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terça-feira, 4 de março de 2008

Rastreio de cozinha - 7

Você é chocólatra se responder sim a pelo menos uma das questões:

1. Sente uma vontade irresistível de comer o doce, às vezes ou sempre.

2. Devora vorazmente o chocolate sem mastigar ou sentir o gosto.

3. Come chocolate de forma dissimulada para que não te vejam ou para não dividir com outra pessoa.

4. Abandona qualquer atividade para ir em busca do chocolate.

5. Acorda no meio da noite para comprá-lo e, de uma forma insana, chega a chorar de vontade.

6. Ingere rapidamente uma quantidade abusiva de chocolate, como caixas inteiras de bombons (com crise ou sem crise).

Esse teste é científico. Pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que 22% dos entrevistados relacionam o ato de comer chocolate ao prazer sexual e 63% percebem-se dependentes e comparam o chocolate a uma droga.

Os chocólatras podem ser de ambos os sexos. Contudo, não se sabe exatamente porque, as mulheres têm um envolvimento extremado com o alimento. Outra pesquisa, realizada no ano passado pela Universidade do País de Gales, no Reino Unido, revelou que mais da metade das mulheres britânicas prefere comer chocolate a fazer sexo. Enquanto 87% dos homens disseram que optariam por uma noite de amor, 52% das britânicas admitiram que não resistem às tentações de uma barra de chocolate. A pesquisa ouviu 1,5 mil britânicos.

"Comer chocolate é prazer garantido. O chocolate nunca decepciona" foi uma das frases destacadas da pesquisa. O estudo analisou a ligação entre o chocolate e a produção da endorfina, substância conhecida como "hormônio da felicidade" e mostrou que ambos, homens (57%) e mulheres (66%), acham que comer chocolate melhora o humor. Eu também acho, sinceramente. E adoro Sonho de Valsa, Bis, Suflair, Toblerone (principalmente o europeu) e tudo o que leva chocolate, em geral. Chego ao ato nada nobre de misturar chocolate com creme de leite, deixar descansar na geladeira e devorar essa junk food como se fosse uma mousse. De chocolate, claro.

A aula desta terça-feira, 4, foi de Confeitaria, evidentemente. Como eu disse na terça-feira passada, as aulas de Panificação e de Confeitaria se alternarão semanalmente. Hoje, foi a aula teórica introdutória à disciplina.

O chocolate será amplamente usado em confeitaria: vamos estudar os tipos, o derretimento, fazer folhas de chocolate, laços, placas, texturas e trabalhos com balão de chocolate, transfer, acetato, raspa e plástico-bolha. Será uma aula bastante engordativa e dou graças de a grade ser quinzenal. Eu trabalhei no Itaim Bibi uma época e usava dois ônibus para chegar ao trabalho. O segundo ponto ficava em frente à antiga fábrica da Kopenhagen, na rua Joaquim Floriano, e toda manhã eu sentia o cheiro e imaginava como seria lá dentro. Devo confessar que, àquela hora, o cheiro era enjoativo. Mas, eu tinha a maior curiosidade sobre a fábrica.

Teremos aulas sobre os pontos de caldas de açúcar (pontos, fios, rendas e bolas de caramelo); de tortas clássicas (que consistem em base, recheio, cobertura, decoração e apresentação); de tortas modernas (com laterais diferentes, com o uso de transfer e laços de chocolate, com tira de caramelo, frutas glaçadas e gelatinas de brilho); sobremesas individuais empratadas (com molhos); montagens à base de carolinas e éclairs; minidoces (que você come de uma só bocada); e pasta americana (que é a base para cobrir bolos artísticos e serve para estabilizar e empilhar os bolos, como bolos de noiva, com os manjados - mas nunca dispensados - laços e flores de açúcar).

Se você jantou, pode salivar de tanto açúcar. Se ainda não o fez, a probabilidade de ficar com fome é grande. Se é do tipo formigão, como eu, ficará com vontade de comer algo bem docinho. Tome um copo de água e lembre-se de que o açúcar chegou à Europa apenas no século XII e aqui, nas Américas, veio somente em 1.493, com Cristóvão Colombo. Antes, todo mundo se contentava com os açúcares naturais dos alimentos.

E, por falar em história, retorno ao chocolate que, inegavelmente, exerce um apelo sensual irresistível. Não sei porque. Mas, que provoca esse efeito, provoca. As origens do chocolate remontam aos povos Olmecas e Maias, antigas civilizações mesoamericanas que viviam na América Central Equatorial e cultivavam o cacau.

Há 3 mil anos, os Olmeca, que viviam no Golfo do México, já cultivavam a planta, e não os Astecas, como normalmente se acredita. No século IV, séculos após o desaparecimento dos Olmecas, os Maias se estabeleceram no sul do atual México. O clima úmido era perfeito para o cultivo da planta que os Maias denominaram “cacahuaquchtl”. Na lenda maia, a árvore pertencia aos deuses e os frutos que nasciam de seu tronco eram uma oferta dos deuses ao homem.

Os Maias criaram uma bebida fermentada amarga feita das sementes do cacau. Era uma bebida exuberante apreciada por reis e nobres, também usada para celebrar. Em seus livros, os Maias descrevem diversas maneiras de fazer e saborear a bebida: de um mingau engrossado com milho moído a uma mistura mais fina para beber. Após a misteriosa queda do império Maia por volta de 900 d.C., os Toltecas, seguidos posteriormente pelos Astecas do México, se estabeleceram em território que outrora havia sido dos Maias. Quetzalcoatl, o rei Tolteca, era tido como deus do ar, cuja missão era trazer as sementes da planta do cacau do Éden para o homem. Para os Astecas, o chocolate era uma fonte de sabedoria espiritual e de energia extraordinária. Devido a essas propriedades, era dado aos guerreiros para fortificá-los nas campanhas militares.

Segundo a história, o primeiro europeu a ter contato com o cacau foi Cristóvão Colombo (de novo, o intrometido, que é culpado de todos os nossos males com os doces) em 1.502, em sua quarta e última viagem ao Caribe. Mas, foi o explorador espanhol Hernán Cortês, em 1.519, que percebeu o grande valor econômico da semente de cacau e a levou para a Espanha e daí para toda a Europa. Talvez por essa relação deuses-homens, o chocolate exerce tamanho fascínio em mentes e bocas, masculinas e femininas.

(Rastreie: mergulhe descaradamente num banho de chocolate. Leia o livro "Chocolate: uma saga agridoce preta e branca", de Mort Rosenblum, editora Rocco, 384 páginas, R$ 50,00. O autor apresenta as diferentes variedades de cacaueiros, os inúmeros tipos de chocolates e os efeitos sobre a mente, o coração, a silhueta e a libido. Do mole problano – galinha com chocolate e chile –, do antigo México, que leva dias para ficar pronto, aos sofisticados palets d’or franceses – pequenos quadrados, com recheio cremoso, dentro de uma cobertura dura e fina de um sedoso chocolate –, que têm inscrições feitas com pedacinhos de ouro puro, aos impérios Hershey, Godiva e Valrhona, Rosenblum traça o caminho do chocolate desde suas origens até os dias de hoje. Durante quatro anos, Rosenblum visitou plantações de cacau, entrevistou cultivadores, compradores, doceiros e degustadores para investigar as bases de uma indústria de US$ 60 bilhões. Para um connoisseur, qualquer chocolate que mereça ser comido precisa ter uma quantidade limitada de açúcar. O chocolate de verdade, como um bom vinho, pode ser absolutamente sublime.)

7 Comentários:

leve solto disse...

Ai ai...que delícia de assunto! Chocolate...

E a pergunta: sexo ou chocolate?
-Primeiro sexo, depois chocolate a dois..rsrsrs Ma-ra-vi-lha!!!

bjs (estou adorando tudo por aqui, amo o Gomes de Sá...)

Mara

Sig Mundi disse...

Redneck

Nessa comparação entre chocolate e sexo me lembrou algo que li uma vez:
"A vantagem do chocolate sobre o sexo é que você pode comê-lo na frente da sua mãe sem que ela fique horrorizada com isso".
Mas, pessoalmente, fico com o sexo... e frutas!

Abcs,

Arthur

Redneck disse...

Oi Mara, que bom que você gosta. Eu sei que os textos estão longos, mas, já começamos as aulas práticas e eu devo reduzir os tamanhos dos posts. Beijo!

Arthur, eu também fico com o sexo. Frutas, um pouco. E chocolate, só às vezes. Abraço.

Anônimo disse...

e pode acreditar, enquanto lia eu comia um chocolat noisettes! éclair nao é a mesma coisa que bomba não? hehehehehe inté

Redneck disse...

marco*, querido, e você nem fica vermelho ao me dizer isso, não é? sim, bombas e éclair são a mesma coisa. mas, tradicionalmente, o uso correto é éclair mesmo. A bomba, na verdade, sofre uma ligeira alteração transposta para as padarias brasileiras. É mais popular, digamos, sem os ingredientes de qualidade de uma éclair. E você pode, ao menos, guardar um pedacinho de avelã para mim, Teco? Assinado: Tico.

Reiko Miura disse...

Oi Red,

como você vai conhecer a cozinha mexicana, te diria que o maior susto que levei na minha viagem pelo México foi no café da manhã em um hotel de Puebla. Depois de muitos dias comendo as comidas típicas no café da manhã, vi no cardápio "Desayuno poblano". A descrição era: ovos fritos y pan. Na hora abanei os braços pro garçon. Quiero este, e apontei para o tal do café. Lá pelas tantas, o garçon coloca na minha frente um prato com 3 ovos fritos com uma gororoba marrom escura por cima. Resultado: eram 8h da manhã e eu estava mandando brasa nos ovos com o mole poblano por cima (chocolate amargo, três tipos de pimenta, cravo, canela e + uns 10 ingredientes!). Se eu comi? Bom, quem sai na chuva é pra se molhar, não é mesmo? Claro que comi. O gosto é meio esquisito pra nós, mas era saboroso. Na sequência fui visitar a cozinha do ex-Convento de Santa Rosa, onde teria sido inventado o tal mole poblano. Foi demais.
Ah, e eu não respondi sim a nenhuma das perguntas, portanto se a indústria do chocolate depender de mim, tá falida!

Redneck disse...

Andarilha, concordo plenamente com você: temos que experimentar de tudo, sem preconceito ou frescura no paladar. Li um livro de um chef francês no qual ele foi aprender a matar seis coelhinhos porque achava que o açougueiro que o fazia não matava do jeito certo. E, quanto ao mole poblano, você gostou, não é? Nós, na gastronomia, temos que desconectar de horários e de memórias gustativas para poder conhecer novos sabores. E, quanto ao chocolate, parabéns. Você é forte. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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