seja lá o que for preciso para que nos coloquemos em bons termos.




Perdemos nossa inibição porque, no mais profundo de todos nós, não tem o menor sentido nos constrangermos uns com os outros pelo simples fato de você ter nascido sob o sol inclemente das margens do Saara e eu ter nascido ao abrigo do gelo do Alaska. É apenas geografia.




Adoro saber que podemos perder a inibição, de nos mostrarmos e à nossa alegria da mesmíssima forma. Assisti a poucos jogos deste campeonato mas, repare! Os rostos dos norte-americanos, ganeses, marfinenses, coreanos, alemães, portugueses, eslovacos, dinamarqueses, uruguaios, argentinos, brasileiros, italianos, franceses e tantos outros são iguaizinhos: urram, gritam, sorriem, beijam alguma coisa íntima, saltam, ajoelham, agradecem, choram. São todas emoções desinibidas que nem as 40 câmeras de cada estádio são capazes de conter. E quantos serão os olhos que acompanham esse imenso big brother mundial? A última informação que li sobre audiência dava conta de que pelo menos 30 bilhões (audiência acumulada nos 30 dias) devem ver os jogos em 214 países!




Pois então por que não ser desinibido? Por que não arrancar a camisa e sair de peito aberto para comemorar tanta vibração? Por que não contaminar os demais 335 dias do ano com tanta emoção? Será que é tão difícil converter gols em gestos? Será que é tão complicado perder a inibição em cadeia mundial não mais de TV, e sim ao vivo, ao lado?




Embora as tragédias cotidianas continuem a ocorrer dia após dia nesses 30 dias que duram a World Cup, tenho a impressão que a Cup contém a maior parte do veneno. Assim como no Brasil, nas grandes cidades, o congestionamento cai a 0 Km, é quase como se a dor mundial caísse a níveis administráveis. 




Ou, pelo menos, a mídia, nessa era de real time, globalizado, converge seu foco para a Copa e deixa o resto do mundo com seus problemas. Sabe que é um fôlego, um respiro? É uma trégua e dá, sim, um alento. Pois aproveite que temos 15 dias pela frente. Depois, de volta à vida! Ou, no caso de muitos, à morte!


P.S. Escrevi este post e esperei quase 2 horas para publicá-lo porque a minha provedora de banda larga, a NET, saiu fora do ar. Como acontece todos os dias. Começo aqui uma campanha: a Campanha pela Real Conexão porque o mundo não é dos nets coisa alguma, e sim dos que reclamam seus devidos direitos de consumidor. Me respeite, NET, ou passe a cobrar time on demand. Lhe asseguro que sua arrecadação comigo cairá o bastante para sua qualidade melhorar. Que inferno!

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