Escrever
Patty, dedico a você este trecho do livro "Na Ausência dos Homens". Serve para mim também porque, o dia em que eu realmente acreditar nisso, escreverei um livro. Um livro que está germinado na minha mente. Que teima em fazer cataclismas lá dentro, louco para ser gestado. Finjo que não é comigo. Uma hora, no entanto, terei que liberar. Dar à luz palavras que não podem mais ser contidas na escuridão interior. Dar liberdade ao cavalo selvagem que relincha, bravio, indômito.
"Escrever exige uma dedicação absoluta. Não se pode fazer mais nada além disso: escrever. Nada deve nos distrair. Devemos nos dedicar inteiramente ao livro, viver em função dele e sacrificar todo o resto. É um sacerdócio, um princípio de religiosidade. Sabia que mesmo quando não escrevo, escrevo assim mesmo? O tempo da contemplação, da observação, da mundanidade, da ociosidade são os que ajudam a escrever. Nesta aparente desocupação, pela qual sempre me reprovam, é que trabalho verdadeiramente no livro. A vida em sua totalidade é dedicada ao ato de escrever. Vivo apenas para isso. É impossível fazer diferente. E esta necessidade torna-se ainda mais aguda quando se sente, como eu, a finitude da vida se aproximar a passos largos. É preciso terminar os livros começados. Compreenda que nada é mais importante que isso. Espero ter tempo suficiente para fazê-lo. Escrevo sempre na urgência, de maneira febril, aterrorizada. Você vai pensar que eu sou vítima de uma frenesi doentio, e terá razão.
Escrever é o sentido que dou para a minha existência. Minha vida desaparece atrás da escrita. Ou eu poderia lhe dizer: se eu não escrevesse, acredito que certamente estaria morto."
Observe atentamente:
"Sabia que mesmo quando não escrevo, escrevo assim mesmo?" Eu sinto exatamente a mesma sensação. Escrevo mentalmente, nas ruas, no metrô, durante a música, ao telefone. Escrevo como meu corpo inteiro, corpo + alma.
"Nesta aparente desocupação, pela qual sempre me reprovam, é que trabalho verdadeiramente no livro." Pois é! Não é assim que lhe ocorre também? Que a desocupação está ocupada com palavras? Que nos chamam de loucos porque o dique está rompido lá dentro? Me diga se não é assim! Imenso assim!
1 Comentário:
Red, super tks. É a cara daquela nossa conversa de ontem (ou anteontem, já nem sei). Perfeito. E sempre é bom saber que tem mais gente doida no mundo. Com febre.
Quem é o autor?
bjs
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