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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Rastreio de Cozinha - 52

"Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos. Nem tão longe e nem tão perto. Na medida mais precisa que eu puder. Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida, da maneira mais discreta que eu souber. Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. Sem forçar tua vontade. Sem falar, quando for hora de calar. E sem calar, quando for hora de falar. Nem ausente, nem presente por demais. Simplesmente, calmamente, ser-te paz. É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender! E por isso eu te suplico paciência. Vou encher este teu rosto de lembranças, dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."

"O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração."


(Estufado de Lulas à Moda de Nazaré)

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ... Que já têm a forma do nosso corpo ... E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares ... É o tempo da travessia ... E se não ousarmos fazê-la ... Teremos ficado ... para sempre ... À margem de nós mesmos..."

"... Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura. Arrependa-se, volte atrás, peça perdão! Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo, continue. Se sentir saudades, mate-a. Se perder um amor, não se perca! Se o achar, segure-o!"

"Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu."


(Arroz de Pato à Moda de Braga)

Espero, para o seu próprio bem, que você tenha identificado o autor de todas essas precisas e expressivas palavras. É, é Fernando Pessoa. Não sei de pessoa mais adequada para ilustrar um post da cozinha portuguesa. E é bom dar uma variada porque, também na cozinha, é possível fazer poesia. Não, louco(a)! Não é com a comida, e sim com as pessoas que habitam a cozinha, como eu.


(Ensopado de Borrego - Ensopado de Cordeiro)

Fizemos nesta quarta-feira quatro produções portuguesas, dentro da disciplina de Cozinha Internacional Ocidental. Foram produzidos o Ensopado de Borrego - Ensopado de Cordeiro, Arroz de Pato à Moda de Braga, Bacalhoada e Estufado de Lulas à Moda de Nazaré. Não vou me estender sobre Portugal porque Fê (olha a intimidade!) faz isso melhor do que qualquer outro. Quer dizer, só tem como concorrentes o Ricardo Reis, o Alberto Caieiro e o Álvaro de Campos. A receita que estendo para você é a da Bacalhoada, porque é quase impossível dissociar Portugal do bacalhau, do pão e do vinho.

Bacalhoada

Rendimento: 2 porções

Ingredientes

- 200 gr de bacalhau
- 1 batata Asterix
- 1 tomate Débora
- 1/2 pimentão verde
- 1/2 pimentão vermelho
- 1 cebola
- 2 dentes de alho
- 40 gr de azeitonas pretas
- 80 ml de azeite extravirgem (de preferência, português)
- salsinha picada a gosto


(Bacalhoada)

Modo de Fazer

1. Dessalgue o bacalhau. O modo correto de dessalgar é ferver água com sal e colocar o bacalhau. Troque a água umas três ou quatro vezes. Experimente para ver se saiu todo o sal.

2. Corte a batata à portuguesa (fatias grandes, com cerca de meio centímetro de espessura).

3. Corte o tomate em rodelas.

4. Corte o pimentão verde e o vermelho em tiras finas.

5. Fatie a cebola.

6. Pique, em brunoise, os dentes de alho.

7. Fatie as azeitonas em lâminas. Descarte os caroços, fazendo o favor!

8. Branqueie o bacalhau em água fervente e cozinhe por cerca de 15 minutos.

9. Remova as espinhas e a pele do bacalhau. É isso mesmo. A vida não é justa e tampouco fácil.

10. Refogue o alho, a cebola e os pimentões em azeite.

11. Branqueie a batata em água e sal por cerca de 15 minutos.

Montagem (mas, você pode variar a seu gosto; em Portugal, há 365 tipos diferentes de se fazer e apresentar bacalhau; crie o seu!)

12. Repita, after me, se você quiser o modo convencional de montagem.

13. Despeje azeite em uma travessa de cerâmica refratária e coloque uma camada de batata, as postas de bacalhau e uma camada de tomate.

14. Forre essas camadas com cebola, pimentão verde e vermelho e alho, que já foram refogados.

15. Regue com azeite e repita as camadas, na sequência.

16. Salpique com salsinha, decore com azeitonas, cubra com papel alumínio e leve ao forno entre 25 e 30 minutos.

17. Sirva com um bom vinho português.

(Releia: os Fernandos. Se você disser que nunca leu, vou fingir que não ouvi!)

4 Comentários:

Donna Cannone disse...

Ola muito bom dia.
Peguei o seu blogue nos nossos enlaces para encontrar mais uma vez o camino no web e voltar

Carlos Alberto de Lima disse...

Descobri vocês. Vou voltar...

Anônimo disse...

oi,

Pessoa, depois de clarice, vem pessoa. rsrsrs

na minha vida, digo.

bju

Redneck disse...

Donna Cannone, é um prazer receber uma mulher italiana aqui no pedaço. Mamma mia! Io que no parlo italiano!!! Seja bem-vinda!!! Beijo!

Carlinhos, você é o primeiro a me tratar por "vocês". E é isso mesmo. Já disse aqui no blog que sou vários, múltiplos, legiões. Pela primeira vez, alguém sabe com quem fala. Bem-vindo. Abraço!

marco*! Olá pessoa! Ou, devo dizer, Lispector Pessoa? Pois é! Vivo tanto de retalhos alheios de Pessoa, de Clarice, de Assis e de tantos outros que sou uma colcha universal. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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