Queridos amigos
Tenho (tive) amigos que ficaram pelo vida. Uns, antigos. Outros, mais recentes. O que aconteceu? Por que tanta distância? Tempo, dizem, não temos tempo. Se não o tem para os amigos, para quê então? Por que tão longe, tão estranhos, frios, indiferentes? Amigos de tantos encontros e desencontros. Se os vejo, hoje, me são estranhos. Como eu devo ser para eles.
Tenho saudades dos amigos de toda a vida. Dos recentes, dos antigos. Daqueles que viram minha dor. Viram minha alegria. Dos que fazem parte da rotina. Dos que têm somente flashes da minha vida. Por que sumiram? Ou sumi eu? Que fim levaram nossas juras de amizade? De pingos de sangue que selaram laços que se pretendiam eternos (ah! quanto romantismo, tão Goethe).
Tenho saudades das paixonites entre amigos, de posse, de ciúme. Amigos de toda a vida. Daqueles do ginásio, tão adolescentes quanto eu era. Tão despreparados e sonhadores. Daqueles que me separei por besteira. Daqueles com os quais briguei por mesquinharias. E que hoje são mais distantes do que a lua.
Tenho saudades das brincadeiras ingênuas, dos temores bobos, das diversões tão infantis. Mas, quanta graça havia, então! Quanta rebeldia boba, vivida coletivamente. Nós todos costumávamos ser amigos. Quando me dei por nômade, perdi tribos. Deixei o convívio diário dos amigos que começavam a formar círculos mais estreitos. Do ginásio. Depois, da primeira faculdade. Quanta tristeza. Quanta cumplicidade havia. Mara, Cláudia, Wagner. Ourinhos. Faculdade. Saudade de vocês. Cássia, querida. De repente, me deu muita saudade de vocês. A Mara, bocuda, maravilhosa, de Salto Grande. A Cláudia, de Ipaussu, que me lembra até hoje a música "Cheia de Charme", do Guilherme Arantes. Me lembro que os três - Mara, Cláudia e eu - éramos mandados para fora da classe (na faculdade!) porque não parávamos de rir. Fomos acertados por giz por um professor enlouquecido pela nossa felicidade. Assistíamos Selva de Pedra ao invés de estudar matemática financeira. Bebíamos rabo de galo. Saudade. O Wagner, de Chavantes. Oh! Eu queria muito saber de vocês. A Cássia, de Santa Cruz do Rio Pardo. O que foi feito de vocês?
Queria relacionar aqui todos os nomes para, como um fio de Ariadne, não os perder jamais nessa labiríntica vida. Por onde andam os amigos? Os de São Paulo, os primeiros com os quais eu dividi quarto de pensão. Os outros, da minha cidade, que se reencontraram aqui. Os da segunda faculdade, que estão cada um no canto da terra. E que se dispersam, se dispersam feito areia no deserto.
Os mais recentes, ainda, do círculo profissional. Onde estão todos? Onde está o imenso Wally que forma a massa compacta de amigos e sob a qual estamos tão protegidos? Onde eu estou nesse quebra-cabeças? Nesse jogo de esconde-esconde? Sou eu que me isolo? Onde estão todos?
Talvez eu esteja bastante influenciado pela minissérie "Queridos Amigos", que, a despeito dos clichês, tem me emocionado bastante. Sim, já perdi amigos. Sim, já amei e odiei e cortei da minha vida alguns amigos. Sim, sou relapso. Mas, onde estão vocês? Que somem, não enviam nada. Que emitem gritos surdos, talvez, porque eu não os ouço o suficiente. Tenho saudades de todos.
Aos amigos presentes, ausentes, desaparecidos, resgatados, de breves aparições no Orkut, de ligações extemporâneas, dedico a música do The Dandy Warhols, "We Used To Be Friends".
4 Comentários:
Red, amore...
Eu sou suspeitíssima pra falar sobre esse vínculo, fui agraciada com pessoas maravilhosas e tenho vontande de roubar alguns amigos pra mim.
Segue Leminski pra ti:
Meus amigos
Quando me dão a mão
Sempre deixam
Outra coisa
Presença
Olhar
LembrançaCalor
Meus amigos
Quando me dão
Deixam na minha
A sua mão.
Beijos!
Esse post me lembrou o filme Campo dos Sonhos, com a voz que o Kevin Costner ficava ouvindo "constrói que eles virão"... só que no caso eram fantasmas, o que não é o caso aqui...mas constrói que eles virão. pque outros nem saíram.
Vira e mexe eu lembro esse filme.
Aí caboclo,
Apareças mais na confraria e encontrarás novos amigos.
Aliás, esse bicho é uma verdadeira praga, nunca acaba, parece até ex-esposa...
Oh! Amèlie, quanta gentileza. Pode me roubar (de quem não sei). Depois de me ofertar Leminski, não tenho mais barreiras. Lindo! Beijo!
Patty, eu sei. Não me interprete porque, às vezes, sou só viagem. Beijo.
rm, não tenho dúvidas quanto a isso. e amigos nunca os há o bastante. Essa praga a mim me apetece. Abraço.
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