Meu rugido dominical
Queria estar na festa. Com amigos. Com os amigos que tenho. Apenas uma amiga me convidou. Sabe a popularidade que se mede entre universitários norte-americanos?
Claro que não vou medir a minha (im)popularidade por critérios tão simplistas, mas, não houve, digamos um arroubo dos amigos.
Eu, já desanimado para ir a qualquer evento, sozinho é que não fui. Ouço daqui de casa o barulho, desde a concentração (meio-dia) até a descida na Consolação (são 16:30 horas) e ouço bem o som dos carros.
Tudo é uma alegoria. Inclusive o estado de espírito. O meu anda assim, capenga. E, cabisbaixo, se recolhe numa concha para passar incólume. Não levantar os olhos. Baixá-los ao nível do chão para se interiorizar.
O imã não me atraiu. Receios. Medos inconfessos, mais do que a ausência de amigos, me prenderam ao "quarto do pânico". Li outro dia que os homens tendem a ter pequenas cavernas dentro de suas casas, lugares só seus, impenetráveis por outros homens e, principalmente, pelas mulheres. Tentativa primitiva de voltar às cavernas e garantir território inviolável. Tenho minha própria caverna. Às vezes, escura como de fato o eram em priscas eras.
Sempre tendemos à caverna quando a luz é tanta que não a suportamos. Será que não suporto a alegria alheia em detrimento do que me vai dentro do peito? Será inveja? Olhar com condescendência para tudo não me faz bem. Estou cansado da condescendência para comigo mesmo e para com os outros. Ser ouvinte atento. E não ser ouvido.
Sinto que algo me escapa. Algo que não desvendo, nunca. Me entrego à eterna leitura de livros que queria ter escrito. Não ajo. Bovino, abano o rabo para espantar as moscas. E só!
Tédio, cansaço, exaustão. Corri uma maratona e não cheguei a tempo de dar a boa nova. Tampouco recebi qualquer notícia que me aquecesse o coração. Estou frio. Marmorial. Memorial é que sou. Acúmulo de poeira dos tempos. Escombro de lembranças.
Nada me chama. Se os há, os chamados, não os ouço. Ouvidos moucos para trombetas que, talvez, nem existam.
Não fui a festa alguma. "Não me convidaram para esta festa pobre que os homens armaram pra me convencer", gritou, lá atrás, um Cazuza de súbito estupefato. Não me convidaram para festa alguma. Pobre ou rica, festa é sempre festa. Queria estar na festa. Não, não em qualquer festa. Na minha festa. Aquela, da expressão "o cachorro fez festa quando o dono chegou". Queria receber festinhas, afagos. Alegria por eu ter chegado. Carência, me diz você. Nem tanto assim. Queria mais era ter festa dentro de mim, de fato.
Sinto falta de um ambiente festivo dentro de mim. Eu, tão espirituoso quando se trata dos outros, estou com falta de presença de espírito. Divago. E é tudo. Meu espírito está pobre. Soturno.
Preciso de uma festa multicolorida. De balões de arco-íris. De luzes. Ver formas. Ver o formato dos sons, numa viagem alucinógena. Ver o halo que cerca as pessoas. Dizem que os há. Você já viu? Talvez sejam apenas emanações de nossas fantasias. Mas, bem que gostaria de exalar um halo (vulgo feromônio). Talvez, sendo primitivo, consigo ser, de fato, moderno.
Preciso de passarela. De pés para caminhar na passarela. De platéia que me assista. De aplauso (ou vaia) que me consolide. Estou sem chão. E, flanar, às vezes, é só flanar, como folha de árvore em outono. Êta sensação besta.
Não fui a festa alguma porque não tenho festa dentro de mim. A luz apagou, os convidados já foram, a música acabou, a bebida findou, a comida esfriou, a noite terminou. E agora, José?
4 Comentários:
Meu caro e querido amigo, como eu gostaria de estar aí, contigo e convidá-lo para a maior festa do mundo, a festa em teu coração.
Sei o que estais sentindo e sei também que é fácil falar, mas muito difícil conviver com este sentimento. Mesmo a distância, estou compartilhando o que se passa em teu coração e, principalmente, em tua cabeça.
Teu coração é de uma grandeza, de uma imensidão, que fazes com que as pessoas que convivem a tua volta façam parte do que se passa com ele e compartilhem tuas alegrias e amarguras.
Espero em breve, compartilhar contigo de uma festa enorme, com mil cores, sons e muitas alegrias; todas elas em teu coração, em tua vida.
Pois sabes melhor que ninguém que mereces ser feliz.
Um beijo do outro lado do oceano.
Sempre passamos por momentos que nos sentimos bem incomodados, mas com certeza passará. A vida é cheia de altos e baixos, de reclusão e explosão de alegrias... elas chegarão.
bjocas, andrea
Ana, obrigado pelo carinho. Tão longe e tão perto. Nada que um dia e depois outro e mais outro não beba de talagada para si. Beijo!
Andrea, espero que cheguem, enfim, que a espera já se faz longa. Confio, porém. Beijo!
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