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O quadro tem dimensões pequenas - 39 x 29 cm - mas a dimensão humana retratada é grandiosa: o objetivo do pintor Pietro Perugino era articular, com a obra, um ideal de dignitas humanística. Dignitas, em latim, significa "valor pessoal, mérito, virtude, consideração, estima, honra". Na tela, estão retratados Apolo e Mársias (Apollo and Marsyas). A obra é duplamente mitológica, a despeito da leitura humana que se possa fazer: Apolo é o deus olímpico e Mársias é um sátiro. Mas ambos foram tornados humanos por Perugino que pretendia, assim, passar a ideia da dignitas.
Tradicionalmente, acredita-se que o quadro represente o confronto entre Apolo e Mársias. No entanto, a placidez e serenidade idílicas desmentem essa interpretação. "Apolo e Mársias" foi feito sob encomenda dos Médici.
Perugino, nascido Pietro di Cristoforo Vanucci (1450-1523), tornou-se Pietro Perugino porque nasceu em Città della Pieve, na Perugia, Itália. Foi um dos mais importantes pintores da Alta Renascença. Teve como mestres Benedetto Bonfigli, Fiorenzo di Lorenzo e Niccolò da Foligno. Trabalhou também com Leonardo da Vinci e foi um dos primeiros artistas a dominar a técnica da pintura a óleo.
Em 1480, foi a Roma trabalhar nos afrescos da Capela Sistina. Infelizmente, o trabalho feito por Perugino na Capela Sistina foi destruído para dar lugar ao "Julgamento Final" de Michelangelo. Os dois, inclusive, tiveram profundas divergências ao trabalharem sob o mesmo teto. Embora não confirmado oficialmente, Rafael teria sido seu aprendiz. Por fim, Perugino foi bastante desacreditado e dele se dizia que suas obras eram executadas pelos aprendizes.
O quadro "Apollo and Marsyas" faz parte do acervo do Museu de Louvre, em Paris, e consta, no catálogo, desde 1883, como uma obra de Rafael, e não do próprio Perugino. Por vaidade da curadoria do museu ou porque Perugino se apropriava, de fato, das obras feitas pelos aprendizes. São histórias da pintura - e da arte, em geral - que nunca serão definitivamente elucidadas.