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domingo, 9 de março de 2008

Meu rugido dominical

A aventura nunca foi o meu forte. Fui convidado recentemente para integrar um grupo de quatro homens (eu e mais três) para uma expedição de carro ao Chile, tanto em busca do deserto do Atacama quanto das geleiras da Cordilheira dos Andes.

Confesso que me entusiasmei bastante com a perspectiva. Sair de São Paulo e viajar pelo menos quatro dias, com poucas paradas, e se revezar no volante para, finalmente, ter contato direto com duas das regiões mais inóspitas da América Latina.

Na travessia, dois países: Uruguai e Argentina. Não sei bem como funciona a legislação desses países para o trânsito livre. Ainda que ambos façam parte do bloco do Mercosul, na prática, me parece que rodar tranquilamente pelas suas estradas não é tão fácil assim. O amigo que me convidou me disse que, em geral, a polícia argentina tende a se incomodar com quatro caras num carro. Assim como ocorre aqui, por certo.

Me disse também que o maior problema seria no Chile. Nas regiões citadas - deserto e montanha - as condições de infra-estrutura são bastante precárias e há algum perigo no fato de que seríamos estrangeiros em terra estrangeira. Eu sei espanhol o suficiente para me virar em países dessa língua. Mas, isso não garante que, nos povoados, não seríamos vistos pelo que somos: forasteiros, rapazes, sozinhos, e, portanto, potencialmente perigosos.

Eu tinha um prazo de 15 dias para responder se iria ou não. Pensei bastante. Tive minha dose de aventura na adolescência e, depois, até uns 25, 26 anos. Era capaz de ir à praia no feriado prolongado, voltar para trabalhar um dia e pegar o ônibus de volta só para ficar com as pessoas mais um dia. Fiz isso algumas vezes. Desci para Ubatuba de madrugada, de ônibus. Fiquei no meio do nada na velha estrada Rio-Santos. Sem medo. Só o prazer de estar de volta.

Houve uma vez, logo que cheguei a São Paulo, que passei a noite em claro no terminal do Tietê. Eu costumava ir para a minha casa, no interior, de 15 em 15 dias. Acho que era feriado. Morei na Vila Carrão, por três meses, quando aqui cheguei. Naquele dia, tomei um ônibus, desci na estação Tatuapé, peguei o metrô para a Sé e depois para o Tietê. Já era tarde (e o ônibus para a minha região sai, em geral, à 0:45 horas). Por conta da demanda, não havia mais passagens naquele horário. E o próximo partiria pela manhã (acho que umas 7 horas). Na procura por outras empresas, não percebi que era mais de meia-noite e, vrum! acabou o metrô. Eu não tinha condições de tomar um táxi e fiquei ali mesmo. Comprei um livro (Se Houver Amanhã, do Sidney Sheldon - em tempo: não leio mais esse tipo de livro), o li inteiro (velho costume de atravessar a madrugada a devorar livros) e, finalmente, embarquei para chegar em casa na tarde de sábado e voltar no dia seguinte. Também fiz a mesma coisa quando os embarques para a região noroeste do Estado foram transferidos para a Barra Funda.

Minha máxima aventura em São Paulo aconteceu quando eu não tinha dinheiro algum e caminhei do terminal Barra Funda até a minha casa, na região da Avenida Paulista. Acho que foi 1:30 hora de percurso. Mas, foi no começo da noite. Antes, quando eu morei na Liberdade (na Tamandaré), eu costumava ir a pé até a Avenida Ipiranga, no cinema. Mas, ia acompanhado de dois amigos do Pará que moravam na mesma pensão. Atravessávamos o centro inteiro, inclusive a Sé, sem receios. Bons tempos!

Agora, sempre digo que viajo sob a seguinte condição: uma cama, um chuveiro quente e algum conforto. Mínimo, mas, que haja portas, janelas e luz elétrica. Nada de dormir na areia da praia ou ficar em claro, à espera do nascer do sol. Também já passei o dia inteiro na praia - bate e volta - nas épocas magras. Fomos três colegas de faculdade para fazer uma matéria e tivemos que nos trocar a céu aberto no quintal de um boteco, tomar banho frio de um chuveiro que o proprietário gentilmente cedeu e mostrar a bunda para todos que passavam na travessinha. Engraçado que na época era natural. Hoje, ou estou mais pudico ou não tem tanta graça assim.

Então, admito que a minha cota de aventura é pequena. Não sou aventureiro. Não me vejo a viajar com três caras durante quatro dias num carro apertado pelo simples prazer da convivência masculina (coisa de meninos, disse uma amiga). Sem tomar banho. Sem dormir com conforto. Comer quando der. Beber à beira da estrada, à volta de fogueiras precárias. Com frio.

Não sei. Realmente, tive ímpetos de provar para mim mesmo que eu podia. Mas, o fato é que não posso. Não tenho que provar nada, nem para mim nem para ninguém. Dentro das minhas limitações, estou feliz comigo mesmo. A minha aventura é outra.

Assisti a um filme no qual uns 20 homens passavam por uma experiência de retorno à natureza. Eles iam para uma floresta para resgatar o homem primitivo. Sobreviver em meio às intempéries. Num dado momento, ficavam todos nus e promoviam algum tipo de dança ritual. Mas, era apenas um simulacro do que haviam sido seus ancestrais. Me lembro principalmente que, a uma determinada altura, todos choravam e se lamentavam pela vida contemporânea. Um bando de frustrados.

De onde concluo que não tenho que empreender uma viagem aos Andes para confirmar minha virilidade de macho e reunir minha dose de testosterona à de mais três homens e, com isso, conquistar algo que eu, realmente, não procuro. A minha virilidade eu a resolvo aqui mesmo, nas palavras. Do jeito que eu domino e controlo (quando o faço). Fiquei, sim, lisonjeado. Afinal, se aventurar e cair no mundo é para poucos. Raros são os que vão ao Himalaia para perder dedos e narizes em necroses. Que se convertem em troféus de provações físicas. Não. A minha única prova é comigo mesmo.

Não, não me meterei em expedições punitivas (adoro essa expressão e a ouvi de Hércules, um amigo do Rio de Janeiro, há muito tempo). Não tenho do que me punir ao me infringir uma aventura desse porte. Porque seria, sobretudo, um castigo para que eu provasse apenas que posso. E, na verdade, não posso. Ao admiti-lo, me sinto mais homem do que não fazê-lo.

A uma cross road, sobreponho uma ida à livraria. Minha maior aventura, nesses dias, é obter um lugar no metrô às 6 horas da tarde. O resto, deixo para os meninos. É coisa de meninos.

3 Comentários:

Sig Mundi disse...

Red,
Eu entraria nesta empreitada para conhecer o lugar, deve ser muito legal. Mas compreendo quando começamos a ponderar algumas coisas.
Só acho que ninguém vai deixar de ser mais ou menos "homem" por conta de ir ou não independente da maneira. rs

bjs, andrea

leve solto disse...

Red, sinceramente? Deixe as aventuras pra outro tipo de coisas... Nem pensar a tal viagem feita dessa forma.
Vá quando quiser e puder.. mas de forma confortável, sem preocupações, aí sim aproveitará em grande estilo!
Vc tem jeito de "grande estilo"!!! rsrs Gostou dessa? rs É o que acho sobre vc.

bjs

Mara

Redneck disse...

Ah! Mara! Não vou me gabar porque é redundância. Mas, realmente, prefiro uma viagem mais estilosa que essa. E, para falar a verdade, a companhia deve ser outra também. Grande estilo, né! Gostei. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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