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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Rastreio de cozinha - 38

Houston, I have a problem: eu tenho insônia. Que, quando me acomete, é brava, avança interminavelmente. Não me poupa da noite, da madrugada ou do dia. Não importa o que aconteça, ficarei acordado. Tudo se passa num nível embotado. Parece que usei uma dose extra-large de ácido lisérgico (que, no fundo, mas bem lá no fundo, tem a ver com o meu nome, afinal). Contabilizadas as horas de ontem, desde o momento em que acordei, 10 horas da manhã, até agora, mais de 23 horas, são 37 horas sem dormir. Dormi, se muito, por exatos 15 minutos. Que não foi um sono propriamente.

Deitei hoje de madrugada, às 3:30 horas da manhã. Às 5, revoltado com o flap-flap de lençóis em agonia de mortalhas, me levantei e fui para a sala. Assisti TV, li, liguei o computador, enfim. Totalmente desperto. Às 8:30 da manhã, decidi dormir. Desliguei tudo e a mim mesmo. Na cama, não consegui. Fui para a sala, liguei a TV bem baixinho e comecei a ser embalado por Morfeu.


(Medalhão de Filé Mignon Recheado com Pasta de Uvas Passas e Alho-Poró com Quenelles de Mandioquinha)

Exatos 15 minutos depois, minha ajudante chegou para passar um dos meus uniformes da faculdade (porque eu deixo tudo amarelado quando o faço), abriu a porta, a janela, estranhou o fato de eu estar ali, no sofá, mexeu comigo, falou. Eu, desta vez a pedra em si (quando, em todas as outras ocasiões, a pedra é outra), não acordei.

Eis que, subitamente, vi uma luz. Caroline finalmente havia me encontrado e estava a me levar para a luz. Era laranja, um enorme clarão cítrico a me cegar. Devagar, as pálpebras ensaiaram o descortinar de uma nova jornada. Mais clarão. Ruídos dentro de casa. Chamo por Socorro! Me responde a Socorro: estou aqui. Eu havia me esquecido de que ela viria hoje.

Veio, me deu café e partiu. Eu parti ladeira abaixo para o despertar de um pequeno sono. O dia lá fora, claro, ensolarado, não me deixou dúvidas: a luz reveladora antevista e acreditada como um chamado de Caroline era, tão somente, o sol, que insiste em nascer a despeito do ódio mútuo que nutrem os vampiros noturnos ante tão insidiosa luz.

Acordei. Despertei. Rugi, que é do meu feitio. De lá para cá, já estive em vários níveis de decadência: andei torto pelas ruas, feito um bêbado desequilibrado no fio da sarjeta, ri sozinho, dormi no salão do meu cabelereiro, enquanto as pessoas falavam comigo, vim para casa, fiz contatos profissionais agora esquecidos no imenso rol de coisas velhas e fui para a faculdade. Não sabia se o metrô vinha na minha direção ou se era eu que voava túnel adentro. Como numa sucessão de roldanas, repeti o trajeto diário mais por inércia do que por iniciativa.

Fiz prova, voltei para casa e cá estou, trôpego. Cambaleio feito um cipreste na tempestade. Assovio com o corpo inteiro, em alucinante reprodução de um bambuzal. Disse ao meu cabelereiro: cortará, hoje, o cabelo de um cadáver. O meu cabelereiro é bastante espirituoso e releva. Até porque é um profissional e não está escrito em lugar nenhum que se deve apenas cortar o cabelo dos vivos. Não há cláusula contratual que defenda que não se corte cabelos de mortos.

Sem cabelos na cozinha, porque, neste cenário, significaria que o meu surto superou o irreal e a tênue fronteira que separa o real do imaginário haveria de desabar. Hoje, sexta-feira, 18, fizemos a prova prática de Cozinha Contemporânea. Foram apenas duas produções e tudo foi avaliado: comportamento, uniforme, limpeza da cozinha etc. etc.


(Mousse de Framboesa com Sopa de Abacaxi e Pimenta Vermelha)

A prova prática foi de criação e, portanto, não havia qualquer indicação do que faríamos. Os ingrediente disponíveis é que nos deram os subsídios para formular a receita. Fizemos uma produção doce e outra salgada: Mousse de Framboesa com Sopa de Abacaxi e Pimenta Vermelha e Medalhão de Filé Mignon Recheado com Pasta de Uvas Passas e Alho-Poró, finalizado com molho de pimenta, uvas passas e condimentos, e servido com quenelles de mandioquinha (bolinho feito com carne ou peixe bastante condimentados, ligados com clara de ovo e natas, ovos batidos ou manteiga e farinha. Com esta mistura, obtém-se as bolas, que são cozidas em água. As quenelles são servidas gratinadas com vários molhos ou sopas. No nosso caso, a massa foi a mandioquinha).

Foi a nossa avaliação prática de todas as aulas do primeiro bimestre de Cozinha Contemporânea, que culminou na criação, pela bancada, de dois pratos. A nota será divulgada mais tarde, mas, em termos de sabor e apresentação, creio que nos saímos bem.

Por conta do meu estado de zumbi, não quero escrever mais nada. Tudo o que disser a partir de agora será um monte de asneira. Porque tive até crise de riso, de tanto sono. Beijei algumas pessoas virtualmente hoje e creio que, com isso, ultrapassei fronteiras entre continentes. Exatamente assim como eu requisitei ontem: que venham novos continentes. Estou com sono, muito sono, embrigado de sono. Mas, feliz!

1 Comentário:

Anônimo disse...

Durma com os anjos.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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