Blog Widget by LinkWithin
Connect with Facebook

domingo, 31 de agosto de 2008

Meu rugido dominical


Li num artigo sobre os conceitos de "fortuna" e de "vìrtu", relacionados por Maquiavel para explicar como a virtú pode dominar a fortuna. Maquiavel parte da figura da deusa mitológica Fortuna (deusa romana da sorte, boa ou má) que detém todos os bens que os homens desejam: honra, riqueza, glória e poder - para demonstrar a necessidade de se ter virtù, que vem a ser a coragem e a virilidade. Para Maquiavel, a virtù pode dominar a fortuna. Dito de forma mais simples, trata-se de explicar como é possível manter o domínio (poder) por meio do amor (virtù).


Claro que essa análise de Maquiavel foi feita num contexto político. Mas, serve bem para nortear as relações humanas porque política, sexo, amor e poder são, todos, intrínsecos às relações entre os homens.

Quando li o artigo que citava a análise de Maquiavel, percebi que tudo se trata de poder (fortuna) e da forma como exercemos esse poder (virtù ou coragem). O poder nos vem de várias formas ou o buscamos para preencher determinadas necessidades (sejam materiais ou não). Agora, ter a coragem ou virilidade para dominar esse poder é o pulo do gato.

São inúmeras as vezes em que me foi concedido o poder, de alguma forma, e iguais incontáveis vezes em que não fui corajoso para exercê-lo. Realizei, então, que a tal busca pelo poder nem precisa tanto assim de energia. Praticamente, se você está predisposto(a) a recebê-lo, o terá. 

Claro que isso não significa ganhar sozinho na loteria. A fortuna extrapola a riqueza material. Quando falo sobre riqueza, é mais abrangente do que o dinheiro em si. É o fato de você atrair o poder para você. Alguns me dizem que tenho esse poder: o poder de atrair para mim coisas positivas. Sempre fui incrédulo quanto a isso. Pura besteira!

O que nunca fui é audacioso o suficiente para aproveitar a fortuna do poder que me foi dado. E quanto mais acontece isso - e mais consigo ver - penso que se trata, afinal, de mudar a postura. A minha atitude. Ser mais  viril no sentido de agarrar o touro à unha e deixar com que a fortuna se materialize, domesticada, enfim.

Tendo sempre a me cercar de desculpas para evitar confrontos. Não sei quais fantasmas me deixaram assim, à mercê da inércia. É mais fácil deixar passar, ainda que o desejo esteja ali, latente, do que parar tudo e envolver-se.

Há uma espécie de gatilho que, ao ser acionado, fica ali, na tensão entre ser disparado e travado. Quase sempre, acabo por travar o gatilho e retirar cuidadosamente a bala. À essa altura, a mira está fora de alcance. Nesse aspecto, sei exatamente porque é assim: uma bala, ao ser disparada, não tem volta. Para o bem ou para o mal, ela fará a trajetória, sem Super-Homem ou Matrix para inverter a linha. 

Assim, me é mais fácil simplesmente não disparar. Por que não atirar simplesmente e ver o que acontece? Por que pensar e raciocinar tanto? Falta-me coragem. É isso. "Se eu atacar, sigam-me; se eu recuar, atirem em mim". Não tenho certeza, mas, creio que foi Napoleão que disse isso. A ele, não faltou coragem.

Agora, ao escrever este texto, acabei de ver que parti para um linguajar belicista (armas, balas, tiros). Você vê que, realmente, eu encaro tudo como uma guerra. Talvez esteja aqui o meu erro. Não se trata de guerra, com táticas e estratégias. É mais fluido que isso, eu sei.

Maquiavel pode ter morrido de forma obscura e os sonhos de grandeza de Napoleão foram exilados numa ilha distante, onde morreu em circunstâncias misteriosas. Mas, ambos não se furtaram a seguir suas fortunas e vìrtu, estivessem certos ou errados a respeito de suas convicções.

Creio que tenho muito a aprender sobre o conceito que Maquiavel usou em toda a sua obra. Mas, acredito também que acabei de descobrir que, em absoluto, trata-se de uma guerra, como acabei de escrever acima. Não sou um exército para cercar e tomar posições. A conquista, nesse caso, é bilateral, e não envolve disputas territoriais ou outras quaisquer. A única disputa que está em jogo é a coragem de permitir que o "inimigo" atravesse minhas fronteiras. Por enquanto, o que tenho feito até aqui é manter uma enorme muralha chinesa de proteção. Está na hora - just in time - de eu colocar abaixo o muro de Berlim que me divide.

P.S. Para ser justo com o mês de agosto, ao contrário do que postei  no blog no primeiro dia deste mês, aconteceu um monte de coisas durante este mês, mas, não enlouqueci (estive perto, por conta do trabalho). Houve uma série de acontecimentos que fizeram com que o mês fosse, em geral, muito bom. OK, OK, teve um ou dois episódios (talvez 3 ou 4) pelos quais passei por louco, mas,  foi tudo. De resto, o mês acaba hoje, sem grandes consequências. Acho!

sábado, 30 de agosto de 2008

Music

Foram mais de 17 horas ininterruptas de música, das 3 da manhã às 20 horas deste sábado. Estou exausto, mas, descarreguei toda e qualquer energia reprimida, estocada ou disponível. As luzes, dado o elevado nível de ruídos e outras percepções sensoriais, variaram como se fossem cubos mágicos. E mais não posso dizer porque música não se descreve, ouve-se.



(fotos iPhone)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Rastreio de Cozinha - 101

Gentem!!! Eu digo e repito: nada como o calor da cozinha para aquecer as pessoas. Hoje foi uma sexta-feira de cozinha, fogão e bar e não acaba aqui. Estou feliz por um série de motivos: a comida ficou boca, o fogo não apagou, no bar, a cerveja não entornou. E agora, José?


Agora, ir, seguir. Estou feliz. Deu tudo certo. A cozinha é mesmo um sacerdócio. É a cevada que desopila qualquer sensação incômoda que, porventura, tomou conta do fígado durante a longa semana. Porque, depois de escrever 18 matérias em cinco dias, mereço qualquer desafogo possível, eu sei.


(Macarrão de Camarões e Porco)

Mas, sendo redundante, sexta e cozinha andam juntas e andamos todos juntos, alguns mais próximos, e tudo fechou. Sabe quando você vê o círculo redondo? Pois é! Uma euforia que toma conta de tudo, faz tudo ficar mais brilhante e factível. Pode até ser que chova canivete no final de semana, mas, que a sexta iluminou a semana, ah!, isso iluminou.


(Peixe do Lago Ocidental)

Fizemos hoje quatro produções da maravilhosa cozinha chinesa: Macarrão de Camarões e Porco, Peixe do Lago Ocidental, Rolinhos de Primavera e Porco Chinês ao Barbecue.  Esse último prato, o Porco Chinês, entra como ingrediente do Macarrão de Camarões e Porco.
Como estou com pressa (tenho coisas a fazer, muitas), passo rapidamente a receita do Rolinho de Primavera, que é fácil, prático e gostoso:


Rolinhos de Primavera

Rendimento: 4 porções

Ingredientes

- 4 unidades de massa pronta para rolinhos primavera (sorry, descubra no google onde encontrar)
- 100 gr de carne de porco magra
- 20 gr de toucinho defumado
- 30 gr de broto de bambu
- 30 gr de broto de feijão
- 2 cogumelos shiitake
- 2 talos de cebolinha oriental
- óleo vegetal
- 10 ml de molho de soja (shoyu)
- açúcar refinado a gosto
- 10 gr de amido de milho
- sal e pimenta do reino a gosto

Modo de Preparo

1. Corte a carne de porco em fatias finas.

2. Desfie os brotos de bambu e quebre os brotos de feijão ao meio.

3. Corte os cogumelos em fatias finas.

4. Pique a cebolinha bem fininho.

5. Aqueça óleo numa wok  e refogue a carne de porco e o toucinho. Salteie durante alguns minutos.

6. Adicione os legumes. Regue com molho de soja, açúcar, sal e pimenta e mexa bem.

7. Dissolva o amido de milho em água, acrescente na wok e deixe engrossar. Resfrie.

8. Monte os rolinhos. Recheie generosamente cada um.

9. Frite os rolinhos em óleo bem quente para ficarem crocantes.

(Rastreie: Me, se for capaz. Ou você instala um GPS em mim ou nunca saberá porque a pressa, a felicidade e tudo o mais)

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Rastreio de Cozinha - 100


Olha o número deste Rastreio: 100! São cem aulas! Dá para acreditar? Claro que, inevitavelmente, entro agora em curva descendente. Daqui até o final do ano, falta pouco. Mas, a intensidade da carga de informações fará com que esses dias se estendam, longos. Porque, como decretou Einstein, o tempo é relativo.


No post de ontem, reclamei um pouco das atuais circunstâncias da faculdade e um certo azedume tomou conta de mim. Mas, cara leitora Débora, seu comentário apenas alimenta algo que já sei dentro de mim. Agradeço a mensagem e, esteja certa, sou cheio de vaivéns, mas, estou mais certo do que errado sobre o que faço e, às vezes, um pouco cético, reclamo do modo como as coisas acontecem.

É um chavão, mas, nada como um dia depois do outro. Veja só: hoje, com informações maçantes sobre o que é marketing orientado para a empresa e, depois, correções do TCC entregue em julho, estou aqui, de novo pronto para continuar. Se não totalmente animado, ao menos, mais estável em relação às minhas escolhas.

Tivemos nesta quinta-feira uma série incontável de refrões sobre o marketing mercadológico, a orientação para o mercado, viver do e para o mercado e, claro, uma boa dose de marketing pessoal. Quando leio uma revista de gastronomia, logo me salta o que está oculto no texto e imagens: tudo ali é mercado ou é alma?


Um prato refinado, uma história, uma passagem feliz, uma realização. Será que as pessoas fotografadas e entrevistadas estão ali com a alma ou com o mercado? Ao que parece, vende-se, sim, uma imagem. E as revistas de gastronomia estão cheias de egos, formatados especialmente pelo marketing pessoal de cada. Chega-se ao cúmulo de se citar em terceira pessoa! Isso não é alma, nunca! É mercadoria vendida, sim!

Não, não sou contra a auto-promoção. Mas, a partir de um determinado ponto, você passa a ser uma mercadoria e aquelas crenças que fundamentaram a construção de um sonho tornam-se, por fim, meros resquícios nos traçados do aceto balsâmico ou do azeite no leito do prato.
Em um prato está, a princípio, contida toda a sua essência: o desejo de satisfazer, de acertar, de dar ao outro uma extensão de você. Depois de reproduções em série, será que realmente resta sinal dessa fragmentação de você mesmo no prato? Nada! Não sobra nada.


Então, quando ouço o professor proclamar a moderna ditadura do marketing, penso que tudo é mais simples quando se trata apenas, e tão-somente, de comida. Pelos focinhos de porco da feijoada! É só comida!!! O marketing se faz sozinho, e nem mesmo ouso chamar de marketing. Me interessa o retorno emocional ao mercadológico. Para resumir, acho tudo um exagero e as revistas de gastronomia, a cada edição, somente confirmam minhas impressões.

Para finalizar, também tive aulas de Tentativa de Cabar Comigo (TCC). Tudo o que fizemos será alterado. Absolutamente! Ou eu sou burro ou tem algo de podre entre a cozinha e a sala de aula. Por que, pelas barbatanas de tubarões, todos os professores responsáveis por TCC não se juntam e elaboram uma única orientação, unificada, com o mesmo teor? Por que nos enlouquecer com mudanças no meio do jogo? Por que nos levar à beira de um ataque de nervos, nos acalmar e recomeçar a tortura? Seria de bom tom - mercadológico e de marketing, inclusive - se pensassem um pouquinho mais e fizessem, eles, professores, coordenadores e seja lá quem mais estiver envolvido, um único e exclusivo caminho a ser seguido, sem sobressaltos, contratempos e desvios.


Pela lógica, que falta em demasia para o meu gosto, toda a pregação em torno de organização, planejamento, orientação para o cliente, para o mercado, marketing de resultados, pessoal, empresarial e mais um amontoado de conceitos que se juntam numa argamassa dura, cai por terra quando aplicados à própria instituição em si que, aparentemente, não enxerga o óbvio. Ou eu é que estou doido de pedra e não percebi que os processos são assim, confusos e aleatórios porque, no final das contas, não há lógica nenhuma mesmo.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Rastreio de Cozinha - 99

"A sujeira é inerente aos hotéis e restaurantes porque a comida saudável é sacrificada em nome da pontualidade e da apresentação. O empregado do hotel está ocupado demais em aprontar o prato para lembrar que ele é feito para ser comido. Para ele, uma refeição é simplesmente 'une commande', assim como um homem morrendo de câncer é apenas 'um caso' para o médico. Um cliente pede, por exemplo, uma torrada. Alguém, pressionado pelo trabalho em um porão nas profundezas do subsolo, tem de prepará-la. Como ele pode parar e dizer a si mesmo: 'Esta torrada é para ser comida, devo fazê-la comestível'? Tudo o que ele sabe é que ela deve ter a aparência correta e ficar pronta em três minutos. Alguns pingos grossos de suor caem de sua testa na torrada. Por que se preocupar com isso? Depois a torrada cai na serragem imunda do chão. Por que se dar ao trabalho de fazer outra? É muito mais rápido limpar a serragem. A caminho da sala de jantar, a torrada cai de novo, com o lado da manteiga para baixo. Outra limpada, é tudo de que ela precisa. E o mesmo se dá com todo o resto. A única comida preparada com limpeza no hotel X. era a dos funcionários e a do patron. A máxima, repetida para todos, era: 'Cuidado com o patron e, quanto aos clientes, s'en fout pas mal!'. Em todos os cantos das áreas de serviço reinava a sujeira - uma veia secreta que atravessava todo o vistoso hotel como os intestinos no corpo humano."


Esse relato é um pequeno extrato do livro "Na Pior em Paris e Londres", de George Orwell, escrito em 1928, quando o escritor morou em ambas as cidades e passou fome tanto em Paris quanto em Londres. Em Paris, Orwell trabalhou no hotel acima descrito. O autor não revela o nome do hotel, mas, afirma que, na época, o estabelecimento figurava entre os dez mais caros de Paris. Tudo o que autor escreve é verdade. Foi baseado nas anotações de seus próprios diários.


Esse pedaço que reproduzi acima nem é dos piores em termos de limpeza no que se refere a bares, restaurantes e hotéis. Paris, segundo Orwell, era praticamente um esgoto a céu aberto e o próprio autor passa longos períodos - 15 dias - sem tomar banho ou escovar os dentes, assim como seus colegas de cozinha no hotel.

Nesta quarta-feira, as duas primeiras aulas foram de Planejamento e Organização que, entre outros conteúdos, privilegia todas as condições sanitárias que, teoricamente, devem ser adotadas em restaurantes e, por extensão, nas cozinhas dos restaurantes dos hotéis.

Não sei como é atualmente a higiene nos hotéis e restaurantes de Paris. Também não sei o que se passa nos restaurantes e em hotéis caros de São Paulo. Mas, duvido muito que esteja tão longe do descrito por Orwell, há 80 anos. É sabido que a maior parte dos empresários prefere, como no livro, apresentar um excelente cartão de visitas - o salão de jantar - a prover as condições ideais de limpeza de uma cozinha. E nem fico chocado com os relatos de Orwell.


Na aula de hoje, demonstrou-se à exaustão o que é correto em termos de organização e planejamento de armazenamento, manipulação, congelamento, resfriamento e preparação de alimentos. Mas, como a própria professora questionou, "a teoria vale na prática?". Tenho certeza que não. O caso da torrada ilustrado por Orwell pode bem ser aplicado a muitos restaurantes, assim como aquela carne que veio um pouco mal-passada pode retornar à cozinha e voltar com novos e estranhos ingredientes.

O mundo das cozinhas é sujo. Por mais que a fiscalização sanitária insista em medidas preventivas e efetivas de higiene e limpeza, sempre esse mundo será ideal para a disseminação de estranhas colônias. Em Paris ou São Paulo, tome cuidado com o que você come! Isso pode soar como um aparente paradoxo, já que uma de minhas pretensões é cozinhar para as pessoas. 

Mas, ainda assim, alerto que as alvas cozinhas vistas em revistas de gastronomia podem esconder um mundo assustador assim que o fotógrafo vai embora. Ou você acha mesmo que aquelas cenas de chefs famosos que jogam o prato fora porque esfriou e correm fazer outro são mesmo verdadeiras? Imagina! Aquilo é apenas para as lentes da TV.

As outras duas aulas foram de Gestão Financeira e fico cansado apenas de pensar que fizemos um monte de contas e estamos apenas no começo. Hoje, durante o dia, tomei um táxi e o motorista acabou por me confessar que tinha dois sonhos na vida: visitar Memphis (EUA), terra natal de Elvis Presley e comprar um carro, o Dodge antigo. Na hora, achei legal. Mas, depois, ao pensar sobre isso, achei mais legal ainda. Porque sonhos, todos os temos. Mas, quais de nós conseguem verbalizá-los assim, tão simplesmente? Para falar a verdade, eu nem sei mais quais são os meus sonhos.

Conto a história do taxista porque não sei traduzir para mim mesmo se a gastronomia é um sonho ou apenas um esforço para reprimir outras demandas. Ao constatar que, ao contrário do motorista de táxi, eu não tenho certeza de saber quais são meus sonhos, concluo que Orwell é que estava certo quando pergunta: "A questão que levanto é por que essa vida (do trabalho incansável de plongeur, o escravo mais escravo das cozinhas) continua, para que ela serve e quem quer que ela continue, e por quê?"


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Rastreio de Cozinha - 98


Se Maomé ... Eis que, decidido a me acomodar por um tempo, tenho aula de ... degustação de vinho!!! Note que não fui eu, desta vez. Foi a própria bebida que veio até mim. O professor (de novo, o mesmo da primeira semana; na semana passada, era outro, sobre o qual não sei o que foi feito dele) de Enologia e Enogastronomia começou a aula numa apertadíssima sala onde, quando cheguei, para me sentar, tive que colocar uma carteira sobre a outra.

Depois, começou toda aquela parte teórica sobre a qual eu ouvia uma palavra e deixava de ouvir três. Nessa classe, juntar duas turmas (umas 50 pessoas) é um crime. Quase ninguém ouve e eu fico com a impressão de que o professor finge que dá aula e nós fingimos que assistimos.


E, você quer saber? A coisa começa toda errada: na semana passada, ele foi substituído. O outro só falou. Nessa semana, ele volta e pede uma tal ficha para pontuar o vinho. Oras, tenha dó! Somos obrigados a adivinhar? E ainda reclama!

Sem a tal avaliação nas mãos, partimos para a degustação. Claro que, fiel aos princípios de sempre, a faculdade não tem uma estrutura eficiente para promover uma degustação decente numa micro-sala para 50 pessoas.

Até onde eu sei, deveríamos estar numa sala circular, com pouca gente, com todos a acompanhar cada gesto do professor (que não sei se é sommelier) para aprendermos como se faz. Para início de conversa, tudo já começou mal: a tacinha era de acrílico porque a faculdade ainda não recebeu as de vidro (não as de cristal, que é o correto). Essas pequenas (40 ml) tacinhas de acrílico, segundo uma colega, têm sido usadas para acomodar brigadeiros em algumas festas. Jamais para serem recipientes numa degustação de vinho.


Um colega fez a gentileza de nos servir, aos 50, as pequenas taças. Alguns apressados as receberam e beberam. Claro que, se estamos numa aula de degustação, não é para beber e pronto! Faríamos - e todos sabiam - a degustação de dois tipos de vinhos. No mínimo, temos que ter as duas ... argh! ... tacinhas de acrílico em mãos. Depois, recebemos a segunda tacinha.

Começa, finalmente, a prática da degustação. Primeiro, você tem que sentir os aromas do vinho. Depois, molhar os seus lábios para, finalmente, tomar o primeiro gole (15 ml). E lá fomos nós! Com toda a falta de estrutura e condições que não se caracterizam exatamente como as ideais, fizemos a degustação. Basicamente, ainda que eu insista em toda a estrutura inadequada, conseguimos distinguir um vinho do outro nessa experimentação amadorística.

Vou - sou tão metido! - avaliar ambos os vinhos degustados.


(Uva sauvignon blanc)

1. Sauvignon Blanc (vinho branco seco leve): o vinho era o chileno (claro que o francês está fora do nosso alcance) La Joya, safra 2007, teor alcóolico de 13,5%, da Viña Bisquet, produzido na região de Colchágna. O preço varia entre R$ 25 a R$ 30. São três exames que caracterizam a avaliação do vinho: o visual, o olfativo e o gustativo.

Segundo a minha avaliação visual (sigo apenas o que o professor listou), o vinho, branco, em cor amarela palha, é límpido, transparente, com brilho médio, viscosidade escorregadia (você sabe isso quando dá uma leve chacoalhada na 'taça' e o vinho desce pelas bordas mais lenta ou rapidamente). Aqui, conforme as regras da ficha de avaliação, a nota foi de 39 (numa escala de 0 a 50).

No exame olfativo, o aroma do sauvignon blanc chileno recende a frutas cítricas verdes, logo, frescas, como a maçã, a pêra e, talvez, um leve perfume de abacaxi quando descascado. O vinho tem notas levemente herbáceas, com um cheiro de grama orvalhada. Talvez, um tom quase imperceptível de serragem (madeira). Para mim, a nota nesse quesito foi 10 (numa escala de 0 a 25).

Finalmente, no exame gustativo, temos que avaliar a primeira impressão (é a que fica, não tem jeito, e isso vale para vinhos e pessoas, quase sempre). As minhas primeiras sensações (quem lê, pensa que vou virgem em bebida) foram de que o vinho é seco, meio amargo, com pouco álcool (nesse item, sou suspeito!), com acidez plana, textura entre áspero e rascante, tânico (adstringente), com variação final entre agradável e grosseiro. Entre corpo, equilíbrio e evolução, a nota chegou a 8 (numa escala de 0 a 20). Quanto ao aroma de boca (ou retrogosto), a nota foi 13 (numa escala de 0 a 40).

Na avaliação final, o vinho sauvignon blanc chileno é jovem e típico. A minha nota final foi de 70 pontos (numa escala de 0 a 135), o que coloca este vinho chileno numa média quase que abaixo do razoável (um vinho tem que ter, pelo menos, 60 pontos para ser considerado razoável).


(Uva chardonnay)

2. Chardonnay (vinho branco seco encorpado): de novo, o vinho era chileno, o Punto Niño (reserva), da safra de 2006, com teor alcóolico de 14%, produzido pela vinícola Laroche Chile, na mesma região Colchágua. O preço varia entre R$ 30 e R$ 35. Não vou repetir a fórmula inteira de avaliação porque pode ser aborrecido. A nota final que eu dei ao vinho foi de 80 pontos, o que o coloca, na minha adega, um pouquinho acima do sauvignon blanc. Só um pouquinho.

Para finalizar a aula de vinhos, sugiro que você sirva esses vinhos com os seguintes pratos:

- Sauvignon blanc: camarões, lagostas, risoto de frango, costela e lombo de porco, pasta com molho e recheio leves, comida tailandesa e mexicana, queijo de cabra e torta de maçã.

- Chardonnay: salmão defumado, bacalhau, sushi, sashimi, truta, galinha assada, cozida e grelhada, vitela, pasta com molho e recheio leves, comida tailandesa e chinesa, queijos brie e provolone, torta de maçã, frutas frescas e crepe suzette.

As outras aulas? E quem quer saber de gestão quando estamos à beira de indigestão com tanta comida e bebida?

(Reaja: e peça vinhos maravilhosos pela internet. Vai! Pelo menos uma vez por mês, permita-se! Você pode começar pela Mistral)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Rastreio de Cozinha - 97


Hahahahahahahahahahhahaha!!! Depois de um louco coquetel mais para Molotov do que para qualquer coisa que se assemelhe vagamente a um drink honesto, contido e, sobretudo, que fique no limite do conhecido, claro que não podia dar outro resultado: meu domingo foi mortal.

Me quedei combalido feito um doente terminal, com vagas sensações de consciência/não-consciência. De forma vampiresca, evitei a luz do dia. Comecei a acordar quando o sol dormia.


Foram seis bebidas diferentes que, reunidas, provocaram exaltação, negação e aceitação, nessa sequência: champagne, cerveja, vodka lemon, .... não sei o quê com gosto de anis, tequila e licor de cerveja. Até chegar na tequila, eu estava bem. Foi a.T. e d.T. (antes e depois da Tequila).

O depois foi uma sucessão de, segundo uma suspeitíssima testemunha, comportamentos heterodoxos, mudança de sexo, bocas esfregadas com bebida, sinais de bestialidade, amores de repente convertidos do nada a eternos e mais uma série de pequenos detalhes que se me escapam, dado que hostis ou melhor avaliados se devidamente esquecidos.


Tais são as evidências de uma noite que começou com promessas de convento (o prédio, com aparência e sinais de internato de calouras dos anos 30) e terminou com padres e freiras saídos do Decameron. Sei que, para você, que lê, tudo se converteu numa imensa e belicosa orgia. Há uma certa hipérbole de minha parte, mas, guardadas as vastas proporções para que todos nelas caibamos, o fato é que, ao final do jogo de vôlei masculino, liquidado o ouro para os norte-americanos, liquidamos, os brasileiros presentes no virtual convento, toda a bebida disponível.


Desse comportamento do tipo "eu não sou assim, não sei o que aconteceu", sobrou um domingo pelo qual atravessei a duras braçadas maratônicas e, se não soçobrei diante de tempestades majestosas, digo que estou pronto para uma vida de recolhimento e piedade.

Ficarei, por algum tempo (não me pergunte quanto porque isso é indiscrição), no cantinho, pronto para rever algumas atitudes e meditarei, ciente de que o purgatório é um bom local enquanto o inferno não chega para arder em definitivo.


Essa introdução com ar de confessionário vem do fato de que, para me mortificar por completo, claro que, hoje, HOJÍSSIMO, eu tinha um dead line à espreita, pronto para tirar proveito da minha incapacidade - momentânea, que fique claro - de lidar com algumas garrafas. Claro que estou preso a este teclado feito um imã desde alvas horas desta segunda que já beira terça. Fiz 87 matérias, a cabeça zune (neurônios morreram, computei mais alguns suicidas ainda hoje) e o corpo, revolto, tenta entender por que, por que que a gente é assim?


Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que a gente é assim?

Agora fica comigo
E vê se não desgruda de mim
Vê se ao menos me engole
Mas não me mastiga assim

Canibais de nós mesmos
Antes que a terra nos coma
Cem gramas, sem dramas
Por que que a gente é assim?

Mais uma dose?
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Baby, por que a gente é assim?

Você tem exatamente
Três mil horas pra parar de me beijar
Hum, meu bem, você tem tudo
Pra me conquistar

Você tem exatamente
Um segundo pra aprender a me amar
Você tem a vida inteira
Pra me devorar
Pra me devorar!

Mais uma dose?
É claro que eu tô a fim
A noite nunca tem fim
Por que a gente é assim?

by Ney Matogrosso


P.S. Aula???? Claro que não!!! Adivinha do que era??? Sim, de bar, drinks, coquetéis .... Acredita? "Benzinho, eu ando pirado, rodando de bar em bar ..." Chega, né!

domingo, 24 de agosto de 2008

Meu rugido dominical


RRRRRRRRRRRRRRROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOAAAAAAAAAAAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!!!!!!!!!!
(ressaca total, favor não incomodar!)

sábado, 23 de agosto de 2008

China


Em viagem de trabalho à China - cidades de Pequim e Shenzhen - uma amiga, a Ivy, registrou alguns momentos espetaculares da gastronomia chinesa e, muito gentilmente, me enviou as fotos que posto aqui no blog. Como eu já disse anteriormente, eu mesmo visitei a China em 2005 e, infelizmente, não fotografei nada relativo à gastronomia.


(Montagem de panqueca com recheio de pato laqueado)

Mas, a Ivy, sim, registrou momentos belíssimos e, para nós, ocidentais, bastante excêntricos. Pequim e Shenzhen são a 13ª. e a 32ª. cidades mais populosas do mundo, com 18 milhões e 12 milhões de habitantes, respectivamente. A cidade chinesa mais populosa é Shangai, com população superior a 20 milhões de habitantes. Estima-se que a China tenha entre 1,6 bilhão e 1,8 bilhão de habitantes, ainda que os órgãos oficiais insistam em divulgar o número de 1,3 bilhão pessoas.


(Caracol)


(Prato laqueado com rosas)


(Olho de Dragão - dragão é um fruto cujo sabor fica entre a pêra e o kiwi)

Pelos relatos da Ivy, que esteve no país cerca de um mês antes do início das Olimpíadas, Pequim e Shenzhen continuam, tanto quanto em 2005 (visitei Pequim e Hangzhou), a pleno vapor: "Tudo parece muito bem organizado em grandes cidades como Shenzhen e Pequim. Os canteiros das vias públicas são impecavelmente floridos, não há lixo espalhado pelas ruas e mesmo os pequenos boxes de outlets no comércio são bem distribuídos. O caos fica por conta mesmo da poluição ambiental e visual onde há concentração de comércio. O cenário negativo fica escondido", escreveu minha amiga em matéria sobre o país.


(Testículos de bode - bandeja verde com os "grãos" brancos)


(Lulas)


(Ouriço)

Para ocultar esse casos, a China investiu cerca de US$ 42 bilhões nas Olimpíadas. Investimento esse que inclui uma blindagem para esconder os hutongs, vilas típicas chinesas, bastante semelhantes aos nossos cortiços. Esse Great Firewall chinês equivale à Muralha: cerca tudo e mantém distante o olhar e acesso estrangeiros.


(Cobras)


(Escorpiões)


(Fritura de escorpiões)

Mas, a China, depois de séculos voltada para si mesma, terá que se abrir ao mundo porque precisa do mercado externo. Não sei avaliar se essa abertura será concomitante à liberalização política e de direitos no país. Sei que a China ditará muita coisa para todo o mundo nos próximos anos e todo e qualquer movimento chinês repercutirá tal qual aquela borboleta que bate asas aqui e provoca um terremoto lá.


(Grilos)


(Bichos-da-seda e escorpiões)


(Bichos-da-seda)

Posto, assim, algumas imagens dessa China, fascinante, atraente, que mata milhões de chineses, se preciso for, para fazer valer a vontade política dos dirigentes. A China, goste-se ou não, é parte desse mundo como o conhecemos e tem muito a ver com o modo de vida que o planeta terá para as próximas décadas.


(Caranguejo)


(Cavalos-marinhos)


(Testículos de cobra)

(Crédito de todas as fotos deste post: Ivy)

Autor e redes sociais | About author & social media

Autor | Author

Minha foto
Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

De onde você vem? | From where are you?

Aniversário do blog | Blogoversary

Get your own free Blogoversary button!

Faça do ócio um ofício | Leisure craft

Está no seu momento de descanso né? Entao clique aqui!

NetworkedBlogs | NetworkedBlogs

Siga-me no Twitter | Twitter me

Quem passou hoje? | Who visited today?

O mundo não é o bastante | World is not enough

Chegadas e partidas | Arrivals and departures

Por uma Second Life menos ordinária © 2008 Template by Dicas Blogger Supplied by Best Blogger Templates

TOPO