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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Pena que é dia da mentira

Sou das pessoas mais céticas que conheço: duvido de mandingas, olho gordo, mau olhado, gato preto e não costumo desviar de escadas e contorná-las. Esse ceticismo se estende a um completo alheamento ante o horóscopo. A não ser que alguém mostre interesse específico, nunca consulto o que se vai no meu dia conforme a astrologia determina. Duvido dos sais grossos que me mandaram colocar em casa (fizeram mais, me deram o recipiente), tenho sérias dúvidas sobre eventuais energias negativas que afirmaram pairar sobre determinados ambientes e, portanto, não las creo. Pero que las hay, las hay. E, sendo assim, coloquei o recipiente de sal grosso no canto apropriado, deixei que benzessem lugares e até mesmo aceitei uma imagem que, segundo me informaram, tem dentro de si água benta. OK.


De forma totalmente aleatória, cliquei sobre o link das previsões para o meu signo hoje, 1º. de abril. Consagrado como o Dia da Mentira, seja por superstições tolas ou por ser exatamente o Fool's Day (Dia dos Tolos), tolamente li inteirinho o meu horóscopo mensal. A seguir, reproduzo, na íntegra, o que me está reservado para o mês de abril (os comentários entre parênteses são sinais claros da minha incredulidade ou da minha condescendência irônica para com esse tipo de informação):


"Leoninos começam bem o mês, com o beneficio do trânsito do Sol em Áries, que faz com que brilhem e queiram melhorar de vida e expandir horizontes. Esse será um motor muito poderoso para você agir e lutar.


Abril é um mês de energia e entusiasmo, de ação e de recomeços para você, especialmente até o dia 22. Depois do feriado de Tiradentes (no Brasil, obviamente), a vibração do Sol em Touro, e de Mercúrio retrógrado nesse signo, predispõe atitudes mais pausadas, lentas e pensadas. Começa a fase de consolidar e aprimorar as conquistas da primeira fase do mês.

Na Lua crescente, a pedida será fazer novos planos e dar os primeiros passos para uma melhora de vida. Isso é especialmente verdadeiro para quem nasceu entre 26 e 31 de julho (
meu caso, dado que saí do útero para entrar no mundo a 28 de julho). Intuição mais forte e golpe de vista são bônus astrais com que você pode contar com certeza.

Na segunda quinzena, devido a uma oposição forte entre Saturno, de um lado, e Urano e Júpiter de outro, você será confrontado e terá de escolher entre a esperança e o ceticismo (
por ora, fico com o ceticismo, velho aliado). Aproveite para se livrar de esquemas e valores antigos. O Sol envia raios de persistência, capacidade de concretização, paciência e teimosia, para você não largar tudo na hora em que os obstáculos ficarem difíceis (nunca fiz isso, sou insistente: em geral, largo tudo duas horas depois).

Na última semana, a Lua cheia em Escorpião elucida pontos que precisam ser revistos e valorizados na vida familiar e profissional. Bom para você rever sonhos e realidade criada a partir deles.


No final do mês, você se tornará um exemplo, o melhor presente que um leonino pode querer: uma plateia que aplauda seus esforços (
que isso seja uma constante porque preciso de plateia todos os dias, isso sim é o melhor presente para um leonino).

Na saúde, a Lua crescente acontece em seu signo, e um contato forte da Lua com Marte trazem energia a mais e também impaciência e turbulência. Evite acidentes e problemas (
claro, claro) e compense essa tendência com momentos de relaxamento, esportes e vida saudável (claríssimo, eu já disse!). Afora isso a saúde vai bem, a não ser de 28 a 30 de abril (ficar na cama é aconselhável?), quando você deve evitar excessos de trabalho. Procure cuidar da aparência, pois ela terá muito impacto e será muito importante para você se sentir seguro (ai que preciso fazer a barba, talvez).


No amor, de 4 a 8 de abril, Mercúrio em bom aspecto com Plutão sinaliza que você estará fascinante (eu sou, não estou fascinante), o que na pior das hipóteses é muito bom para conquistar as pessoas que não lhe dão atenção (pior para elas, evidentemente). Você pode conquistar alguém que parece inatingível (estava a pensar em Ricky Martin). Se você já estiver num relacionamento que valha a pena, é o momento de aprofundá-lo. Mercúrio é o planeta do diálogo e Plutão o da transformação. Mercúrio em trígono com Plutão diz que você, por meio da conversa, pode descobrir diferenças e semelhanças com a pessoa amada que nem imaginava serem possíveis. Com o diálogo você poderá transformar as diferenças em uma ligação que os unirá ainda mais. Termine o mês com um pouco de diversão na companhia de seu par (eu já disse que poste não fala?).

Se casado ou em um relacionamento estável (
nem um nem outro), a primeira quinzena é o momento de viajar com seu amor, e verificar com mais rigor se vocês vão na mesma direção. É possível que haja uma diferença de objetivos e de sentidos, mas nada que uma boa conversa não resolva. Mercúrio em Touro vai ajudar. O feriado da Páscoa é boa desculpa para tirar umas férias do cotidiano e mergulhar fundo nessa descoberta.


Os leoninos a fim de novas paqueras e amores (
eu??? será???) devem ficar de olho nos dias 22 e 26 (no feriado... hummmm...), pois Mercúrio retrógrado traz alguém do passado (não!), e Vênus em aspecto a Júpiter aumenta sua confiança, o que impulsiona uma relação antiga (de 20 anos atrás pode ser?). Para os leoninos comprometidos, esses dias serão de enlevo e sensualidade, bons para curtir os prazeres da vida com tudo a que tem direito, junto ao seu amor (uó!).

Vênus em Gêmeos a partir do dia 26 de abril garante vida social divertida e agradável, com novos amigos e festas (
oba, festa! diversão! bebida!). É um período excelente para retomar contatos com gente que você não via há muito tempo ou que ainda não conhecia. Pessoas novas se aproximarão por meio do seu trabalho, mesmo que não sejam diretamente ligadas a ele. Circule, pois é bem capaz que você conheça alguém que o atraia pela inteligência e versatilidade (devo ir ao espetáculo do Cirque du Soleil, imagino).

Sobre as finanças, este é um mês ótimo para fazer escolhas que podem alterar o curso de sua vida financeira e material. Abril também promete maior focalização nos objetivos e metas profissionais mais importantes. Problemas surgirão e você terá de enfrentá-los com ousadia, inovação e inspiração. Assim, superará todos esses desafios. Recado dos astros para o trabalho: insista em ser maleável e se lembre sempre de seus objetivos principais. Onde estão eles ou onde foram parar? (
acabei de procurar no armário e lá eles não estão; presumo que, junto com o meu diploma, joguei fora alguns desses tais objetivos)

Antigos problemas que pareciam superados podem voltar com toda a força e exigir de você uma decisão definitiva (
ai, meda!). Você terá de organizar as prioridades financeiras e, a partir daí, com bastante apuro e atenção, estabelecer um mínimo de ordem e eficiência nas suas despesas, entradas e saídas (hummmm... esse entra e sai é sempre difícil de controlar) para fazer frente aos gastos inesperados que estão delineados no céu de abril (comprar um carro novo? uma lancha? uma TV de 60 polegadas? um Ermenegildo Zegna?).

Se o terreno financeiro e material anda complicado em abril, você tem prestígio de sobra e pode contar com o apoio de pessoas que conhece por meio da sua profissão. Tenha muito cuidado com sua reputação e evite falatórios que o envolvam a outras pessoas num contexto que tenha relação a sentimentos (
ah! gente faladeira!). Ou seja, deixe o coração de lado na vida pública e para efeito externo, e não misture interesses pessoais com necessidades do trabalho (já sei, já sei: onde se ganha o pão não se come a carne!). Assim, você ganhará (a mesma coisa que Mário encontrou atrás do armário?).

Mercúrio em Touro retrógrado a partir de 19 de abril denota revisões de sua posição profissional, e um chefe pode voltar atrás nesse período, em relação a uma incumbência, tarefa ou poder delegado a você nas semanas anteriores. Avalie com calma.
"

Como você pode perceber, tem desde um amor reservado para mim até o brilho que me é (leonino) peculiar. Terei sobressaltos e assombrosas (não sei se boas ou más) notícias. Terei saúde se me cuidar. Terei isso e aquilo ou isso ou aquilo outro. Tudo o que pode acontecer no mês inteiro, assim como no ano, assim como na década. Agora, me diz: dá para acreditar? Pena que é dia da mentira porque se metade do que foi predito (das coisas boas) acontecesse, eu seria um homem feliz.

Para não celebrar apenas o Dia da Mentira, hoje, 1º. de abril, há pelo menos uma verdade: é aniversário da minha mãe, com quem já falei, obviamente. Parabéns, mãe! Pelo menos alguma verdade há. E que não estava nas previsões desse horóscopo mensal. Somente não sei se, neste caso (das previsões) ter informações privilegiadas de antemão ajuda ou atrapalha. Deixemos abril correr naturalmente.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sonhar é preciso, viver não é preciso

Adapto a frase de Plutarco, "navegar é preciso, viver não é preciso", para o universo dos sonhos. Antes que me corrijam: Plutarco, filósofo e prosador grego que viveu entre 45-120 dC, cunhou essa frase no livro "Vidas", que teria sido proferida pelo general romano Pompeu. Fernando Pessoa apenas a repetiu, conforme o próprio poeta o confirmou. Bem, explicada essa questão literária - e não faz muito tempo eu, que amo demais Fernando Pessoa e heterônimos, acreditava que o poeta português era o autor do verso -, volto aos sonhos.


Tenho estado à volta com os sonhos não é de hoje. É um assunto que me fascina e, como eu tenho facilidade para me recordar dos meus sonhos, lhes tenho investigado mais cuidadosamente de uns tempos para cá.





Por acaso ou não, hoje me chegou às mãos o "Dicionário dos Sonhos" - Zolar - editora Nova Era - 681 páginas. De abacate a zurrar, o dicionário cobre o mais amplo espectro da fase REM do sono. REM significa rapid eyes movement (movimento rápido dos olhos) que é a fase do sono na qual acontecem os sonhos mais vívidos e, talvez por isso, os que sejam considerados mais significativos e, portanto, passíveis de recuperação ao se acordar.


Quando via a edição, corri os olhos (sem REM, porque estava acordado, como você deve supor, e o supõe bem) pelas páginas e procurei logo alguns significados que talvez me sejam mais relevantes. Não digo que acredito no dicionário. Mas também não digo que desacredito. Não sei quais são as bases científicas que pretendem, por exemplo, explicar porque sonhar com Hamlet pode ter a ver com novos ambientes ou com o fato de que você terá seu(sua) parceiro(a) roubado(a) por um(a) rival. Ou porque sonhar com um lenhador pode significar que você terá muito prazer (aliás, até posso imaginar porque, mas acho que nesse caso trata-se de safadeza da minha parte, de Chapeuzinho Vermelho e da vovó).


Freud e Jung bem que tentaram, de forma mais empírica, levar os sonhos para o universo do real. Tenho lido o grandioso livro de Freud - A Interpretação do Sonhos - e muito do que está contido na obra tem validade científica.


Para completar esse nebuloso estado de inconsciência que são sono e os sonhos, por consequência, aos sonhos se agregam muitos elementos da numerologia, que é o estudo das influências e qualidades místicas dos números. Pela numerologia, cada número ou valor numérico é dotado de uma vibração individual que, teoricamente, indica tendências de acontecimentos ou de personalidade. Note que não há evidência científica nenhuma sobre esse tema.


Mas o assunto é mais do que antigo: Pitágoras (sim, aquele do teorema) é considerado o pai da numerologia por alguns numerólogos. Mas o fato é que a numerologia deriva da gematria, um ramo da cabala, que usa o alfabeto hebraico como base. Assim, a numerologia seria uma adaptação dos princípios da gematria para o alfabeto romano. Mas não entendo desse assunto para discorrer fluentemente sobre isso.





Conforme a numerologia, existem dois tipos de números: o número de expressão, que revela as habilidades, aptidões e oportunidades que estão em sintonia com quem a pessoa é e que podem lhe proporcionar mais satisfação, e o número de impressão, que representa como a pessoa é vista pelas outras pessoas, ou seja, com suas características. De forma que a cada letra é atribuído um determinado valor:


1 - AJS
2 - BKT
3 - CLU
4 - DMV
5 - ENW
6 - FOX
7 - GPY
8 - HQZ
9 - IR


Assim, por exemplo, Redneck deve ser desmembrado:


R - 9
E - 5
D - 4
N - 5
E - 5
C - 3
K - 2


Somam-se os números: 9 + 5 + 4 + 5 + 5 + 3 + 2 = 33 e soma-se de novo até reduzir a soma a um algarismo -> 3 + 3 = 6. Portanto, 6 é o número pessoal deste blogueiro, ao menos no codinome.





Sei que, a essa altura, parece uma aula de matemática. Mas retorno aos sonhos e ao referido dicionário. Ao consultar os números, encontrei as seguintes interpretações para os sonhos, conforme o número. Ou seja, se você sonhar com quaisquer dos números abaixo, o sonho significará, conforme o dicionário:


1 - Ambição e paixão
2 - Fim de um romance
3 - Ficará fascinado(a) pela religião (qualquer uma)
4 - Terá grande poder e força
5 - Felicidade no casamento
6 - Perfeição no trabalho (esse é o número pessoal de Redneck, lembre-se)
7 - Será eficiente e ativo(a) durante a vida
8 - Conservação da propriedade
9 - Aflição e inquietação
10 - Felicidade em breve
11 - Enfrentará um litígio
12 - Terá o melhor de tudo
13 - Tratará as coisas com desdém
14 - Sofrerá prejuízos por causa de outras pessoas
15 - Tenderá a ser misericordioso(a)
16 - Felicidade e amor
17 - Desonra e vergonha
18 - Ficará acostumado(a) ao cansaço
19 - Infelicidade
20 - Será rigoroso(a) e severo(a)
21 - Tudo terminará como você deseja
22 - Descobrirá o segredo de um mistério científico
23 - Vingança
24 - Aprenderá um ofício
25 - Nascimento de uma criança inteligente
26 - Os negócios lhe serão muito favoráveis
27 - Será firme e terá boa mente
28 - Receberá amor e afeição
29 - Comparecerá a um casamento
30 - Você se tornará uma celebridade
31 - Está preparado(a) para exercer o poder
32 - Puro(a) em intenções e expressão
33 - Se for homem, será honesto; se for mulher, sofrerá um aborto
34 - Amor pela glória
35 - Harmonia na família e boa saúde
36 - Um gênio nascerá
37 - Afeto entre pessoas que você ama
38 - Terá um desejo excessivo de ganhar
39 - Você sente inveja de outras pessoas
40 - Recepção em um casamento
41 - Reputação abalada
42 - Viagem curta e infeliz
43 - Comparecerá a um serviço religioso
44 - Você se tornará uma pessoa influente
45 - Perda de virgindade (válido para homens e mulheres)
46 - Terá grande capacidade produtiva
47 - Vida longa e feliz
48 - Será julgado(a) em um tribunal
49 - Receberá afeto de pessoa do sexo oposto
50 - Perdão mútuo
60 - Enviuvará, se for mulher
70 - Será apresentado(a) a uma pessoa famosa
71 - Adoração da natureza
75 - Mudança na temperatura do mundo
77 - Receberá favor de uma pessoa amiga
80 - Você se restabelecerá de uma doença
81 - Logo se tornará viciado(a) em drogas
90 - Ficará cego(a) em pouco tempo
100 - Receberá um favor divino
120 - Obterá um cargo governamental
121 - Será louvado(a) pela comunidade
200 - O perigo virá por causa da hesitação
213 - As bençãos virão em breve
215 - A calamidade está por perto
250 - Aquilo que você desejava acontecerá logo
300 - Você se tornará filósofo(a)
360 - Mudança de residência
365 - Os astros estão a seu favor
400 - Fará uma longa viagem
490 - Ouvirá o sermão de um sacerdote
500 - Vencerá uma eleição
600 - Fará tudo à perfeição
666 - Os inimigos estão a armar uma trama contra você
700 - Terá vigor e poder
800 - Será chefe de um Estado
900 - Poderá passar fome
1000 - Receberá clemência
1095 - Ficará abatido(a) por causa de uma prisão
1360 - Sofrerá constrangimento
1390 - Será perseguido(a) em breve


Afe!!! Se acredito? Não sei, pero que las hay las hay. Me ocorre apenas que costumo sonhar com o alfabeto, e não com os números. Não me lembro de ter sonhado com números. Aliás, meus sonhos costumam ser mudos e, até onde posso vasculhar a mente, presto pouca atenção a detalhes do cenário. Sei que se um terço das profecias acima se cumprissem caso sonhássemos com os números, estaríamos muito felizes ou extremamente deprimidos. Ao avaliar os significados, vejo que para toda felicidade há a correspondente infelicidade, inclusive com ameaça de fome, de prisão e de tragédias. Batakorê Ogum, Ogum Iê Meu Pai, Saravá!


sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O meu fio de Ariadne

Em Creta, o Minotauro, conforme a mitologia grega, exigia pagamentos de tributos anuais. O pagamento consistia na oferenda de sete rapazes e sete moças que seriam literalmente comidos pelo Minotauro, que se alimentava de carne humana. O jovem ateniense Teseu, num determinado momento, pediu para ser incluído entre os rapazes. Na cerimônia de entrega dos humanos ao Minotauro, Teseu recebeu de Ariadne, filha do rei Minos, um novelo que deveria ser desenrolado no interior do labirinto, onde vivia o Minotauro. O objetivo de Teseu era matar o Minotauro e usar o fio como artifício de saída pois, sem o fio condutor, o jovem se perderia nas inúmeras entranhas do labirinto. Teseu matou o Minotauro e, com o apoio do fio, encontrou a saída, casou-se com Ariadne e a levou consigo para Atenas.





Há pouco mais de dois anos e meio, eu comecei a tecer um fio de Ariadne próprio. Foi este blog. Esse meu fio de Ariadne, no entanto, foi tecido de dentro para fora: eu estava preso num labirinto e não havia fio algum que me indicasse a saída. Mas fui persistente e um longo emaranhado de fios que pareciam entrecruzar-se sem levar a saídas possíveis começaram a desembaraçar-se um a um e o labirinto, finalmente, começou a ser demarcado. Até que num determinado momento, todo o labirinto estava coberto por fios e, ao não haver mais embaraços, achei a saída, enfim.


Hoje, em conversa longa com uma pessoa querida, à segura distância daquele labirinto que ainda me assusta, tenho dimensão quase que real na minha cabeça do que foi todo o processo de desenrolar novelos inteiros e sair, se não ileso, ao menos com vida (no sentido metafórico) dos inúmeros becos daquela morada de um Minotauro que tomou ares de um gigantesco Ciclope.





O Minotauro, figurativamente, é um boi com aparência humana: touro de Minos. Um touro viril, sexualmente atraente e, portanto, que encerra em si a promessa de energia, força e explosão sexual. Por outro lado, a parte taurina indica violência e uma vontade primitiva de ferir, de machucar. Se na mitologia grega o Minotauro se alimenta de carne humana, devo confessar que o meu próprio minotauro se alimentava de alma humana.


Essa pessoa a quem me referi está num processo bastante similar ao meu. Com uma diferença bastante significativa: ela ainda não sabe que também há, em algum lugar, um fio de Ariadne para começar a ser desembaraçado. Todo o processo é bastante idêntico ao meu e foi com bastante consternação que observei vários (demais até) pontos equivalentes.





O meu êxito ao sair do labirinto aconteceu porque em algum momento, por razões que eu não consigo esclarecer mesmo hoje, sob as luzes algo que difusas daquele passado, eu me dei conta de que havia, sim, uma saída.


E esses processos são degradantes: nos prostram, nos colocam, se for possível, abaixo do fundo do poço. Não basta estarmos no fundo do poço: somos submersos sob a água que está no fundo do poço. Pois que acredito que há, em algum mecanismo de nossas mentes, algum dispositivo que faz com que não sejamos mais nós mesmos. Passamos a ser um outro, irreconhecível. Uma deformação do que fomos. Para emergir do poço é preciso deixar vir à tona também a pessoa que éramos e que, de alguma forma, perdermos para minotauros de almas.


Ao conversarmos sobre isso, eu não soube dizer as fórmulas e as eventuais palavras mágicas que convertem a vítima em herói. Não existe um Teseu que se submete ao hipotético sacrifício e muito menos uma providencial Ariadne a nos conceder a linha que nos guiará no labirinto. Temos que arrancar a linha de nós mesmos.





Ao dar conta, uma vez mais, de quanto foi difícil o meu percurso e avaliar que, passado tanto tempo, eu ainda veja claramente, horrorizado, o passo-a-passo daqueles dias, compreendo, afinal, que, embora eu tenha saído do labirinto, mantive o fio de Ariadne preso nos tornozelos, feito um cordão umbilical a me ligar ao interior daquele obscuro lugar.


Preciso, e portanto tenho que escrever isso porque talvez sejam essas as palavras mágicas a concluir o processo, preciso de uma tesoura. De um teseu-tesoura que rompa o fio. Que me liberte de vez assim como se corta a linha que prende o balão de gás ao poste e que faz com que o balão se perca na atmosfera. A conversa com a referida pessoa me trouxe recordações vívidas. Me trouxe também a convicção de que eu não quero que 2010 seja apenas uma repetição pálida de 2009. Quero que 2010 vibre, que me leve aos ares. Que teseu-tesoura me leve para Atenas.

sábado, 21 de novembro de 2009

A construção de uma diva contemporânea, aka GaGamania

Você já ouvir falar em Lady GaGa? Se não ouviu é porque:


- Não acessa a internet
- Não vê TV
- Não conversa com ninguém
- Não lê, não fala, não pensa, não ouve
- Não vive na Terra


Parece radical mas não é. Lady GaGa diz muito do nosso tempo. De como se constrói uma personalidade nos tempos em que uma celebridade acende-se e apaga-se mais rápido que velas aromáticas de tamanho reduzido.





Abaixo, os clips de 'Bad Romance", "Paparazzi" e "Poker Face" e, mais abaixo, reproduzo um artigo (de autoria do articulista Paulo Nogueira, da revista Época) que achei extremamente pertinente sobre esse mito moderno que se constrói atualmente: tudo é calculado com precisão cirúrgica do marketing moderno. Frases que chocam, aparições especialmente articuladas, discurso agressivo, uso extremamente eficiente das diversas plataformas - internet, TV, mídia em geral. Somente tenho dúvidas sobre a permanência de Lady GaGa quando o fator 'inovação' for superado por uma outra 'celebridade' igualmente construída. Vivemos uma época não de bad romances, e sim de fakesbooks!
















A seguir, a transcrição do artigo:


"A fórmula do sucesso na música pop é a mesma desde que Michael Jackson e Madonna a definiram nos anos 80. A qualidade das canções e da voz, até ali o primeiro e decisivo ponto para o estrelato, tornou-se um item – importante, é verdade – entre vários. O aspirante ao estrelato tem de se vestir de forma extravagante, comportar-se de forma ainda mais extravagante, fazer chegar informações sensacionalmente fajutas às redações de revistas de fofocas, que as repercutirão, e, na hora da turnê, montar superproduções cheias de luzes, efeitos visuais, coreografias bizarras e demais itens que oscilam entre a breguice multicolorida e a arte inovadora de acordo com o olhar de cada um. Michael Jackson, o falecido Rei do Pop, obteve 10 com louvor em todos esses atributos. Para estar presente na mídia ubiquamente, chegou a plantar a lorota de que dormia numa câmara hiperbárica que lhe daria pelo menos o dobro dos anos que ele de fato viveu, ergueu uma casa com um zoológico notável e por algum tempo se fazia acompanhar, nas entrevistas, de Bubbles, um macaco que dançava razoavelmente o moonwalk. Lady Gaga, de 23 anos, seguindo as placas sem perder tempo em recriá-las ou muito menos desafiá-las, chegou, viu, copiou e venceu em 2009.


Seu sucesso transatlântico, histérico, barulhento transformou os demais habitantes do mundo pop em figurantes, incluída aí Madonna, a mãe de todas as replicantes que vieram depois, de Britney Spears a Christina Aguilera. Na metade do ano, Perez Hilton, o fofoqueiro- -mor do showbiz americano, um blogueiro tão estridente quanto as pessoas sobre as quais escreve, disse que Lady Gaga era a Princesa do Pop. De lá para cá, os números formidáveis que cercam Stefani Germanotta, aliás Lady Gaga, nova-iorquina criada em Manhattan e filha de um pai músico, autorizam-na a reivindicar um título ainda mais retumbante: o de rainha.


Pela primeira vez em 17 anos, desde que a revista Billboard lançou o Top 40 das músicas mais tocadas nas rádios americanas, alguém chega ao número 1 com quatro faixas do álbum de estreia. No caso, The fame, com o qual Lady Gaga se apresentou ao mundo, e cuja vendagem mundial ultrapassou 4 milhões de cópias. A primeira canção do quarteto mágico foi “Love game”, a segunda “Poker face”, a terceira “Just dance” e agora, na semana passada, “Paparazzi”. “Claro que chorei como um bebê ao receber a notícia”, disse ela. “Just dance” e “Poker face” foram baixadas mais de 4 milhões de vezes legalmente nos Estados Unidos e têm uma importância histórica na carreira de Lady Gaga: com uma ela virou notícia, “Just dance”, e com a outra, “Poker face”, conquistou as manchetes.


Uma única pessoa, até aqui, passou a fronteira dos 4 milhões de downloads com duas músicas, ela mesma. No momento em que esta reportagem é escrita, Lady Gaga já superou a marca de 20 milhões de singles vendidos no mundo. Uma dose colossal de Lady Gaga está reservada aos admiradores para breve: o álbum duplo The fame monster, com 25 faixas, das quais a primeira já está no ar e toca em todas as partes: “Bad romance”. O primeiro CD terá oito músicas novas, e o segundo é The fame reapresentado. Em 27 de novembro, começará em Montreal sua primeira turnê internacional, The monster ball.


Princesa ou Rainha do Pop? Não são as únicas alternativas diante de Lady Gaga. Em sua curta e fulminante escalada, ela foi alvo de fortes rumores de que não seria, a rigor, mulher. Falou-se, e muito, que ela seria ele. A palavra hermafrodita apareceu com frequência nas reportagens sobre Lady Gaga, e não raro se deu um passo adiante para chamá-la, simplesmente, de homem. Há suspeitas de que ela própria tenha estimulado os boatos, na louca cavalgada em busca da publicidade, a exemplo de Michael Jackson com sua pretensa câmara hiperbárica. O certo é que, durante um bom tempo, Lady Gaga ficou em silêncio enquanto a especulação projetava formidavelmente seu nome. A discussão em torno do sexo começou logo depois que ela fez uma apresentação no Festival de Glastonbury, no verão inglês. A BBC, que promoveu o festival, filmou Lady Gaga. Num determinado momento, ela apareceu no palco deitada de costas numa espalhafatosa motocicleta, e vestida numa microssaia feita para mostrar e não esconder. Ao levantar- -se num gesto teatral da moto, sob gritos frenéticos da plateia jovem e alegre, Lady Gaga foi pilhada por uma câmera que mostrava sua intimidade. Não se viu, naquela fração de minuto, o que em geral se observa nessas ocasiões, mas um volume que, transformado em foto, pareceu suspeito. A foto varreu a internet em todo o mundo e foi exibida como uma suposta prova de que a princesa que se consagrava ali era, na verdade, um príncipe, ou uma mistura de ambos.


O empresário de Lady Gaga atribuiu, sem muita repercussão, a suspeita a uma entrevista que ela concedera, pouco antes, à revista Rolling Stone. Nela, também numa declaração que é difícil precisar se é verdadeira ou apenas destinada à autopromoção, ela afirmara ser “bissexual”. Com um detalhe: jamais se apaixonara por uma mulher. Seu interesse era “puramente físico”, não de alma, mas o suficiente para incomodar e intimidar seus namorados, segundo ela. Daí, de acordo com o empresário, a origem da pergunta sobre se a diva era ou não mulher.


Contribuiu também sua aparência física. Despojada de toda a parafernália que a cobre quase tanto quanto uma burca, Lady Gaga tem traços ligeiramente másculos, e um andar que não fica muito longe disso. Quase não tem pescoço, o que destaca o nariz que evoca o do beatle sobrevivente Ringo Starr. Uma paródia de “Poker face”, que virou sucesso instantâneo no YouTube, tinha o sugestivo nome de “Butterface”. “Não se iluda”, afirmava a letra mordaz. “Ela tem o corpo da Barbie mas o rosto do Ken.” Quando ela enfim apanhou o microfone para desmentir os rumores, suas palavras obedeceram à regra clássica do estrelato no mundo pop: máxima potência, para chocar. “Não fui insultada”, afirmou. “Ofendida foi minha bela vagina.” Ela não tem pretensões a ganhar concursos de beleza, mas diz que está estabelecendo um novo paradigma para a gostosura feminina.


O nome artístico de Stefani Germanotta surgiu do acaso. Seu antigo produtor achava que havia algo do Queen nas composições de Stefi, como ele a chamava. Cantarolava às vezes para ela “Radio ga ga”, um clássico do Queen. Numa ocasião ela assinou uma mensagem para ele como Lady Gaga, e o resto você pode imaginar. Fora Madonna e Christina Aguilera, com cujo professor de canto teve aulas e para quem chegou a escrever canções, seus inspiradores incluem Beatles, David Bowie, Elton John, Queen e Led Zeppelin. Seu quinteto favorito de todos os tempos: “Oh darling”, dos Beatles, “Whole lotta love”, do Led Zeppelin, “Hold on”, de Wilson Philips, “TNT”, do AC/DC, e “Rebel, rebel”, de Bowie. A introdução ao rock veio do pai, Joseph, que tocou em bares e acabou se transformando num empreendedor digital. Foi Joseph quem pôs Lady Gaga para aprender piano ainda menina. Ela fala do pai com devoção. Diz que todo mundo pode chamá-la na rua de vagabunda e outras coisas sem que isso a incomode, mas se o pai fizer uma censura, ainda que branda, eis um problema.


Ele já fez, e foi pesada. Nos primórdios, Lady Gaga tocava em bares de Nova York com trajes que sugeriam mais uma stripper do que uma cantora. Drogava-se, bebia e produzia uma música que, em sua autoavaliação irônica, ela só ouvia porque era ela mesma quem cantava. O pai ficou sem falar com ela. Hoje, ele mostra com orgulho uma nova tatuagem, o raio que aparece no rosto da filha no vídeo de “Just dance”. Quando não está vestida de Lady Gaga, com toda a máquina a seu redor, a Princesa do Pop tem ares mais comuns do que majestosos. Há poucas semanas, ela compareceu a um espetáculo em benefício da comunidade gay e, apenas com o piano e um microfone, tocou “Imagine”, de John Lennon. Foi, com certeza, um dos piores tributos que Lennon recebeu. Ela errou o tempo, a letra e desafinou, como pode verificar quem quiser no YouTube. Não é um grande problema, porque Stefi Germanotta jamais se apresentará nos palcos, para valer, sem estar nos trajes de Maria Antonieta do pop, com um séquito de cortesões que lembra Versalhes pré-1789."







quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A interpretação dos sonhos



Nudez pública: indica o desejo de viver com mais liberdade e menos responsabilidade (conforme Sigmund Freud). Ou, melhor, enseja a vontade de mostrar quem realmente somos.


Água: representa o inconsciente (segundo Carl Jung). Se estamos a nadar tranquilamente, significa que estamos prontos para imergir nas profundezas d'alma.


Nadar: a água representa as emoções. Nadar em piscina e, portanto, em águas calmas, representa que as emoções estão tranquilas.





Foram esses os elementos de um sonho - não-recorrente, posto que não me recordo de o ter tido antes ou, pelo menos, se o tive, não o registrei a ponto de lembrar quando consciente - que tive a semana passada e sobre o qual comentei aqui: eu estava na minha rua, e subia em direção à Avenida Paulista, a duas quadras de casa. A uma quadra da Paulista, encontrei com um rapaz que descia a rua completamente nu. Estava molhado e deixava as marcas dos pés descalços pela calçada.


Eu o abordei e perguntei se havia passado a ser comum que as pessoas caminhassem nuas pelas ruas. Ele me disse que sim, que ali, na Avenida Paulista, 900 (prédio da Gazeta), havia uma piscina gigantesca em algum lugar do prédio na qual as pessoas nadavam despidas, completamente nuas. E que, portanto, era usual que as pessoas nas redondezas caminhassem nuas em público.


E que, ao terminarem suas aulas de natação, saiam assim, nuas, a pé, para suas casas. Fui eu mesmo conhecer a piscina e vi que era verdade. Claro que também eu comecei a nadar nu. E, ao sair da piscina e do prédio, fiz companhia para outros colegas de natação que caminhavam para todas as direções - Paulista, Joaquim Eugênio de Lima, Santos, São Carlos do Pinhal, Campinas, Brigadeiro - completamente despidos, apenas cobertos pela água da piscina que ainda escorria de seus corpos. E o sonho se resumiu a isso, apenas.





Em nenhum momento do sonho houve qualquer situação de conotação sexual, fosse desejo, um olhar sobre os corpos despidos ou algum tipo de tara. Nada disso: as pessoas que se dispersavam nuas juntavam-se aos demais transeuntes vestidos e uns e outros - pelados e vestidos - mal pareciam se notar, assim como ocorre com a multidão que se cruza na Paulista o tempo todo. Vestida, por enquanto.


Me lembrei imediatamente do sonho e, desde então, tenho recordado detalhes: a água que escorria dos cabelos do menino que encontrei primeiro, o decalque dos pés na calçada, a piscina gigante no número 900 da Paulista (aliás, um detalhe: estudei exatamente neste prédio, no 5º. andar, quando fiz a Cásper Libero), a cor esverdeada dos azulejos, a água límpida e as pessoas a tomarem elevadores com pisos apropriados e a total naturalidade em mover-se despidas.





Por isso, procurei explicações. Tenho a faculdade de me recordar dos meus sonhos com bastante frequência. E, em alguns casos, me são muito nítidos. Foi o que ocorreu. Conversei com algumas pessoas sobre isso mas ninguém me deu uma explicação aceitável.


Ontem, terça-feira, fui à fnac resolver uma dúvida com o HD portátil que adquiri recentemente e, claro, não resisti, subi as escadas e fui direto aos livros. Quando entro numa livraria, raramente sei o que quero. Mas pouquíssimas, quase nulas foram as vezes em que saí sem um livro ou diversos nas mãos.





Não foi diferente desta vez: comprei "A Educação Sentimental" - Gustave Flaubert - editora Nova Alexandria - 413 páginas -, numa edição capa dura primorosa. E já ensaiava deixar para trás os livros quando me dirigi à seção das ciências humanas - Filosofia, Psicologia, Sociologia. E é sério! Um dos primeiros livros com o qual me deparei foi "A Interpretação dos Sonhos", de Sigmund Freud.


Ainda circulei por entre as estantes antes de me decidir. Na prateleira imediatamente em frente a este livro, estava a obra completa do pai da psicanálise. Me agachei para olhar - são, talvez, uns 30 volumes, que compreendem a obra completa do psicanalista - e puxei um dos 30 ao acaso. E, sem surpresa, retirei exatamente "A Interpretação dos Sonhos", volume X (acho, não me lembro, que vai até 1900). Porque o volume XI vai de 1901 a algum ano entre 1920 e 1930.





Não havia engano. Relutei, peguei o livro (edição integral, não a edição de volumes em separado) e perguntei ao atendente se havia mais algum livro daquele disponível. Não, me disse, temos apenas este. A minha relutância se devia ao fato do livro estar com aspecto de mostruário. Certamente, outros potenciais clientes o folhearam por curiosidade e o deixaram. Entre minhas manias, está a de comprar livros o mais minimamente manipulados por outras pessoas. Quase livros virginais.


Voltei ao atendente e insisti e comparei com as edições em volumes separados. Ele me disse que aquele volume que eu tinha nas mãos era o único e integral. Satisfeito em derrubar todas as eventuais restrições que eu mesmo havia colocado, saí e me dirigi ao caixa do andar de baixo. Não sem antes comprar, ainda, a revista "Prazeres da Mesa", edição de novembro, que as tenho quase todas.


O livro que agora jaz na minha mesa - folheei repetidamente e não encontrei exatamente o significado do meu sonho - é "A Interpretação dos Sonhos" - Edição Comemorativa 100 Anos - Sigmund Freud - editora Imago - 595 páginas. Me custou R$ 115. Claro que eu já conheço o livro, cuja reputação está amplamente assentada não apenas na área de psicologia e psicanálise, mas no sentido mais amplo do conhecimento popular. Sobremaneira, as pessoas costumam relacionar com relativa frequência Freud aos sonhos. "Freud explica", dizem, quando se esquecem de dizer "Deus sabe o que faz". Portanto, o livro e teor não são desconhecidos para mim.





Desconhecido é o fato de acontecimentos circulares e sem aparente correlação terem se encadeado de forma que, agora, lerei Freud à luz do meu sonho. Ou, melhor, lerei a obra mais querida do autor (assim considerada por ele mesmo) com olhos de lince, a apurar os contornos, entornos e significados expressos ou ocultos de cada oração e parágrafo do livro em busca de respostas. Se não para o sonho que pontifica este post, para outras buscas.


Postulo, com isto - a aquisição do livro -, nada mais nada menos do que respostas que, aparentemente, o consciente não mas têm dado. Talvez o inconsciente o faça. E, se não o fizer e me deixar com as minhas constantes e inquietantes questões, ainda assim me adicionará mais repertório. Nem que seja para encher linhas de textos como essas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sonho de Ícaro

Em visita a um blog malaio - Jejak Habib (Impressões de Habib)-, da cidade de Pekan, região de Pahang, Malásia, que me adicionou por meio do Google Friend Connect, vi as fotos dos homens-voadores reproduzidas abaixo.





(Tatuagem que tenho impressa no meu corpo para que eu não me esqueça de voar)


O evento aconteceu no dia 28 de outubro na capital da Malásia, Kuala Lumpur, e reuniu 98 esportistas radicais que saltaram da torre malaia (construída em 1995 para as comunicações do país, está entre as cinco estruturas mais altas do mundo), num voo de 421 metros. O voo é livre: por alguns segundos, os praticantes de B.A.S.E. jump planam em completa liberdade.




B.A.S.E. jump é um dos esportes mais perigosos do mundo. Não há chance para erros. B.A.S.E. quer dizer Building, Antenna, Span e Earth (respectivamente, prédio, antena, ponte e montanha). Estes são os quatro objetos fixos dos quais os base jumpers saltam. B.A.S.E. jumping também é conhecido como fixed object jumping (salto de objetos fixos). Basicamente, saltar de paraquedas sem estar em voo. A maioria dos saltos é realizada de alturas muito baixas, o que aumenta o risco de forma exponencial. Não há paraquedas reserva, já que na parte dos casos, se houver uma pane no equipamento principal, não haveria tempo para a abertura de um reserva.




Um paraquedas demora entre 3 e 4 segundos para ficar completamente aberto, o que equivale a uma trajetória de 50 metros. Portanto, os esportistas têm cerca de 370 metros para voar, literalmente, até que o paraquedas seja acionado. Não sou bom de cálculo e muito menos detenho conhecimentos sobre paraquedismo, mas estimo que sobrem quase 20 segundos para o voo totalmente livre.



Quando eu fazia a faculdade de administração de empresas (é, sou o homem das faculdades!) em Ourinhos, interior de SP, cidade próxima da minha própria cidade natal, a música abaixo estava completamente em evidência. Me recordo que havia uma fileira de ônibus das mais diversas cidades vizinhas - dos estados de São Paulo e do Paraná - e que, desses ônibus, havia uma turma do Paraná (não sei de qual cidade) que cantava essa música. Eu adorava e sonhava com voos altos. Um adolescente tão iludido por voos.


Hoje não sei se almejo voos tão altos. Sinto que estou com as asas podadas. Talvez por mim mesmo. Quero reaprender a voar, a ter o sonho de Ícaro. Nem que for para cair em queda livre feito os homens da torre da Malásia. Nem que for para ver derreter a cera das minhas asas. Quero o risco. Minhas asas estão doloridas. Não estão amputadas, ainda. Mas talvez estejam em processo de atrofia.


Abaixo, as fotos dos homens-Ícaro que não se furtam aos voos arriscados. Ainda, o vídeo da música da minha adolescência e, mais abaixo, a letra.












Sonho de Ícaro

por Byafra
composta por Pisca e Cláudio Rabello

Voar, voar
Subir, subir
Ir por onde for
Descer até o céu cair
Ou mudar de cor
Anjos de gás
Asas de ilusão
E um sonho audaz
Feito um balão...

No ar, no ar
Eu sou assim
Brilho do farol
Além do mais
Amargo fim
Simplesmente sol...

Rock do bom
Ou quem sabe jazz
Som sobre som
Bem mais, bem mais...

O que sai de mim
Vem do prazer
De querer sentir
O que eu não posso ter
O que faz de mim
Ser o que sou
É gostar de ir
Por onde, ninguém for...

Do alto coração
Mais alto coração...

Viver, viver
E não fingir
Esconder no olhar
Pedir não mais
Que permitir
Jogos de azar
Fauno lunar
Sombras no porão
E um show vulgar
Todo verão...

Fugir meu bem
Pra ser feliz
Só no pólo sul
Não vou mudar
Do meu país
Nem vestir azul...

Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...

Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...

Do alto, coração
Mais alto, coração...

Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...

Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...

Do alto, o coração
Mais alto, o coração...



segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O ridículo das religiões

Há dias que algumas coisas nos são entregues assim, de supetão. Tanto melhor. Como assinante da TV paga brasileira, devo dizer que o serviço é ruim: caro, cheio de repetições sem fim de filmes e séries, com mais breaks do que conteúdo (exceto pelos canais premium) e, a despeito da centena de canais, há momentos em que, definitivamente, não há nada de útil para se ver.


Entre um zapear e outro interminável pelo mar de canais, de repente, me deparei com "Religulous" ("Irreverente", no Brasil, na péssima tradução). O misto de documentário/comédia é uma produção de 2008 protagonizada pelo comediante norte-americano Bill Maher e dirigida por Larry Charles (por referência, é o mesmo diretor de "Borat"). O título original do filme deriva das palavras inglesas 'religion' e 'ridiculous' (religião e ridículo, respectivamente). Assim, o documentário/comédia se propõe a analisar e satirizar a religião (todas) e as crenças religiosas (todas).





Para isso, Bill Maher vai a lugares como Jerusalém (católicos, muçulmanos e judeus), Vaticano (católicos) e Salt Lake City (mórmons) e entrevista, entre outros:


- A mãe e a irmã.
- Um ex-satanista.
- Um franciscano que diz que a homossexualidade é aceitável segundo a Bíblia.
- Um pastor cujo objetivo é ajudar as pessoas a superar sua homossexualidade.
- Um cientista a quem é creditada a descoberta de um gene gay.
- Um jornalista secular.
- Um senador democrata dos EUA.
- Um criacionista.
- Um rabino.
- Um profeta que se diz a reencarnação de Cristo.
- Uma política holandesa.
- Um rapper britânico muçulmano.
- Um ativista radical judeu.
- Os proprietários de um bar gay muçulmano de Amsterdã.


Não vou entrar no mérito dos métodos de Bill Maher. O comediante não é truculento com os entrevistados. Ao contrário, prefere, algumas vezes, retirar-se. Mas a edição do filme eu achei brilhante porque anula os fundamentos das religiões seculares. E mostra a falta de consistência para subsidiar a fé do humano no divino. Não que eu precise de mais elementos os quais eu mesmo tenho capacidade de avaliar. Mas é de uma clareza, para mim, bastante elucidativa.


Principalmente quando mostra, em Dorset, na Inglaterra, a figura de um gigante  - o Cerne Abbaa Giant, The Rude Man, que está incrustado na montanha e seria símbolo de fertilidade (veja a foto e o tamanho correspondente do órgão genital do Rude Man). Esse gigante, embora não se saiba sua origem, têm sido praticamente objeto de culto na região e também por visitantes há milhares de anos. O comediante chama a atenção para o fato desse culto se assemelhar a uma religião porque, embora as pessoas não saibam dizer porque tal figura existe, continuam a cuidar da vegetação e da própria incrustação porque 'sempre foi assim'.





Obviamente, esse argumento é por demais simplista para correlacionar fé e religião. Mas coincide com um argumento que me é muito mais caro: os gregos e romanos adoravam a vários deuses; os gentios adoravam bezerros de ouro; os índios brasileiros adoravam (e talvez alguns ainda o façam) o sol, a lua e o trovão como deuses. Todos esses povos eram politeístas (vários deuses). As religiões monoteístas (um só deus) nasceram da necessidade dos líderes (políticos) de canalizar a fé das pessoas numa só direção, voltada sobretudo a objetivos políticos que se movem - e à fé do humano - conforme seus interesses. Caso mesmo dos muçulmanos, dos cristãos, hindus e tantas outras crenças.


Na faculdade de jornalismo, tive uma professora de antropologia com o qual eu debatia essa necessidade do humano em ter acesso ao divino. A explicação nunca foi totalmente conclusa para mim mas girava em torno do fato de nos exasperarmos ante nossas próprias limitações e, pior, ante nosso próprio fim com a morte. Para não ficarmos submetidos a esse triste e inglorioso fim (ou, no caso dos povos politeístas, por não dominar o conhecimento dos elementos naturais), inventamos o místico.


De qualquer forma, o filme é bastante claro e cabe a cada telespectador, na medida da sua fé - ou falta de - concordar ou discordar dos argumentos do comediante. Eu gostei e concordo. Abaixo, um pequeno trecho do filme.





terça-feira, 20 de outubro de 2009

Bedtime or bad time stories: histórias que contam para os adultos dormirem

Histórias para dormir (bedtime stories) ou provocar pesadelos (bad times)? Sabe as velhas canções de ninar? 'Nana neném que a cuca vem pegar, papai foi pra roça, mamãe pro cafezal..." (pode haver variações). Ou a outra: 'Boi, boi, boi da cara preta...'. As histórias têm fundamentos mitológicos e esses mitos estão longe de serem inocentes.





A primeira canção - 'Nana neném...' - pode muito bem significar que a 'cuca' é um monstro pronto a te engolir. O significado sexual é de algo que, antes de te penetrar, te absorve, de forma carnal e visceral. A segunda canção - 'Boi, boi...' - pode remeter diretamente ao mito do Minotauro, do ser com corpo de homem e cabeça de boi, também com forte significado sexual. Ambas são de possessão.






Isso não é uma divagação minha e tampouco o argumento é novo. Qualquer leitura aprofundada de contos de fada (fairy tales), com recorte psicológico, sempre demonstrará que há uma pulsão sexual a mover cada historinha que, aparentemente, é infantil. Mas as histórias infantis são, na maior parte das vezes, de alta carga sexual e, de forma surpreendente, se analisadas, bastante cruéis. Basta lembrar as histórias tradicionalíssimas sempre com uma moral (um aprendizado) a concluí-las.






De forma que, embalados que fomos pelas canções de ninar desde os mais tenros anos, nos acostumamos a fantasiar com 'cucas' e 'bois de cara preta' como entes monstruosos. Que podem ser tanto o feminino (cuca) quanto o masculino (boi) a nos atormentar, precocemente, como duas entidades ao mesmo tempo apavorantes e excitantes.






Tanto que, se bem me lembro, dormíamos com um olho aberto e outro fechado. Medo? Sim, claro. Não havia consciência crítica o suficiente para separar a realidade da fantasia. Mas, ao mesmo tempo, talvez pairasse no ar uma certa expectativa de que ambos os 'monstros' convidados a partilhar de nossas inconsciências sonolentas realmente viessem. Como se olhássemos por entre os dedos.






Incapazes de nos conter ante o pavor e, por um comportamento que é tipicamente humano, potencialmente preparados para o ataque primitivo que seria encetado por tais monstros. Querer e não querer. Temer e desejar.







No final, o desejo ficava por detrás das imagens que projetávamos. Um desejo secreto, guardado no nível do inconsciente. Há um livro, 'A Psicanálise dos Contos de Fadas' - Bruno Bettlheim - editora Paz e Terra - 440 páginas, que aborda bem essa questão do imaginário infantil criado de geração em geração à base de mitos.






Claro que nossos pais não sabiam que, ao transmiti-los, estavam a passar adiante, como receberam, códigos e significados que, se aparentemente não passavam de tolas fantasias, no fundamento continham uma simbologia que, por fim, remeteria a questões ditas adultas: sexo, violência, dominação, força, coerção, luxúria, desejos etc. etc.





Assim se dá que as bobinhas histórias que nos contam quando crianças para ir dormir (durante a fase diurna da vida), à noite (fase noturna) essas histórias convertem-se em sonhos do tipo bad. E bad não com a conotação de ruim. E sim com a conotação de 'malvados', quiçá 'sujos', do tipo que assanham, que atiçam e fomentam desdobramentos outros. É quando as bedtime stories passam a ser bad time stories.


Parte disso sempre esteve evidenciado de uma certa forma por revisitas a certos personagens simbólicos de gerações e gerações de crianças. Assim é que Chapeuzinho Vermelho, criança, é uma meiga netinha. Adulta, entende exatamente o 'crescimento' do lobo e consequências advindas desse fato. Oras, o cinema explora isso há muito tempo.





Em continuidade a essa tradição de tirar do mito infantil a áurea de intocável não é de se surpreender, portanto, que a matriarca dos Simpsons, Marge Simpson, em comemoração aos 20 anos do desenho norte-americano, 'resolva posar nua' para a Playboy igualmente norte-americana. Do outro lado do mundo, em Israel, o artista David Kawena fez a mesma coisa e deu conotação sexual a alguns dos personagens de sangue azul da Disney. Príncipes, heróis e imperadores estão para lá de calientes na versão homoerótica de Kawena.


No caso de Marge Simpson, o desnudamento da personagem, na atual cultura pop, era até mesmo esperado. Já a releitura de alguns dos personagens mais famosos da Disney - Aladin, Peter Pan, os príncipes de Zárnia, Troy Boltcon (de High School Musical), Tarzan etc. - reafirma, no entanto, essa vontade de romper com padrões. E de fazê-lo da forma mais voraz: pela leitura erótica.


Recuperam-se, por esse registro, os antigos mitos da infância (e eu falei de mitos e canções brasileiros mas basta mudar as letras e os personagens; tudo o mais será semelhante) revisitados por adultos que ouviram e maturaram esses mitos até dar-lhes, afinal, a conotação sexual que lhes pertencia desde o início. E quem quiser que conte outra.




segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Minotauros, lobisomens e vampiros

De repente, uma conjunção, astral por certo, reuniu minotauros, lobisomens e vampiros de uma só vez, tal qual um festival de criaturas mitológicas que, volta e meia, povoam nossas mentes. Talvez por ser agosto, se me permite, que é o mês mais propício para a abertura do selo às bestas-feras ou sei lá por que outros mecanismos, o fato é que esses seres estão por aí, juntos.


(Brad Pitt é 'Louis' e Tom Cruise é 'Lestat' em 'Entrevista com o Vampiro', ambos em modelitos vitorianos; Brad está algo afetado; talvez sejam os caninos)

Os primeiros são os minotauros. Em roupagem moderna, são touros. Mais especificamente, são Toros. Na verdade, Del Toro. O primeiro é Guillermo Del Toro, autor (em parceria com Chuck Hogan) de "Noturno", primeiro livro da "Trilogia da Escuridão", que traz os terceiros referidos na segunda linha do post, os vampiros, à tona. Para quem não se recorda, Guillermo é o diretor do filme "O Labirinto do Fauno" (mais um ser mitológico, portanto). Daí que não precisei de muito esforço para juntar minotauros (e labirintos) aos vampiros e lobisomens.


(Robert Pattinson é "Edward" e Taylor Lauther é 'Jacob" em 'Crepúsculo'; o primeiro, um queer vamp, digamos; o segundo, um muscle vamp)

Esqueça "Twilight" (Crepúsculo). Esqueça "Lestat" ("Entrevista com o Vampiro", "O Vampiro Lestat", "A Rainha dos Condenados"). Esqueça até mesmo "True Blood". Em "Noturno", o vampiro é criminoso, não é atraente e muito menos o ser sexual vivido por Brad Pitt, Tom Cruise ("Entrevista"), Robert Pattinson, Taylor Lautner ("Crepúsculo") e Stephen Moyer e Alexander Skarsgård ("True Blood"). No livro de Del Toro, os caninos são outros. E letais. Ahh! Repare que no cinema, na literatura e na TV, sempre são dois os vampiros. Humm...


(Stephen Moyer é 'Bill", o vampiro-mocinho; Alexander Skarsgård é 'Eric', o vampiro-loura má; o segundo é o chefe-criador do primeiro em 'True Blood')

O segundo minotauro é outro Toro. Benicio Del Toro será protagonista na refilmagem de "O Lobisomem" (o original é de 1941), que tem também Anthony Hopkins e Emile Blunt.

Os touros, ops, os Toro não têm parentesco, como eu já disse antes neste blog. Guillermo Del Porto é natural de Porto Rico e Benicio Del Toro é natural do México. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, inclusive, Benicio Del Toro disse que não apenas não era parente de Guillermo como, inclusive, era mais bonito do que ele. Se bem que, mesmo sob os pelos de um lobisomem, Benicio ainda leva vantagem sobre Guillermo, me parece. O filme deve estrear em fevereiro do ano que vem.


(Benicio Del Toro em refilmagem de 'O Lobisomem')

O certo é que, com todas essas feras à solta, alguma coisa está fora da ordem. Por enquanto, garanto que não sou eu. Que as minhas feras estão presas. E contidas. Ainda.

Aproveito para postar um vídeo de outro lobisomem cuja morte foi atribuída, nesta segunda-feira, a uma dose letal de anestésicos. E lá se vão dois meses da morte de Michael Jackson. Na verdade, a única besta-fera real é o tempo, pois!



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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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