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domingo, 2 de março de 2008

Meu rugido dominical

Hoje de madrugada, lá pelas 2 horas da manhã, uma amiga (a Chefe das Iguanas) e eu subíamos a rua Augusta e nos deparamos com uma cena insólita: um cara que deveria ter entre 40 e 45 anos descia, veloz, num skate. A cena era tão surreal que suscitou em nós o debate sobre como encarar a velhice.

"Deus me livre de ser uma velha equivocada", disse a Chefe. Eu comentei que achava ridículo aquele cara porque me pareceu, na hora, o tipo de pessoa que tenta ser aquele garoto de 16 anos que cometia malabarismos no skate. É, sei que estamos cheios de pré-julgamentos, pré-conceitos estabelecidos e que, inconscientemente, a crítica ao outro está diretamente ligada a algo que nos incomoda em nós mesmos.

Mas, sinceramente, eu não quero ser um velho de 60 anos que usa camisetinha baby look, com uma barriga protuberante e tênis coloridos. Se tenho algum apuro estético, ao menos que seja para estudar o espelho com cautela antes de sair de casa.

Porque, quando a minha amiga diz que não quer ser uma velha equivocada, eu a entendo perfeitamente. Já vi mulheres e homens que se travestem de figuras e roupas grotescas que lhes transformam em clowns assustadores. Me lembro de uma mulher que deveria ter quase 40 anos e, eu juro!, chegou uma vez na minha casa vestida de colegial: blusinha, saia escocesa e sapatinhos pretos, tudo muito minúsculo, que era o retrato acabado da estudante de Nelson Rodrigues n'Os Sete Gatinhos: um horror! Visivelmente, ela não entendia que a maturidade lhe cairia melhor do que aquela imitação barata de uma jovenzinha que vai à caça.

Também vejo aqui perto de casa senhoras com roupas de oncinha e botinhas, que agem como se estivessem num safári de lolitas. Queridas! É feio. É ridículo! É assustador! Os homens são mais comedidos, mas, às vezes, você vê aqueles senhores de 70 anos com shortinhos que se parecem com cuecas samba-canção. Tive um vizinho que, literalmente, descia de cuecas samba-canção no prédio porque, afirmava, era doente e não sabia o que fazia. Em outro prédio, o velhinho tinha uns 80 anos e chegou a descer pelado do edifício porque lhe faltava um parafuso. Então, tá! Sempre digo aos meus amigos que me alertem se eu me comportar como se estivesse drogado ou bêbado (quando estou, não costumo fazer nada disso). Que me avisem do ridículo.

Sim, admito que tenho pavor da velhice porque vivemos num país que não respeita o velho. Mas, a condição de velho não me dá o direito de ter um comportamento esdrúxulo. Não posso, ao meu bel prazer, descer nu pelo elevador (se bem que tenho vontade). Também não sou obrigado a conviver com senhoras cocotas que se acham coquetes num modelito zebrinha-oncinha-galinha.

A medida do bom-gosto e da ponderação está, justamente, na auto-crítica, na minha opinião. Se eu estiver num estado de lucidez em que o lúdico me parece mais real do que a vida, me alertem, por favor. Não quero ter que descer de skate na Augusta de madrugada para provar algo para mim mesmo que não o fiz quando tinha 17 anos. E não se trata aqui de jovialidade mental. Que essa, penso, tenho de monte. Mas, você não fica mais jovem quando se arrisca numa descida mortal. Ou quando salta de bungee jump ou de pára-quedas. A cada estágio da vida corresponde um comportamento equivalente. Não sou conservador e já deixei claro isso por aqui. Mas, ser ridículo, jovem ou velho, é apenas tristre.

8 Comentários:

leve solto disse...

Red, quando vejo uma mulher trajada no gênero "menininha da perna grossa, vestido curto papai não gosta" rs, tenho um adjetivo muito especial: "tia maria virou criança"!!

Digo sempre que moda não foi feita pra todos. Bom senso e estilo é tudo, porém, espelho é fundamental. E olha que sou levemente extravagante, perua e nada preconceituosa...
Respeito atividades, modo de viver, opção sexual etc de todos, porém, certas coisas são inexplicáveis no comportamento do ser humano em geral.

bjo

Mara

Anônimo disse...

Aí caboclo,

dois comentários num único dia, heim?

Pleno acordo; tenho chamado a isto ditadura da juventude ou do novo e o estrago que faz, sobretudo nas mulheres, é consternador...

Escrevi um treco sobre isso no blog da menina maluquinha, que está fechado. Se quiser mando pra ti.

Lu Carvalho disse...

Red, cada idade tem sua beleza, é ridiculo ver pessoas lutando contra o tempo, seja fazendo plásticas ou usando roupas infanto-juvenis pra tentar disfarçar a idade.

Beijos

Sig Mundi disse...

Leão Red,

Eu penso exatamente como você! Mas tem um porém, calma. Ultimamente ando mudando meus paradigmas, não totalmente (rsrsrs)!
Eu começo a pensar que o cara que está andando de skate não está nem aí para o que estão achando da atitude dele. Ele simplesmente não bloqueia uma vontade de fazer o que está fazendo.
Também acho ridículo pessoas que não se vestem adequadamente, como você citou, uma senhora vestida de menina. O duro é que ela deve olhar no espelho e também estar pouco se importando para o que vão pensar.
Então, ando pensando que mais vale a felicidade de um do que o julgamento dos outros. Claro que tudo tem um limite, mas somente aos nossos olhos. hahahaha
A medida do bom gosto e ponderação é diferente para todos!!!

Ah! E uma outra coisa que ando aprendendo! O que a gente pensa hoje, com a idade que a gente tem, mais lá na frente, com mais aninhos de vida podemos estar pensando muito diferente. Tudo muda! O gosto, a vontade, a ponderação...

bjs, andrea

Anônimo disse...

vc escreve mto bem guri

Vee disse...

Meu Deus do céu, será que eu vou ficar assim? Uma velhinha pernóstica? Risos.

Nunca se sabe, né?

Beijos.

Redneck disse...

Mara, é isso aí, concordo. Apenas não dá para entender. Beijo!

RM, me envia no menosordinaria@gmail.com. Abraço.

Lu, é difícil assumir e assimilar a idade. Mas, não para maquiá-la como se fosse um teatro. É vida, não é encenação. Beijo.

Andrea, concordo com o que você diz, mesmo porque eu disse que não gosto de pré-julgamento e já saí julgando. Parece contraditório, não é? Mas, eu me refiro apenas ao ridículo calculado, e não a uma atitude jovem. Que essa, há de se respeitar sim. Eu, como você, também me surpreendo com as mudanças que ocorrem durante o caminho. Beijo.

Man, obrigado, guri. O seu texto também é muito legal e eu passo por lá sempre e concordo com a maior parte da sua opinião. Abraço.

Amèlie, vamos ficar todos enrugados feito maracujá velho e, tenho prometido para meus amigos, quero usar bengala e estacar no meio da calçada como uma mula teimosa, como somente os velhos são capazes de fazer. Devo ser bem ranheta quando velho, a depender da minha intolerância atual. Beijo.

Reiko Miura disse...

Red, existem duas coisas que a gente precisa tomar cuidado com essa coisa da idade: a primeira, é o físico. Se ficar doidão e sair pelado por aí, precisa apresentar um "interior" legal. E outra, é rever logo nossos preconceitos. O pai de uma amiga esclerosou total e outro dia expulsou aos gritos o amigo dela porque "na minha casa não entra bicha". Preciso dizer o tamanho da vergonha dela? Sem falar na faxineira, que é negra, e que foi colocada pra fora sob ameaça de levar uma vassourada. É isso aí: lá na frente, a tal memória vai buscar muitas coisas que julgamos esquecidas.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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