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terça-feira, 6 de julho de 2010

Paróquia global

Você sabe o que é buzz? É barulho, burburinho, falatório, o popular zunzum. É algo que começa como uma pequena fagulha e se transforma em um incêndio de proporções consideráveis e atinge de pequenos focos a grandes extensões. Alguns buzzes provocam reduzidos fogareiros e, por falta de oxigênio, minguam. Outros, tal qual rastilho de pólvora, espalham-se e tomam conta de áreas que se imaginavam seguras.


Você já viu uma queimada? Voluntária ou não? Eu já. No interior de São Paulo (que eu conheço bem), é comum os plantadores de cana de açúcar atearem fogo nos canaviais antes da colheita. Essa prática será proibida a partir de 2014, nas áreas mecanizáveis (sem declives, onde é possível trafegar com colheitadeiras), e em 2017 em áreas não mecanizáveis. Essas queimadas atingem proporções de incêndios incontroláveis e têm por objetivo queimar a palha da cana e facilitar a colheita, dizem os produtores. Se a colheita é feita a foices por trabalhadores rurais, talvez ainda existisse sentido nesse procedimento (os canaviais são viveiros de cobras). Como é feita, em mais de 55% dos casos, por máquinas, o processo de queimada deixa de ter importância.


Bem, outras queimadas, involuntárias, podem destruir um sítio inteiro se não forem controladas. Destruíram a casa dos meus avós. Foi um raio. E queimou tudo, até a última ponta. Sobraram apenas moedas antigas.


O buzz é assim. Voluntário ou não, provoca queimadas gigantescas ou pequenas. Mas sempre alguém sai chamuscado. E, alguns, devastados, irremediavelmente.


Somos, no globo terrestre, 6.854 bilhões de pessoas (até hoje, 6 de julho de 2010). Desse todo, 1,8 bilhão acessamos a internet pelos mais diversos meios. Ou seja, 26,6% de nós está conectado online. Podemos, guardadas as limitações de língua e entendimento cultural, saber de tudo o que acontece no mundo instantaneamente, no momento mesmo em que ocorrem os eventos.


Você sabe o que é uma paróquia? É uma subdivisão territorial criada pela igreja católica para delimitar uma determinada comunidade de pessoas que frequenta determinada igreja. A paróquia também era chamada, antigamente, de freguesia. Assim, pequenas comunidades, em geral, estavam associadas às respectivas igrejas - a matriz (construções mais imponentes, com cruzes que dominam as cidades), a igrejinha (de menor proporção) e capela (ainda menor, presente inclusive em áreas rurais que, antes, ainda concentravam um certo volume de pessoas).


Bem, paróquia serve muito bem para definir muitas cidades no Brasil. Inclusive a minha própria, cuja população urbana não passa dos 4 mil habitantes. Paróquia, portanto, é sinônimo de uma cidade onde se sabe (quase) tudo de todos o tempo todo. São Pedro do Turvo, nesse contexto, é uma paróquia.


Quando você, com um click aqui e outro ali, consegue unir-se a um universo de 1,8 bilhão de habitantes da Terra, estabelece uma paróquia virtual. É quase possível acessar tudo o que quiser, se tiver um pouco de paciência. Se você pertence a alguma rede social, fica ainda mais fácil. E quando você passa a deter as ferramentas para uso massivo na internet (postagens de textos, fotos, vídeos), você ultrapassou a útima fronteira e passa, portanto, a ser gerador de conteúdo.


Dado esse salto, você tem uma vastíssima paróquia virtual para usar a seu bel-prazer, para o bem ou para o mal. A paróquia deixa de ter limites geográficos, na origem do mundo terreno, e passa a ser limitada tão e somente pelo acesso ou não do usuário. É uma paróquia de qualquer forma. E é aqui que o buzz passa a ter poder de fagulha, fogueira, queimada ou incêndio de grandes proporções.


E foi nesse sentido que uma mulher traída, do interior de São Paulo, de Sorocaba, resolveu usar uma dessas ferramentas - YouTube - e dizer ao mundo que era vítima de traição. Uma intriga paroquiana tratada com as armas modernas de destruição em massa que a internet nos legou. Antes, porém, a traída se preparou: obteve acesso aos e-mails trocados entre o marido traidor e a amante. Municiada, chamou a amiga (?) para uma conversa que, teoricamente, era privada. Não era! Ferida no orgulho de fêmea traída, gravou a conversa com a amiga, surrou a traidora e ainda gravou. Finalmente, colocou no ar o vídeo para Sorocaba, São Paulo, Brasil e o mundo assistirem a desforra.




A paróquia ficou pequena. Não cabe mais na cidade, no bairro ou no edifício, conforme a cidade. Precisa ser fotografada, transformada em versão big brother e emitida em broadcasting (em internet, chama-se webcasting, que é a transmissão de imagens via rede). Acabou-se o mundo dos pequenos escândalos, fadados a encerrarem-se em suas próprias comunidades. Acabou-se a restrição imposta pelos antigos e discretos - "roupa suja se lava em casa". As roupas não apenas são lavadas publicamente como são estendidas em varais virtuais para o mundo ver o processo de secagem (ou de outros desdobramentos).


A fofoca é tão antiga quanto o mundo. Começou com as intrigas da serpente entre Adão e Eva, na versão bíblica, e, lhe asseguro, houve alguém, estou certo, que contou ao criador que Caim havia matado Abel. Como não acredito no conceito de onipresença, tenho certeza de que algum(a) fofoqueiro(a) correu a contar ao criador que Caim havia matado Abel por inveja.


A internet e toda a cadeia de dados que nos une uns aos outros e cada vez mais somente potencializa a fofoca em níveis nunca antes vistos. Agora, podemos contar aos vizinhos (aos quase 7 bilhões de vizinhos do planeta) tudo aquilo que antes guardávamos no recato de nossas pequenas paróquias. Acabou o recato. Abaixo, claro, o vídeo da traída e da traidora. Sou parte dessa humanidade e, portanto, também faço parte do buzz, cuja premissa, para ser concretizada, é que se passe à frente a fofoca.




quarta-feira, 30 de junho de 2010

Consumo consciente

Consumo consciente significa transformar o ato de consumo em uma prática permanente de cidadania. Quando assim exercido, extrapola apenas aquele ímpeto de satisfazer a necessidade individual, egocêntrica, de alimentar mesmo o ego. O consumo consciente leva em conta os reflexos do ato do consumo na sociedade, na economia e até no meio ambiente.


Por isso, se você compra produtos de uma empresa que usa mão de obra escrava lá da Ásia ou do Oriente Médio, você acaba por financiar práticas consideradas execráveis. Para se contrapor a essas práticas, você deve comprar, por exemplo, alimentos orgânicos, não adquirir produtos feitos por criancinhas e muito menos os enlatados e derivados que agridem o meio ambiente.


Existe até mesmo uma lista de princípios do consumo consciente, tal qual mandamentos a serem seguidos quando se trata de comprar. São 12 os princípios:


1. Planeje suas compras e compre menos e melhor.
2. Avalie os impactos do seu consumo no meio ambiente e na sociedade.
3. Consuma somente o necessário, reflita sobre suas reais necessidades e tente viver com menos.
4. Reutilize produtos. Não compre outra vez aquilo que você pode consertar e transformar.
5. Separe o lixe e comece a reciclar. Isso economiza recursos e gera empregos.
6. Use crédito com responsabilidade e não se jogue nas prestações (até 17 vezes na Casas Bahia) ou nos cinco cartões de crédito que você tem.
7. Valorize as práticas de responsabilidade social das empresas.
8. Não compre produtos piratas. Combata o crime organizado.
9. Contribua para a melhoria de produtos e serviços e envie sempre sugestões e críticas às empresas.
10. Divulgue o consumo consciente. Desfralde essa bandeira assim como quem desfralda um varal inteiro de lençóis tamanho queen size.
11. Cobre dos políticos ações que valorizem o consumo consciente.
12. Reflita sobre seus próprios valores, reveja seus princípios e hábitos de consumo.


Me acompanhou até aqui??? Bullshit!E você acha mesmo que acredito nessa besteirada? Para mim, o tal do consumo consciente é invenção de mentes desocupadas. Alguém pode me dizer como consumirei de forma consciente se mal consigo respirar? E se consumo de forma desenfreada, acaso alguém pagará minhas contas? Tudo isso muito se me assemelha à maldita prática do politicamente correto.


Desenvolvido em um país que é dos mais politicamente incorretos, os EUA, o conceito é amplo o bastante para abrigar qualquer coisa que seja, exceto aquilo que os inventores descartam. Oras! Consumo consciente, tststststs!!! Abaixo, uma verdadeira lição do que é consumir. Consumo consciente de que haverá alguém pronto para satisfazer as mais primitivas necessidades. Em Paris, podemos conversar sobre a consciência e os efeitos do consumo no meu e no seu corpo!




As liquidações de Paris começaram hoje, 30. O Forum des Halles, complexo de 170 lojas que fica no centro parisiense resolveu inovar. Até sábado, 3, consumidoras (não entendi porque tal discriminação, mas nada que uma boa peruca e salto 15 não resolvam) terão 12 bofes treinados e uniformizados para acompanhá-las em suas compras. Por 1 hora, cada mulher que lutar para comprar terá direito a um desses bofes para segurar sacolas e esperar do lado de fora (!) do provador.


Os meninos - apropriadamente apelidados de "huge boy" terão uma imensa sacola, a "huge bag", para ser preenchida pelas compras. Os huge boys medem 1,90 e, de novo, acertadamente, foram escolhidos sob medida - under measure>: passaram por um centro de treinamento que durou meses. O serviço funciona por reserva - neste link aqui e aproveite e veja os bastidores do treinamento nos vídeos - e é gratuito.


Mas corra, perua, corra: as agendas dos huge boys estão lotadas. Nos vídeos, os huge boys exercitam bíceps, sobem e descem escadas e a consumidora mais sortuda ainda terá um dia de "pretty Julia Roberts woman": uma limusine na porta de casa para começar a peregrinação a Meca, digo, Paris, ao lado de um huge boy que, além de ficar colado na maldita, ainda lhe dará 1 mil euros para as comprinhas. Isso é consumo consciente. Consciente de que consumir pode ser um ato insubstituível de prazer. E quem defender o contrário é porque não dispõe de cartão de crédito e sonha que um dia chegará a Paris. Então sonha!

quarta-feira, 31 de março de 2010

Vai indo que eu não vou

"Vai indo que eu não vou" pode, perfeitamente, ser uma expressão de troca de gentileza entre os motoristas da cidade de São Paulo. Pode, por outro lado, provocar ainda mais a ira dos habitantes dessa grande cidade que, em 2009, tinha mais de 11 milhões de moradores e mais de 6 milhões de carros, numa proporção de mais de um carro a cada 2 moradores. "Vai indo" indica que eu desejo que você se mova, se locomova, se adiante a mim no caminho. "Que eu não vou" significa dizer que ninguém vai, ainda que eu e você desejemos avançar.




É assim: nas duas últimas semanas, depois de quase quatro anos afastado do insano tráfego da cidade de São Paulo pelo singelo motivo de trabalhar em casa, tenho saído de carro quase todos os dias nos mais diferentes horários. Claro que não me passa desapercebido o quanto o trânsito em São Paulo fica, ano a ano, mais caótico. Mas a minha percepção não foi ampla o suficiente para a realidade que encontrei: não teve dia ou hora em que eu não ficasse parado, com raiva e, por fim, frustrado por não conseguir fazer metade do que havia programado exclusivamente em função dos congestionamentos da cidade.


Entre 2001 e 2009, ou seja, em apenas oito anos, a frota de veículos na cidade de São Paulo aumentou quase 50%: foi de pouco mais de 4,1 milhões de veículos para 6 milhões de carros. A essa ampliação, obviamente, não correspondeu, de forma alguma, a expansão das artérias urbanas da cidade. São Paulo não comporta mais ruas ou extensas avenidas. O que está feito, está feito. E as velhas soluções de viadutos e recortes de ruas ou avenidas, claramente, não têm sido suficientes para mudar esse cenário.




Está em fase de inauguração o chamado "anel viário" que ligará, feito um círculo, as principais vias de acesso a São Paulo, tanto de estradas federais, quanto interestaduais e estaduais. Os especialistas e defensores dessa obra defendem que, ao tirar os veículos pesados de circulação no perímetro urbano de São Paulo (esses veículos serão proibidos de trafegar dentro dos limites do município), o trânsito responderá imediatamente e nos sentiremos, todos, desafogados. Não acredito nisso. 


Nos dois primeiros meses deste ano, foram vendidos, no Brasil, quase 400 mil veículos, um aumento de cerca de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. A cidade de São Paulo foi castigada, este ano, por 44 dias ininterruptos de chuva, o que contribuiu para sucessivas quebras de records de congestionamento: 111 Km, 156 Km, 189 Km, 211 Km, 217 Km. No ano passado, houve um record histórico: 293 Km de congestionamento das vidas da cidade, no mês de junho.




O transporte coletivo, primeira alternativa ao veículo próprio, no entanto, não é uma alternativa: minha faxineira, que vem uma vez por semana, gasta, algumas vezes, 4 horas para se locomover do Jardim São Luís até o Jardim Paulista (distantes cerca de 20 Km). Quer dizer, ela consegue se mover 5 Km/hora! Se conseguisse caminhar essa distância a pé, faria o mesmo percurso em pouco mais de 6 horas (a uma velocidade média de 3 Km/hora, que é a medida normal de caminhada). Sim, demoraria mais mas, certamente, seria mais saudável, já que a cada 15 minutos de caminhada, uma pessoa pode queimar até 35 calorias. Não, não sou um déspota para sugerir que ela deveria vir a pé. Somente quero dizer que, ao passo (sem trocadilhos) que um ônibus avança 5 Km/hora, uma pessoa avança 3 Km/hora. Se viesse a cavalo (velocidade média de 12 Km/hora), ela chegaria em menos de 2 horas!!!




Aposentemos, pois, os carros de São Paulo e vamos a cavalo, todos. Faremos cavalgadas de Apolos e Amazonas, sem pressa. Transformemos as imensas vias congestionadas em prados verdes, em caminhos recobertos de natureza. Deixemos de abastecer os tanques de nossos carros com potência de "X" cavalos para alimentar nossos cavalos com grama que servirá, também, para que a pisemos com pés descalços. Ou vamos nos desejar cada vez mais em intervalos menores: "vai indo que eu não vou" sem que ambos saiamos do lugar.

quinta-feira, 4 de março de 2010

O soldado e a bailarina

É universal o conto de Hans Chirstian Andersen, "O Soldadinho de Chumbo", segundo o qual o valente soldado de uma perna só apaixona-se pela bailarina da caixinha de música. Mas o universal sempre pode ser particular. E, se em Andersen, trata-se de ficção entre dois bonecos, a realidade sempre é mais audaciosa do que sonha a vã imaginação.




Era uma vez um menininho que nasceu em Shenyang, região Nordeste da China, em 1967, época em que o regime chinês estava longe da China mundial de hoje. A China era governada por Mao-Tse Tung e o menininho foi convocado pelo governo, aos 9 anos, para dançar no Exército de Libertação Popular. Antes, fizera greve de fome até que os pais lhe permitiram que participasse da escola de balé. Aos 17 anos, ganhou um prêmio de melhor dançarino nacional. 




Aos 19 anos, o menininho não era mais um soldadinho. Quer dizer, ainda era um soldadinho mas de alta patente: era coronel do maior exército do mundo. Aos 20 anos, tornou-se o primeiro bailarino chinês a ganhar uma bolsa para New York, onde estudou por quatro anos. Aos 24 anos, ganhou o prêmio de melhor coréografo do American Dance Festival e realizou um dos seus sonhos: foi ensinar dança em Roma. Em 1993, quando tinha 26 anos, voltou à China para ensinar dança moderna. E, por fim, derreteu o chumbo de uma vez por todas quando, em 1994, aos 27 anos, pediu baixa do posto de coronel que ocupava no Exército Popular de Libertação da China.




Mas a grande revolução viria no ano seguinte, quando tinha, portanto, 28 anos: o menininho, nascido Jin Xing, tornou-se uma mulher. Fez uma cirurgia oficial para mudar de sexo. No ano seguinte, estreou o primeiro trabalho na condição de transexual e foi aclamado. Era 1996, quando estabeleceu a Beijing Modern Dance Ensemble, primeiro grupo de dança moderna de Pequim (ou Beijing). Três anos depois, fundou a Shangai Jin Xing Dance Theatre, em Shangai.




De Jin Xing pode se falar muita coisa exceto que é convencional: em 2000, aprovou o filho, Dudu, na companhia. Em 2002, fez um filme coreano. Em 2005, casou-se com o alemão Gerd-Oidtmann. E, em 2006, criou o Shangai Dance Festival. Agora, aos 42 anos, Jin Xing apresenta-se com a Jin Xing Dance Theatre.




Jin Xing é, nos nossos dias, considerada (e agora passo a tratá-lo pelo sexo feminino) a maior coreógrafa e bailarina moderna da China. À mudança de sexo não sucedeu a troca de nome: em mandarim, Jin Xing significa "Estrela Dourada", o que é bastante apropriado para Jin, cujo jugo do sexo não o deteve. Jin é casada e mãe de três filhos adotivos e, este ano, celebra uma década de sua companhia. Neste ano, o grupo de Jin Xing apresentou-se pela primeira vez no Teatro Nacional de Pequim, um dos símbolos mais ostensivos do Partido Comunista.




Nem Andersen, tão criativo nos contos universais, imaginaria um universo particular assim desse tamanho. A história escrita pela "Estrela Dourada" vai muito além de um conto e, embora eu não creia no bordão "foram felizes para sempre", tenho certeza de que Jin Xing tem sido feliz de sair da condição de soldadinho para se inscrever na história chinesa e mundial como a primeira bailarina transexual. Por estes dias, até o dia 7, a companhia apresenta "Shangai Beauty", em Melbourne, Austrália. É ou não uma beleza essa dama de Shangai?

sábado, 23 de janeiro de 2010

Passeio de gôndolas

Venho de um passeio de gôndolas. Melhor dizer, por entre as gôndolas. Não! Nada a ver com as gôndolas de Veneza. Se bem que São Paulo anda tão aquática que não seria de se espantar que saíssemos a navegar de gôndolas pelos canais (poluídos) da cidade. E, além do que, reservo as gôndolas de Veneza para uma ocasião especial (que ainda acontecerá!).


O meu passeio de gôndolas foi bem mais prosaico: se deu entre as gôndolas do supermercado. Depois de quase um mês entregue à própria sorte, resolvi que meu corpo precisa ser retomado pelo cérebro que o comanda. Quero dizer com isso que acabaram as bacanais festivas de comidas e bebidas que encerraram o ano passado e atravessaram quase todo este corrente mês.





Portanto, fui às gôndolas. Tenho uma certa birra de supermercados: preciso deles para produtos de consumo básico mas não gosto desses locais. Bem, quase sempre, não. Às vezes, posso até gostar um pouquinho.


Os supermercados, como os conhecemos no Brasil atualmente, são relativamente novos. E, por algum grau de associações que não vou me questionar agora, o primeiro supermercado surgiu em uma rua muito próxima de onde estou e vivo. Engraçado isso. Essa rua fica a apenas três quadras da minha casa. Era 1953. Mais precisamente, dia 27 de março de 1953. Uma loja foi aberta com uma proposta diferente dos velhos armazéns (que vendiam secos e molhados, como se dizia dos produtos da época). Vendia, simultaneamente, produtos de mercearia, de limpeza, carnes, frutas e verduras.


Essa loja provocou arrepios entre os demais comerciantes e também nas autoridades por 'burlar' o modelo tradicional de armazéns. Somente em 12 de novembro de 1968 os supermercados seriam regulamentados oficialmente na cidade de São Paulo. Quer dizer, isso faz pouco mais de 31 anos. Na entrada da primeira loja havia uma catraca (como as de metrô ou ônibus) para contar o número de clientes e, como tudo era novidade, uma recepcionista explicava como se deveria proceder para fazer as compras: pegar o carrinho, escolher os produtos e ir ao caixa para pagar.





Claro que se São Paulo recebeu o primeiro supermercado oficialmente em 1968, o conceito demorou muito mais para chegar no interior do Estado: na minha cidade, por exemplo, se a lembrança não me turva as datas, creio que o primeiro supermercado chegou entre 1982 e 1983. E fez uma das primeiras revoluções na cidade: acabou, praticamente, com os armazéns remanescentes, assim como havia feito nas grandes cidades. Há uns três anos, os supermercados têm tido êxito em extinguir outro setor: os açougues. Dentro de pouco tempo, açougues serão raridades, pode apostar.


Bem, volto à atualidade e ao meu passeio de sábado por dentre as gôndolas. Supermercados não me atraem porque:


1. Me soam ligeiramente histéricos, com consumidores que ficam entre comprar o que precisam, o que não precisam, o que querem, o que não querem para, no final, ficarem acuados na fila do caixa e torcer para que tudo caiba dentro do dinheiro que têm.


2. Entre as gôndolas, ao contrário da placidez dos canais venezianos, nada num supermercado é pacífico: brigamos pelo tomate mais vistoso, pela picanha mais vermelha, pelo pão mais quentinho, pelo queijo mais fresquinho. Raramente o supermercado está vazio e, se o está, suas gôndolas, consequentemente, estão praticamente desprovidas das melhores ofertas.


3. Os longos corredores, a extensão dos supermercados e o grande número de caixas deveriam facilitar a vida de todos nós. Mas isso não ocorre. Para atender uma cidade gigante, nem o mais gigante dos hipermercados consegue dar vazão às pessoas sem que, em algum momento, haja algum tipo de aglomeração.


4. Existe uma disputa não-declarada como se estivéssemos, os consumidores, numa prova de fórmula 1: quem chegar primeiro, vence. Quem melhor conduzir o carrinho durante o percurso e se safar dos inúmeros obstáculos - outros consumidores, velhinhas que caminham como se estivessem dentro de igrejas, crianças que brincam de pega-pega, velhinhos que penduram seus guarda-chuvas nos carrinhos alheios (isso aconteceu comigo!), pessoas que se acham espertas e tentam furar filas - qualquer fila, inclusive a do caixa e até mesmo aqueles que frequentam os supermercados por considerá-los lugares exóticos a serem visitados. Sim, há de tudo. Já vi de tudo nesses anos de frequência aos supermercados.


5. No final, trata-se de uma logística que não tem lógica: pegar o carrinho, encher o carrinho, esvaziar o carrinho no caixa, encher o carrinho depois que passar pelo caixa, esvaziar o carrinho no porta-malas do carro, encher o novo carrinho que os prédios têm, esvaziar o carrinho na porta de casa, devolver o carrinho do prédio na garagem, esvaziar as sacolinhas, encher os armários e, finalmente, encher-se com toda a tralha, alimentícia ou não, que você manuseou 357 vezes antes de, por fim, dar cabo a tudo. Sim. Porque, passado um breve período de tempo, terá que refazer essa via crucis novamente.





E foi assim, a praguejar e lamentar, que bovinamente, no final das contas, fui ao supermercado enterrar dinheiro, disposição e um pedaço do sábado. Lá dentro, tudo o que eu imaginava: consumidores vorazes (sempre estamos, não?), briga de carrinhos, carrinhos cujas rodinhas travam, velhinhos que têm caixa especial e insistem em ficar no caixa comum, perguntas de consumidores como se todos (consumidores) fossemos atendentes da loja.


De uns tempos para cá, a fim de não sofrer um naufrágio e me ver submerso por entre as gôndolas, tenho adotado o hábito de frequentar o supermercado de madrugada, já que a loja mais próxima da minha casa funciona 24 horas. Mas se isso tem seus benefícios, também tem algumas desvantagens: em geral, nesse horário os funcionários aproveitam para repor os produtos e lavar os corredores. Assim, metade da compra fica por ser feita.


Outra possibilidade é ir em horário chamado comercial: entre 10 e 22 horas. Corre-se o risco de travar embates os mais diversos mas, ao menos, você encontrará o que procura e não terá interdições no meio dos corredores - quando lavam os corredores, os funcionários os bloqueiam.


De tal maneira que fico cada vez mais longe dos supermercados. Sim, já fiz compra de supermercado pela internet. Até funciona. Mas quem melhor do que você para saber qual é a textura da carne, o estado da banana ou a possibilidade de escolher entre cinco ou seis diferentes tipos de detergente? As gôndolas virtuais são bastante maçantes e, ao menos por enquanto, ainda prefiro eu mesmo fazer minhas compras.





Terminado o passeio expresso - geralmente, o faço o mais rápido que posso -, quando finalmente guardo tudo o que comprei, sempre fica um vazio. É como se depois de navegar por entre os canais de Veneza, simplesmente você chegasse à conclusão que as águas são iguais em todos os lugares e que os canais da cidade são apenas isso. O que os torna diferentes são as gôndolas e os gondoleiros. Mas isso já é outra viagem. O fato de eu associar supermercados à mesmice incorre na velha questão humana de repetir gestos porque temos de fazê-lo, e não porque os apreciamos. Porque se navegar é preciso, uma vez mais, navegar de gôndolas em Veneza me é mais do que preciso: é necessário.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O meu fio de Ariadne

Em Creta, o Minotauro, conforme a mitologia grega, exigia pagamentos de tributos anuais. O pagamento consistia na oferenda de sete rapazes e sete moças que seriam literalmente comidos pelo Minotauro, que se alimentava de carne humana. O jovem ateniense Teseu, num determinado momento, pediu para ser incluído entre os rapazes. Na cerimônia de entrega dos humanos ao Minotauro, Teseu recebeu de Ariadne, filha do rei Minos, um novelo que deveria ser desenrolado no interior do labirinto, onde vivia o Minotauro. O objetivo de Teseu era matar o Minotauro e usar o fio como artifício de saída pois, sem o fio condutor, o jovem se perderia nas inúmeras entranhas do labirinto. Teseu matou o Minotauro e, com o apoio do fio, encontrou a saída, casou-se com Ariadne e a levou consigo para Atenas.





Há pouco mais de dois anos e meio, eu comecei a tecer um fio de Ariadne próprio. Foi este blog. Esse meu fio de Ariadne, no entanto, foi tecido de dentro para fora: eu estava preso num labirinto e não havia fio algum que me indicasse a saída. Mas fui persistente e um longo emaranhado de fios que pareciam entrecruzar-se sem levar a saídas possíveis começaram a desembaraçar-se um a um e o labirinto, finalmente, começou a ser demarcado. Até que num determinado momento, todo o labirinto estava coberto por fios e, ao não haver mais embaraços, achei a saída, enfim.


Hoje, em conversa longa com uma pessoa querida, à segura distância daquele labirinto que ainda me assusta, tenho dimensão quase que real na minha cabeça do que foi todo o processo de desenrolar novelos inteiros e sair, se não ileso, ao menos com vida (no sentido metafórico) dos inúmeros becos daquela morada de um Minotauro que tomou ares de um gigantesco Ciclope.





O Minotauro, figurativamente, é um boi com aparência humana: touro de Minos. Um touro viril, sexualmente atraente e, portanto, que encerra em si a promessa de energia, força e explosão sexual. Por outro lado, a parte taurina indica violência e uma vontade primitiva de ferir, de machucar. Se na mitologia grega o Minotauro se alimenta de carne humana, devo confessar que o meu próprio minotauro se alimentava de alma humana.


Essa pessoa a quem me referi está num processo bastante similar ao meu. Com uma diferença bastante significativa: ela ainda não sabe que também há, em algum lugar, um fio de Ariadne para começar a ser desembaraçado. Todo o processo é bastante idêntico ao meu e foi com bastante consternação que observei vários (demais até) pontos equivalentes.





O meu êxito ao sair do labirinto aconteceu porque em algum momento, por razões que eu não consigo esclarecer mesmo hoje, sob as luzes algo que difusas daquele passado, eu me dei conta de que havia, sim, uma saída.


E esses processos são degradantes: nos prostram, nos colocam, se for possível, abaixo do fundo do poço. Não basta estarmos no fundo do poço: somos submersos sob a água que está no fundo do poço. Pois que acredito que há, em algum mecanismo de nossas mentes, algum dispositivo que faz com que não sejamos mais nós mesmos. Passamos a ser um outro, irreconhecível. Uma deformação do que fomos. Para emergir do poço é preciso deixar vir à tona também a pessoa que éramos e que, de alguma forma, perdermos para minotauros de almas.


Ao conversarmos sobre isso, eu não soube dizer as fórmulas e as eventuais palavras mágicas que convertem a vítima em herói. Não existe um Teseu que se submete ao hipotético sacrifício e muito menos uma providencial Ariadne a nos conceder a linha que nos guiará no labirinto. Temos que arrancar a linha de nós mesmos.





Ao dar conta, uma vez mais, de quanto foi difícil o meu percurso e avaliar que, passado tanto tempo, eu ainda veja claramente, horrorizado, o passo-a-passo daqueles dias, compreendo, afinal, que, embora eu tenha saído do labirinto, mantive o fio de Ariadne preso nos tornozelos, feito um cordão umbilical a me ligar ao interior daquele obscuro lugar.


Preciso, e portanto tenho que escrever isso porque talvez sejam essas as palavras mágicas a concluir o processo, preciso de uma tesoura. De um teseu-tesoura que rompa o fio. Que me liberte de vez assim como se corta a linha que prende o balão de gás ao poste e que faz com que o balão se perca na atmosfera. A conversa com a referida pessoa me trouxe recordações vívidas. Me trouxe também a convicção de que eu não quero que 2010 seja apenas uma repetição pálida de 2009. Quero que 2010 vibre, que me leve aos ares. Que teseu-tesoura me leve para Atenas.

domingo, 8 de novembro de 2009

36 maneiras de ser um homem moderno, aka übersexual

Da mesma forma como foram constatadas 236 razões pelas quais as pessoas fazem sexo, aparentemente, existem 36 maneiras de um homem ser moderno, aka übersexual. O conceito nem é tão novo assim (foi lançado pelos mesmos autores do termo 'metrossexual', que são, claro, publicitários, em 2005) mas sempre há tempo de tentar se modernizar, já que a demanda por atualizações faz parte da nossa época.


Um übersexual (über, em alemão, significa 'acima') é um homem acima da média, quase um super-homem. É mais ou menos o conceito de super-homem de Nietzsche, definido em "Assim Falou Zaratustra, Um Livro Para Todos e Para Ninguém". A diferença é que, ao contrário do metrossexual, o übersexual não usa creme, roupas ou acessórios femininos, não se depila e não faz as unhas (pelo menos não as pinta).


A mídia, imediatamente, definiu alguns homens como representantes desse conceito: Bono, George Clooney, Brad Pitt. Esses homens não são uns garanhões viris (não sei, não experimentei) mas emanam, pela aparência e comportamento, um resgate de uma masculinidade que havia sido relegada nos últimos anos. Übersexual é, pois, aquele homem que confia em si mesmo sem ser detestável, tem aspecto e comportamento de macho, tem estilo e é determinado. Na versão tupiniquim, o ator José Mayer cabe direitinho nessa definição.


Ainda que não tenha herdado o legado do metrossexual, esse novo homem nem por isso deixa de se cuidar: o über também se preocupa com a aparência. Porém, ao contrário do metrossexual, não é narcisista e egocêntrico. Abaixo, fotos que, na minha opinião, representam os homens atuais - entre os conceitos de metrossexual e übersexual e muitos outros que, de fato, não precisam de tarjas a lhes colar nomes. Basta ser homem e pronto. Se é metro ou über, isso é lá com os publicitários. E porque sou leonino e dono deste blog, a primeira foto é minha (alô curiosos/as!!!). Será que sou über? Ou sou um retrossexual (aguarde, post futuro)? Mas achei por bem ficar na companhia desses caras aí debaixo. E, lá embaixo, bem lá embaixo, depois de todas essas fotos, as 36 maneiras de um homem ser moderno.
























Vamos, portanto, a mais uma lista (este blog e respectivo blogueiro vivem de listas...). Para ser moderno, antes de começar a lista propriamente dita, o homem tem que, sempre, se adaptar: ao mundo, ao seu próprio mundo (bairro, colegas, amigos), ao seu ambiente (político, cultural) e ao(à) seu(sua) cônjuge. Isso pode soar simples mas é mais complicado do que parece à primeira vista.


Para se harmonizar com o seu eco-sistema, o homem moderno, obviamente, tem que se livrar do passado. Por definição, o passado é uma espécie de roupa velha que ata a pessoa ao antigo, ao fora da moda (dentro desse contexto, por favor). Essas 'roupas velhas' são valores que dificultam a adaptação ao novo. Vamos, finalmente, às 36 maneiras de ser moderno (ou tentar sê-lo, ao menos):


1. Faça um esforço para manter uma conversa à mesa
2. Mude os lençóis da cama antes de receber um(a) parceiro(a) no 'ninho'
3. Não diga palavrões durante o sexo (ou diga, mas somente se solicitado a dizê-lo)
4. Pense sobre o beijo durante o sexo (sem comentários!)
5. Aceite que o(a) seu(sua) parceiro(a) decida quando fazer amor
6. Mude os lençóis depois de fazer amor e também o ar (abra a janela, purifique etc.)
7. Use meias esportes mesmo que você não pratique esportes (não fique de meias durante o sexo e... NUNCA, JAMAIS, fique de meias sociais)
8. Jogue fora suas cuecas ou samba-canções de malha ou com desenhos de oncinha (é, tem homem que gosta)
9. Evite correntes e colares com medalhões de ouro especialmente se o seu peito é cabeludo (a menos que você seja cigano, único homem a quem é permitido usar isso)
10. Evite orelhas e nariz peludos (não é viril, é anti-higiênico mesmo)
11. Mantenha as unhas das mãos e dos pés aparadas e impecáveis (não use base brilhante, é brega)
12. Coma de forma frugal, sem achar que o(a) parceiro(a) vai roubar seu prato. Em resumo: dê 'bicadinhas'
13. Não se surpreenda se o tempo de sua resistência para fazer sexo 'convencional' é estúpido (a mais ou a menos) em relação ao tempo para fazer sexo oral (faça os dois ao seu devido tempo)
14. Concorde em ir ao cinema de vez em quando
15. Você não é o único tema da conversa nem tampouco o mais emocionante; a pessoa amada também faz perguntas e quer respostas
16. Pare de dizer 'estou certo porque sei que estou certo'
17. Levante a tampa do vaso antes de fazer xixi (ou não, se for parceiro, são ambos porcos mesmo!)
18. Faça xixi dentro do vaso sanitário e agite o bilau/pinto/pênis depois de 'usar'. Se, apesar de seus esforços, alguma gota cair na borda do vaso ou no chão, limpe (ou não, se for parceiro, são ambos porcos mesmo!)
19. Lave as mãos depois de 'usar' o bilau/pinto/pênis.
20. Retire as mãos da parte de cima ou de dentro das calças (que mania! sua mãe ensinou isso para você!)
21. Lembre-se sempre que arrotar, soltar gases, escarrar e sugar os dentes não são atos bonitos
22. Você não é obrigado a fazer sexo mas, de qualquer modo, faça e não obrigue o(a) parceiro(a) a dormir antes de fazê-lo
23. Libere o controle remoto
24. Nas esfregue as pontas dos seios com o pênis (se parceira) porque esfola
25. Não esfregue o ânus do(a) parceiro(a) com o pênis; o pênis não é um pincel
26. Não use a toalha do(a) outro(a) e não deixe o chão molhado após o banho
27. Não use a escova de dentes do(a) outro(a)
28. Guarde seus chinelos na prateleira
29. Pare de perguntar se o(a) parceiro(a) já viu pênis mais bonito ou maior que o seu
30. Acene com a cabeça se não quer falar, mas o faça honestamente
31. Pare de usar os cremes do(a) seu(sua) parceiro(a) e compre os seus
32. Entenda de uma vez por todas que a loção pós-barba não é a mesma coisa que cuidado total com a aparência
33. Se o(a) parceiro(a) estiver bravo(a) e disser que não quer sexo, não seja imbecil de acreditar que, necessariamente, ele(ela) está com sono e quer dormir
34. Dedique, ainda que sob ameaça e em silêncio, todo o seu tempo para o(a) parceiro(a)
35. Compreenda que atravessar a porta antes do(a) parceiro(a) não é nenhuma evidência de bravura
36. Medite acerca dessa citação: "Não existe amor, existe apenas prova de amor"





Mas calma que não sou o Hermes da foto acima pronto para lhe entregar más notícias. Acima de tudo, aceite que não existem apenas 36 maneiras de ser um homem moderno, e sim milhões de meios de sê-lo. Nos adaptamos a uns ou outros meios conforme nosso próprio senso. O único fio condutor que reúne todas as maneiras de se ser moderno é um: a capacidade de ouvir a si mesmo. E, ao fazer isso, não hesite em desafiar os padrões convencionais mesmo que signifique romper com o tradicional e confortável passado.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sonho de Ícaro

Em visita a um blog malaio - Jejak Habib (Impressões de Habib)-, da cidade de Pekan, região de Pahang, Malásia, que me adicionou por meio do Google Friend Connect, vi as fotos dos homens-voadores reproduzidas abaixo.





(Tatuagem que tenho impressa no meu corpo para que eu não me esqueça de voar)


O evento aconteceu no dia 28 de outubro na capital da Malásia, Kuala Lumpur, e reuniu 98 esportistas radicais que saltaram da torre malaia (construída em 1995 para as comunicações do país, está entre as cinco estruturas mais altas do mundo), num voo de 421 metros. O voo é livre: por alguns segundos, os praticantes de B.A.S.E. jump planam em completa liberdade.




B.A.S.E. jump é um dos esportes mais perigosos do mundo. Não há chance para erros. B.A.S.E. quer dizer Building, Antenna, Span e Earth (respectivamente, prédio, antena, ponte e montanha). Estes são os quatro objetos fixos dos quais os base jumpers saltam. B.A.S.E. jumping também é conhecido como fixed object jumping (salto de objetos fixos). Basicamente, saltar de paraquedas sem estar em voo. A maioria dos saltos é realizada de alturas muito baixas, o que aumenta o risco de forma exponencial. Não há paraquedas reserva, já que na parte dos casos, se houver uma pane no equipamento principal, não haveria tempo para a abertura de um reserva.




Um paraquedas demora entre 3 e 4 segundos para ficar completamente aberto, o que equivale a uma trajetória de 50 metros. Portanto, os esportistas têm cerca de 370 metros para voar, literalmente, até que o paraquedas seja acionado. Não sou bom de cálculo e muito menos detenho conhecimentos sobre paraquedismo, mas estimo que sobrem quase 20 segundos para o voo totalmente livre.



Quando eu fazia a faculdade de administração de empresas (é, sou o homem das faculdades!) em Ourinhos, interior de SP, cidade próxima da minha própria cidade natal, a música abaixo estava completamente em evidência. Me recordo que havia uma fileira de ônibus das mais diversas cidades vizinhas - dos estados de São Paulo e do Paraná - e que, desses ônibus, havia uma turma do Paraná (não sei de qual cidade) que cantava essa música. Eu adorava e sonhava com voos altos. Um adolescente tão iludido por voos.


Hoje não sei se almejo voos tão altos. Sinto que estou com as asas podadas. Talvez por mim mesmo. Quero reaprender a voar, a ter o sonho de Ícaro. Nem que for para cair em queda livre feito os homens da torre da Malásia. Nem que for para ver derreter a cera das minhas asas. Quero o risco. Minhas asas estão doloridas. Não estão amputadas, ainda. Mas talvez estejam em processo de atrofia.


Abaixo, as fotos dos homens-Ícaro que não se furtam aos voos arriscados. Ainda, o vídeo da música da minha adolescência e, mais abaixo, a letra.












Sonho de Ícaro

por Byafra
composta por Pisca e Cláudio Rabello

Voar, voar
Subir, subir
Ir por onde for
Descer até o céu cair
Ou mudar de cor
Anjos de gás
Asas de ilusão
E um sonho audaz
Feito um balão...

No ar, no ar
Eu sou assim
Brilho do farol
Além do mais
Amargo fim
Simplesmente sol...

Rock do bom
Ou quem sabe jazz
Som sobre som
Bem mais, bem mais...

O que sai de mim
Vem do prazer
De querer sentir
O que eu não posso ter
O que faz de mim
Ser o que sou
É gostar de ir
Por onde, ninguém for...

Do alto coração
Mais alto coração...

Viver, viver
E não fingir
Esconder no olhar
Pedir não mais
Que permitir
Jogos de azar
Fauno lunar
Sombras no porão
E um show vulgar
Todo verão...

Fugir meu bem
Pra ser feliz
Só no pólo sul
Não vou mudar
Do meu país
Nem vestir azul...

Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...

Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...

Do alto, coração
Mais alto, coração...

Faça o sinal
Cante uma canção
Sentimental
Em qualquer tom...

Repetir o amor
Já satisfaz
Dentro do bombom
Há um licor a mais
Ir até que um dia
Chegue enfim
Em que o sol derreta
A cera até o fim...

Do alto, o coração
Mais alto, o coração...



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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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