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sexta-feira, 4 de abril de 2008

Rastreio de Cozinha - 28

Desandei! Como um creme que quebra, fiz água. Faltei de novo! Já pareço um mendigo, com cara de cachorro magro, que vem a público confessar que roubou a torta que esfriava no parapeito da janela. Mas, novamente, a causa foi justa.

Pois não é que eu também trabalho? Nem parece, às vezes. É faculdade de gastronomia para lá, é blog para cá e o(a) leitor(a) pode pensar que não faço nada da vida a não ser esperar o momento de ir para a cozinha, com pequenas pausas para saciar o blog. Não é assim! Juro!

Trabalho sim, e muito. E foi para dar conta de uma expressãozinha mortal chamada "dead line" que eu faltei. Tinha até hoje, com hora e tudo, para entregar um especial inteiro, com seis matérias (cerca de 25 mil toques). Se eu tenho algum compromisso profissional, o nome dele é cumprimento de prazo. Se eu não fizer isso, as pessoas que me pedem os jobs não confiarão mais em mim. Isso é um fato. O outro é entregar a matéria sem erros, limpa, com títulos, olhos, chamadas, quadros, tabelas. Quanto mais cuidadoso você é com o seu trabalho, mais isso transparece aos olhos de quem o recebe. Sei disso por experiência.

Daí que é a segunda vez, quase consecutiva, que falto à minha amada faculdade de cozinha. Hoje, sexta-feira, 4, era dia de Cozinha Contemporânea. Aquela, maluca, em que tudo aquilo que você conhece, de repente, não é mais aquilo mesmo. Enfim. Hoje, sem uma fonte, sou obrigado, novamente, a tatear no que foi a aula à qual eu não compareci. Ao menos me sobra o tato para usar como sentido, já que fui privado da visão, audição, olfato e paladar para a comida feita hoje em classe.

Quero deixar claro que estou longe da concepção torpe de que "o trabalho enobrece o homem". Estou muito longe disso. Essa frase deve ter sido feita por uma mulher, que queria o marido longe de casa e cunhou a expressão. Ao contrário, estou mais para a filosofia de Domenico De Masi ("O Ócio Criativo"), que prega um modelo baseado na simultaneidade entre trabalho, estudo e lazer; centrado mais no crescente tempo livre do que no tempo decrescente dedicado ao trabalho e, segundo o qual, os indivíduos e a sociedade são educados para privilegiar a satisfação de necessidades mais radicais como a introspecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas. Meu voto para Domenico.

Ou, pior, compartilho da filosofia ainda mais solta de Neusinha Brizola: "Quando dá vontade de fazer ginástica, eu deito e espero passar!". Não chego a tanto, mas, estou quase lá.

Tambem hoje não haverá receita, conforme o mesmo princípio que adotei na última quarta-feira. E, quer saber, às favas com tanto recato aqui porque faltei! Não sou nenhum monge budista diletante ou um frade capuchinho que fez votos de castidade para não cair em tentação. Livrai-me de não cair em tentação. Ao contrário, que venham as maçãs, vermelhíssimas feito os berries europeus.

Presumo (cadê a minha fonte?) que nesta quinta-feira foram feitas as seguintes produções, catalogadas como "criação" dentro da cozinha contemporânea: Salada de Abacate com Camarões em Escabeche (criação de Júlia Vinagre - Portugal), Creme de Mandioquinha com Caviar de Sagu (criação dos hermanos catalães Javier e Sergio Torres - proprietários do Eñe em São Paulo), Portobello com Risotto de Quinua (Lúcia Sequerra - do Santa Madalena, também em SP), Frango Xacutti (de Rocky Sebastian D Mello, do navio de cruzeiro Grand Mistral) e Capeletti Crocante de Banana ao Maracujá com Sorbet de Tangerina (do D.O.M., by Alex Atala).

Lamento muito ter perdido o aprendizado das técnicas, notadamente do caviar de sagu, que é coisa bem nossa, brasileira.

(Respire: Como estamos a um passo do final de semana, recomendo que relaxe: ande descalço(a), caminhe - não corra; deixe a correria para a semana. Se gostar, passe numa livraria. Folheie. Não há nada mais relaxante do que folhear, olhar, piscar descaradamente para os outros. Eu faço isso. Se não der certo, você faz cara de sonso(a). Tome um café. Água, apenas. Reduza seus movimentos. Pense no tai chi chuan. Plácidos movimentos coordenados. Imite a graciosidade dos animais. Tente ser gazela. Se não conseguir, seja um rinoceronte sossegadamente. Não se irrite por pouco. Por muito, só se for para ganhar. Aproveite o sábado, o domingo. As pessoas. Mesmo aquelas mal-educadas. Até elas terão que parar. Não se deixe levar pelas ondas agitadas. Tenha um bom fim-de-semana. Para você e com você! Ah! Se rolar uma balada boa, não hesite em me chamar. Peço calma, mas, também, ninguém está morto por aqui, não é?)

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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