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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O cliente sempre tem razão

No domingo, defendi que as redes sociais exercem papel limitado no levante árabe que começou na Tunísia, passa pelo Egito e deve fazer estragos em mais uma dúzia de nações entre o Oriente Médio e a África.


E creio mesmo nisso. Facebooks e Twitters da vida agem, nessas sociedades dominadas por governos déspotas, apenas como ferramentas iniciais. Depois, é como se o povo pegasse a própria revolução pelas mãos e a conduzisse. Sem redes sociais. E sem redes de proteção também.


Mas, se existe um caso - limitado, claro, a sociedades nas quais é possível se manifestar livremente - em que a internet - e redes sociais - definitivamente consegue colocar o cidadão consumidor com a boca no trombone, e que trombone!, é quando a pessoa, qualquer que seja e desde que tenha um mínimo de informação e acesso, se posiciona publicamente por meio das redes - que pode ser um vídeo no YouTube, uma postagem no Facebook ou no Twitter ou até mesmo o estabelecimento de um blog - e consegue se fazer notar pelas marcas.


Dois casos - um brasileiro e outro norte-americano, com os respectivos vídeos postados abaixo, ilustram isso. No caso do Brasil, o consumidor adquiriu uma geladeira Brastemp e depois de três meses de problemas, sem a respectiva solução, resolveu postar um vídeo e alardear todo o tratamento que a marca lhe deu (e não deu, principalmente). O resultado é que o barulho repercutiu tanto que a Brastemp teve que tomar providências. Algo tardias, registre-se. O vídeo, postado no final de janeiro deste ano, tem mais de 420 mil visualizações. Mas, esse caso abre um excelente precedente para o consumidor e também é um alerta para as marcas - todas, de todos os segmentos - que continuam a tratar consumidores como se fossem lixo.


No caso norte-americano, um músico gravou e postou no YouTube um engraçado vídeo no qual relata como foi maltratado pela United Airlines. Lá, a repercussão foi ainda maior e fez com que algumas normas dentro da companhia aérea fosse alteradas. Postado em julho de 2009, o vídeo já contabiliza mais de 9,9 milhões de visualizações. Obviamente, a imagem da United Airlines nunca mais foi a mesma depois disso.


Ao ler o jornal, descobri que existe um termo que designa esse tipo de comportamento pelo qual o consumidor usa os meios sociais para se fazer ouvir, quando os canais convencionais - atendimento, lojas físicas, e-mails ou qualquer outro - já não são suficientes para lhe dar respostas. O conceito é denominado "consumer generated media - CGM" (mídia criada pelo consumidor) e foi cunhado pelo marquerteiro Pete Blackshaw, autor do livro "O Cliente É Quem Manda". Trata-se de como, no mundo da internet e das redes, as empresas devem interagir com esse usuário midiático que tem a ferramenta (redes sociais) nas suas mãos para produzir conteúdo próprio (seja uma reclamação ou qualquer outro conteúdo).


Creio que estamos longe ainda de um mundo ideal em que seremos respeitados pelas marcas e empresas das quais consumimos a produção. Para finalizar, eu mesmo fui vítima de como uma empresa (ou marca) deixa a desejar quando se trata de qualidade. A marca em si, American Airlines, atrasou, no conjunto de voos, quase quatro horas e não foi capaz de se explicar e nem ao menos oferecer água ou qualquer outro conforto para os passageiros. Eu bem poderia ter tido a ideia, durante o tempo em que fiquei confinado na minúscula poltrona da classe econômica, de registrar com o meu telefone e postar depois no YouTube. Seria mais um CGM a ilustrar o desrespeito generalizado das marcas com seus consumidores.







sábado, 27 de novembro de 2010

Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós

Uma moradora, singelamente, se aproximou da repórter e lhe entregou uma caixa de fósforos. Não quis se identificar e saiu rapidamente. A repórter abriu a caixa de fósforos e dentro havia uma carta de agradecimento aos oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Marinha e passagens do samba-enredo do Carnaval de 1989 da escola de samba Imperatriz Leopoldinense (veja vídeo da música abaixo).





Esse é o trecho, entre tantos, que destaco da ocupação das favelas cariocas pela polícia e Forças Armadas, ou seja, pelo Estado. Porque foi o Estado que deixou isso acontecer e agora precisa agir como se fossemos uma representação de Israel e Palestina, com ocupações de territórios e intifadas.


As pessoas, como a moradora acima, comemoram, agradecem, rezam e acreditam que, agora, o Rio de Janeiro estará livre da pestilência do narcotráfico. Em ação cinematográfica que já dura dias, a ação policial e militar tem sido chamada de "Tropa de Elite 3", como se fosse a continuação do filme que alça a polícia carioca - e o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) - a patamares inimagináveis. O filme, aliás, consagra o comandante do Bope como um verdadeiro herói.


E herói foi uma das palavras escritas pela moradora no bilhete da caixa de fósforos. Mas, por que heróis, se são apenas agentes desde sempre destinados a nos proteger? E por que o Estado deixou a situação da cidade mais linda do Brasil (e quiçá do mundo) chegar neste estado?


Não vejo como heróicos os avanços no Rio de Janeiro. A imagem mais significativa até agora foi a da debandada de bandidos da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão (que reúne 15 favelas): tudo registrado pelas câmeras da TV (vídeo abaixo). Os bandidos, longe de se constrangerem, acenavam com as armas para mostrar o eventual poder de fogo que têm.





A explicação para o estado de abandono em que se converteram as favelas do Rio (e de São Paulo, do Recife, Salvador, Fortaleza, Manaus...) é uma só: aonde o Estado não exerce o papel de Estado, outros o farão. No Rio, além dos bandidos do narcotráfico, as pessoas ainda convivem com as milícias, que, na minha opinião, não diferem em grau algum dos bandidos. Pois que milícias não são um poder constituído. São ilegais e, portanto, estão à margem do Estado de direito, assim como estão os marginais.


Não, não celebro ao ver a transmissão em tempo real dessa peculiar Guerra do Golfo brasileira. Me entristeço. Porque estamos a celebrar como se fosse um salvo-conduto para um novo mundo. Obviamente, isso não ocorrerá porque a raiz continua podre. A superfície pode até parecer limpa. Mas, se o subterrâneo que alimenta a raiz não for eliminado, nada mudará. Será apenas o clamor desta operação. Porque o fundamento tem raízes profundas em toda a estrutura desta que se quer uma Nação, que se quer um ator global, com influência no mundo civilizado.


Trabalho ao lado de um outro complexo de favelas em São Paulo. São as favelas do Jaguaré - Rocinha, Moinho, Diogo Pires, Nova Jaguaré (considerada a maior de São Paulo) e outras que nem se sabe ao certo os nomes. É o Complexo do Jaguaré. Eventualmente, à tarde, ouve-se o pipocar de fogos na região das favelas. No Brasil, qualquer um de nós sabe que é o sinal para avisar que novos carregamentos de drogas chegaram. Isso acontece em qualquer lugar do País, inclusive na minha cidade natal que tem, ela própria, a rua do narcotráfico.


Não importa para onde se olhe, portanto, a capilaridade da violência é superior a qualquer outro sistema no Brasil. A violência - drogas, armas, roubos, assassinatos - tem densidade mais alta do que a água, a luz, o telefone, os esgotos. É o maior feito desse País: a inclusão social pela violência. É apenas nesse nível que, verdadeiramente, somos, classes A, B, C, D e E, todos iguais, enfim, sob as asas que se querem da liberdade, mas são, verdadeiramente, da violência.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Se você for, diga que é!

Vi no blog do Eros e reposto aqui para aumentar essa corrente. A campanha é da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e defende a contagem de todas as formas de ser um ser humano. O Censo Demográfico 2010 começou neste domingo, 1º. de agosto. Abaixo, reproduzo o conteúdo da campanha da ABGLT:




"No Censo Demográfico 2010 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai contar também casais homossexuais.


Neste sentido, a ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – estará recomendando a todas as 237 afiliadas que incentive através das Paradas LGBT, das redes sociais da Internet, e em todos os eventos, a divulgação da seguinte frase "IBGE ... SE VOCÊ FOR LGBT, DIGA QUE É !"


Pela primeira vez em todo o Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai contabilizar casais homossexuais no Censo Demográfico 2010. A proposta do instituto é trazer informações atualizadas de acordo com as mudanças da sociedade brasileira nos últimos anos.


“No passado nós só perguntávamos se eram cônjuges. Hoje nós abrimos para cônjuge do mesmo sexo e cônjuge de sexo diferente”, explica o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes.


Só vão ser contabilizados os casais homossexuais que declararem, no questionário de perguntas, que moram no mesmo domicílio em união estável. O IBGE já utilizou questionários com questões sobre a união estável homossexual em alguns municípios, mas esta será a primeira vez que a pesquisa envolve todas as cidades brasileiras.


Mas para o coordenador técnico do censo do IBGE, Marco Antônio Alexandre, a mudança não foi feita com o objetivo de revelar o percentual homossexual da população brasileira, até porque nem todos vivem em união estável.


O Instituto vai visitar 58 milhões de domicílios em 5.565 municípios. “Quando os(as) recenseadores(as) baterem em sua porta e você for “casado(a)” com uma pessoa do mesmo sexo, diga que é. É importante que nós ativistas e governo tenhamos dados concretos para construirmos políticas públicas”, disse Toni Reis, presidente da ABGLT.


A Contagem da População pelo IBGE em 2007, realizada em cidades pequenas, identificou, pela primeira vez, 17.560 pessoas que declararam ter companheiros do mesmo sexo. Desse total, 9.586 homens se declararam cônjuges de companheiros do mesmo sexo, o mesmo ocorrendo em relação a 7.974 mulheres."


terça-feira, 25 de maio de 2010

Cidade limpa

Eu não gosto nem um pouco do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Arrogante, eleito pela maioria, costuma falar mais do que a boca lhe permite e fazer o que lhe dá na veneta sem pensar que há mais de 10 milhões de cidadãos aos quais deve o mínimo de respeito.


OK! Acabei de secar o veneno e, recomposto, reconheço o mérito do prefeito ao implantar com sucesso a Lei Cidade Limpa, a que tirou do espaço visual todo tipo de publicidade que atravancava a paisagem já confinada dessa cidade.




(Mudança da paisagem depois da aprovação da Lei Cidade Limpa, que vigora desde janeiro de 2007)

Hoje, segunda-feira, 24, mais um passo foi dado para que tenhamos uma cidade mais limpa. Não temos uma cidade exemplar, nos níveis alemães, mas com muita paciência e dedicação, poderemos, futuramente, cuidar com um pouco mais de carinho dessa imensa metrópole que é, afinal, a casa de cada um de nós, dos mais de 10 milhões de habitantes que aqui vivemos.




(Mais um exemplo da calma visual que a Lei Cidade Limpa criou com a extinção da publicidade excessiva)

A Câmara Municipal aprovou o projeto de lei que fixa em R$ 12 mil o valor da multa a quem for pego no ato de atirar entulho e lixo nas vias públicas. Antes, essa multa era de apenas R$ 500. O próximo passo é a segunda votação e, se passar pelos vereadores, vai para a sanção do prefeito Gilberto Kassab. O prefeito tem centenas de defeitos mas defende uma série de iniciativas, como essa, para tornar a cidade um pouco mais aprazível aos nossos olhos e corpos. Pelo menos esse crédito, por enquanto, eu lhe dou.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Vai indo que eu não vou

"Vai indo que eu não vou" pode, perfeitamente, ser uma expressão de troca de gentileza entre os motoristas da cidade de São Paulo. Pode, por outro lado, provocar ainda mais a ira dos habitantes dessa grande cidade que, em 2009, tinha mais de 11 milhões de moradores e mais de 6 milhões de carros, numa proporção de mais de um carro a cada 2 moradores. "Vai indo" indica que eu desejo que você se mova, se locomova, se adiante a mim no caminho. "Que eu não vou" significa dizer que ninguém vai, ainda que eu e você desejemos avançar.




É assim: nas duas últimas semanas, depois de quase quatro anos afastado do insano tráfego da cidade de São Paulo pelo singelo motivo de trabalhar em casa, tenho saído de carro quase todos os dias nos mais diferentes horários. Claro que não me passa desapercebido o quanto o trânsito em São Paulo fica, ano a ano, mais caótico. Mas a minha percepção não foi ampla o suficiente para a realidade que encontrei: não teve dia ou hora em que eu não ficasse parado, com raiva e, por fim, frustrado por não conseguir fazer metade do que havia programado exclusivamente em função dos congestionamentos da cidade.


Entre 2001 e 2009, ou seja, em apenas oito anos, a frota de veículos na cidade de São Paulo aumentou quase 50%: foi de pouco mais de 4,1 milhões de veículos para 6 milhões de carros. A essa ampliação, obviamente, não correspondeu, de forma alguma, a expansão das artérias urbanas da cidade. São Paulo não comporta mais ruas ou extensas avenidas. O que está feito, está feito. E as velhas soluções de viadutos e recortes de ruas ou avenidas, claramente, não têm sido suficientes para mudar esse cenário.




Está em fase de inauguração o chamado "anel viário" que ligará, feito um círculo, as principais vias de acesso a São Paulo, tanto de estradas federais, quanto interestaduais e estaduais. Os especialistas e defensores dessa obra defendem que, ao tirar os veículos pesados de circulação no perímetro urbano de São Paulo (esses veículos serão proibidos de trafegar dentro dos limites do município), o trânsito responderá imediatamente e nos sentiremos, todos, desafogados. Não acredito nisso. 


Nos dois primeiros meses deste ano, foram vendidos, no Brasil, quase 400 mil veículos, um aumento de cerca de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. A cidade de São Paulo foi castigada, este ano, por 44 dias ininterruptos de chuva, o que contribuiu para sucessivas quebras de records de congestionamento: 111 Km, 156 Km, 189 Km, 211 Km, 217 Km. No ano passado, houve um record histórico: 293 Km de congestionamento das vidas da cidade, no mês de junho.




O transporte coletivo, primeira alternativa ao veículo próprio, no entanto, não é uma alternativa: minha faxineira, que vem uma vez por semana, gasta, algumas vezes, 4 horas para se locomover do Jardim São Luís até o Jardim Paulista (distantes cerca de 20 Km). Quer dizer, ela consegue se mover 5 Km/hora! Se conseguisse caminhar essa distância a pé, faria o mesmo percurso em pouco mais de 6 horas (a uma velocidade média de 3 Km/hora, que é a medida normal de caminhada). Sim, demoraria mais mas, certamente, seria mais saudável, já que a cada 15 minutos de caminhada, uma pessoa pode queimar até 35 calorias. Não, não sou um déspota para sugerir que ela deveria vir a pé. Somente quero dizer que, ao passo (sem trocadilhos) que um ônibus avança 5 Km/hora, uma pessoa avança 3 Km/hora. Se viesse a cavalo (velocidade média de 12 Km/hora), ela chegaria em menos de 2 horas!!!




Aposentemos, pois, os carros de São Paulo e vamos a cavalo, todos. Faremos cavalgadas de Apolos e Amazonas, sem pressa. Transformemos as imensas vias congestionadas em prados verdes, em caminhos recobertos de natureza. Deixemos de abastecer os tanques de nossos carros com potência de "X" cavalos para alimentar nossos cavalos com grama que servirá, também, para que a pisemos com pés descalços. Ou vamos nos desejar cada vez mais em intervalos menores: "vai indo que eu não vou" sem que ambos saiamos do lugar.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

São Pedro do Turvo no mapa

Da minha cidade natal, São Pedro do Turvo (390 Km de São Paulo, entre Bauru e Marília), sempre se questionou sua existência a cada vez que se lhe citava: "está no mapa?", "tem TV?". Essas piadinhas típicas das gentes das grandes cidades ocultam, na minha opinião, um desconhecimento de um Brasil interior que, não sei se por conta da velocidade dos tempos entre grandes e pequenas cidades ser bastante diferente, cria um abismo entre o interior e as capitais.





A despeito do fato de São Pedro do Turvo ter 120 anos de fundação (uma quase tataravó, portanto), com IDH de 0,756 (considerado médio) e uma população de 7,439 pessoas (IBGE deste ano), a expansão comercial e industrial nunca foi um fator relevante para o município. Acho que São Pedro do Turvo, 81º. município em extensão territorial do Estado de São Paulo (entre 645 municípios), sempre teve uma vocação agropecuária, até mesmo por conta do espaço dedicado ao plantio e à criação de rebanhos animais.


Ontem, terça-feira, 1º. de dezembro, constatei, com grande surpresa, que o aparente verde que toma conta da paisagem de São Pedro do Turvo é uma ilusão. Claro que nesses longos anos da minha migração de São Pedro para São Paulo, muito verde se foi: árvores, capões de mato, mata nativa e de nascente deram lugar a pastagens e, sobretudo, para o plantio de cana-de-açúcar, mandioca e soja. Mas eu não tinha dimensão de quanto estrago havia sido feito em detrimento da preservação: entre os 20 municípios com a pior pontuação ambiental, São Pedro do Turvo está em 5º. lugar no ranking negativo (num universo de 570 municípios).


A classificação negativa foi publicada pela Secretaria do Estado de São Paulo do Meio Ambiente que entregou o prêmio ambiental exatamente ontem, terça-feira, para o município de Santa Fé do Sul, que recebeu 94,40 pontos. Pelo segundo ano consecutivo, Santa Fé do Sul recebeu a classificação de "município mais verde (preservação ambiental) e azul (águas não-poluídas)". São Pedro do Turvo, com a desagradável colocação entre os piores do Estado, ficou com 11,12 pontos (veja a lista dos 20 piores abaixo).





Isso coloca o município no mapa, finalmente, a que tanto (os moradores) almejamos. Mas nos coloca em projeção negativa. Com o Google Earth, é possível, no entanto, entender o que acontece. Basta um voo satelital por toda a extensão municipal para entender porque a pontuação nos garantiu tão baixa classificação: há imensos vazios, sinais de queimadas (todo ano, a cidade convive com a execrável fumaça da queima das plantações de cana-de-açúcar) e o Rio Turvo, que nomeia a cidade, que era turvo por natureza, agora é turvo por poluição.


O fato de eu não estar no dia-a-dia na comunidade são pedrense não impede que eu chame a atenção para isso. Eu não vivo em São Pedro, mas a maior parte da minha família sim. E são essas pessoas e todos os demais habitantes da região que, de forma direta ou indireta, sofrem as consequências: calor, fenômenos ambientais cada vez mais presentes (trombas d'água, ventos fortes), moscas etc.


Quando eu morava em São Pedro, eu já não gostava da degradação que via: derrubada de matas para transformar fazendas inteiras em roças ou pastagens. Nunca fui (e nem sou tampouco agora) um 'verde', um ecologista. Mas entendo perfeitamente que a contínua degradação do ambiente nos levará (a São Pedro do Turvo, ao Brasil e ao mundo) a um estado crítico, catastrófico mesmo, de falta de água e outros males os quais nem somos capazes de prever.





O "Prêmio Município Verde" foi criado em 2007 com o objetivo de ressaltar a preocupação dos municípios com os recursos hídricos. Dos 570 municípios participantes na edição deste ano, apenas 156 receberam o certificado "verde e azul". Para se chegar à pontuação, a nota abrange dez diretrizes ambientais: esgoto tratado, lixo mínimo, recuperação de mata ciliar (vegetação nativa das margens de rios e mananciais), arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho ambiental.


A conquista do prêmio vai além da vaidade: significa, para os ganhadores, prioridade na captação de recursos do governo estadual para projetos de melhoria ambiental. Em 2010, serão destinados R$ 50 milhões para esse segmento. Claro, apenas para as cidades que receberam o certificado. Mas o que está em jogo não é o dinheiro, e sim a herança que se deixará para os habitantes de São Pedro do Turvo e dos demais 5.563 municípios de todo o Brasil. Abaixo, a lista dos 20 municípios com a pior pontuação do Estado de São Paulo:


1º. Itararé - 3,22 pontos
2º. Aparecida - 6,62 pontos
3º. Cananéia - 10,17 pontos
4º. Santa Branca - 10,87 pontos
5º. São Pedro do Turvo - 11,12 pontos
6º. Itaí - 12,13 pontos
7º. Catiguá - 12,83 pontos
8º. Potim - 13,52 pontos
9º. Guareí - 13,52 pontos
10º. Pirajuí - 13,98 pontos
11º. Duartina - 14,63 pontos
12º. Cafelândia - 14,70 pontos
13º. Analândia - 15,03 pontos
14º. Itobi - 15,62 pontos
15º. Mairinque - 17,96 pontos
16º. Ferraz de Vasconcelos - 18,37 pontos
17º. Cardoso - 18,62 pontos
18º. Arapeí - 18,74 pontos
19º. Holambra - 19,45 pontos
20º. Orindiúva - 19,59 pontos

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O governo quer me preservar a saúde para me aplicar eutanásia

Protesto! GRITO! Esperneio! Quero falar em megafone: O GOVERNO SOMENTE QUER PRESERVAR A MINHA SAÚDE COM O FIM ÚNICO E ESCUSO DE, POSTERIORMENTE, ME APLICAR EUTANÁSIA!!!

O governo, essa entidade magna nas três esferas - federal, estadual e municipal -, vilipendia pessoas como você e eu, adota posturas claramente ditatoriais e de restrições individuais e, quando demandado, não existe. Onipresente e onipotente na fiscalização da minha e da sua vida, torna-se invisível quando às suas cortes somos obrigados a ir.


(Equipamento para a prática de eutanásia)

Há poucos meses, constatei que o meu Cadastro de Pessoa Física (CPF), documento que sou obrigado a ter por exigência federal, estava 'pendente de regularização', conforme a mensagem curta e grossa da excelsa Secretaria da Receita Federal, órgão tão vestuto quanto o eram as ordens religiosas espanholas do passado que promoviam as santas inquisições.

Diligentemente, eu, pessoa física, faço a declaração anual do imposto de renda, ainda que seja, para efeitos fiscais, declarado isento de fazê-lo. Porque, por outras circunstâncias, também sou, em simultâneo, pessoa jurídica (empresa, da qual sou, igualmente, empregador e empregado, de forma cômica), e pela qual já pagos os impostos (in)devidos.

Também mantenho duas contas correntes em banco - uma pessoa física, desse sujeito Redneck, e outra da empresa minha, de mim mesmo e de mais ninguém.

Por esses dois fatos - declaração de imposto de renda e manutenção de conta corrente ativa -, pela lógica, eu deveria estar automaticamente classificado como um cidadão - perante as tantas esferas governamentais -, contribuinte - que o sou - e em dia com os respectivos documentos. Pois que tanto o imposto de renda quanto a conta em banco requerem que eu exista, de fato, e que me movimente sem que eu levante suspeitas de fraude, tentativa de falsidade ideológica ou qualquer outra coisa que o valha.

Para o brasileiro, ficar sem o CPF (ou com o documento pendente) significa, entre outras coisas, a negação de emissão de passaporte, problemas com créditos financeiros e, de forma mais grave, bloqueio de conta corrente e até mesmo de outras ações inquisitórias da (santa madre) Receita Federal.

Para corrigir esse erro que não é meu, resolvi regularizar a situação. Paguei uma taxa e recebi em casa a convocação para ir à Receita e resolver o meu CPF pendente. Fui a uma unidade que o Estado de São Paulo criou para reduzir e concentrar nossos entreveros (deles): o chamado Poupatempo. São unidades nas quais, na teoria, tudo o que é legal, de âmbito federal, estadual e municipal, pode ser resolvido de forma mais rápida e simples.

Não é assim. Fui hoje ao Poupatempo, distante de casa 40 minutos (de ônibus), e, ao chegar ao local, me solicitaram dois documentos: o registro geral (RG), estadual e obrigatório, e o título de eleitor, federal e obrigatório. O RG, sempre o porto. O título, nunca, a não ser nas eleições, às quais somos, os brasileiros, obrigados a comparecer sob pena de pagarmos multa e sofrermos outras penalidades.

Como não estava com o título, a atendente me encaminhou para a estação Sé do metrô (distante 10 minutos) e me informou que lá eu encontraria um posto do governo (estadual) que me daria o meu número do título de eleitor. Ao chegar à estação, perguntei a dois Men in Black (MIB, polícia do metrô) onde ficava tal posto. Entreolharam-se e a mim e disseram que desconheciam a existência do posto.

Momentos antes, eu havia passado por um outro posto chamado "Acessa São Paulo" (estadual), que oferece internet gratuita ao cidadão. Voltei lá e questionei a viabilidade de consultar o meu título. Sim, é possível, me responderam. Me cadastrei, acessei o sistema, consultei meu título e obtive, enfim, o número de inscrição.

Retornei ao Poupatempo feliz, embora questionasse a inexistência de tal posto dentro dos limites do próprio Poupatempo. Voltei à recepção, falei com a mesma atendente e ela: mas você não imprimiu a consulta? Eu: não, eles não me liberam a impressora. Ela: sim, eles fazem isso. Eu: bem, para mim não fizeram. Pausa. Eu: mas estou com o número aqui. Ela: não, você tem que dar impresso. Eu: mas hoje se encerra o prazo. Ela: você paga de novo e volta aqui em dois dias, com o título original. Eu: mas... Ela: é assim.

Saí do Poupatempo combalido, totalmente cônscio que nada me havia sido poupado. Nem tempo e muito menos dignidade como cidadão. De volta para casa (de metrô), observei nos vagões do trem cartazes que alardeam números vistosos do governo estadual sobre segurança, transporte, educação e saúde. Me vi ante a propaganda eleitoral gratuita.

Certamente, o governo estadual começou a preparar a plataforma marqueteira para a candidatura presidencial que se avizinha. Esse mesmo governo que, lá no interior do Poupatempo, quer que eu o alimente de documentos os quais, provavelmente, tem arquivado nos inúmeros computadores. Não achei graça.

Tanto na ida quanto na volta, meu iPhone estava conectado na música "Teardrop", do Massive Attack. Eu havia optado por essa música porque, ao saber que ficaria no trânsito (municipal), precisava de algo que me isolasse da sujeira e barulho da cidade (municipal). "Teardrop" (lágrima) é perfeita porque me remete ao vídeo, que é lindo.

Mas, repito. Não achei graça e a música começou a me aborrecer. Na verdade, quanto mais eu a ouvia, menos eu achava graça. #EuNãoRi! De fato, uma teardrop quis rolar, sorrateira, e eu a retive por recato. Me senti humilhado pelas indiferentes instâncias - federal, estadual e municipal - que me reduziram a uma teardrop seca.

O governo, esse ente que, ganancioso, me cobra insistentemente de tudo e que tem restringido minhas individualidades, trabalha, a meu ver, para me deixar saudável (ao me proibir de fumar onde eu bem entender, conforme a deliberação do local) com o firme propósito de aplicar em mim a eutanásia. Por definição, a eutanásia é a prática pela qual se abrevia a vida de um doente incurável (eu, fumante) de forma controlada (pelo governo) e assistida (por outros cidadãos como eu que lá estavam presentes). Nesta terça-feira, dia 25, me foi aplicada a eutanásia moral.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Os desarvorados sob a árvore

1914: com as demandas geradas pela I Guerra Mundial para uma produção industrial com o fim de atender o conflito, os governos europeus acumularam poderes para agilizar decisões importantes. A princípio, esses poderes seriam revertidos à incipiente democracia europeia, tão logo a guerra acabasse. Isso não aconteceu. Ao contrário, converteram-se, esses poderes, em longínquos estados totalitários.

O totalitarismo é um regime político baseado na extensão do poder do Estado a todos os níveis e aspectos da sociedade. Adolf Hitler, Josef Stalin, Benito Mussolini e Mao Tse-tung, ainda que pesem algumas diferenças ideológicas entre totalitarismo, fascismo e comunismo, foram os representantes máximos desse tipo de regime.


No totalitarismo, o Estado se arvora como ente máximo na 'gestão' dos cidadãos e se dá o direito, total, de reprimir, conter, deter, impedir e punir o indivíduo que o confrontar. As pessoas contrárias aos limites impostos são classificadas de opositoras, subversivas e dissidentes. Em graus extremos, são, sumariamente, liquidadas.

2009: um exilado político, ex-presidente da então contestatória União Nacional dos Estudantes (UNE), retorna ao País em 1978 e reassume a trajetória política interrompida pelo exílio. José Serra, governador do Estado de São Paulo, eleito em 2006, é filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). No último dia 7 de agosto, entrou em vigor a Lei 13.541, popularmente chamada de Lei Antifumo. No site de divulgação da lei, há o seguinte parágrafo: "a nova lei restringe, mas não proíbe o ato de fumar. O cigarro continua autorizado dentro das residências, das vias públicas e em áreas ao ar livre. ...Os fumantes não serão alvo da fiscalização."

A democracia é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, direta ou indiretamente.

A lei antifumo, em momento algum, foi debatida. Ao contrário, nos foi imposta. E é nesse momento em que confluem totalitarismo e democracia. E isso me faz lembrar a expressão: "Isto é uma democracia, mas quem manda sou eu". Ou melhor: "L'État c'est moi' (O Estado sou eu), frase atribuída ao rei Luís XIV da França, um monarca absolutista que reinou entre 1643 e 1715.

Sou fumante e não rechaço delimitações que protejam o não-fumante. Na minha casa, fumávamos meu pai e eu. Meu pai faleceu de ataque cardíaco e, embora não esteja comprovado, uma das causas prováveis é o cigarro. Ouço isso de tempos em tempos de todos os meus familiares. Sei de todos os males e das consequências do fumo.


Portanto, o fato de eu fumar é uma opção minha e, não sendo eu próprio um ser totalitário, não devo impor aos demais as consequências do meu ato. E não o faço. Respeito os ambientes da casa da minha mãe e outras dependências. Respeito os veículos alheios. Nunca me atrevi a acender um cigarro no banheiro do avião. Me incomoda que a fumaça do meu cigarro alcance o(a) meu(minha) interlocutor(a). Se estou em algum ambiente de terceiros, peço licença para fumar e, se não ma concedem, compreendo perfeitamente.

As políticas públicas de saúde, as entendo, embora não compactue com elas inteiramente. Mas não entendo algumas pessoas que radicalizam e, xiitas, querem me impor suas próprias convicções. E o fazem por meio de banimentos, isolamentos e exposição de forma que, aos olhos dos demais, eu me assemelhe a um pária. Não é exagero. Já passei por essa situação.

É como se, ao ser fumante, eu, automaticamente, passe a representar um segmento da sociedade que deve ser execrado e, se não me juntar ao rebanho 'saudável', devo ser reprimido, contido, detido, impedido e punido. Logo, sofro as repressões do totalitarismo. Sem chance de retrucar. "Os fumantes não serão alvo de fiscalização", divulga o site. Mentira! Somos alvo de fiscalização moral. Não importa que aquele que me critique polua, com seu automóvel. Não importa que aquele que me aponta o dedo aja como um dedo-duro, personagem corriqueiro de regimes totalitários.

A gente que delata sempre o faz, preferencialmente, como se telhados de ferro tivesse, e não de vidro que se estraçalham às primeiras pedras atiradas por outros delatores. Porque é assim que funciona: começa-se com uma lei rigorosa (aprovada, inclusive, por 77% dos fumantes) e ocupa-se espaço. Depois, o governo, animado pelas pesquisas e perspectivas de boa colheita política, amplia seus tentáculos. E, ao invés de democracia, vivemos um totalitarismo, um Estado absolutista.

Me soa estranho um ex-exilado agir como se o Estado fosse ele próprio. Logo quem lutou contra o poder do Estado de se imiscuir na vida do cidadão. E, lembre-se, Serra é ex-fumante e aspira a presidência deste País. Dois motivos que, mais do que nunca, o influenciam a fazer uma plataforma que o identifique como um cidadão do bem e antenado com o mundo moderno (restrições ao fumo nos EUA e Europa). Bem, a Europa não é exatamente pródiga em boas ideias. E quanto aos EUA, declino de comentar.


No último domingo, estávamos uma amiga e eu no Espaço Unibanco de Cinema, na Rua Augusta. Quer dizer, no chamado "Anexo" do Espaço, que fica no outro lado da rua, quase em frente ao Espaço Unibanco. Nesse anexo, há uma área livre e uma imensa árvore. A administração do local colocou pequenas mesas e cinzeiros ao redor dessa árvore. No domingo, havia competição para ocupar os bancos sob a árvore e comentei com a minha amiga que éramos os desarvorados sob a árvore. Sob os olhares dos demais frequentadores, nos arvoramos em animais expostos, talvez a caminho da extinção, a brigar não por um lugar ao sol, e sim um lugar à sombra. Que a árvore, coitada, converteu-se, de um dia para o outro, em instrumento exaustor de nossas espiraladas trilhas de fumaça.

Reproduzo abaixo parte do artigo (do dia 18 de agosto) do colunista João Pereira Coutinho, que escreve às terças-feiras no jornal Folha de São Paulo, com qual teor concordo plenamente:

"...Ainda está para aparecer o primeiro estudo cientificamente rigoroso capaz de mostrar uma relação sustentada entre 'fumo passivo' e câncer.

O que não significa que não existam estudos sobre essa hipótese. Christopher Booker, um especialista sobre as nossas histerias modernas, normalmente lembra dois. Os maiores e mais recentes. O primeiro foi realizado pela Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer, da Organização Mundial de Saúde (OMS). O segundo foi dirigido, durante 40 anos, por James Enstrom e Geoffrey Kabat para a Sociedade Americana de Câncer através da observação de 35 mil não-fumantes que conviviam diariamente com fumantes. Resultados? Repito: um mito é um mito é um mito.

Mas a ideologia é a ideologia é a ideologia. De vez em quando, afirmo que alguns traços nazistas sobreviveram a 1945. Sou insultado. Não respondo. Basta olhar em volta para perceber que algumas das nossas rotinas médicas mais básicas teriam agradado ao tio Adolfo e à sua busca de perfeição eterna. Exemplos? Certas formas de eugenia 'respeitável', praticadas por milhões de pessoas quando recebem uma má ecografia (ou ultrassom; o autor se refere a, provavelmente, má formação dos fetos e as consequentes decisões de se ter ou não a criança). Ou a demonização absoluta que o fumante moderno conhece nos EUA e Europa. E agora, hélas, em São Paulo.

Leio a legislação antifumo do Estado de São Paulo e reconheço a natureza totalitária dela, novamente dominada por uma ideia iníqua de perfeição física.

Tudo começa pela elevação da mentira a dogma: o dogma de que o 'fumo passivo' é um perigo fatal para terceiros. O dogma não é apenas fantasioso; é também perigoso, porque estabelece de imediato uma divisão moral entre os agentes da corrupção (os fumantes) e as vítimas inocentes (os abstêmios). É só substituir 'fumante' por 'judeu'; e 'abstêmio' por 'ariano' para regressar a 1933.

E regressar a 1933 é regressar a um mundo que desprezava a liberdade individual com especial ferocidade. A lei anifumo cumpre esse propósito. Proibir o fumo em lugares fechados, como bares e restaurantes, é um ataque à propriedade privada e à liberdade de cada proprietário decidir que tipo de clientes deseja acolher no seu espaço. O mesmo raciocínio aplica-se aos clientes, impedidos de decidir livremente onde desejam ser acolhidos.

Mas o melhor da lei vem no policiamento. Imitando as piores práticas das sociedades fechadas, a lei promove a delação (dedo-durismo) como forma de convivência social. Por telefone ou pela internet, cada cidadão é convidado a ser um vigilante do vizinho, denunciando comportamentos 'desviantes'. Isso não é regressar a 1933. É, no mínimo, um regresso à Rússia de 1917. Se juntarmos ao quadro uma verdadeira 'polícia sanitária' que ataca à paisana, é possível concluir que o espírito KGB emigrou para o Brasil.

Finalmente, lembremos o essencial: os extremismos políticos só sobrevivem em sociedades cúmplices, ou pelo menos indiferentes aos extremistas. Será São Paulo esse tipo de sociedade?

Parece. A última pesquisa Datafolha é sinistra: a esmagadora maioria dos paulistas (88%) aprova a lei antifumo. Só 10% se opõem a ela. Só 2% lhe são indiferentes. Mais irônico é olhar para os fumantes: depois de anos e anos de propaganda e desumanização, eles olham-se no espelho, sentem o clássico nojo de si próprios e até concordam com a lei (77%). Razão tinha Karl Kraus quando afirmava, na Viena de inícios do século (XX), que o antissemitismo era tão normal que até os judeus o praticavam. Péssimo presságio."

Comecei a escrever este post no domingo, logo depois do episódio de 'desarvoramento sob a árvore". Na ocasião, minha amiga citou a palavra "totalitário". Depois, me deparo com a coluna parcialmente reproduzida acima. Eu mesmo já havia usado o totalitarismo para fazer a relação com a lei. O quero dizer é que, fumante ou não, que não se olvidem as liberdades individuais. Uma ação ali e outra acolá e teremos, finalmente, um Estado absolutista a comandar nossos passos em todos os espaços, sejam públicos ou privados. Isso tudo me estava engasgado há tempos, o que motivou o extenso post. Desabafei! Com uma previsível tragada de cigarro, claro.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Holiday (and workday) on ice

Contínuo: não há interrupção, é constante e sucessivo.

Intermitente: que apresenta interrupções de intervalos em intervalos.

Telefonia: inventada em 1860 pelo italiano Meucci, e não por Alexander Graham Bell, conforme reconhecido pelo governo norte-americano em 2002.

Banda larga: surgiu entre 1997 e 1998, com o cable modem (da TV a cabo) e, depois, em 1999, com o DSL (das operadoras de telefonia fixa). Até então, o acesso à internet era discado (ou dial up), no que se convenciona chamar de banda estreita (até 56 Kbps), feito a partir da linha comum do telefone fixo.

Banda larga da NET, nome-fantasia Vírtua: sistema híbrido de acesso rápido à internet que une duas tecnologias: cable modem ou cabos coaxiais e fibra óptica.

Agora que expliquei os termos técnicos, vou discorrer sobre o conteúdo que extrapola os significados desses conceitos.

Embora a NET seja, originalmente, uma operadora de TV por assinatura, passou a oferecer, por conta da evolução tecnológica, mais dois serviços adicionais: a telefonia fixa (Net Fone), em conjunto com a rede da Embratel (no padrão IP, ou internet protocol) e a banda larga sobre a rede de cabos da NET, cabo esse pelo qual vem o mesmo sinal da TV por assinatura.

A NET é uma autorizatária, ou seja, está autorizada a prestar serviços de telefonia e de acesso de alta velocidade à internet. Ao contrário de concorrentes como Oi, Telefônica e Embratel, que são concessionárias e estão sujeitas a metas de qualidade contratuais, garantidas quando da assunção das respectivas concessões, em 1998, na privatização do Sistema Telebrás.

Nem por isso, porém, deve deixar de oferecer ao assinante a qualidade de um serviço que se contrata para ser contínuo, e não intermitente. Mas, por incrível que pareça, o serviço de banda larga Vírtua, digital na teoria, funciona mais ou menos da mesma forma que os antigos aparelhos celulares. Explico: você se lembra que todos os celulares tinham luzinhas (LED) que piscavam intermitentemente? Pois é! Mas a rede, bem ou mal, funcionava. Intermitência, no caso, era apenas o sinal da frequência, que conectava (e conecta) o aparelho à estação radiobase.


Pois, atualmente, o Vírtua funciona assim: há um modem, com 6 LEDs que devem, exceto um, ficarem acesos continuamente. O único intermitente é o sinal do link (da internet). Pois de 2 em 2 minutos, se não menos, todos os LEDs apagam-se abruptamente. Isso tem ocorrido com bastante frequência, sem trocadilhos com a rede móvel, e, de ontem para hoje, a intermitência durou mais de 13 horas.

Ao longo do dia de hoje, por exemplo, essa intermitência é contínua, o que prova que as palavras, embora queiram significar coisas bastante distintas, acabam por agregar um só significado a um serviço que, a priori, deveria ser contínuo, e nunca intermitente.

No site da NET, há uma descrição da tecnologia de banda larga que diz o seguinte: "os cable modems escolhidos pela NET para utilização do Vírtua são da Terayon, empresa americana que desenvolveu a tecnologia S-CDMA (Synchronous Code Division Multiple Access). Um dos principais diferenciais dessa tecnologia é sua grande imunidade a ruído, o que confere confiança, robustez e performance de campo comprovada em diversas operações de cabo em todo o mundo". Está lá, ipsis literis, dessa forma.

O que me confere o direito de retrucar: quisera eu que houvessem ruídos, gemidos, gritos ensurdecedores no cabo para que os bits convertessem-se em: 1. sinal da TV paga; 2. sinal contínuo de telefone; 3. sinal de acesso à internet, sem o qual eu sucumbo (se não por adicto que sou, que seja por conta do trabalho, pois que dependo de telefone e de acesso à internet para trabalhar).

É que, aparentemente, por banal que seja a propalada era digital na qual, teoricamente, todos estamos, me parece que equipamentos e sistemas agem como se analógicos fossem porque: 1. a TV desliga sozinha quando perde o sinal; 2. o telefone ficou mudo por tanto tempo que emigrei de um mundo para o outro; e 3. voltei a 1996, quando ainda havia BBS e o acesso era apenas discado.


As 13 agônicas horas que permaneci sem conexão, com um ligeiro intervalo de acesso de 40 minutos, transformaram-se, nesta sexta-feira, em um rosário feito de contas - minuto sim, minuto não, minuto não de novo, a internet sofreu pequenos colapsos. Ou apenas intermitência, e não continuidade.

Hoje, depois de me exasperar com a falta de acesso, liguei para a central de atendimento da NET. Reproduzo a mensagem inicial, antes mesmo de ter a oportunidade de teclar qualquer número: "Eu vejo que você está ligando de um número de telefone cadastrado e também identifico aqui que temos alguns problemas técnicos na sua região, (que está) afetada, sem sinal de internet e telefone. Enfim, estamos fazendo de tudo para resolver os problemas o mais rápido possível, mas a previsão mais recente é que o serviço deve estar normalizado até às 13:30 horas. Isso é tudo o que se sabe no momento, até mesmo na nossa central de atendimento."

Para não incorrer em interpretações equivocadas, ouvi a mensagem algumas vezes e anotei as palavras. O texto foi exatamente esse. A internet realmente voltou, antes da previsão, por volta das 11:30 horas. Mas, durante o resto do dia, permaneceu intermitente, com idas e vindas feito o vento que balança levemente a minha janela.

Um pouco depois disso, recebi uma ligação da NET que, imagino, é de alguma área de controle de qualidade (o prefixo é 51, ou seja, de Porto Alegre e algumas cidades da Grande Porto Alegre). O atendente queria saber se estava tudo bem conforme as minhas solicitações anteriores para a central, feitas por e-mail ou telefone (celular) e me questionava sobre a linha de telefone. Oras, faz mais de 10 dias que eu portei o NET Fone para a Telefônica!

A conclusão a que chego é que a NET não tem controle sobre as linhas. Imagino que se tudo está controlado por um sistema, a operadora tem que saber quem está conectado, quem se desligou e foi para outra operadora e quem não paga as contas. Deixe de pagar a conta e receberá, em poucos dias, um telegrama, tal a rapidez com que fiscalizam o billing (ou faturamento).

Hoje ainda, há pouco, no início da noite, recebo outra ligação da NET. Dessa vez, para saber se o Vírtua está em funcionamento. Isso decorreu, imagino, da minha reclamação com o atendente anterior, para o qual relatei a intermitência do serviço de banda larga.

A Telefônica, operadora para a qual retornei (por enquanto, apenas para o serviço de voz), está proibida de vender acessos de internet Speedy até que apresente uma solução para os contínuos (esses sim, são sempre contínuos) problemas que tem apresentado na banda larga. Sugiro que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), cujo papel é o de fiscalizar e exigir o cumprimento de qualidade no serviço, exerça o mesmo papel junto à NET no que tange à telefonia de voz e de acesso à internet.

Ou estaremos pior do que no passado recente, quando não havia nem telefones fixos no mercado. Pois é assim que eu tenho me sentido na relação com a operadora da qual era cliente de três serviços: holiday and workday on ice (a patinar no gelo, tanto nos feriados quanto nos dias úteis). E digo no gelo justamente porque a campanha da NET incita o assinante a sair da Sibéria, gelada, e ir para a NET. Bem, até o momento, quem está na Sibéria somos eu e a própria NET. Ou apenas eu, porque o mundo não é dos nerds.

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