O Original de Laura
Mais do mesmo: um neurologista brilhante, mas fisicamente pouco atraente, deprimido pela infidelidade da esposa mais jovem, pensa em cometer suicídio. Abordei essa palavra aí atrás ontem, ainda. Mas aqui é ficção: acontece agora, no dia 17 de novembro, o lançamento de um livro inédito de Vladimir Nabokov, 32 anos após a sua morte. O livro sai nos EUA (pela Knopf/Random House) e na Grã-Bretanha (Penguin), depois de 30 anos de hesitação do filho do escritor, Dmitri, que detém os direitos sobre a obra.
Nabokov, conhecido mundialmente por ser autor de "Lolita", havia dado instruções para que os originais fossem queimados após a sua morte, o que nunca foi feito. Acho engraçado isso de as pessoas deixarem instruções para destruir documentos, papéis, cartas e manuscritos. Se a pessoa quer que sejam destruídos, e não 'vazem' para a posteridade, basta ter em mãos um palito de fósforo e algo próximo de uma pira e proceder ao pequeno incêndio de sua obra. Mas, quando se trata de escritores, tenho por mim que a vaidade fala mais alto e o próprio criador é incapaz de dar fim àquilo que criou.
Assim como acontece com "O Original de Laura" ("The Original of Laura"), Nabokov também quis queimar os originais de "Lolita" e foi impedido pela esposa. Em 1955, "Lolita" daria ao autor fama universal e ao mundo um novo significado da palavra 'ninfeta'. Os manuscritos de "O Original de Laura" foram trancados no cofre-forte de um banco na Suíça em 1977, quando o autor faleceu. São 138 cartões (em papel cartolina) definidos pelo próprio escritor como incompletos. Nabokov disse que depois preencheria os vazios. Obviamente, ou não deu tempo ou o escritor preferiu relegar o livro aos arquivos.
A Penguin Classics deve reproduzir os 138 cartões e transcrevê-los numa espécie de edição manual-industrial. Um dos editores da Penguin disse que o livro é engraçado e sombrio e que explora o "ódio a si mesmo e a vontade de desaparecer". Fúnebre, não?
Como o livro não sai agora no Brasil (espero que saia em breve), fiz o post fora da rubrica "The Book Is On The Table", que costuma assinalar apenas os livros que li, e não as postagens sobre livros os quais desconheço. Porque estar sobre a mesa significa, literalmente, estar sobre a minha própria mesa.