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quinta-feira, 10 de abril de 2008

Rastreio de cozinha - 32


Você, que me lê com certa constância, sabe que as quintas-feiras são desprovidas de cozinha com fogões de chamas flamejantes, aromas, temperos, molhos, azeites e produções que vão do pão à experimentação. Ao invés da cozinha, uma pausa. Essa pausa, em geral, é vazia. De colegas, que faltam porque há falta de atrativos. As aulas de TCC (Tentativa de Cabar Comigo) e de Geografia são modorrentas, se arrastam. Não há nada que as salve, exceto o relógio.

De tal feita que me resta investir em outros mapas. Hoje, quinta-feira, 10, eis que resolvi falar sobre a minha própria migração. Que sou ave de arribação que, ao primeiro sinal do vento siroco (poeticamente, apenas, que não temos tal vento no Brasil), levanta vôo para outras paragens mais amenas.

Creio que fiz o caminho inverso: da amenidade passei à calamidade, à qual me adaptei perfeitamente. De concreto, descobri que o concreto tem mais a ver comigo do que a terra, vermelha, em si mesma.

Pois que saí, aos 9 anos, de uma propriedade rural para viver numa quase outra área rural. Minha cidade, São Pedro do Turvo, 390 Km a oeste de São Paulo, tem mais árvores do que casas. Quando você avista a cidade, de uma das entradas, percebe o quão verde é a cidade.

Essa pequena cidade, de 7 mil habitantes (em todo o município, zonas rural e urbana), não foi suficiente para me acomodar. A cidade, em si, deve ter uns 4,5 mil habitantes. Já trabalhei em edifícios com mais gente do que a população da minha cidade.


Exibir mapa ampliado

Pois que, aos 19 anos migrei para São Paulo. Morei por três meses na Vila Carrão, na zona leste de São Paulo, na casa de parentes. Depois, mudei para o bairro da Liberdade, por onde vivi aproximadamente 1,5 ano. Morava em uma pensão na rua Tamandaré, endereço do cursinho Etapa, e, exatamente por isso, haviam 90% de estudantes na pensão e apenas 10% (entre os quais eu) que trabalhavam na cidade.

Eu trabalhava na rua Direita, próxima à Praça da Sé. Ia a pé todos os dias, voltava para almoçar na pensão e voltava ao trabalho. O tempo, se não dava, tinha que dar. Eu não tinha opção. Não dava para comer fora todo dia. Antes disso, quando morei na Vila Carrão, passei pelo menos dois meses à base de MacDonald´s. Claro que enjoei. Fiquei meses sem nem poder passar na frente do lugar.

Nesta pensão, vivi um período relativamente bom. Tinha por amigos os estudantes do cursinho e dois caras do Pará, que faziam algum treinamento em São Paulo. Eram ambos de Belém e nunca mais soube deles. Havia um outro colega, próximo, que era de Ribeirão Preto. Também nunca mais soube dele.

Depois desse período, fui viver na rua Martiniano de Carvalho, e dividi apartamento com minha prima. Desse período até nos separarmos, foram dez anos consecutivos, pelo menos. Moramos na Martiniano (onde, conforme post publicado neste blog, não fiz contato com Patty Diphusa), na avenida Brigadeiro Luis Antonio, na Vila Mariana (não me recordo o nome da rua), de novo na Brigadeiro Luis Antonio, no mesmo endereço e, logo depois, no mesmo condomínio, mas, em outro apartamento e, de lá, vim para cá, para a alameda Joaquim Eugênio de Lima, por onde estou há bastante tempo.

Meu perímetro em São Paulo sempre ficou limitado ao bairro Jardim Paulista/Bela Vista/Cerqueira César. Na Vila Carrão, foram apenas três meses. Na Vila Mariana, se foram seis meses, foi muito. Então, o meu bairro é aqui mesmo. Por me adotar, ser adotado e permanecer.

Conheço bastante a cidade de São Paulo. Não o suficiente, no entanto, para, de repente, me ver perdido em bairros conhecidos. Até mesmo vizinhos. É só entrar numa rua circular que não tem quadras precisas para eu me perder. São Paulo é assim.

Mas, creio que conheço razoavelmente a cidade num raio de 10, 12 Km ao meu redor. De tal forma tudo isso se cola na minha própria noção de geografia que acredito, mesmo, nos mapas que traçamos para nós. O meu ponto original no meu mapa privativo era o bairro rural Três Barras, do município de São Pedro do Turvo. Lá foi o meu ponto de partida para as vizinhanças - Santa Cruz do Rio Pardo, Ourinhos. Estudei nessas duas cidades: um curso técnico de contabilidade (sou contador, formado), na primeira cidade, e a minha pioneira faculdade, inacabada (administração de empresas, 3,5 anos, de um total de 4), na segunda cidade.

Em Santa Cruz do Rio Pardo, aprendi a matar aula. Até então, não sabia fazer isso. Derrubei latas de lixo dos muros, passei trotes por orelhão e entrei no cinema, pela primeira vez, em um filme para maiores de 18 anos (eu tinha 16).

Em Ourinhos, havia a convivência de pelo menos dez diferentes cidades da região na faculdade: Ourinhos, Santa Cruz do Rio Pardo, Palmital, Chavantes, Ipauçú, Salto Grande, São Pedro do Turvo, Bernardino de Campos e as do Paraná (Jacarezinho, Santo Antonio da Platina, Cambará). Não vou me recordar de todas cidades.

Depois, num susto, de repente, São Paulo. Antes, eu havia vindo apenas uma vez para São Paulo, para prestar um concurso para o falecido Banespa (foi na PUC, em Perdizes). Nunca saiu o resultado desse concurso. Famigerado banco estatal!

São Paulo foi descoberta, aos poucos. Logo no começo, passei por greve de metrô. Fui parar em São Miguel Paulista, com a certeza de estar em casa. Estava a quilômetros de casa (a de São Paulo, porque a minha, no interior, estava na Lua).

Aprendi - e continuo a aprender - a cidade. A captar suas nuances, mudanças, comportamentos desequilibrados. Às vezes, numa calma aparente que chega a causar medo. Noutras, um barulho ensurdecedor que faz com que as minhas velhas asas migratórias queiram bater em retirada.

Na minha latitude e altitude, a cidade que mais me pertence e eu a ela é São Paulo. Se tiverem que traçar um ponto longitudinal e latitudinal sobre o meu corpo, aqui está: altitude - 750m acima do nível do mar; latitude - 23°32.0'S; longitude - 46°37.0'W. Essas são as coordenadas para chegar também a mim. Pode programar o seu GPS. SP e eu, juntos.

Em meu mapa, está inscrito, basicamente, o Estado de São Paulo. De berço paulista, na beirinha do Paraná. De migração e por adoção, paulistano, na beirinha da Paulista. Viajei pouco em quilometragem. Não perfiz nem 400 Km. No entanto, como um bandeirante moderno, creio que demarquei um pedacinho que posso declarar meu. Porque meu é o território onde vivo, por posse e direito. Sou, no meu mapa, minha altitude, minha latitude, longitude. Concentro meu próprio Trópico de Capricórnio e até mesmo um tropical e inaudito leão, que nada tem que ver com coordenadas, mas, que, mesmo assim, de uma forma ou de outra, consignados todos - leões, capricórnios e trópicos - formam este mapa humano que aqui vos escreve. Em forma geográfica e conteúdo humano.

2 Comentários:

Anônimo disse...

de cara com os tamanhos dos seus textos rs
queria poder ler tudo, mas tenho tipo meio minuto entre um atrito e outro / mas peguei a essencia / ah, moro do outro lado do bairro

Redneck disse...

Oi vizinho! Entre nós, só a Paulista, então? O problema é que tento ser conciso mas sou bem prolixo, de fato. Quando vejo, já escrevi o primeiro livro da Bíblia. Mal de jornalista: quando o menos é mais, aí é que a gente empaca mesmo. Abraço! (de repente, até já nos esbarramos por aí, Conjunto Nacional, FNAC, vai saber!)

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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