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domingo, 13 de abril de 2008

Meu rugido dominical

Em 1993, eu estava no primeiro ano da faculdade de jornalismo. Uma professora, da disciplina de Cultura Brasileira, me disse algo que eu nunca mais me esqueci: "a globalização é um processo irreversível e nós (jornalistas), muitas vezes, seremos apenas escada para outros subirem." A globalização realmente se consolidou de muitas formas e eu, como jornalista, sempre me sinto uma escada nesse processo. O que a minha professora não disse e eu também não antevi foi a globalização de amigos.

Tenho (terei), pelo menos, quatro amigos próximos que moram(rarão) fora: uma amiga em Nova York, há quase 5 anos lá, entre as idas e vindas; um amigo em Bruxelas, que também está entre a Alemanha e Bélgica por 5 anos; uma amiga que parte hoje, domingo, para Luanda, em Angola; e outra amiga que parte em breve para Montreal, no Canadá. Sem contar um amigo novíssimo que está na França. E outros colegas de faculdade, mais um em Nova York e a outra em Londres.

É muita gente espalhada. Estão, ou estarão, em, pelo menos, três continentes: América, Europa e África.

Na faculdade de gastronomia, muitos planejam ir embora para buscar oportunidades ou qualificação, na Europa, Ásia e Oceania (Austrália). Com o que me vejo, de repente, com amigos nos mais diferentes pontos do planeta.

Nos últimos anos, perdi a conta das vezes em que fui ao aeroporto internacional de São Paulo, Cumbica, buscar ou levar pessoas. Quando não, para me embarcar a mim mesmo. Nunca imaginei que tantos de nós fossem para o exterior. Houve casos daqueles que foram e já voltaram. Como o da amiga que também viveu em NY e do casal de primos que morou em Madrid.

Mas, a constatação que faço é que o mundo se apequenou de tal forma que estamos, todos, virtuais e reais, separados por dois pontos: o aeroporto aqui e o aeroporto lá. Sejam cinco, dez ou 23 horas de viagem (Pequim), tudo é rápido o suficiente para que possamos ver as pessoas e tocá-las.

Quando meus bisávos maternos vieram da Espanha, entre 1930 e 1940 (não tenho as datas) demoraram alguns meses para atravessar o oceano Atlântico. Na viagem, segundo minha avó, morreram dois ou três tios-avós meus que foram atirados ao mar. A viagem era lenta, perigosa e as doenças eram incontroláveis. Hoje, para chegar a Madrid, basta um vôo de dez horas.

O que quero dizer com isso é que até entendo o impulso das pessoas que vão embora, seja em busca de oportunidades de trabalho, por estudo, pela busca a questionamentos internos ou até mesmo pela aventura de se viabilizar numa terra estrangeira.

O que lamento é a perda do contato visual que acontece. São longos meses de hiato entre meus amigos e eu. Não ver as pessoas faz com que, de alguma forma, se perca seus contornos físicos, sua face, cheiro e gestual. Eu não gosto disso, tenho que dizer. Já tive, por muito tempo, a sensação de perder os traços das pessoas e até me pegar surpreso quando não me lembrava a cor do cabelo, as rugas de expressão ou o sorriso de algumas pessoas. E isso ocorreu em distâncias menores, entre São Paulo e o interior, de onde vim. Imagine quando há um oceano ou quando os continentes se interpõem uns aos outros.

Mas, se a globalização separa as pessoas dessa forma, também as une. A internet é recente. Em 1993, ainda não havia internet comercial no Brasil. Me lembro de ter adquirido um Macintosh, da Apple, em 92 ou 93, e de ter me conectado via BBS (bulletin board system). Nada de e-mails, chats, serviços de mensagem rápida. Agora, é possível falar online e ver, em real time, as pessoas. Que maravilha é isso! Que bom quase sentir as pessoas.

No entanto, nada, nunca, substituirá o contato físico, o toque, o olhar direto, as pequenas nuances de cada um dos citados. O meio eletrônico é só um meio. Há que se atravessá-lo e rompê-lo para efetivar o contato. Quero abraçar e beijar meus amigos. Quero senti-los, ouvir seu riso, ver seus olhos e sentir seu humor. Odeio a gloabalização pelo que ela tem de pior, essa imigração maluca que leva as pessoas a todo o momento. E, simultaneamente, aquiesço pela facilidade, descontado o poder financeiro, de ir daqui acolá muito rapidamente.

Sei que sou egoísta. Na verdade, queria que todos ficassem por aqui. Feito as mães, que tentam abrigar os pintinhos abaixo do seu manto protetor. Mas, a única diferença, de fato, é a distância. De resto, concluo que o fato de eu ficar quatro anos sem ver uma pessoa, como ocorreu com o meu querido amigo que está na Bélgica, não muda em absolutamente nada o meu sentimento por ele.

Mas, que eu os queria, a todos, os novos e velhos amigos, por perto, pertinho, ah! isso eu queria sim. Nem que for para xingá-los de vez em quando e brigar com eles. Porque isso também é amor.

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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