Portugal e o casamento gay
Depois do Brasil, os mais frequentes visitantes deste blog são leitores(as) de Portugal. Isso ocorre desde ao início da operação do blog e, desde a criação deste espaço, não foram poucas as vezes em que tive excelentes trocas de ideias com portugueses. A nenhum, ainda, conheci pessoalmente. Mas, assim como sou acompanhado por estas pessoas que estão do lado de lá do Atlântico, eu também sou visitante frequente de blogs portugueses. Acredito, inclusive, que tenho amigos do lado de lá, sem sombra de dúvida e, assim como eventualmente seria acolhido em terras portuguesas, também os acolheria por aqui, em terra brasilis.
Portanto, não posso deixar de me congratular com muitos desses amigos pela aprovação do projeto de lei que permite o casamento entre gays em Portugal. É um avanço do qual ainda estamos, no Brasil, bastante distantes. Portugal, com isso, tornou-se apenas o sexto país da Europa a permitir o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. E por isso eu digo que ainda há muito o que se fazer. Na América Latina, na Ásia, África e países do Oriente Médio. Se a Europa, com todo o avanço civilizatório que reúne, tem apenas seis países que ultrapassam as barreiras do preconceito, o que dizer de outros continentes inteiros que preferem condenar a questão e, inclusive, condenar à morte pessoas que ousam dizer o nome daquele amor o qual, segundo Oscar Wilde, era o amor que não ousava dizer o seu nome.
Como eu disse, é um avanço. Pequeno, mas um avanço. Não foi aprovada, por exemplo, a adoção de crianças por casais homossexuais. O projeto de lei de Portugal ainda depende de sanção do presidente português Aníbal Cavaco Silva, conservador. Mas, pelo que tenho lido - e me digam os meus caros leitores portugueses -, Cavaco Silva não deve vetar o projeto. Se aprovado, o primeiro matrimônio deve ocorrer em abril.
Em maio, o papa Bento 16 visita Portugal. Muita da herança católica brasileira deve-se, sobretudo, a Portugal e, assim como cá, lá em Portugal a igreja é um dos setores que mais pressiona para que o projeto não saia do papel. Mas acredito, mesmo, que papa e igreja católica estão cada vez mais desacreditados e que a eventual força da igreja católica seja obliterada pela sua própria fraqueza em não reconhecer que o mundo atual não é o mundo medieval. No mais, para mim tanto faz a opinião emitida pelo Vaticano: escondem seus crimes e pecados sob os pesados mantos vermelhos cardinalícios e pagam para abafar seus escândalos (leia-se pedofilia no mundo todo, perpetrada por padres de todos os cantos do planeta).
O premiê de Portugal, o socialista José Sócrates, disse uma frase que a mim me encantou: "Essa lei corrige um erro e repara décadas de injustiças. Acaba com um sofrimento que não tem sentido. Pertenço a uma geração que não possui orgulho da maneira como tem tratado os homossexuais". Até 1982, a homossexualidade era considerada um crime em Portugal.
A união civil - que tem sido relegada ano após ano no Congresso brasileiro - existe em Portugal desde 2001. Na Europa, o casamento gay é permitido na Bélgica, Holanda, Espanha, Noruega e na Suécia. Na América do Norte, o Canadá e seis estados dos EUA permitem o casamento gay. A África do Sul é o único país do continente africano que permite o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo e, na América Latina, o México também é o único país que legalizou o casamento gay. Está na hora do Brasil acordar para essa questão ao invés de debater censuras na imprensa e outras questões bastante ridículas no Programa Nacional de Direitos Humanos, em discussão atualmente no País, ao qual dedicarei post específico.
No mais, quero, uma vez mais, celebrar com Portugal e com todas as pessoas que lutam pela queda de muros de Berlim que nos tornam, a todos os humanos, diferentes uns perante os outros ante a lei. Sim, somos diferentes. Mas também somos iguais. E que a lei nos veja como iguais é, no mínimo, justo. Parabéns, Portugal!