Meu rugido dominical
(eu, de todo canto) Mãe!!! Manhê!! Mamãe??!! Mãm!!!
(eu, de todo canto, quando ela me chama) O que é? Agora não!
(eu, quando sozinho, quando ela me chama) Ai, meu saco!
(eu, diante dos irmãos, egoisticamente) Tudo eu ...
(eu, do banheiro, no berro): Mãe, acabou o papel!!!!
(eu, do banheiro, no berro): Mãe, traz toalha!!!
(eu, da cozinha, com fome lupina): Tem comida?
(eu, da cozinha, mimado): Eu não gosto disso. Tem mais alguma coisa? Tem doce? Assim eu não quero. Faz pão? Faz café?
(eu, do quarto, desmaiado): zzzzzzzzzzzzzzzz
(a mãe, da cozinha, nunca desmaiada): Acorda!!! Já são 7:30 horas. Levanta! Vou chamar teu pai! Vou jogar água. Se eu for aí, você vai ver!
(eu, do quarto, mal-humorado): Merda, saco, droga, inferno!!!
(eu, do quarto, mal-humorado e meio): zzzzzzzzzz. O quueeeee????? (a mãe puxa as cobertas)
(eu, da sala, imperativo): Vem ver na TV!! Vem logo!!!
(eu, da área dos fundos, na condição de centro do universo): Mãe, vem logo. Me ajuda com isso, me ajuda com aquilo.
(eu, da casa toda, na distribuição diária de raiva): Ai que saco! Droga! Por que? Me deixa em paz!
(eu, para os outros da casa, egocêntrico): Cadê a MINHA mãe? Você sabe onde a mãe está? Ela SAIUUUUUUU????? COMO??? PARA ONDE ELA PODE TER IDO????
Parabéns, mãe. Parabéns por me suportar e aos meus desatinos, às minhas caras feias, minhas dores de ouvido, meu choro sem fim, minhas dores de barriga. Parabéns, pelas noites que te deixei em claro. Que te deixei no escuro. Que me fiz surdo. Mudo. Que te fiz muda e surda. Que me calei para que falasse e que falei para te calar.
Parabéns por todos os dias, presentes, ausentes, pela dedicação. Pelo carinho que não se traduz em gesto, talvez, mas, em atitudes mais amplas.
Parabéns por não ter se esgotado antes que eu me esgotasse. Por crer que ainda havia esperança onde eu já não via nada. Por ter olhos enquanto eu era cego. Por enxergar o que eu preferia não ver.
Parabéns, minha mãe!
Parabéns a todas as mães. As putas madres. As santas madres. Mães que trabalham fora, dentro, 24 horas. Mães que estão no dia e na noite como se, para elas, não houvesse divisão entre um sono e outro. Mães que xingam, se descabelam, melodramáticas. Mães sérias, que não sorriem. Mães no luto. Mães na luta. Mães que agradecem por pouco e que não fazem contas, nunca, das imensas somas que lhes devemos.
Parabéns, mães. Que odeiam a guerra. Que odeiam sobreviver aos filhos. Que são duplamente mães quando avós. Triplamente mães quando bisavós. Que fingem não ver quando fazemos coisas feias. Que olham de lado quando nós as magoamos. Que não nos olham nos olhos para não nos dizer: EU SEI!
Que não nos julgam pelo que somos. Somos teus, por que haveriam de julgar suas crias? São suas, afinal. Sim, vocês nos conhecem. Cada célula. Não finja que não. Entre nós, filhos e mães, há silêncio para não romper algumas barreiras. Mas, desconhecimento, não, não há.
Parabéns. Mães todas. Umbilicais, primitivas, terrenas ou etéreas. São todas mães, em cada fio de cabelo. Que se arrepiam diante dos perigos. E que somente dormem quando todos os filhotes estão contados. Que não se enganam. Se equivocam. Mas, enganar-se é impossível.
Parabéns. Não há mais palavras.
Abaixo, cinco vídeos de artistas diversos o bastante. Como elo entre todos, a mãe. Um, da música "Mother", de John Lennon. O segundo é "Mother", do Era. Outro, triste, porém, para mim, bastante significativo, da música "La Mamma Morta", de Maria Callas. Calma, mãe, sei que está viva. É que a música é por demais bonita para que eu a oculte. Mais um, "Mother Love", do Freddy Mercury para sua mãe. E, para encerrar com algo mais leve e engraçado, senão não seria eu, "Mamma Mia", do ABBA.
"Mother", Johnn Lennon
"Mother", Era
"La Mamma Morta", Maria Callas
"Mother Love", Freddy Mercury
"Mamma Mia", ABBA
2 Comentários:
Muito bom, mesmo. E volta aquela nossa conversa, voltar a escrever ajuda esses sentimentos todos a saírem para a luz, não? Bjs
ah, tinha mesmo algo preto naquela mussarella?
Bjs
Lennon rocks! Nice vid.
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