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domingo, 17 de julho de 2011

Meu rugido dominical



O jornalismo, brasileiro e mundial, enfrenta uma crise de identidade. No mundo todo, se debate o fim do jornalismo impresso e as migração dos veículos para o ambiente digital (internet, sites, iPad e tudo o que se relaciona ao espaço baseado no sistema de códigos binários). Não sou vidente. No entanto, por cobrir justamente esse setor, o que posso afirmar é que, a despeito das muitas disponibilidades da mídia digital, o papel ocupa, ainda, um lugar de destaque e, com raras exceções, em todo o globo, é considerado, no meio jornal, nobre.


Parte dessa nobreza, entretanto, foi destruída durante as duas últimas semanas quando começou a vir à tona a lama que encobre o mundo de Rupert Murdoch, um dos mais poderosos homens de mídia do mundo, proprietário da News Corporation, que controla mais de 200 veículos de mídia em todo o planeta (jornais, revistas, TV etc.).


O pivô foi o tabloide News of the World (conhecido no Reino Unido pela sigla NoW). A última edição do NoW foi às bancas no domingo passado, dia 10, e encerrou os 168 anos de existência do veículo. O escândalo que nem o jornal poderá mais enrolar em suas folhas abrange mais de 4 mil escutas ilegais que remontam ao início dos anos 2000 e envolvem tanto as vítimas do 11 de Setembro (2001) quanto o brasileiro Jean Charles Menezes, morto pela Scotland Yard em 2005.


Murdoch teve que sacrificar alguns cordeiros ante a pressão do governo britânico e do clamor público: demitiu a diretora da News International, a poderosa Rebekah Brooks, tida pelo próprio magnata como sua 'sétima filha'. Ainda, estão envolvidos no caso o ex-porta-voz do primeiro-ministro britânico, o ex-diretor executivo do NoW, que trabalhou como consultor para a Scotland Yard e até a própria Polícia Metropolitana de Londres, acusada de receber subornos para amenizar investigações sobre o NoW. As escutas ilegais de celulares chegaram a atingir membros da realeza britânica. Por fim, outro diretor da News International, responsável pela Dow Jones, que publica o prestigiado The Wall Street Journal, também saiu do grupo. Rebekah foi presa neste domingo, 17, e solta após pagar fiança.


Na carta publicada nos principais jornais do Reino Unido na última sexta-feira, 15 (veja a foto abaixo), Murdoch pede desculpas pelos "danos causados às pessoas afetadas. Me dou conta de que pedir perdão não é suficiente", registrou o proprietário da News Corporation.




Aparentemente, o pano de fundo que originou a crise foi a pretensão de Murdoch de obter o controle total da mais importante operadora de TV por assinatura do Reino Unido, a British Sky Broadcasting (BSkyB), que tem mais de 10 milhões de assinantes. O empresário, que já tem 39% das ações da BSkyB, queria chegar aos 100%.


Murdoch é de origem australiana, naturalizado norte-americano. É considerado, pela revista Forbes, a 13ª. pessoa mais influente do mundo. O empresário é temido, admirado e odiado, creio que em iguais proporções.


Claro que as escutas ilegais, feitas desde 2000, não são o único motivo que deu início a esta onda imensa na mídia britânica, com respingos internacionais. Tenho para comigo que o governo britânico está muito pouco contente de ver um homem nascido numa ex-colônia dominar os meios de comunicação mais importantes da Grã-Bretanha. Há mais sujeira entre as gráficas do NoW e os corredores de Downing Street (residência do governo britânico) do que sonham as mais vãs filosofias.


Mas, no sentido local, já que a crise de Murdoch se reflete globalmente, o encerramento do NoW fornece combustão para apressar a queima dos veículos de papel. Depois de lançar o primeiro jornal exclusivo para iPad, The Daily, Murdoch começa a arruinar os títulos impressos. Não sei não. Lamento apenas que, junto com os jornais de papel, vão embora uma infinidade de empregos (nossos) e o antigo uso do jornal velho: embrulhar peixe. Tentei embrulhar um peixe no iPad e não combinaram, peixe e iPad, ambos escorregadios. Tal qual nosso futuro, o de jornalistas, que vejo mais liso do que nunca em plena descida de tobogã.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

A ecologia da mídia

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que é o órgão regulatório das telecomunicações brasileiras e, portanto, pelo qual passam, necessariamente, todos os equipamentos que são usados em território do Brasil, homologou, nas duas últimas semanas, duas coqueluches: o iPhone 4 e o iPad (apenas a versão 3G, mas não o tablet com conexão Wi-Fi). Tecnicamente, isso significa que ambos os dispositivos estão aptos a serem vendidos no mercado brasileiro.


Para que isso aconteça, falta apenas a Apple divulgar aquelas listas de países aos quais serão atribuídos, legalmente, o direito de vender tanto o iPhone 4 quanto o iPad 3G. As principais operadoras móveis - Vivo, Claro e TIM - já colocaram, nos seus respectivos sites, as listas para que consumidores ávidos e heavy users se cadastrem e recebam a primazia na oferta do iPhone 4 quando o smartphone for lançado no Brasil. Claro que já estou cadastrado desde o primeiro momento. Quanto ao iPad, existem apenas expectativas, por enquanto.




Tudo isso é a parte comercial, regulatória e técnica. Na vida real, iPhones 4 e iPads (Wi-Fi ou 3G) já rodam o País inteiro e existem até mesmo sorteios em eventos digitais (infelizmente, não fui ganhador de nenhum) que entregam os respectivos mimos aos participantes.


Na vida mais real ainda, há um outro cenário, no qual transito, que é o futuro das comunicações e, por etapa, da mídia e do relacionamento das pessoas com a informação. Dado que sou jornalista e trabalho especificamente com a informação, esse é o meu universo. Nesse momento, a mídia inteira, do Brasil e do mundo, está num ponto de inflexão: as plataformas (rádio, TV, jornal impresso, internet, tablets, smartphones) sucedem-se umas às outras e mixam-se sem que saibamos o que resultará de toda essa miscelânea tecnológica. Muitas são as teorias. Mas a que eu mais gosto é desta, apontada no artigo abaixo reproduzido, publicado hoje na Folha de S.Paulo (reproduzido do "The New York Times"). Do texto, destaco: "Na ecologia da mídia, a evolução sempre foi a regra primordial, e não a extinção. Novos predadores da mídia ascendem, mas as demais espécies se adaptam, ao invés de perecerem".




Pois assim é a vida. Nós e, por etapa, a mídia, apenas compomos a ecologia e, portanto, nos adaptamos conforme as circunstâncias, nada mais. Não tenho medo da evolução e tampouco de perder o rumo porque a cor da grama mudou. Transmuto-me eu mesmo, camaleão, e adiro à nova coloração do gramado. Que venham os novos predadores.


"A vida no terrário da mídia e comunicações ao que parece está se tornando cada vez mais perigosa. As previsões de extinção se acumulam.
Telefonemas, e-mails, blogs e o Facebook, segundo previsões recentes dos profetas digitais, estão a caminho acelerado do fim. Há duas semanas, a revista "Wired" disse que "a web morreu".
No entanto, na ecologia da mídia, a evolução sempre foi a regra primordial, e não a extinção. Novos predadores de mídia ascendem, mas as demais espécies se adaptam, em lugar de perecerem.
Essa é a mensagem tanto da história quanto de importantes teóricos da mídia, como Marshall McLuhan.
A TV, por exemplo, era vista como ameaça ao rádio e ao cinema, mas essas mídias evoluíram e sobreviveram.
Ainda assim, caso o padrão evolutivo se tenha mantido intacto, devem existir diferenças fundamentais na ecologia da mídia atual, afirmam especialistas.
Se eliminarmos a hipérbole que caracteriza as manchetes quanto à morte dessa ou daquela mídia, dizem os especialistas, o que resta são essencialmente comentários sobre o impacto da mudança e das inovações acumuladas sobre o ambiente de mídia e comunicação da era da web.
Um dos resultados foi a proliferação de formas digitais de mídia e padrões mutáveis de consumo de mídia.
Surgem, por exemplo, redes sociais -como Twitter, Facebook e Foursquare- que são híbridas de comunicação, distribuição de mídia e autoexpressão irrestrita.


ADAPTAÇÃO


O próximo passo é a adaptação. Os jovens das universidades não usam mais relógio (o celular ocupa a função) e raramente utilizam e-mail.
Eles preferem se comunicar por meio de redes sociais, mensagens instantâneas ou mensagens de texto.
A difusão mais ampla de aparelhos móveis de mídia, como smartphones e tablets, conduziu a aplicativos de software especializados que tornam a leitura de texto ou o uso de vídeo mais fácil em telas menores que nos PCs.
Por isso, as pessoas já não assistem a essa mídia formatada para aparelhos portáteis usando navegadores como Explorer ou Firefox, o que representa um dos pontos centrais no artigo da "Wired" sobre "a morte da web".
Mas livros, revistas e filmes vistos em um iPad, por exemplo, são baixados via internet. De fato, a manchete da "Wired" vinha acompanhada pelo complemento "longa vida à Internet".
A evolução da mídia causa baixas, é claro. Mas elas costumam surgir entre os meios de distribuição e armazenagem, especialmente os físicos, cujo conteúdo pode ser convertido a bits digitais.


GOSTO CULTURAL


A tecnologia de forma alguma é o único agente de mudança. Os gostos culturais têm forte influência e ocasionalmente causam viradas imprevisíveis. Os toca-discos e os discos de vinil pareciam extintos, mas terminaram ressuscitados pelos audiófilos, entre os quais DJs que criaram diferentes sons e ritmos. Hoje, as empresas tradicionais de mídia precisam enfrentar o desafio de adaptação oferecido pela internet. O desafio não está apenas na tecnologia, mas também na maneira pela qual ela alterou os hábitos pessoais de consumo de mídia.
A vida multitarefas, no sentido de capacidade individual para realizar mais de uma tarefa cognitivamente trabalhosa a um só tempo, talvez seja mito, dizem os especialistas. Mas o termo, ainda assim, descreve de maneira precisa o comportamento das pessoas que assistem à televisão enquanto navegam pela internet ou respondem a mensagens de texto."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Uma escolha para a história (editorial coletivo do 'The Guardian' sobre a Conferência de Copenhague)

Reproduzo abaixo o editorial do jornal britânico "The Guardian" que, numa iniciativa inédita, publicou nesta segunda-feira, 7, um editorial coletivo em 56 jornais de 44 países sobre a Cop15 - Conferência de Copenhague, que acontece entre hoje, 7, e vai até o dia 18, em Copenhague, Dinamarca. No Brasil, são dois os jornais que replicaram o editorial: o "Zero Hora", de Porto Alegre (RS) e o "Diário Catarinense", de Florianópolis (SC), ambos do grupo RBS:



"Hoje, 56 jornais de 44 países dão o passo inédito de falar com uma só voz, por meio do mesmo editorial. Tomamos essa atitude porque a humanidade enfrenta uma séria emergência.

Se não nos unirmos para tomar uma ação decisiva, as mudanças climáticas devastarão nosso planeta, acabando também com nossa prosperidade e nossa segurança. Os perigos têm se tornado evidentes há uma geração. Agora, os fatos começaram a falar por si: 11 dos últimos 14 anos foram os mais quentes já registrados, o gelo do Ártico está derretendo e a alta nos preços do petróleo e dos alimentos no ano passado é um exemplo do caos que pode estar por vir. Nas publicações científicas, a questão não é mais se os seres humanos devem levar a culpa pelo que está acontecendo, mas quão curto é o tempo que temos para reduzir os danos. Até aqui, a resposta mundial tem sido fraca e sem entusiasmo.

As mudanças climáticas foram causadas ao longo de séculos e têm consequências que durarão para sempre. As nossas chances de frear o problema serão determinadas nos próximos 14 dias. Apelamos aos representantes dos 192 países reunidos em Copenhague a não hesitar, não entrar em disputas, não culpar uns aos outros, mas aproveitar a oportunidade advinda deste que é o maior fracasso político moderno. Esta não deve ser uma luta entre ricos e pobres ou entre Ocidente e Oriente. As mudanças climáticas afetam a todos e devem ser resolvidas por todos.

A ciência envolvida é complexa, mas os fatos são claros. O mundo precisa agir para limitar a 2ºC o aumento da temperatura global, um objetivo que exigirá que as emissões mundiais de gases-estufa alcancem um teto e comecem a cair nos próximos cinco a 10 anos. Um aquecimento maior, de 3ºC a 4ºC – o menor aumento que podemos esperar se continuarmos sem fazer nada –, poderá levar seca aos continentes, transformando áreas agrícolas em desertos. Metade das espécies poderá ser extinta, milhões de pessoas poderão ser desalojadas, nações inteiras inundadas pelo mar.

Poucos acreditam que Copenhague ainda possa produzir um tratado definitivo; progresso real nessa direção só pôde surgir com a chegada do presidente Barack Obama à Casa Branca e com a reversão de anos de obstrucionismo americano. Mesmo agora, o mundo se encontra dependente da política interna americana, pois o presidente não pode se comprometer completamente com as ações até que o Congresso americano o faça.

Mas os políticos em Copenhague podem e devem definir os pontos essenciais de um acordo justo e efetivo e, especialmente, estabelecer um cronograma para transformá-lo em um tratado. O encontro sobre o clima das Nações Unidas em junho próximo, em Bonn (Alemanha), deveria ser o prazo final. Como um negociador colocou: “Nós podemos ir para a prorrogação, mas não podemos bancar uma nova partida”.

No coração do acordo, deve estar um acerto entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, determinando como o fardo do combate às mudanças climáticas será dividido – e como partilharemos um novo e precioso recurso: os trilhões de toneladas de carbono que poderemos emitir antes que o mercúrio do termômetro atinja níveis perigosos.

As nações ricas gostam de citar a verdade matemática de que não pode haver solução até que gigantes em desenvolvimento como a China tomem atitudes mais radicais do que as adotadas até agora. Mas o mundo desenvolvido é responsável pela maior parte do carbono acumulado na atmosfera – três quartos de todo o dióxido de carbono (CO2) emitido desde 1850. Por isso, precisa tomar a liderança: todos os países desenvolvidos devem se comprometer a fazer cortes profundos, reduzindo suas emissões dentro de uma década a níveis muito mais baixos do que os de 1990.

Os países em desenvolvimento podem argumentar que não causaram a maior parte do problema e também que as regiões mais pobres do mundo serão atingidas com mais força. Mas passarão a contribuir cada vez mais para o aquecimento global, e, deste modo, devem se comprometer a agir de forma significativa e quantificável por conta própria. Apesar de ficar aquém do que muitos esperavam, o recente comprometimento dos maiores poluidores do mundo, Estados Unidos e China, com metas para redução de emissões foi um importante passo na direção certa.

A justiça social exige que o mundo industrializado coloque a mão no fundo do bolso e reserve dinheiro para ajudar os países mais pobres a se adaptar às mudanças climáticas, assim como a investir em tecnologias limpas que permitam seu crescimento sem aumentar as emissões. Um futuro tratado também deve ser muito bem esboçado – com rigoroso monitoramento multilateral, compensações justas para a proteção de florestas e avaliações confiáveis de “emissões exportadas”,

para que o custo possa, com o tempo, ser dividido de forma mais equilibrada entre os que elaboram produtos poluentes e aqueles que os consomem. E a justiça requer que o peso com o qual cada país desenvolvido deve arcar individualmente leve em conta sua capacidade de suportá-lo; novos membros da União Europeia, por exemplo, normalmente muito mais pobres do que os antigos, não devem sofrer mais do que seus parceiros ricos.

A transformação custará caro, mas muito menos do que a conta paga para salvar o sistema financeiro mundial – e imensamente menos do que as consequências de não se fazer nada.

Muitos de nós, particularmente no mundo desenvolvido, terão de mudar seus estilos de vida. A era de voos que custam menos do que a corrida de táxi até o aeroporto está chegando ao fim. Teremos que comprar, comer e viajar de forma mais inteligente. Teremos de pagar mais pela nossa energia e usá-la menos.

Mas a mudança para uma sociedade de baixo carbono traz a perspectiva de mais oportunidades do que sacrifícios. Alguns países já descobriram que adotar a transformação pode trazer crescimento, empregos e uma melhor qualidade de vida. O fluxo de capital conta a sua própria história: no ano passado, pela primeira vez, o investimento em fontes renováveis de energia foi maior do que na produção de eletricidade a partir de combustíveis fósseis.

Abandonar nossa dependência do carbono dentro de poucas décadas requererá uma façanha de engenharia e inovação sem precedentes na história. Porém, enquanto a ida do homem à Lua e a fissão do átomo nasceram do conflito e da competição, a corrida do carbono que vem por aí deve ser liderada por um esforço conjunto para atingir a salvação coletiva.

A vitória sobre as mudanças climáticas exigirá o triunfo do otimismo sobre o pessimismo, da visão sobre a miopia, o êxito do que Abraham Lincoln chamou de “os melhores anjos da nossa natureza”.

É nesse espírito que 56 jornais de todo o mundo se uniram por meio deste editorial. Se nós, com tantas diferenças de perspectiva nacional e política, podemos concordar sobre o que deve ser feito, então certamente nossos líderes também poderão.

Os políticos em Copenhague têm o poder de moldar o julgamento da História sobre esta geração: uma geração que viu um desafio e o encarou, ou uma geração tão estúpida, que viu o desastre chegando mas não fez nada para evitá-lo. Imploramos que façam a escolha certa.
"

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dados, perdas e danos

Dados


- 5 dias
- 120 horas
- 93 mil toques ou caracteres entre textos, tabelas, gráficos e números
- Mais de 50 contatos por telefone
- Mais de 100 contatos por e-mail





Perdas


- Entre 50 mil a 500 mil neurônios (estimativas dizem que perdemos de 10 mil a 100 mil neurônios por dia)
- Sono
- Calma
- Lucidez
- Paciência
- Financeiras (não quero falar mais do que isso)


Danos


- Estou mais triste
- Mais cansado
- Menos crédulo
- Ainda mais arrasado com os caminhos jornalísticos
- Desconfiado (assumi ares paranóicos desde o apagão)

sábado, 31 de outubro de 2009

De como se processa a degradação do jornalismo brasileiro

Nas últimas três semanas, fiz trabalhos para cinco diferentes veículos. Quiçá eu tivesse 48 horas no meu dia para abarcar tudo. Entre poucas horas de sono e muito trabalho, dei conta de todos. Sou freelancer há quase quatro anos. As redações - da grande à segmentada mídia - estão cada vez mais enxutas ou tomadas por profissionais que começam com um salário-piso.


Não é de hoje que vejo redações inteiras serem desmanteladas e ressurgirem com menos qualidade. Os donos dos veículos de mídia não investem: fazem financiamentos, alegam custos inexistentes e jamais se preocupam em fazer revisões periódicas de faixas salariais. O sindicato não tem força. Para nós, profissionais da imprensa, somente nos é dada uma alternativa: trabalhar mais para cobrir vagas que nunca serão preenchidas e ganhar o mesmo.


Aliás, ganhar o mesmo seria até razoável, no contexto. O problema é que a maior parte de nós fomos submetidos a regimes de exceção que, ou muito me engano, ou viraram regra: na última década, para fugir dos impostos, os empregadores fizeram com que nós, pessoas físicas, migrássemos em massa para pessoas jurídicas. Eu tenho uma empresa, meus amigos têm e o fato de ter a própria empresa e emitir nota fiscal passou a ser um critério na seleção - para a redação e para jobs pontuais.





Esse cenário tem, na minha opinião, se agravado cada vez mais: em eventuais contratações da meia dúzia de veículos que ainda o faz, as propostas salariais são ridículas. Ninguém mais leva em conta o conhecimento, o trabalho que você faz e o grau de especialização ou de generalização (o jornalista tem que ser especializado em generalidades, dizem) de que você é capaz.


Sempre que saímos de uma redação, parece que, junto com a empresa, fica o nosso histórico profissional. Para o mercado, somos apenas mais um na multidão. Em que pese a cobrança por dados curriculares que atinjam os mais diversos níveis - conhecimento de inglês, espanhol e, preferencialmente, de uma quarta e até uma quinta línguas; domínio do ambiente digital - redes sociais, programação básica em HTML!; completo controle sobre os concorrentes; metas para dar 'furos' de reportagem'; metas para se entrevistar e manter contato com fontes que, cada vez mais, são tão instáveis quanto nós mesmos; necessidade de ser um jornalista multitarefa - fazer pauta, entrevistar, cuidar da produção das fotos, saber alimentar as diversas entradas - sites, mobile site, veículo impresso; e, ao final, ainda ser um jornalista bom de texto e completamente investigativo, daqueles que são odiados pelas fontes por lhes 'roubarem' informações preciosas.


Como se fossemos espiões. Como se não houvessem outros profissionais de comunicação (assessores de imprensa, gerentes de comunicação, áreas de comunicação corporativas inteiras) a nos bloquear eventuais acessos paralelos e a filtrar, o tempo todo, o que pode e o que não pode ser dito. Alguns dirigentes dos veículos - e qualquer tipo de veículo - ainda não se deram conta de que o hábito antigo de cultivar a fonte acabou. Ninguém é de ninguém e somos, como me disse uma professora do primeiro ano da faculdade de jornalismo, apenas escadas para elevar outras pessoas. No caso, as fontes das empresas.





Nessa escalada que mais se equipara à escalada técnica com que os jornais televisivos abrem suas edições, alguns de nós (eu, inclusive) aceitamos os trabalhos conforme nos chegam. Porque ser freela, nesse campo (e imagino que em outros também) depende somente de você: ou você aceita as condições ou não será procurado uma segunda vez.


Assim, entre os cinco veículos para os quais eu trabalhei, como disse acima, aceitei fazer um artigo. Demorei oito dias úteis, falei com seis fontes bastante conceituadas e produzi o texto. Tenho noção do meu trabalho e sei que sou bom no que faço. Além de eu mesmo ter essa consciência, vezes sem conta me disseram isso. Portanto, sei que sou bom jornalista. Entreguei o texto no prazo (e respeitar o prazo é fundamental nessa profissão) e, pronto!, dei o trabalho por encerrado.


A empresa que me pediu esse job é conhecida. Não é uma empresa de fundo de quintal sobre a qual ninguém ouviu falar. Tenho amigos que lá trabalham. Na próxima segunda-feira, dia 2, fará um mês que entreguei o artigo que, inclusive, já foi publicado há três semanas. Ontem, dia 30, liguei para a empresa para saber quando seria pago. E foi triste: me disseram que a empresa está sem fluxo de caixa (um artifício para nos enrolar) e que me pagarão apenas no dia 17 de novembro. Ou seja, serão 45 dias depois do dia em que entreguei o artigo.


Não sei vocês, mas minhas contas insistem em vencer mensalmente. De forma que, de 30 em 30 dias, tenho que pagar ou serei multado ou sofrerei as sanções por não honrar meus compromissos. Não são 25 dias ou 45 dias. São 30 dias. Depois que falei com a pessoa responsável que, obviamente, não abriu nenhuma hipótese de negociação, se me abateu um sentimento de profunda tristeza com o jornalismo brasileiro. Um pouco mais, já que não é de hoje que reclamo da profissão.





Tive um professor de inglês, nativo do Texas, EUA, que me dizia não entender como nós, da imprensa brasileira, nos sujeitávamos às péssimas condições de trabalho. Esse professor relatava casos de jornalistas norte-americanos, seus amigos, bastante diversos dos nossos próprios casos. Eu sempre refutava e dizia que nós não tínhamos como exigir. Além de não termos um sindicato forte, não se tratava de escolher. Éramos nós os escolhidos e prontos.


Falei duas vezes da fragilidade do sindicato e explico: há um piso para a profissão, assim como para trabalhos feitos por freelancers como eu. Os valores variam conforme o número de caracteres (pode ser páginas, palavras ou toques) e a quantidade de fontes entrevistadas, bem como informações acessórias como fotografias, por exemplo.


Até onde eu sei, nunca fui pago pelos valores que o sindicato apresenta como 'pisos'. A mim me parecem mais 'tetos' do que 'pisos'. Se eu argumentar com as empresas de mídia com os valores previstos pelo sindicato, certamente me mandarão plantar batatas.


Não vou plantar batatas. Vou descascar batatas. Um dos motivos que me levou a fazer a faculdade de gastronomia foi, justamente, esse descrédito com o jornalismo. E também porque quero trabalhar com as mãos, e não mais com o cérebro. Na cozinha, importa o manejo da mão. Não é preciso pensar, elaborar fluxos de pensamento, encadear as entrevistas e fazer de 10, 15, 20 entrevistas artigos lógicos e claros.


Esse último episódio em que me humilharam com os 45 dias somente serve para ratificar minha crescente decisão de emigrar do jornalismo. Por ora, dependo dessa profissão. Eu disse um pouco antes 'descrédito'. E o disse bem: nunca fui iludido pelo jornalismo ou estaria, agora, a chorar 'pelas ilusões perdidas' feito Balzac (livro que eu li antes da faculdade de jornalismo e que me clareou as ideias antes que eu pudesse alegar desconhecimento).


Vivemos, os jornalistas, em um processo de deterioração. Somos, lentamente, desconstruídos. Relegados a uma superfície rasa. É um processo de degradação que atinge vários, senão todos, níveis do jornalismo brasileiro. Antes de ser jornalista, fui bancário. Por meu próprio esforço, saí do mercado financeiro e vim ao jornalismo. Foi uma ruptura radical. Sinto que não terei escrúpulos em fazer de novo a transição e ir da cozinha da redação para a cozinha de fogões. Ou serei eu mesmo cozinhado à exaustão até ser reduzido à condição de confit de pato. Quak! Quak!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A rotina que conforta

Está na moda a comfort food - a comida caseira, simples, feita pelas nossas mães e avós e que, em geral, é bastante trivial, sem grandes inovações, técnicas e ingredientes exóticos ou alternativos. É uma comida de rotina e, por isso, relacionada ao conforto: nos aconchega por meio de sabores, cheiros e texturas familiares e nos proporciona segurança. Mas isso é rotina. Ou não?





Esta semana teve quatro dias úteis (a última segunda-feira foi feriado no Brasil). Mas a minha semana foi tudo exceto rotineira:


- Dormi, entre terça e hoje, apenas 10 horas ao todo.
- Trabalhei das 9 da manhã às 3 da manhã nos últimos quatro dias.
- Falei pelo menos três línguas: português, espanhol e inglês.
- Consumi aproximadamente 10 horas no deslocamento entre a minha casa e o local do evento que cobri.
- Fui pago pelo meu trabalho em duas moedas: reais e dólares.
- Vi e tive contato bastante próximo com duas pessoas cujas ideias me são bastante distantes do meu universo: o prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, e o governador do Estado de São Paulo, José Serra.
- Entreguei, de segunda-feira até hoje, aproximadamente, 100 mil caracteres de textos que fiz para quatro veículos diferentes de conteúdos completamente diversos entre si.





Por tudo isso, releguei ao esquecimento uma série rotineira que sigo e da qual sempre reclamo:


- Ritual de preparar o café, ler o jornal, fumar um cigarro, abrir o computador e começar o dia.
- Comfort food: a comida caseira que eu mesmo preparo.
- Caminhar às noites.
- Ir, gratuitamente, dar uma espiada na livraria perto de casa e tomar um café expresso na esquina.
- Gastar tempo em atividades como ler, cuidar do blog e simplesmente não fazer nada durante alguns momentos do dia.





A rotina massacra, dizemos, em bordão contra o ato de se repetir os dias, semanas e meses. Mas senti imensamente falta da rotina. Até porque não acredito, verdadeiramente, que os dias são iguais. Ainda que se conserve os mesmos atos e atitudes no dia-a-dia, há pequenas alterações quase que impercetíveis que, embora minúsculas ou desprezíveis, mudam o cenário, o contexto e a ideia de que todos os dias são iguais: um barulho diferente, um sol inesperado, um telefonema surpreendente, uma notícia agradável.





Ontem, postei uma poesia que traduzia o meu despeito à exaustão e à necessidade que o jornalista brasileiro tem de se desdobrar e se dobrar em tantas e tão diversas personas profissionais que acaba, por fim, num emaranhado de prazos, números e total falta de qualidade de vida. Era um lamento ao que nós, profissionais de mídia, nos transformamos: autômatos de um processo que não cessa nunca, com produção de conteúdo que vai de um país ao outro em segundos, obrigados a compormos com a demanda da globalização (num dos casos, prestei serviços para uma pessoa de Barcelona, Espanha, que me contratou via e-mail para uma empresa cuja sede fica em Buenos Aires, Argentina, para trabalhar em São Paulo, Brasil).





Esse desenraizamento de rotina e de referência geográfica me coloca na roda incessante e febril que muda, pouco a pouco, a face de um profissional de comunicação. Já não sou um jornalista no sentido estrito do termo e, embora não tenha deixado de sê-lo por completo, caminho rumo a um novo patamar que ainda não consigo visualizar com clareza.


E, para retomar a simplicidade da comida caseira, creio que o sentimento que carrego, de me sentir desplugado sob vários aspectos, é uma tendência coletiva, senão em larga escala para todas as pessoas, mas que atinge cada vez mais as sociedades. Se, por um lado, provoca esses deslocamentos virtuais de tempo, espaço e geografia, por outro, creio, pode criar oportunidades antes improváveis que eu nem imaginava existir dentro de uma concepção restrita de rotina.





Ainda não sei quais serão os resultados disso tudo. Mas, admito, senti falta da familiaridade com a qual me cerco todos os dias e creio que esses dias me acrescentaram mais do que cansaço: me trouxeram, até aqui, mais desalento, isso sim. Porque é como se eu fosse uma engrenagem dessa roda gigante que para apenas para permitir o acesso de novos passageiros e despejar aqueles que já não têm funções úteis. Ou seja, o meu próprio caso, talvez.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A onomatopeia dos dias

Nos últimos três dias, o meu relógio está assim:


00:00 - tic-tac
01:00 - tic-tac
02:00 - tic-tac
03:00 - zzzzz
04:00 - zzzzz
05:00 - zzzzz
06:00 - zzzzz
07:00 - tic-tac
08:00 - tic-tac
09:00 - tic-tac
10:00 - tic-tac
11:00 - tic-tac
12:00 - tic-tac
13:00 - tic-tac
14:00 - tic-tac






15:00 - zzz - ops! - tac
16:00 - tic-tac
17:00 - tic-tac
18:00 - tic-tac
19:00 - tic-tac
20:00 - tic-tac
21:00 - tic-tac
22:00 - tic-tac
23:00 - zzz - ops! - tac
24:00 - tic-tac


Eu não fazia ideia de quão reconfortante pode ser a rotina. À qual eu devo retornar nesta sexta-feira se o zzzz deixar. E se o tic-tac não fizer mais requisições. E tudo o que eu queria era reproduzir o relógio que ilustra este post. Sério mesmo! Vida de freela. Vida escrava. Vadia, essa vida.



sábado, 4 de julho de 2009

E o resto é HIStory!

E o resto é história. Assim dizemos quando damos por concluído um assunto sobre um mito, uma pessoa ou qualquer outra coisa que, na verdade, ficou em suspenso, sem um fim em si mesmo que descontinue aquele curso ao qual estava fadado até que sobrevem o instante final.





Disse o jornalista e escritor Gay Talese, presente nesta 7ª. edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que a mídia assassinou Michael Jackson. Que o artista estava morto há muito, pressionado por todos os flancos pela "humilhação imposta pelo desserviço de alguns jornalistas, aqueles que noticiaram como verdadeiras as declarações de pessoas que teriam sido abusadas por Michael Jackson". Talese ainda afirmou que a mídia cometeu abusos e noticiou como verdadeiras (o que eram) suposições sobre a vida do cantor. "Lamento por Michael Jackson!", exclamou Talese.






(Se) Cometido tal crime, ficaram os despojos dessa guerra envenenada na qual se lança a mídia atual sobre quem (eventualmente ou sempre) gera notícia e, por consequência, audiência. Como bem registrou uma leitora deste blog, à morte não se segue nada mais. Encerramo-nos em nós mesmos. E pronto. Ponto! Ficam, porém, os despojos.

Nas guerras antigas (e suponho que ainda nas atuais), os soldados vencedores despojavam os cadáveres dos bens - fossem armas, roupas, guarnições, tudo aquilo que tivesse valor aos olhos do exército inimigo. Também é assim com os civis: despojam-nos de suas vestes, bens e todo e qualquer vestígio de segredos, doenças, manias, medos. Morre-se em privado e morre-se novamente em público.







Na morte privada, despe-se o indivíduo (na cultura ocidental) para prepará-lo em uma viagem de Caronte (imaginária), segundo a qual há que se ter, como em vida, uma apresentação razoável. Na morte pública, a pessoa é desvestida e assim permanece, devassada pela sanha de abutres que voam perigosamente baixo para bicar pedaços/despojos que lhes parecem valorosos.






As fotos que estampam o post são os despojos, em grande parte brilhantes, de uma pessoa que se apaga, lentamente, até que a chama da avidez midiática se consuma e sobrem apenas clarões esparsos de quem foi fogo e, como tal, consumiu-se até que sobrassem apenas as cinzas. E, posteriormente, serão ideias confusas para, enfim, ser só o nada.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O pão nosso de cada dia, e o circo, o vinho, o banho, a geladeira, o vaso sanitário...

O governo federal anunciou nesta segunda-feira a prorrogação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para, pelo menos, uns oito setores diferentes da indústria, os chamados bens de capital. Com isso, fica garantido um imposto menor, entre os principais, sobre o pãozinho do café do manhã (e, por extensão, sobre a farinha de trigo), veículos, geladeiras, fogões, vasos sanitários, pias, chuveiros etc. etc.

Teremos alimento, transporte e higiene patrocinados. Afagados assim por bens materiais, talvez que não queiramos mais nada, porque ao espírito, esqueceram de lhe dizer, não sobra nem tempo para calcular o quanto nos vendemos baratos agora para, no futuro, estimar o quão caro isso nos custará.

Porque não tenhamos dúvida: não somos um oásis com mananciais eternos que sobreviverão impunemente em meio a avalanche mundial a que assistimos todos os dias.

Da lista de produtos isentos, saquei alguns itens que parecem mais pitorescos que palhaços tristes em picadeiros de miseráveis circos. Parece que estou a viver de listas, tal a quantidade a que tenho me dedicado, ultimamente, a descrever, laboriosamente. Entretanto, não sou fã dessas relações. É que me surgiram, de repente, em diferentes contextos. Vamos ao listão de isenções:


- Motocicletas de 1 mil a 2 mil cilindradas: depois de apear dos cavalos, que eram nossos principais meios de transporte, tomamos gosto pelos veículos de rodas: primeiro, as carroças, depois, em menor escala, bicicletas. Mais à frente, ainda com pouca abrangência, a classe média começou a motorizar-se. De uns 2 ou 3 anos para cá, a indústria automobilística nunca vendeu tanto e nem tantos andaram tão pouco com carros novos nas cidades congestionadas de artérias movidas a fósseis, sem saber que somos, também, precoces fósseis. As motocicletas, que existem em profusão na China e na Índia, e já são hype no Brasil há muito tempo, deverão cerrar fileiras quais os cavalos de antanho, com a diferença que os coices são mais violentos e o bafio é mais impertinente.


- Banheiras, boxes, pias e lavatórios (de plástico, de porcelana e de cerâmica, que é para nenhuma classe ficar de fora): devemos, os brasileiros, tornarmo-nos o povo mais asseado do mundo, depois desse exaustivo esforço em direção à higiene pessoal individual. Nós, que tomávamos banho de canequinha, de rio ou sob a mangueira d'água dependurada ao ar livre, evoluímos para, afinal, os poderosos banhos de imersão. Pois que se desde os romanos os melhores banhos são assim, por que deveríamos prescindir da banheira, do boxe rigorosamente vedado e de pias e vasos sanitários de porcelana? Pois que se nossos avós e bisavós usavam a 'casinha', problema deles, que não tinham os confortos da 'mudernidade' mundana de hoje, não é? Faltou liberar a isenção para o setor de cosméticos, que quero os meus sais, óleos e emulsões para as 3 horas de banheira que pretendo usar para meu prazer hedonista.


- Portas cadeadas, grades e redes de aço, fechaduras, ferrolhos, dobradiças, gonzos, charneiras e outras ferragens do tipo: eis que depois da Idade da Pedra, do Bronze, do Papel, da Tesoura, do Cimento, do Petróleo, chegamos, enfim, à Idade do Ferro. O ferro, como se sabe da tabela periódica, é um elemento químico que ingerimos por meio de alguns alimentos e, se consumido sem excesso, dizem que faz bem. Creio que a equipe econômica associou esse elemento às minas de ferro, bauxita, manganês, caulim e níquel para se contrapor à crescente incorporação de ferro (metal, não do elemento químico) pelos chineses. É tanto ferro que passaremos a próxima geração inteira com gosto de ferrugem na boca. As construções devem, segundo minha intuição, ganhar peso sobressalente e espero, pelo bem dos potenciais proprietários, que os arquitetos e engenheiros levem em conta esse sobrepeso para que as estruturas (as quais, imagino, serão de ferro) sustentem tudo sem que aquilo que é sólido desmanche no ar.


- Chuveiros elétricos e disjuntores: a eletricidade é, literalmente, o motocontínuo da sociedade e não vejo porque esse ramo deveria ficar de fora. Pois que, de apagão em apagão, ficaremos, quem sabe, apagados de uma vez por todas. Enquanto isso não acontece, é bom que os disjuntores sejam consumidos aos milhares - e o são, dada a má qualidade da transmissão de energia elétrica, com sobrecargas que nos parecem piscadelas e são verdadeiras ameaças a médio prazo - e que os chuveiros elétricos estejam relativamente de prontidão caso as banheiras lá de cima provem-se, por fim, inviáveis, tanto pelos tamanhos diminutos de nossas moradas quanto pela total ausência de praticidade e de tempo para usufruir de um banho de leite de cabra como Cleópatra. Que, na confusão entre disjuntores e chuveiros, se chegue a um bom termo para que um - o disjuntor - não derreta, e faça com que o outro - o chuveiro - derreta a um de nós, por etapa, porque tudo nessa vida não passa de um gigantesco jogo de dominó no qual as pedras pequenas são reduzidas a migalhas pelas grandes e as grandes viram pó sob o peso da própria inconstância inerente a quem se dá mais valor do que o tem realmente.


E sem falar no pãozinho, na geladeira, fogão, máquina de lavar roupas, carros e caminhões. Que somos industrializados, dependentes de máquina (os meus eletrodomésticos os quero em aço inoxidável que, olha só, também receberam seu quinhão de isenção).

Não me estranhe, caro(a) leitor(a), e ao imenso desabafo. É que estou a ver a casa a cair, ainda que a liga (cimento), a estrutura (o ferro) e o acabamento (louça sanitária), aparentemente, estejam garantidos por decreto federal. Um sopro e os castelos, reais e imaginários, penderão feito pequenos arbutos nas encostas dos morros de ventos e chuvas uivantes.

Pois que, jornalista e gastrônomo, vejo que a primeira profissão afunda, em concurso de colegas para entender quem vai à lona primeiro, e que a segunda, sim, tem sobrevida porque, ao que me consta, o alimento do corpo sempre leva a melhor sobre o alimento do espírito.

Não se trata de um lamento particular. Apenas, como jornalista, minha incredulidade tende a crescer feito minha intolerância com esse tipo de aceno paternalista que, de fato, substitui os agrados de políticos de ontem a quem, para ganhar votos, bastavam-lhe arcar com o pão do dia da eleição. Com o eleitorado mais profuso, hoje, há que se lidar massivamente com a massa e nem só de pão vive a massa, pois não? É que estava tudo engasgado na garganta e saiu aos borbotões. Só isso. #Prontofalei!

sábado, 25 de abril de 2009

Twitter: tudo ao mesmo tempo agora já

Tenho alguns problemas para dormir e, não raro, atravesso a noite e faço do dia a minha noite e da noite o meu dia. Só que o mundo não funciona assim, evidentemente. Pelo menos era o que eu pensava antes do universo do Twitter.



O Twitter é como a cidade de São Paulo: sempre haverá alguém, em cada uma das 24 horas do dia, interessante o suficiente para atrair a sua atenção e te manter acordado(a). Se as grandes metrópoles nos oferecem dezenas de alternativas, também o Twitter acena com (falsas) pérolas ou (verdadeiros) achados, numa espécie de cruzamento global que, por enquanto, envolve muito mais os norte-americanos e, em menor grau, europeus e australianos, do que os asiáticos, por exemplo, ou os povos do Oriente Médio, assim como ocorre com outras redes sociais.


O Brasil não se furta a nenhuma novidade na internet, dado que somos o povo que mais tempo passa conectado na rede em todo o mundo. Assim, toda e qualquer novidade é devidamente assimilada pelo usuário brasileiro e, de repente, os criadores dessas redes se voltam, surpresos, para nós. Foi assim com o Orkut. Tem sido, em alguma medida, com o Facebook e é, certamente, com o Twitter.


Alguém no Twitter comentou que era incrível o tamanho de informações que se obtém na rede de microblogging. Eu disse que parecia o Google vivo e agora complemento: parece o Google News ao vivo. Limitadas a 140 caracteres, as postagens no Twitter vão desde: "estou com fome" até redirecionamentos para todo e qualquer tema (Susan Boyle, os filhos ilegítimos do presidente Lugo, do Paraguai, e qualquer outro assunto que seja de domínio mundial). Rapidamente, todos têm algo a dizer.


Assim, é possível acompanhar o ator inglês Stephen Fry e saber que fizeram (seus seguidores) comentários sobre um eventual comportamento "assustadiço e nervoso por conta de uma febre do feno causada por pulgas, que me causa sofrimento", conforme postou o ator, ao desmentir o fato. "Sheesh", exclama e aproveita para dizer para todos que vai assistir ao musical de "Priscila, a rainha do deserto", em Londres. Ver aqui o link das fotos do ator com o pessoal da peça no backstage, postadas pelo próprio via serviço de fotos do Twitter.

Também participo ao vivo da 5ª. edição do Newscamp, coberto pela amiga Ceila, que faz relatos do que se debate na internet e de como a infraestrutura de conexão nunca funciona nesses eventos, enquanto se discute multimídia, blogueiros, jornalistas e, claro, redes como o Twitter.


A atriz Marisa Orth me diz que as postagens replicadas são de responsabilidade de sua produção, que é a mesma da atriz Lúcia Veríssimo e de outro perfil. Em geral, para quem está no Twitter e segue esses perfis, é possível verificar que os três perfis fazem os mesmos redirecionamentos simultaneamente. Ao contrário de Ashton Kutcher (o primeiro a atingir 1 milhão de seguidores), as celebridades pagam para que alguém faça suas postagens no Twitter. Vejo também as fotos do cachorro de Lúcia Veríssimo. Vejo gente que se canta (principalmente os gays), com troca de links que, em geral, têm fotos ou filmes de sacanagem. Gente que, aparentemente, fala sozinha. Que coloca uns pontos de interrogação (????), uns tracinhos (----) ou que fica em silêncio total.


O ambiente do Twitter é bastante aberto e, a cada dia, novos eventos surgem e dominam o cenário da rede. Ontem, sexta-feira, foi dia de #followfriday (maneira esperta e inteligente de indicar algum perfil que você goste para que outros usuários o sigam). Foi dia também de #twoonday ou #toonday (que consistia em trocar a foto do avatar/perfil por um personagem de cartoon ou desenho que você mais gosta).


O Twitter tem uma linguagem própria: para fazer referência a um assunto que é abordado a todo momento, usa-se o jogo da velha (#). E, portanto, para falar que determinado serviço falhou, pressupõe-se que se coloque o termo #fail (falha) para indicar o problema. Também tem uma linguagem que prima pela grafia incorreta: #comofas (como faz), #ficadica (fica a dica), #soporhoje (só por hoje), #rindoalto (rindo alto), #bjometwitta (beijo, me twitta) e por aí vai.


No aparente caos do Twitter, há regras que são autorregulamentadas: ou todos aceitam ou quem não segue é imediatamente isolado. OK, há muito usuário que tenta determinar o que é certo ou não no Twitter (#umporre): "o Twitter não é chat", "o Twitter não foi feito para isso", "quem quer falar muito, monta um blog" e assim por diante. Eu acho que é exatamente a flexbilidade dessas redes e o uso que se faz delas como se deseja é que as torna tão atraentes. Por que mesmo que alguns se arrolam ao direito de tentar impor regras quando nem mesmo os criadores as fizeram?


Tem algumas coisas básicas que um estreante deve saber sobre o Twitter (#ficadica): o símbolo @ (at ou arroba) precede o nome do usuário, sempre. Por exemplo, o meu perfil é @redneck_brazil (aproveita e follow me). Quando eu quero twittar (postar no Twitter), eu twitto; para replicar um tweet alheio (postagem) eu dou RT (retweet) e quando quero escrever uma mensagem direta para um usuário específico, eu uso DM (direct message ou mensagem direta). RT, DM e @.... podem ser digitados ou os próprios programas o fazem para você, conforme o tipo de aplicativo de Twitter que você tem.


Ainda não sei a utilidade do Twitter, admito. Os norte-americanos tomam a rede como se fosse a segunda onda das pontocom e fervilham com os serviços de marketing e #savemoney (ganhe dinheiro). É tudo balela, com milhares de perfis fantasmas. A todo momento, por exemplo, sou seguido por perfis que, evidentemente, não querem me dizer nada. Unfollow (parar de seguir) neles, que congestionam tudo.


Mas, uma coisa é certa nisso tudo (#ficadica). Para um profissional do jornalismo, o Twitter significa uma nova linguagem e o poder de sintetizar o lead (parágrafo principal da matéria que une o que, quando, onde, como e porque) em apenas 140 toques. Se eu aprender a fazer isso e aplicar para o dia-a-dia no jornalismo, posso garantir que está de bom tamanho.

E, claro, há os momentos de descontração total na rede como brincar com os nomes dos perfis como o do @OCriador, @capeta, @god, @deus, @suaconsciencia, @iphoneJesus etc. É engraçado ler - @suaconsciencia está seguindo você. E sem falar nas 'polêmicas' de alguns usuários que, efetivamente, não tem nada a ver, como a discussão entre o Marcelo Tas e o Diogo Mainardi que acabaram, literalmente, com a saída de cena do Mainardi do Twitter (#tonemai - não estou nem aí). Ou da Rosana Hermann para reivindicar a popularização do Buytter (compra e venda de perfis entre os twitters) na twittesfera nacional. #besteira!



O que eu quero dizer é que o Twitter, como outros eventos da internet, é uma linha do tipo que traça o antes e o depois. E é, no mínimo, interessante estar no meio desse torvelinho quando isso acontece.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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