Coincidências existem?
Destino, sorte, probabilidade ou coincidência são, em simultâneo, complementares e completamente diversos entre si. A uns a sorte e o destino explica tudo. Para outros, coincidências não existem. Apenas a probabilidade, com suas intrincadas leis matemáticas, age no universo. E você, no que acredita?
Eu não consigo me definir pela razão da ciência e tampouco me deixo levar por ações de seres divinos que, teoricamente, estariam por detrás de todos os eventos humanos.
Rio Grande do Sul, 2009. Entre janeiro e março deste ano, num espaço de menos de dois meses, dois fatos, certamente, marcarão a região.
A cidade é Porto Alegre e dois homens compartilham o fato de serem colegas de trabalho e de terem o mesmo nome, Lucien. O nome é incomum e, atraídos pela curiosidade recíproca, Lucien Reis, 54 anos, e Lucien Lima, 22 anos, descobrem que são pai e filho.
(Lucien e Lucien se descobrem pai e filho 20 anos depois)
Em Panambi, outra localidade gaúcha, Tiago Pinto, 28 anos, e André Baal, 23 anos, ambos nascidos no dia 25 de novembro, também são colegas de trabalho. Do coleguismo, nasce a amizade e ambos tornam-se sócios. Ao formalizar a sociedade, descobrem nos documentos que são irmãos.
Em ambos os casos, as histórias são confirmadas pelas respectivas mães dos três jovens.
O mito de pais e filhos separados não é novo. O que me chama a atenção é que, em ambos os casos, os protagonistas poderiam passar uma vida inteira sem saber da existência um do outro. Mas, o acaso ou seja lá o que for, os uniu e fez com que descobrissem fatos que, tenho convicção, por outra via, poderiam jamais vir à tona.
Nos dois casos, faço uma relação com três personagens literários.
O primeiro é com Lucien Chardon, que protagoniza "As Ilusões Perdidas", de Balzac. Chardon é um jovem poeta que decide deixar o interior da França e viver em Paris para trabalhar e tentar tornar-se escritor. Para sobreviver, Lucien Chardon trabalha como jornalista e, aos poucos, descobre que a imprensa não tem nenhum vínculo com a ética e a verdade. Por vias que nós, expectadores de ambos os Lucien de Porto Alegre, não entenderemos - e que não veem ao caso -, faltou à história de ambos a verdade e a ética que também faltavam a Lucien Chardon. Mas, ao contrário de Chardon, em que as ilusões foram perdidas irremediavelmente, Lucien pai e Lucien filho de Porto Alegre encontraram mais do que ilusões. Encontraram uma vida perdida. Ou é correto afirmar que a vida os encontrou?
(Tiago e André se descobrem irmãos 23 anos depois)
Para os irmãos de Panambi, a analogia é com os apóstolos homônimos André e Tiago. Na Bíblia, ambos são pescadores. André foi o primeiro entre os doze a ser chamado por Jesus para ser apóstolo (que significa 'enviado'). André era irmão de Pedro. Tiago também está entre um dos primeiros a compor os 12 e era irmão de João, o Evangelista. No contexto bíblico, os apóstolos André e Tiago foram "fisgados" e, da condição de pescadores, passaram a ser 'peixes' na 'malha' do mito de Jesus. Na vida real, os gaúchos André e Tiago foram 'fisgados' por várias redes - trabalho, amizade, sociedade - até terem suas tramas enredadas também de forma inequívoca como irmãos de sangue.
Por ora, deixo este post como um registro de fatos e com uma questão pendente sobre a lei das probabilidades, as certezas, verdades e o absoluto desenrolar da vida cujo fio está sempre a nos escapar.
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