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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O caos calmo dos dias brandos

Voltei! Depois de 18 dias de um estratégico e benéfico recesso, volto em ano novo. Feliz ano novo, portanto. Ano do tigre no horóscopo chinês. Piso neste solo virtual devagar, meio assim sem jeito ainda. Os dedos parecem titubear ante o teclado. Desconhecem-se, dedos e teclas. Bem-feito para ambos. Reais e virtuais, homem e máquina atropelam-se até entrar em novo entendimento. E é sempre assim, não? Sempre quando se volta há uma sensação inicial de estranhamento.


Fui e quando o fiz, escrevi sobre fazer a migração do virtual para o real. Saí das telas para a paleta real. Essa quebra sempre é algo meio rígida: trata-se de atravessar cerca de 400 quilômetros de terra. E nesse percurso, o virtual deixa de sê-lo para, aos poucos, ser tomado pelo real. À cidade sucedem-se os campos. Aos espigões de prédios de São Paulo correspondem as florescentes espigas de milho. Ao cinza da paisagem urbana sobrepõe-se o verde das pastagens, cortadas apenas pelo cinza do asfalto.


Saio sempre de madrugada, a hora das estrelas. Por companhia, pesados caminhões. Por norte, as faixas das pistas que correm junto. Corremos, todos, eu e estrada, eu e o carro. Elevado a Deus ex machina pela potência do motor do automóvel, posteriormente serei reconduzido à condição humana.


Vejo, uma vez mais, o alvorecer. São seis horas da manhã e o dia ainda não sabe se pode tomar o lugar da madrugada. Pálidos raios de sol refletem nos vidros dos carros contrários. Amanhece sem transição. Desço do carro. Apeio, melhor dizer, que estava a montar alguns cavalos.


Faço a transição sem nem perceber: deixei uma mente e um corpo na capital e tomo posse de outro corpo e de outra mente no interior. Dispo-me da armadura. Deixo de ser soldado. Estou de férias. De folga de mim mesmo. Um "eu" alquebrado. Que fique para trás. O primeiro café, as primeiras conversas, o olhar sobre as coisas familiares e ao mesmo tempo temporariamente esquecidas. Uma planta nova, outra antiga que não está mais lá.


Não é que os dias passam. Eles são passados. Deixam-se atravessar. Devagar, brandamente. Tal qual uma massa de pão que descansa no escuro da despensa. O tempo é relativo. Einstein explica melhor do que eu essa sensação de que o tempo voa, de que o tempo não anda, de que as horas são mortas, de que o tempo não cabe na vida. Quem sou eu para discordar dessa liturgia do tempo que varia conforme a companhia, a geografia e a coreografia com o que se faz com o tempo que se tem ou não se tem?


Faço contatos imediatos com a natureza do lugar. É minha terra. São Pedro do Turvo. Mais de cem anos. Mas não de solidão. A cidade tem um eficiente sistema de comunicação: tudo é anunciado e explicitado pelo alto-falante que fica na construção mais alta do lugar: a igreja. Emitem-se notas sobre tudo e todos. Com alcance, calculo, de uns dois quilômetros de circunferência, perímetro mais do que suficiente para todos ouvirmos as notícias que sucedem-se indiferentes aos dias:


- Morreu uma mulher
- Haverá vacina contra a febre amarela
- Foi perdido um pen drive preto com pingente vermelho
- José perdeu todos os documentos
- Velório da mulher que morreu foi adiado para a 1 da manhã
- Mulher precisa de dez doadores de sangue
- Andréa perdeu uma carteira preta com todos os documentos
- Faleceu outra mulher
- Um homem perdeu a calça preta alugada para um casamento (!)


São todos fatos reais. Não inventei nada. São dois os sistemas de comunicação: as emissões da igreja católica e o serviço de alto-falante móvel. Na falta de um, o outro informa do mesmo jeito. Se você está na cidade, saberá, certamente, o que se passa na cidade. Perdem-se documentos a toda hora. Morre-se na mesma proporção.


Creio que deveriam anunciar os nascimentos (já que estamos no período de natal). E o que se acha. Porque para aqueles que sempre perdem sempre os há aqueles que acham. Deveriam anunciar as chegadas. E não apenas as partidas. Os encontros. Uma nota de felicidade. Deveriam tocar Requiem, de Mozart, ou as marchas fúnebres de Chopin ou Wagner. Ao invés disso, a música de fundo para os falecimentos é o Toque de Silêncio militar. Triste. Será que caímos feito soldados no front da vida e por isso precisamos ser encerrados com o toque do silêncio?


E o que você me diz do homem que perdeu as calças? Como assim? Perdeu na debandada? Na fuga? Na cachaça? Ou por distração? Estava acaso vestido com a calça? Ou, alugada a calça, passado o casamento, pensou que era melhor tirar e por outra, de uso cotidiano, para poupar eventuais danos à calça alugada? E, o tendo feito, saiu-se com mais danos que, por certo, a cidade inteira saberá quem as vestia. Coisas de cidade pequena em que os segredos também correm à boca pequena.


Deixo para trás também as notas de perdas (de vidas), de perdas (de documentos) e de perdas (de calças) e ganho (a estrada), ganho (a terra) e ganho (a vida). Estou na vida real, exatos 367 quilômetros depois da minha retirada da beira da Avenida Paulista. Estou nas Três Barras, bairro rural onde, literalmente, fui parido.


De novo, me vem a sensação de estranhamento. E respeito grandemente os cães, que me reconhecem sem pestanejar. Digo melhor: reconhecem em ondas de abanos de rabo e orelhas. Passam-se seis, oito meses, um ano e os cães nos reconhecem com uma exatidão que sempre me deixa perplexo.


Bato a primeira enxadada na terra. Faço fendas na terra, carpo o mato, a terra salta sobre os meus pés, calçados de sandálias Havaianas. E a terra entranha-se nos meus pés. Dos pés, sobe pelas pernas. Transpiro. Suo sal. E o sal volta à terra e eu à terra pelo sal do suor. Faço-me terra, derretido em sal da terra.


A vaca berra, os carneiros balem, os cães ladram, os cavalos zunem, as galinhas cacarejam, o galo canta as horas, os insetos zumbem, os pássaros trilam, as cobras ciciam (imaginação, não as ouvi, propriamente). É um caos. O caos calmo. Caos calmo dos dias brandos. Que acabam, ainda que eu queira que não. Que a teoria de Einstein é marota e nos engana: se queremos o tempo paralisado, aí é que voam as horas. Se o queremos urgente, as horas plainam, escorregadias.





Os voos ariscos das aves não deixam dúvidas. Também os céus com nuvens apressadas avisam: hora de voltar. Cai a noite. E com a noite, ligo o carro. Homem na máquina. Cavalos mecânicos. Apolo das estradas, percorro de volta na sequência: campo, campo, campo, cidade, campo, cidade, cidade, cidade. Voltam as luzes, o asfalto, os carros todos. Deus ex machina em marcha. Deuses porque somos centenas, milhares de faróis feito vagalumes a hesitar nas rodovias. Até entrar na cidade, no ano novo e me enterrar, feito os funerais dos anônimos, com o meu automóvel, na minha garagem subterrânea. Foi bom. Sempre é. Feliz ano novo!


P.S. Ah! Esse da foto sou eu, em versão colorizada pelo sol de verão bravo. Que estou a descamar de tanto sol porque, à maneira das cobras, talvez eu precise mudar de pele assim como mudo de comportamento quando saio à paisana pelo mundo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Keep walking

Escrevi em post anterior que posso, de repente, me desnudar e talvez fazer um ensaio (não tenham medo, não o farei sem antes adverti-los!). Eu disse para um amigo blogueiro que não pretendo transformar este espaço em um blog pornô. No entanto, um soft pornô até que rola, sabe! Ué! Você acha que não?


Outro dia, comparei São Paulo a Londres (obviamente, guardadas as devidas, justas e descabidas proporções). Me referia ao clima: ora frio, ora cinzento, ora chuvoso e até mesmo com um fog legítimo de Londres.


Há uns três dias, estamos como o diabo gosta: no calor dos infernos. Eu adoro o calor, o sol, o verão. Isto é, o meu cérebro adora muito tudo isso. Porque o corpo se escandaliza e, revoltado, entra num estado de malemolência e dormência que nada tem a ver com o que me vai pela cabeça. Acho ridículo isso. É como se eu fosse duas entidades separadas no nascimento. Gêmeos em mórbida dessemelhança. Ontem à noite caiu uma refrescante chuva de verão. Um ventinho, mais ligeiro que uma brisa, me acalmou (ao corpo). Mas não à mente.





Tive ímpetos de sair pelado na chuva. Juro! Estava ao telefone e até comentei com o interlocutor. Se eu estivesse no campo e não houvesse 87 mil olhos a me seguirem, eu teria saído em debandada feito um potro selvagem, totalmente revigorado pela água da chuva. Mas, cercado de prédios e com grande probabilidade de ser preso por atentado violento ao pudor (ui!), me contive e, no máximo, estirei o braço e a mão em direção às gotas. Não serviu para muita coisa. Mas, enfim, era o que tinha para o momento.


Hoje estou até meio catatônico: fiquei o dia inteiro no computador e o sol derreteu tudo lá fora. Agora é noite e ainda assim o ar está espesso. Parado, quase que me levita. De novo, me vem o ímpeto de rodopiar feito um animal aquático. Estava a pensar nisso quando me recordei do comercial do whisky Johnnie Walker (hummm.... adoro!). Mas a lembrança se deveu à peça publicitária daqueles homens-peixes que saem do mar, convertidos, para caminhar sobre a terra. Keep walking - continue a caminhar, diz o mote.





Eu continuo. Mas eu queria ir na direção contrária. Da terra para o mar. Às vezes, sou muito disperso. Me distraio e, de distração em distração, fujo completamente da primeira ideia para chegar a outra, lá no outro extremo. Ao buscar o vídeo dos homens-peixes, me deparei com outros que também posto aqui e que, de alguma maneira, fecham o círculo vontade de ficar nu/calor/água/comportamento primevo/chamado da natureza.


Abaixo, pois, posto mais dois vídeos que mostram a nudez masculina. Não! Não precisa sair da sala. Não há nada explícito ou hardcore! São vídeos absolutamente despidos - sem trocadilho - dessas tão atuais e violentas exposições do corpo humano.


É que, primeiro, num deles há a imagem que eu uso desde o início da criação deste blog como avatar da minha persona 'Redneck'. Por ora, me sinto, portanto, despido nesta figura e faço meu strip tease por meio desse quadro. O outro vídeo mostra obras de arte de todos os tipos com a figura do homem nu. Em ambos os vídeos, a trilha sonora é maravilhosa o bastante para que se mergulhe nessas águas. Com calor ou sem, convido você a tirar a própria roupa (de forma metafórica ou real, como queira), e divagar nessa diáfana nudez.







sábado, 26 de setembro de 2009

Sim, eu sou humano. E você?

Eu gosto de viver.
Eu gosto de namorar.
Eu gosto de gostar.
Eu gosto de tomar café.
Eu gosto dos meus amigos.
Eu gosto de dormir tarde.
Eu gosto de acordar tarde.
Eu gosto de falar besteira.
Eu gosto de estar entre as pessoas queridas.
Eu gosto de churrasco.
Eu gosto de beber.
Eu gosto de me divertir.
Eu gosto de dançar.
Eu gosto de ler.
Eu gosto de paquerar.
Eu gosto do sol.
Eu gosto do cheiro de mato.
Eu gosto da chuva.
Eu gosto de movimento.
Eu gosto de ficar parado.
Eu gosto de escrever.
Eu gosto de jantar fora.
Eu gosto de ver o pôr-do-sol.
Eu gosto de música.
Eu gosto de rir.
Eu sou um ser humano. E você?


Uma vez mais, em visita ao querido Pinguim, do Why Not Now?, tive o prazer de assistir ao vídeo que reproduzo abaixo. Não pretendo doutrinar ninguém, e sim apenas repetir, de novo e sempre, que sou humano como você e que gosto de muitas coisas que você, provavelmente, gosta. Porque sim, eu sou humano. E você? 

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Quem é aquele que se tornaria meu seguidor?

Antes que você se apresse em me seguir (follow me, de qualquer forma) no Twitter, no Google Friend Connect, no Meme ou no FriendFeed, quero deixar claro que o título do post não tem nada a ver com redes sociais. Talvez tenha, sim, a ver com redes. Outras redes, tecidas de tramas finas, tão finas que se rompem ao menor sinal de movimentos bruscos. Mas são outras, essas redes... Antigas, cujos fios ligam-nos uns aos outros pelo mundo de alguma forma não-racional.




Inspirado por essa tessitura que me conecta nesta rede aqui, a internet (rede inter: internacional, interfronteiras, portanto), e pelo inesperado muso do outro lado do Atlântico, o Pinguim, do blog Why Not Now?, que me introduziu ao poeta português Jorge Cândido de Sena e me incitou ao resgate da poesia neste blog que anda falto de poesia, derramo-me, portanto, em versos.




Sou mais de prosa do que de poesia mas, admito, também a prosa anda a passar ao largo neste espaço. Sim, tenho os tido, os livros, por perto, so close, sempre. Mas a prosa do dia-a-dia, mais banal, tem me retido em outras linhas que não as de livros. Portanto, retifico um bocadinho essa ausência literária e coloco logo um clássico de quem gosto por puro gosto de gostar, de entender e de fazer dele as minhas próprias palavras, por vezes tramadas nas redes que acima citei de tal forma que mais são os nós do que a trama.


Walt Whitman nasceu em Long Island em 1819 e é tido como pioneiro e precursor dos versos livres e de uma abordagem abrangente de temas sociais (não as redes, ainda, por favor, pelo menos não as sociais), do erotismo, da guerra, capitalismo, escravidão e da liberdade sexual. Numa palavra: contemporâneo. Em 1855, aos 35 anos, publicou aquela que seria a sua obra-prima - "Leaves of Glass" (Folhas de Relva), que é uma coletânea de poemas. "Leaves" seria alterado constantemente: foram oito reedições. Whitman era homossexual e foi, como muitos outros antes e depois, vítima de preconceito por assumir na própria obra a sua sexualidade.




"Calamus", uma das quatro partes de "Leaves of Glass", é texto cultuado pelo público gay. Perseguido por diversos setores, Whitman viveu principalmente com o apoio dos amigos e já então de alguns fãs que lhe reconheciam o talento. Morreu pobre em 1892. Hoje, é considerado o maior poeta norte-americano. Sorry! Too late! Tarde demais para aquele homem. Para nós, nos foi legada a herança de sua obra. E é com "Calamus" que presto homenagem à ars poetica, ou seja, ao ofício da poesia.


Calamus (parte 3)


Seja você quem for segurando-me na mão,
Sem uma coisa tudo será inútil,
Aviso em tempo, antes que me insista,
Eu não sou o que você supôs, mas muito diferente.
Quem é aquele que se tornaria meu seguidor?
Quem se assinaria candidato às minhas afeições? Você é ele?


O caminho é suspicaz - o resultado lento, incerto, talvez destrutivo;
Você teria que desistir de tudo o mais - eu sozinho esperaria ser seu Deus, único e exclusivo,
Seu noviciado seria assim mesmo longo e exaustivo,
Toda a teoria passada da sua vida, e toda a conformidade às vidas ao seu redor, teriam que ser abandonadas;
Portanto solte-me agora, antes de se dar ao trabalho - Tire as mãos dos meus ombros,
Largue-me, e siga o seu caminho.


Ou senão, apenas de leve, nalgum bosque, para tentar,
Ou atrás de uma pedra, ao ar livre,
(Pois em qualquer aposento coberto de uma casa eu não me mostro - nem em companhia. E em bibliotecas deito como um mudo, um parvo, ou não nascido, ou morto)
Mas apenas talvez com você numa alta colina - primeiro vigiando para que ninguém, por milhas em torno, se aproxime despercebido,
Ou talvez com você velejando ao mar, ou na praia do mar, ou alguma ilha calma,
Aqui botar seus lábios nos meus eu lhe permito,
Com o beijo demorado dos camaradas, ou o beijo do novo marido,
Pois eu sou o novo marido, e eu sou o camarada.


Ou, se quiser, me enfiando sob a sua roupa,
Onde eu possa sentir as batidas do seu coração, ou descansar no seu quadril,
Carregar-me quando atravessar terra ou mar;
Pois assim, apenas tocando você, é o bastante - é o melhor,
E assim, tocando você, eu dormiria em silêncio e seria levado eternamente.


Mas se você enganar estas folhas, corre perigo,
Pois estas folhas, e eu, você não entenderá,
Elas vão lhe escapar de pronto, e ainda mais depois - eu certamente vou lhe escapar,
Mesmo quando você ache que sem dúvida me pegou, cuidado!
Você já pode ver que eu lhe escapei.


Pois não é pelo que pus nele que escrevi este livro,
Nem é ao lê-lo que você irá adquiri-lo,
Nem aqueles que melhor me conhecem e admiram, e me elogiam com alarde,
Nem os candidatos ao meu amor, (a não ser no máximo pouquíssimos) serão vitoriosos,
Nem meus poemas farão só o bem - farão o mal também, talvez mais,
Pois tudo é inútil se o que você pode ter pensado muitas vezes mas não atingido - o que eu insinuei,


Portanto larga-me, e segue o seu caminho.


(tradução: Jorge Pontual)

sábado, 12 de setembro de 2009

Muito além do jardim

Na concepção cristã e em outras religiões, o Éden ou paraíso é o jardim almejado pelos humanos na pós-morte. Quer dizer, por aqueles que creem na passagem que, eventualmente, faremos do terreno para o divino. Desconfio que, além-morte, nada mais há do que apenas a terra a me cobrir. E é só.


No entanto, respeito a crença alheia e, por um instante, chego a experimentar até mesmo a sensação de crer no quem vem depois, no eventual paraíso, na paisagem de jardins exuberantes a me esperarem, com flores, pássaros e cheiros a alegrarem a minha eternidade. Ocorre que esses pensamentos travam-se no momento em que os tenho por acreditá-los demais fantasiosos. Ao contrário, acho que, em plágio a Sartre, se o inferno são os outros, também paraíso e purgatório são os demais. A trindade divina que sustenta algumas religiões - céu, purgatório e inferno - são, pois, alegorias que experimentamos aqui mesmo, nesta terra que nos há de encobrir tanto quanto já o fez a milhões antes de nós.


Na semana passada, dois noruegueses foram condenados à morte por um tribunal militar da República Democrática do Congo. Tjostolv Moland, de 28 anos, e Joshua French, de 27 anos, foram acusados pela morte de um motorista congolês e também de espionagem, roubo a mão armada e crime organizado. O julgamento foi feito em francês, língua desconhecida para os dois acusados, e sem intérprete.




E essa informação me suscitou o pensamento principal desse post: o mote central de algumas religiões garante o acesso ao paraíso, com eventuais paradas (ou entroncamentos) e, no extremo, uma descida aos infernos - e olhe que interessante: ao céu se ascende e ao inferno se baixa, em maniqueísta definição de alto e baixo, superior e inferior, acima e abaixo, teto e subsolo.


Desprezadas eventuais escalas no purgatório, me questiono o que há além dos jardins. Na fronteira que divide paraíso e inferno deve haver uma região limítrofe, uma Faixa de Gaza e, nas definições sempre assertivas de Stephen King, essas regiões devem se parecer a estranhos territórios nos quais vagam tipos erráticos, sempre prontos para nos solapar em nossas eventuais aspirações - tal qual escapar do eventual inferno. Por isso, chamo essa região de 'muito além do jardim'. Não é o inferno (ainda que eu me resguarde na afirmação de que o inferno são os outros), mas também não é mais o paraíso.


Nessa região intermediária, figuram exatamente 58 países que, dentro dos respectivos limites geográficos, mantêm seus próprios (muito além dos) jardins. Esses países, governados sob regimes democráticos ou ditatoriais, executaram, no ano passado, 2.390 pessoas e estabeleceram a pena capital para mais 8.864 condenados, segundo dados da Anistia Internacional. Outros 139 países rejeitam a pena de morte.


A seguir, o ranking dos países que executaram pessoas no ano passado por meio de apedrejamento, forca, cadeira elétrica, injeção letal, decapitação e câmara de gás:


- China - 1.718 pessoas
- Irã - 346 pessoas
- Arábia Saudita - 102 pessoas
- EUA - 37 pessoas
- Paquistão - 36 pessoas
- Iraque - 34 pessoas
- Vietnã - 19 pessoas
- Afeganistão - 17 pessoas
- Coreia do Norte - 15 pessoas
- Japão - 15 pessoas
- Iêmen - 13 pessoas
- Indonésia - 10 pessoas
- Líbia - 8 pessoas
- Bangladesh - 5 pessoas
- Bielorússia - 4 pessoas
- Egito - 2 pessoas
- Bahrein - 1 pessoa
- Botsuana - 1 pessoa
- Cingapura - 1 pessoa
- Emirados Árabes Unidos - 1 pessoa
- Malásia - 1 pessoa
- Mongólia - 1 pessoa
- São Cristóvão e Neves - 1 pessoa
- Síria - 1 pessoa
- Sudão - 1 pessoa


Esses países e mais 33 outros que não executaram pessoas no ano passado (mas o fizeram em anos anteriores) formam um imenso território de zonas de sombra. São as tais regiões fronteiriças citadas por King que muitos de nós, em são consciência, jamais colocaremos os pés. Acabemos, pois, com esse jardim melífluo, esse não-jardim.




É bom registrar que outros países, até muito recentemente, como pode ser visto na lista abaixo, ainda tinham a pena capital como castigo para crimes nas respectivas legislações. Esses países, a partir de 1976, aboliram a pena de morte por completo. O Brasil, inclusive, para a eventual surpresa de alguns(mas) leitores(as), chegou a executar pessoas sob a pena de morte. Abaixo, portanto, o ano em que os países aboliram a pena capital:


- 1976: Portugal
- 1978: Dinamarca
- 1979: Brasil, Ilhas Fiji, Luxemburgo, Nicarágua, Noruega e Peru
- 1981: Cabo Verde e França
- 1982: Holanda
- 1983: Chipre e El Salvador
- 1984: Argentina
- 1985: Austrália
- 1987: Haiti e Liechtenstein
- 1989: Camboja, Eslovênia, Nova Zelândia e Romênia
- 1990: Andorra, Croácia, Eslovâquia, Hungria, Irlanda, Moçambique, Namíbia, República Tcheca e São Tomé e Príncipe
- 1992: Angola, Paraguai e Suíça
- 1993: Guiné-Bissau, Hong Kong e Seychelles
- 1994: Itália
- 1995: Espanha, Ilhas Maurício, Moldávia e Yibuti
- 1996: Bélgica
- 1997: África do Sul, Bolívia, Geórgia, Nepal e Polônia
- 1998: Azerbaijão, Bulgária, Canadá, Estônia, Lituânia e Reino Unido
- 1999: Timor, Turcomenistão e Ucrânia
- 2000: Albânia, Costa do Marfim e Malta
- 2001: Bósnia e Herzegovina e Chile
- 2002: Sérvia e Montenegro
- 2003: Armênia
- 2004: Butão, Grécia, Samoa, Senegal e Turquia
- 2005: Libéria e México
- 2006: Filipinas
- 2007: Ilhas Cook, Quirguistão, Ruanda e Kazaquistão
- 2008: Uzbequistão
- 2009: Burundi e Togo

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O governo quer me preservar a saúde para me aplicar eutanásia

Protesto! GRITO! Esperneio! Quero falar em megafone: O GOVERNO SOMENTE QUER PRESERVAR A MINHA SAÚDE COM O FIM ÚNICO E ESCUSO DE, POSTERIORMENTE, ME APLICAR EUTANÁSIA!!!

O governo, essa entidade magna nas três esferas - federal, estadual e municipal -, vilipendia pessoas como você e eu, adota posturas claramente ditatoriais e de restrições individuais e, quando demandado, não existe. Onipresente e onipotente na fiscalização da minha e da sua vida, torna-se invisível quando às suas cortes somos obrigados a ir.


(Equipamento para a prática de eutanásia)

Há poucos meses, constatei que o meu Cadastro de Pessoa Física (CPF), documento que sou obrigado a ter por exigência federal, estava 'pendente de regularização', conforme a mensagem curta e grossa da excelsa Secretaria da Receita Federal, órgão tão vestuto quanto o eram as ordens religiosas espanholas do passado que promoviam as santas inquisições.

Diligentemente, eu, pessoa física, faço a declaração anual do imposto de renda, ainda que seja, para efeitos fiscais, declarado isento de fazê-lo. Porque, por outras circunstâncias, também sou, em simultâneo, pessoa jurídica (empresa, da qual sou, igualmente, empregador e empregado, de forma cômica), e pela qual já pagos os impostos (in)devidos.

Também mantenho duas contas correntes em banco - uma pessoa física, desse sujeito Redneck, e outra da empresa minha, de mim mesmo e de mais ninguém.

Por esses dois fatos - declaração de imposto de renda e manutenção de conta corrente ativa -, pela lógica, eu deveria estar automaticamente classificado como um cidadão - perante as tantas esferas governamentais -, contribuinte - que o sou - e em dia com os respectivos documentos. Pois que tanto o imposto de renda quanto a conta em banco requerem que eu exista, de fato, e que me movimente sem que eu levante suspeitas de fraude, tentativa de falsidade ideológica ou qualquer outra coisa que o valha.

Para o brasileiro, ficar sem o CPF (ou com o documento pendente) significa, entre outras coisas, a negação de emissão de passaporte, problemas com créditos financeiros e, de forma mais grave, bloqueio de conta corrente e até mesmo de outras ações inquisitórias da (santa madre) Receita Federal.

Para corrigir esse erro que não é meu, resolvi regularizar a situação. Paguei uma taxa e recebi em casa a convocação para ir à Receita e resolver o meu CPF pendente. Fui a uma unidade que o Estado de São Paulo criou para reduzir e concentrar nossos entreveros (deles): o chamado Poupatempo. São unidades nas quais, na teoria, tudo o que é legal, de âmbito federal, estadual e municipal, pode ser resolvido de forma mais rápida e simples.

Não é assim. Fui hoje ao Poupatempo, distante de casa 40 minutos (de ônibus), e, ao chegar ao local, me solicitaram dois documentos: o registro geral (RG), estadual e obrigatório, e o título de eleitor, federal e obrigatório. O RG, sempre o porto. O título, nunca, a não ser nas eleições, às quais somos, os brasileiros, obrigados a comparecer sob pena de pagarmos multa e sofrermos outras penalidades.

Como não estava com o título, a atendente me encaminhou para a estação Sé do metrô (distante 10 minutos) e me informou que lá eu encontraria um posto do governo (estadual) que me daria o meu número do título de eleitor. Ao chegar à estação, perguntei a dois Men in Black (MIB, polícia do metrô) onde ficava tal posto. Entreolharam-se e a mim e disseram que desconheciam a existência do posto.

Momentos antes, eu havia passado por um outro posto chamado "Acessa São Paulo" (estadual), que oferece internet gratuita ao cidadão. Voltei lá e questionei a viabilidade de consultar o meu título. Sim, é possível, me responderam. Me cadastrei, acessei o sistema, consultei meu título e obtive, enfim, o número de inscrição.

Retornei ao Poupatempo feliz, embora questionasse a inexistência de tal posto dentro dos limites do próprio Poupatempo. Voltei à recepção, falei com a mesma atendente e ela: mas você não imprimiu a consulta? Eu: não, eles não me liberam a impressora. Ela: sim, eles fazem isso. Eu: bem, para mim não fizeram. Pausa. Eu: mas estou com o número aqui. Ela: não, você tem que dar impresso. Eu: mas hoje se encerra o prazo. Ela: você paga de novo e volta aqui em dois dias, com o título original. Eu: mas... Ela: é assim.

Saí do Poupatempo combalido, totalmente cônscio que nada me havia sido poupado. Nem tempo e muito menos dignidade como cidadão. De volta para casa (de metrô), observei nos vagões do trem cartazes que alardeam números vistosos do governo estadual sobre segurança, transporte, educação e saúde. Me vi ante a propaganda eleitoral gratuita.

Certamente, o governo estadual começou a preparar a plataforma marqueteira para a candidatura presidencial que se avizinha. Esse mesmo governo que, lá no interior do Poupatempo, quer que eu o alimente de documentos os quais, provavelmente, tem arquivado nos inúmeros computadores. Não achei graça.

Tanto na ida quanto na volta, meu iPhone estava conectado na música "Teardrop", do Massive Attack. Eu havia optado por essa música porque, ao saber que ficaria no trânsito (municipal), precisava de algo que me isolasse da sujeira e barulho da cidade (municipal). "Teardrop" (lágrima) é perfeita porque me remete ao vídeo, que é lindo.

Mas, repito. Não achei graça e a música começou a me aborrecer. Na verdade, quanto mais eu a ouvia, menos eu achava graça. #EuNãoRi! De fato, uma teardrop quis rolar, sorrateira, e eu a retive por recato. Me senti humilhado pelas indiferentes instâncias - federal, estadual e municipal - que me reduziram a uma teardrop seca.

O governo, esse ente que, ganancioso, me cobra insistentemente de tudo e que tem restringido minhas individualidades, trabalha, a meu ver, para me deixar saudável (ao me proibir de fumar onde eu bem entender, conforme a deliberação do local) com o firme propósito de aplicar em mim a eutanásia. Por definição, a eutanásia é a prática pela qual se abrevia a vida de um doente incurável (eu, fumante) de forma controlada (pelo governo) e assistida (por outros cidadãos como eu que lá estavam presentes). Nesta terça-feira, dia 25, me foi aplicada a eutanásia moral.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

45 peças da minha casa de bonecas

Menino tem que brincar com bola e carrinho e menina tem que brincar de boneca e casinha. Establishment. Estabelecido. Nem um passo para cá (do menino) e tampouco para lá (da menina). Cada um na sua que o mundo é dividido entre machos e fêmeas.

Menino é azul. Menina é rosa. Quando não se sabe o sexo do futuro bebê, amarelo. Se for gay, transexual ou qualquer outra modalidade que não caiba no manual ortodoxo do sexismo prevalecente, que Deus nos acuda! Que será do enxoval (antigo, né!) desse futuro serzinho?

Daí que li sobre o lançamento de bonecos do filme "Crepúsculo" (Twilight) e fui procurar uma imagem dos respectivos. Me deparei com impressionantes sites que vendem bonecas (e bonecos, mais raros) de todos os jeitos, das mais antigas, da Belle Époque francesa até as mais sexies, inclusive nuas, em poses cheias de sensualidade.

Portanto, resolvi montar minha própria casa de bonecas. Por que não? Oras! Eu, que brinquei de bichinhos feitos de buchas vegetais na infância (que eram vaquinhas e boizinhos com direito a mangueiras cercadinhas), resolvi me arriscar nesse universo feminino, cheio de mistérios, com brinquedos que se assemelham a adultos e que, podem, para alguns, estender-se a mundos outros como os do fetiche. Não é o meu caso. Sério!

Posto aqui, portanto, uma bela coleção de 45 diferentes bonecas e bonecos (poucos) dos mais diferentes criadores. São, algumas, verdadeiras obras de arte. E que podem custar entre US$ 19 e US$ 900. Claro que existem outras, mais caras. Quanto mais arcaicas, tanto mais caras.

Há um blog sobre o assunto, com dezenas de links para quem tiver interesse em se estender no reino das bonecas. É o Brincando de Boneca. Mas a história das bonecas é bem mais rica do que as limitações impostas pelas convenções dos sexos. E tornou-se, em todo o mundo, uma atividade lucrativa, de colecionador. A palavra 'boneca' origina-se do espanhol 'muñeca' e é um dos brinquedos mais antigos e populares em todo o mundo. De certa forma, prepara a menina (ainda que eu não concorde com tal tendência de se dividir assim o mundo) para a maternidade, posto que a criança a embala e reproduz, no gestual, o papel da própria mãe. Se nós outros, meninos, fossemos assim educados, talvez saíssemos melhores pais em muitos casos.

A boneca é antiga: há registros que remetem à civilização babilônica e, em túmulos infantis egípcios, foi encontrada uma boneca de alabastro, em período que se situa entre 3 mil e 2 mil a.C. A Grécia e Roma antigas também tinham bonecas. A comercialização de bonecas, no entanto, começou na Alemanha no século XV, terra dos dochenmacher (fabricantes de bonecas). E foi em solo alemão também que surgiram as primeiras casas de bonecas. No século XVII, na Holanda, apareceram as primeiras bonecas com olhos de vidro e perucas, feitas de cabelos humanos. No século XIX, Thomas Edison (sim, o próprio) criou a ideia de uma boneca falante, que seria aproveitada por vários fabricantes. Atualmente, copiam-se celebridades e existem milhares de bonecas.

As mais famosas são as da linha Barbie, com versões do mundo todo. Para arrematar, há um filme magnífico, "Dolls", de Takeshi Kitano, que remete adultos a papeis de bonecos, manipuláveis, portanto, pelas emoções conduzidas pelo amor. Recomendo. Vamos, por fim, às bonecas:














































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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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