Blog Widget by LinkWithin
Connect with Facebook
Mostrando postagens com marcador Ideias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ideias. Mostrar todas as postagens

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Em busca do tempo perdido

"Perdi tempo", digo, quando confrontado com um eventual fracasso. Qualquer fracasso: com uma pessoa, um projeto, uma expectativa. Tenho um argumento: não se perde aquilo que não se tem. Portanto, o tempo não se perde, porque não o domino. Como controlar uma abstração tão grandiosa quanto o tempo?


Não somos nós que perdemos o tempo. Porque não temos. Nunca o temos, não é? Acreditamos, realmente, que temos o controle, as rédeas nas mãos. Ilusão. Lastima-se o tempo passado e o que está por vir. De tempos em tempos, eu mesmo me pego a mastigar reminiscências de que se pudesse voltar no tempo, faria diferente. Em que instâncias? Todas? Algumas? Picaria em pedaços os tempos certos e os errados? Ilusão. Ainda que o tempo retroagisse, duvido que eu fizesse algo muito diferente do que fiz naquele exato momento.




Acho que vivemos de remorsos, arrependimentos e tentativas de rearranjos para buscar um eventual tempo perdido com uma pessoa, uma vida, um ato. Mas, enquanto se está na situação e o tempo na linha da vida é o presente, naquele momento mesmo não julgamos que estamos a perder aquele tempo dedicado a tal pessoa, ato ou ação. Somente temos consciência, quando a temos, que "perdemos tempo" quando aquilo se foi, quando virou passado, página virada.


De forma que não haverá nunca uma busca bem sucedida do tempo perdido. Porque o tempo, a despeito de ser impreciso e abstrato, passa sim. E passa por nós, nos precede, nos sucede. Parados ficamos nós no tempo e nem nos damos conta disso. Ou talvez o tempo é que esteja parado e nós passamos. Eles (os tempos) passarão, eu passarinho! De passinho, a passos largos, a espaçados passos. Passa boi, passa boiada. E o tempo estendido como um tapete imóvel somente serve de suporte para nossos esquisitos passos que hesitam, titubeiam e, vão, enfim, passarada sem rumo.


Não há que se buscar no "tempo perdido" aquilo que não houve, na verdade. Por que tentar buscar o perdido? Se nem mesmo aquilo que se vê se crê?  É tempo de encerrar as buscas. Dar por perdido o que perdido está. Tempo demasiado foi passado, ultrapassado e ultrajado por tanto acúmulo para que se retire  o peso daquilo que é peso morto.


Tempo é presente, passado ou futuro? Qual é o seu tempo? Não temos, em português, a palavra "timing" para definir que tivemos o "timing" perfeito para tal coisa. Mais ou menos, dizemos que estávamos "" na hora certa. O "timing" é, pois, o agora. Não antes nem depois. Nem um segundo a mais ou a menos. Apenas já. É tempo, já foi. Assim. Feito a disparada de um coelho.


Não há tempo, suponho, portanto, para se fazer tanta onda com o tempo. Meu "timing", se é preciso ou não, é o único que tenho. Não disponho de máquinas para me colocar no antes ou no depois. E, assim, me resta apenas este tempo. Aqui e agora. Porque, ao acabar de escrever este post, o próprio tempo nele consumido já foi. Assim. Acabou.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Uma breve história do tempo

Antes que as cinzas viessem a mim, fui eu mesmo às cinzas. Entrei em recesso sem me dar conta de que, ao Carnaval, procede a quarta-feira de cinzas, em que tudo o mais é abafado pelo pó. Mas antes que a quarta-feira, que não foi cinzenta, e sim de cinzas, se me pegasse pela testa, a precedi e me despluguei. Parcialmente, mas me desconectei. Me dei um período sabático aqui no blog. Sabático é modo de dizer porque, na escala blogosférica, dois, três ou quatro dias sem postar tornam-se um período longo.




Mas eu queria, ao preceder as cinzas, o sol. A água. E tomei banhos consecutivos de sol e água. Foi um Carnaval diferente em que passei metade do tempo submerso pelas águas e a outra metade encoberto pelos raios solares ricos em emissões de UVA e UVB. Sem protetor que sou cascudo e macho pra caramba!


Raios que me partam - e não me partiram, não obstante eu me quedar na água sob um festival de relâmpagos - se sou cascudo o suficiente para não descascar. Sou como camarão exposto à água fervente (e aquecida era a piscina): a casca sai facilmente.


Nesse pequeno período de tempo em que estive ausente, coisas breves aconteceram: um lindo sobrinho nasceu (e hoje já faz uma semana!). Tive notícias anteriores ao Carnaval que farão com que eu tome outras direções. Nada muito traumático ou dramático. Mas são mudanças e, na maior das vezes, eu as acho, as mudanças, bastante produtivas.


Tive, ainda, preguiça. Uma preguiça que se estendeu da languidez dos dias quentes às noites ainda mais quentes talvez por falta de calor que as fizessem se acalmar. Se passa que à temperatura cotidiana se une a minha própria febre e eis que delírios costumam misturar-se à paisagem.


Estou calmo, ao contrário do que podes imaginar. Foi bom permanecer arisco e arredio. Não me isolei, o que já conta para mim mesmo como um alento. Costumo me enclausurar e fazer de conta que não é comigo. Que o mundo e eu mesmo não somos comigo. Coisas de leonino ensimesmado.


Tive por companhia pessoas agradáveis. Livros lindos que estou a devorar desde antes do Natal e cujas linhas percorro feito estradas que me ligam a outros mundos. O tempo é breve. É longo. Depende. Tem dia que é de uma brevidade que chega a soar falsa. Outro, parece que a linha que demarca as horas não cede a pressão alguma.


Falei muito por esses dias e talvez por isso me calei cá. Ouvi muito. Ando bastante analítico comigo mesmo. De um desnudamento que ainda persigo e que mais cedo ou mais tarde me mostrará alguma indicação. Estou certo disso. Não tenho vergonha da nudez, corpórea ou espiritual. Se eu puder me ver do jeito que sou, o tempo livre gasto nesse empreendimento não terá sido consumido em vão. E não serão apenas cinzas.


A história do tempo se faz assim, de pequenos retalhos, de grandes fios. De uma vida que floresce. De outras que fenecem. De conversas telefônicas que transmitem mais do que ruídos estáticos. Chamo de breve esse particular registro da história do tempo porque foram, olha só, apenas pouco mais de 100 horas. São apenas gotas no universo particular de cada tempo, o meu e o seu.


Na quarta-feira de cinzas, propriamente dita, releguei o sol a outros corpos e retomei o trabalho. Sempre me é árdua essa retomada porque, para cair no ócio, basta um recorte. Para sair do ócio, há que se escalar montanhas. E o tempo urge, ainda que breve. E lá se foi mais um Carnaval. Que pedi que não me levasse a mal porque sabia que ia me retirar em preguiçosa e malemolente alegoria de não ser nada, não fazer nada, não pensar nada.


O niilismo, no entanto, é fictício. Fiz sim. Bebi, comi, dormi, li, vi, fui visto. "Não me leve a mal, vou beijar-te agora, hoje é Carnaval", diz a marchinha. Reclamei que não beijei. Foi a cinza na profusão de tanta luz solar. Que, se não chegou a obscurecer os meus dias, também não os iluminou. Mas eis-me aqui. Fui pó, no sentido de retirar-me, e do pó volto, algo refeito (e talvez rarefeito também).

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ameaça à (pro)criação

Crescei-vos e multiplicai-vos é um dos maiores axiomas do livro do Gênesis e boa parte da humanidade pauta-se por esse princípio, consciente ou inconscientemente. Deve ser por isso que o papa Bento XVI rebelou-se nesta segunda-feira, 11, e, durante um discurso em que misturou casamento gay e meio ambiente, poluiu ainda mais o primeiro tema em detrimento do segundo. Disse o papa que as leis (certamente, induzido pelas recentes notícias emanadas de Portugal e México, ambos predominantemente católicos) que enfraquecem "as diferenças entre os sexos" são uma ameaça à criação.





Como eu tenho uma proverbial vocação de entender o que eu bem quero do discurso alheio, na minha modesta compreensão o papa errou a palavra: ao invés de dizer 'criação', talvez tenha querido dizer 'procriação'. Mesmo porque a criação e toda a cultura do criacionismo como imaginado por Sua Santidade não é ameaçada exatamente pelo que os homens fazem ou deixam de fazer entre si sexualmente, e sim pelo que fazem fora do contexto sexual. Porque, ao que me consta, durante um ato sexual, seja homem a homem, mulher a mulher ou homem a mulher, dificilmente existem ameaças que possam extinguir a garbosa raça humana.





"As criaturas diferem-se uma das outras e podem ser protegidas, ou colocadas em perigo, de formas distintas, como sabemos a partir da experiência diária. Um ataque desse tipo vem de leis ou propostas que, em nome da luta contra discriminação, atingem a base biológica da diferença entre os sexos", afirmou Bento XVI. "Penso, por exemplo, em alguns países da Europa ou da América do Sul e do Norte", disse. Oito países aprovaram o casamento na Europa; seis estados norte-americanos legalizaram o casamento gay; e, na América Latina, a Cidade do México, capital do México, aprovou o casamento gay.





As palavras de Bento XVI foram ditas durante um discurso a diplomatas de mais de 170 países. Que ainda completou: "A liberdade não pode ser absoluta, pois o homem não é Deus. Para o homem, o caminho a ser tomado não pode ser determinado pelo capricho ou pela teimosia, mas precisa corresponder à estrutura desejada pelo criador".


E tudo isso foi dito sempre na companhia do inseparável companheiro de jornadas, o monsenhor (e bonito) Georg Gänswein, que é secretário particular, instrutor de tênis e pelado de Vossa Santidade. Ops! Prelado, eu quis dizer.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Quero um para mim



Já que não fui premiado por nenhuma categoria, por trabalho algum, por esforço qualquer que tenha feito, por omissão, ausência ou presença, por escárnio, piedade, ódio, compaixão, por ser simpático, por ser odioso, por bem ou por mal. Já que não fui premiado, me dou esse prêmio. Pode não ter nada a ver, mas eu resolvi que, assim como alguns ganham o Nobel, outros o Oscar e outros aqueles troféus de ridículos, eu me dei este porque gostei dele. Gosto do Bambi e do dourado e por isso basta.





Quem quiser saber mais detalhes, entre neste site (originalmente, em alemão).


Mas tem um outro que é muito mais interessante, o Who Killed Bambi?


E este aqui, que nem sei o que é ainda, de mesmo nome: Who Killed Bambi.


Com tantos a matarem Bambi, resolvi pegar o meu antes que o assassinem também.


sábado, 10 de outubro de 2009

De olhos bem abertos, o cinema pode ser um nuovo paradiso



Três filmes assistidos do último sábado para cá fizeram com que eu pensasse em como alguns pensamentos e conceitos, de repente, unem-se para dizer alguma coisa. Não programei nada: simplesmente aconteceu. E isso é o inusitado. Sempre que o inesperado se interpõe à nossa frente talvez seja, não sei por quais mecanismos, para nos dizer ou nos fazer ver algo.


O primeiro filme foi 'Zeitgeist'. Longo - são mais de duas horas ou 122 minutos -, 'Zeitgest, The Movie' foi produzido em 2007 por Peter Joseph e aborda temas como o cristianismo, os ataques de 11 de Setembro e o Federal Reserve, dos EUA. Foi lançado somente em versão online pelo Google Video. Em 2008, foi lançado um segundo filme, em continuidade ao primeiro, chamado 'Zeitgeist:Addendum', com foco em outros pontos: globalização, manipulação do ser humano pelas grandes corporações e a insustentabilidade material e moral da humanidade.





Mas não foi no último sábado que 'Zeitgeist' me foi introduzido: eu conheço e já havia assistido ao filme no início do ano passado, quando um amigo virtual me falou sobre o vídeo. Uma pausa: sinto falta desse amigo que sumiu, aos poucos, até que desapareceu do meu horizonte virtual. Saudade das nossas conversas online e uma enorme frustração por, afinal, não termos nos conhecido pessoalmente quando poderíamos tê-lo feito.


Quando vi o filme pela primeira vez, fiquei pasmo pela amplitude de 'Zeitgeist'. Esse filme diz muito da contemporaneidade e das incertezas que nos cercam a nós, a humanidade, com nossas inexoráveis questões sobre nossa tênue existência na linha do tempo. 'Zeitgeist' é estruturado em três seções:


- Primeira parte: 'The Greatest Story Ever Told' ('A Maior História Já Contada'), que começa aos 13 minutos. Essa seção faz uma avaliação crítica da religião, sobretudo em relação ao cristianismo. Sugere-se que Jesus é um híbrido literário e astrológico e que a Bíblia é uma miscelânea de histórias baseadas em princípios astrológicos pertencentes a civilizações antigas (como o Egito). O filme mostra o movimento do sol e das estrelas e remete às religiões pagãs (ou pré-cristãs). Apresenta várias semelhanças entre a história de Jesus e a de Hórus, deus-Sol egípcio que tem vários pontos de contato com o messias do cristianismo.


- Segunda parte: 'All The World's a Stage' ('O Mundo Inteiro É Um Palco'): a partir dos 40 minutos. Nessa seção, 'Zeitgeist' aborda os ataques de 11 de Setembro de 2001 e sugere que o governo dos EUA tinha conhecimento prévio desses ataques e que a queda das Torres Gêmeas do World Trade Center foi uma obra de demolição encetada pelo próprio governo norte-americano. Faz, ainda, conexões entre as famílias Bush e Bin Laden, parceiros comerciais de longa data, e mostra testemunhos sobre explosões internas e sabotagens no episódio do World Trade Center.


- Terceira parte: 'Don't Mind The Men Behind The Curtain' ('Não Se Importem Com os Homens Por Detrás da Cortina'): a partir de 1:14 minutos. Essa parte aborda o sistema bancário mundial e o domínio que esse setor exerce sobre a mídia, inclusive por meio de atos criminosos. Fala sobre o FED (Banco Central dos EUA) e sobre os lucros obtidos pelos bancos, de forma geral, com a I e II Guerras Mundiais, com a Guerra do Vietnã, do Iraque e do Afeganistão. Aponta, ainda, para uma potencial invasão da Venezuela para o controle sobre o petróleo e também sobre o comércio de armas. Segundo o filme, os banqueiros mundiais estão em processo de criação de um governo unificado mundial. É uma teoria da conspiração.


Abaixo, os filmes. Se você tiver tempo e disposição, assista. Para saber do que se trata e concordar ou discordar da abordagem de 'Zeitgeist'. Eu o assisti na TV no último sábado, por meio de download em DVD, e mal dava para ver as imagens e legendas. Recomendo que você o assista na tela do computador mesmo para manter a qualidade. 'Zeitgeist', como eu disse, é longo: 122 minutos. Também posto aqui a continuação - 'Zeitgeist:Addendum', tão longo quanto o primeiro: são 116 minutos. No total, são quase quatro horas de filme.









O segundo filme sobre o qual quero comentar é 'Número 9' ('The Nines', EUA, 2007, dirigido por John August). O protagonista é Ryan Reynolds, em três interpretações que me surpreenderam, já que Ryan é mais conhecido por papéis algo canastrões (em filmes como 'O Dono da Festa', 'Quando a Vaca Vai para o Brejo' e 'Até Que os Parentes Nos Separem' - veja as fotos na sequência). Em 'The Nines', um ator problemático (Ryan), uma apresentadora de um programa de entrevistas na TV e uma conhecida criadora de jogos para videogame têm suas vidas cruzadas por acontecimentos misteriosos, ligados ao número 9.





Assim como 'Zeitgeist', 'The Nines' tem três histórias distintas, aparentemente sem ligação entre si. Na primeira parte, Ryan Reynolds é Gary, ator de TV famoso que, após perder a namorada, abusa das drogas, é preso e condenado à prisão domiciliar, inclusive com o uso da tornezeleira eletrônica que emite um sinal de alarme quando ele ultrapassa os limites estabelecidos pela justiça.


Na segunda história do filme, Ryan vive o criador de um reality show que acompanha as gravações do processo de criação e de aceitação de um programa de TV pela emissora e os eventuais conflitos entre o roteirista (Ryan) e os executivos da emissora.


Por fim, a terceira parte mostra uma família - pai, mãe e filha - presa numa reserva florestal por conta de um problema com o carro. Ryan vive o pai. O filme é aparentemente desconexo. Mas, de uma forma estranha, me disse muito sobre a identidade do ser humano e, ao contrário de 'Zeitgeist', passa ao largo de potenciais teorias conspiratórias para definir que as únicas conspirações existentes são as que imaginamos, sejam reais ou fantasiosas.





Fiquei bastante comovido com o filme e com a capacidade de irmos e voltarmos em nossas mentes para, no final das contas, nos darmos conta de que o que importa é o que temos, e não aquilo que almejamos. É algo simplista mas eficiente. Esse filme eu o assisti durante a semana, numa daquelas crises de insônia que se me abatem durante as madrugadas. E já não sei se tenho insônia ou se me comporto feito aquelas crianças que combatem o sono e, com isso, adquirem o hábito da insônia.


Digo isso porque, na mesma madrugada, ao zapear pelos canais depois do término de 'The Nine', encontrei 'Maurice'. Quer dizer, reencontrei. Já lá se vai mais de uma década desde que assisti ao filme no cinema e, ato contínuo, comprei e li o livro. E, de alguma forma simbólica, 'Maurice' fechou a trindade de filmes - 'Zeitgeist', 'The Nines' e 'Maurice'. Cada um com uma essência, um conceito, uma forma diferente de explicar, ou tentar explicar, o mundo. Cada um em busca de soluções.






'Maurice' (1987, Inglaterra, dirigido por James Ivory) se passa na Inglaterra vitoriana de 1900 e conta a história de Maurice (James Wilby) e Clive (Hug Grant). Ambos estudam juntos e descobrem que estão apaixonados um pelo outro. Enquanto Maurice se atira na paixão, Clive se retrai e os dois mantêm um amor platônico, sem sexo, pelo temor de serem descobertos numa época em que, na Inglaterra, o homossexualismo era crime e os 'criminosos' eram punidos de forma severa, inclusive com o repúdio da família. Enquanto Clive se força a um casamento de fachada para atingir ambições políticas, Maurice jamais consegue se libertar da sensação de estar deslocado dos verdadeiros sentimentos. E é nessa busca que Maurice encontrará respostas onde jamais imaginou. O filme fala sobretudo da aceitação de si mesmo e do que é preciso, enfim, para encontrar a felicidade. Comovente, une-se aos demais filmes relatados por este post - 'Zeitgeist' e 'The Nines' - na mesma busca: por respostas.





O que me levou a fazer tão extenso post é a união de três filmes, do cinema mesmo, em torno de temas que me são caros e que querem, apenas, respostas: de sentido, de identidade e da vida na mais pura concepção do cotidiano. Na verdade, a aparente complexidade dos temas propostos pelos filmes não passa de uma questão bem mais simples: a de que as respostas estão sempre em nós mesmos e na forma como abordamos, ou não, essas questões.


Foi uma semana produtiva no contexto fílmico, a despeito de muito trabalho e um stress crescente pelo pouco tempo que tenho em fazer as coisas que realmente importam. Mais: os filmes me fizeram alongar a mente ao invés de me perder em divagações subjetivas. Não obstante o fato de debaterem justamente a subjetividade, conseguiram, de alguma forma, me serem, os três filmes, mais objetivos do que eu previa. Simples assim!

sábado, 26 de setembro de 2009

A capacidade de ter schadenfreude versus compor com a gestalt

Schadenfreude, em alemão, é o nome que se dá à capacidade de se ter 'felicidade com a desgraça alheia'. É o mesmo que dizer que você se sente feliz ou alegre com o sofrimento ou a infelicidade alheia. Há, inclusive, um ditado alemão que diz: "Schadenfreude ist die schönste Freude, denn sie kommt von Herzen" - Schadenfreude é a alegria mais bela, já que ela vem do coração. Por outro lado, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer afirmou: "Neid zu fühlen ist menschlich, Schandenfreude zu genießen teuflisch" - Sentir inveja é humano, gozar da Schadenfreude é diabólico.





Em oposição a esse conceito 'do mal', os próprios alemães criaram uma outra teoria, que se aplica muito bem ao universo da arte e da psicologia. É a 'Gestalt' ou psicologia da forma. 'Gestalt' significa o que é colocado diante dos olhos, exposto aos olhares. Teoria com ampla aplicação prática, significa um processo de dar forma ou configuração. No sentido mais estrito, representa a integração de partes em oposição à soma do todo. Ou que o todo é maior do que a soma de suas partes. De forma que, ao se definir um processo como uma 'gestalt', é o mesmo que afirmar que tal processo não pode ser explicado pelo mero caos, a uma simples combinação de causas desconexas, e sim que a essência de tal processo é a razão de sua essência.





É meio complicado, sim. E não dá para elaborar a teoria inteira em post limitado. Mas, numa aplicação prática, a 'Gestalt' pode ser usada na pintura (na configuração da proporção áurea - tamanho das falanges, favos de uma colmeia, repetição de padrões das conchas do mar etc.), na publicidade (uso de símbolos que possuem alto poder de atração - pregnância) e na arquitetura (junção de formas que são agradáveis aos olhos humanos). Entre outros, fizeram uso do conceito o pintor Giotto (baseado na proporção áurea), Salvador Dalí e Marcel Duchamp (ilusão de ótica ou segregação figura-fundo, pela qual não se pode enxergar um objeto sem separá-lo do seu fundo).





Pois bem. O que tem a ver a felicidade com a desgraça alheia (Schadenfreude) com o todo que é maior do que a soma de suas partes (Gestalt)? Tem a ver com humanidade, com humildade, com uma percepção de que o mundo, como um todo, é superior às partes (sejam compostas de raças, credos, culturas, países mais ou menos ricos) e que a desgraça alheia significa, em grande medida, a própria ruína, com o quê, então, não tem fundamento comemorar com regojizo a desgraça alheia.





Porque, de certa forma, a decadência (ou desgraça, ruína, queda) do alheio (vizinho, parente, outra cidade, outro país) significa, desde já, que uma das partes que compõem o todo não é indivisível desse todo e, sendo assim, qualquer parte afetada provocará consequências, em geral, irreversíveis na composição do todo e o desequilibrará irremediavelmente.





Para mim, ambos os conceitos - Schadenfreude e Gestalt - aplicam-se perfeitamente ao mundo contemporâneo. Vivemos em sociedades extremamente competitivas que orgulham-se de feitos e desprezam os losers (fracassados). Rimos quando somos bem-sucedidos e também quando os outros não o são. Pisa-se constantemente nas cabeças alheias para galgar mais rapidamente os degraus de uma pretensa ascensão que, no fundo, não se traduz em felicidade. Ou seja, rir-se da desgraça alheia não traz a felicidade almejada. Apenas confina uma das partes do todo em ridículas prisões para, no fim, entender que a desgraça alheia compõe com a própria decadência.





A ideia toda de confrontar Schadenfreude e Gestalt me surgiu quando li no jornal uma entrevista com o filósofo e escritor suíço Alain de Botton que, de maneira nada polida, e sim troglodita, escreveu no blog do jornalista Caleb Crain, do 'The New York Times': "Odiarei você até minha morte. Observarei você com interesse e schadenfreude", disse De Botton, sobre uma crítica pouco elogiosa aos seus escritos.





Quando li isso, logo pensei que os filósofos, escritores e jornalistas podem, sim, ser bastante venenosos. E o são, efetivamente. E me surpreende (um pouco, apenas) que um filósofo seja capaz de emitir opinião grosseira assim, levianamente. Não estou a defender a classe dos jornalistas, a qual pertenço, porque sei do que somos capazes, munidos de palavras.





Ao contrário, me espantou que De Botton, cujo livro "Os Prazeres e Desprazeres do Trabalho" - editora Rocco - 328 páginas - que sai agora no Brasil, seja capaz de buscar o significado dos ofícios a ponto de seguir a trajetória de um atum do oceano Índico até a mesa de uma família em Bristol, na Inglaterra, e, simultaneamente, de se rir com a eventual desgraça do jornalista do outro lado do Atlântico.


O problema é que o livro aborda justamente a felicidade (ou não) no trabalho. A felicidade que, eventualmente, vem a ser mesma que De Botton pretende sentir quando Caleb Crain cair em desgraça. Faltou a De Botton, portanto, avaliar que tanto ele quanto o jornalista do 'The New York Times' formam a gestalt e, assim, dão forma a um mundo assombrosamente destituído de gestalt e, de forma aterradora, prenhe de schadenfreude. A mim me apavora essa condição humana. De verdade.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Cartão vermelho: coisas que, sem o menor pudor, eu expulsaria do campo da visão e das ideias

A mim me agradam muito alguns tipos de desafio que me propõem. É o caso do assunto deste post. Recebo, pois, o desafio, do amigo transatlântico Pinguim, do transmissível Why Not Now?, de apresentar o cartão vermelho para conceitos, atitudes, atos, fatos e pessoas que, a meu ver e segundo o meu próprio (ou impróprio) juízo de valor, mereçam expulsão sumária do campo da visão (o que os olhos não veem, o coração não sente) e do terreno das ideias.


Como trata-se de um meme (leia aqui para entender mais o conceito), ao aceitá-lo, aquiesço também para algumas regras. Claro que isso não é uma regra fechada, mas, no caso dos memes, gosto de dar continuidade ao tema sem romper com a corrente. Nesse caso, a proposta é que eu enumere dez coisas ou pessoas merecedoras do meu fuzilamento com o cartão vermelho e repasse igual incumbência para outros dez blogs à minha escolha.


Vamos, portanto, ao top ten dos que recebem o vermelho cartão. O cartão vermelho, como se sabe, significa, em vários esportes - futebol, esgrima, artes marciais, voleibol, futsal, rugby, hóquei e pólo aquático -, a expulsão do jogador de campo. É o que farei a seguir, ao menos do meu campo particular. Portanto, expulso, com o cartão vermelho na mão:





1. A falta de educação: a educação, a meu ver, independe da norma culta para ser cultivada. Tanto faz se você tem formação formal ou se é analfabeto(a). Ou você a tem ou não. É um princípio e a cada vez que me deparo com pedestres que andam nas calçadas públicas como se estivessem em seus próprios quintais, a espetarem guarda-chuvas nos olhos alheios, penso que a incivilidade grassa cada vez mais. O mesmo vale para motoristas de todos os calibres. Me incomodam, portanto, pessoas que furam filas, que se esbarram e não se desculpam, que não pedem, e sim mandam, que buzinam sem o menor motivo, que se irritam ante ao menor contratempo e, de forma geral, que se acham superiores aos demais. No Brasil, a falta de educação está associada, apropriadamente, ao termo 'malandragem', surrupiado dos bandidos, e usado para dar nome ao feio costume de se praticar pequenos atos impróprios com o fim único de se obter vantagem sobre os demais.



2. O preconceito: de todos os tipos - religioso, de raça, de orientação sexual, político, econômico, cultural. Qualquer tipo de preconceito sugere a prevalência de um conteúdo ideológico sobre outro com a consequente certeza de que a sua opinião deve se sobrepor à minha. Abomino.



3. A sujeira: me refiro à sujeira tanto no sentido de lixo quanto à sujidade moral, com o fim de prejudicar ou ofender. A sujeira, em oposição à limpeza, faz com que, de alguma forma, todo o ambiente se contamine e, ao final, nada mais reste que um imenso chiqueiro em que todos os tipos de porcarias, físicas e morais, são praticadas.



4. O politicamente correto: o conceito filsófico do politicamente correto partia do princípio de se evitar a utilização de termos discriminatórios para construir uma sociedade mais igualitária. Como nunca acreditei nessa premissa, o que vejo, atualmente, é um uso amplo do conceito em todas as coisas. Resta que usa-se o politicamente correto para acobertar algumas políticas totalmente incorretas e para formar juízo de valor, num claro desvirtuamento do conceito. Por esse motivo, expulso o politicamente correto de campo.



5. A intransigência (que também pode atender pelo nome de fanatismo): para mim, qualquer pessoa que defenda um ponto de vista e que queira converter os demais para a sua causa sem argumentos válidos, rapidamente se esgota em si mesma. Não suporto verdades absolutas e a falta de discernimento nas pessoas que se dão ares de doutas e, em flagrante contradição, não têm flexibilidade para ouvir opiniões divergentes.



6. O barulho: me esgotam os barulhos e ruídos de todos os formatos e feitios. Da conversa exacerbada e em altos brados aos ruídos diuturnos que não deixam mais ninguém em paz. O mundo precisa ouvir um pouco de silêncio para ser mais sereno. Nas cidades, não se ouve mais o som da natureza. O que se ouve é uma sinfonia industrial de grandes proporções. Portanto, estamos surdos ante os pequenos encantos auditivos e, quanto mais surdos, mais gritamos uns com os outros.



7. O falso moralismo: odeio quando a pessoa ser arvora de guardiã de qualquer tipo de moral em público e, em privado, é capaz de imoralidades inomináveis. Em compensação, tenho para mim que essas pessoas são feitas de papel ou de areia e se dissolvem com o tempo.



8. Os políticos em geral e o Congresso Nacional em particular: não consigo ver qualidades nem naqueles os quais ajudei a eleger. Desmerecem que eu fale demasiado sobre isso.



9. As amizades flutuantes: as chamo de flutuantes as amizades que se prestam pontualmente a determinado objetivo e, admito que, na medida em que amadureço, esse tipo tortuoso de amizade rareia. São pessoas que se aproximam por determinado interesse e que podem ficar muito tempo na sua vida. Mas, como não são autênticas, fenecem, mais dia, menos dia. Tenho horror, particularmente, dos 'amigos flutuantes' que, depois de longa ausência, confrontados com você, fingem ter te visto ontem ou, pior, disfarçam e fingem não te conhecer.



10. A memória: falo das memórias todas, boas e ruins. De repente, eu gostaria de ser imemoriado, não de doença ou por acidente, mas simplesmente ser assim, não ter memória alguma. Porque se as há, as boas memórias, em maior proporção existem as memórias ruins. E o pensamento pode pregar peças e atear fogo somente com o poder das memórias, tanto as boas quanto as ruins. De forma que dou um cartão vermelho para a memória, entidade independente que ousa trazer à tona certos pensamentos que deveriam estar arquivados no mais profundo dos hard disks cerebrais.


Com isso, encerro o rosário de 'avermelhados' e passo a bola para outros campos que, se assim o quiserem, podem expulsar seus próprios demônios:


- O Quem
- Carnet de Route
- Ricardo Soares
- O Mundo Mágico de HorseMan
- Histórias Que Nos Contam na Cama Antes da Gente Dormir
- Eu Só Queria um Café
- Construção e Desconstrução
- Mais de Mil Motivos para Combinar Palavras
- Cotidiano
- Algo Se Perdeu na Tradução

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

45 peças da minha casa de bonecas

Menino tem que brincar com bola e carrinho e menina tem que brincar de boneca e casinha. Establishment. Estabelecido. Nem um passo para cá (do menino) e tampouco para lá (da menina). Cada um na sua que o mundo é dividido entre machos e fêmeas.

Menino é azul. Menina é rosa. Quando não se sabe o sexo do futuro bebê, amarelo. Se for gay, transexual ou qualquer outra modalidade que não caiba no manual ortodoxo do sexismo prevalecente, que Deus nos acuda! Que será do enxoval (antigo, né!) desse futuro serzinho?

Daí que li sobre o lançamento de bonecos do filme "Crepúsculo" (Twilight) e fui procurar uma imagem dos respectivos. Me deparei com impressionantes sites que vendem bonecas (e bonecos, mais raros) de todos os jeitos, das mais antigas, da Belle Époque francesa até as mais sexies, inclusive nuas, em poses cheias de sensualidade.

Portanto, resolvi montar minha própria casa de bonecas. Por que não? Oras! Eu, que brinquei de bichinhos feitos de buchas vegetais na infância (que eram vaquinhas e boizinhos com direito a mangueiras cercadinhas), resolvi me arriscar nesse universo feminino, cheio de mistérios, com brinquedos que se assemelham a adultos e que, podem, para alguns, estender-se a mundos outros como os do fetiche. Não é o meu caso. Sério!

Posto aqui, portanto, uma bela coleção de 45 diferentes bonecas e bonecos (poucos) dos mais diferentes criadores. São, algumas, verdadeiras obras de arte. E que podem custar entre US$ 19 e US$ 900. Claro que existem outras, mais caras. Quanto mais arcaicas, tanto mais caras.

Há um blog sobre o assunto, com dezenas de links para quem tiver interesse em se estender no reino das bonecas. É o Brincando de Boneca. Mas a história das bonecas é bem mais rica do que as limitações impostas pelas convenções dos sexos. E tornou-se, em todo o mundo, uma atividade lucrativa, de colecionador. A palavra 'boneca' origina-se do espanhol 'muñeca' e é um dos brinquedos mais antigos e populares em todo o mundo. De certa forma, prepara a menina (ainda que eu não concorde com tal tendência de se dividir assim o mundo) para a maternidade, posto que a criança a embala e reproduz, no gestual, o papel da própria mãe. Se nós outros, meninos, fossemos assim educados, talvez saíssemos melhores pais em muitos casos.

A boneca é antiga: há registros que remetem à civilização babilônica e, em túmulos infantis egípcios, foi encontrada uma boneca de alabastro, em período que se situa entre 3 mil e 2 mil a.C. A Grécia e Roma antigas também tinham bonecas. A comercialização de bonecas, no entanto, começou na Alemanha no século XV, terra dos dochenmacher (fabricantes de bonecas). E foi em solo alemão também que surgiram as primeiras casas de bonecas. No século XVII, na Holanda, apareceram as primeiras bonecas com olhos de vidro e perucas, feitas de cabelos humanos. No século XIX, Thomas Edison (sim, o próprio) criou a ideia de uma boneca falante, que seria aproveitada por vários fabricantes. Atualmente, copiam-se celebridades e existem milhares de bonecas.

As mais famosas são as da linha Barbie, com versões do mundo todo. Para arrematar, há um filme magnífico, "Dolls", de Takeshi Kitano, que remete adultos a papeis de bonecos, manipuláveis, portanto, pelas emoções conduzidas pelo amor. Recomendo. Vamos, por fim, às bonecas:














































Autor e redes sociais | About author & social media

Autor | Author

Minha foto
Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

De onde você vem? | From where are you?

Aniversário do blog | Blogoversary

Get your own free Blogoversary button!

Faça do ócio um ofício | Leisure craft

Está no seu momento de descanso né? Entao clique aqui!

NetworkedBlogs | NetworkedBlogs

Siga-me no Twitter | Twitter me

Quem passou hoje? | Who visited today?

O mundo não é o bastante | World is not enough

Chegadas e partidas | Arrivals and departures

Por uma Second Life menos ordinária © 2008 Template by Dicas Blogger Supplied by Best Blogger Templates

TOPO