Meu Obscuro Objeto do Desejo
O meu obscuro objeto do desejo, de fato, não é obscuro. Se faz de. Tampouco é objeto, já que é humano. Acho! Chamo de obscuro porque a cegueira ou a luz demais não me deixa enxergá-lo (ao humano que objeto é aqui por retórica, pura e simples).
Não sei a cor dos olhos - se verdes, azuis ou comuns. Talvez translúcidos, vagos ou mareados. Tanto faz. Sendo obscuro, o objeto do desejo não se deixa ver e muito menos ao olhar.
Não sei o nome. Ou talvez saiba. Não o conheço. Mas, é como se conhecesse. Porque o obscuro objeto do desejo é apenas uma figura de linguagem, uma liberdade poética. Sei exatamente o que desejo, tão claro quanto é possível nesses dias de outono.
O meu obscuro objeto do desejo se faz presente, imaginário. Fantasias, diriam. Não importa. Ainda assim, sei o que desejo. Também sei o que não desejo e isso faz toda a diferença. Meu nada obscuro desejo é que a fantasia se concretize, não em farsa que não sou teatral. Em prosa e verso. Em etapas ou por inteiro. Que se materialize.
Que o sinto, esse humano que objeto é porque é um jogo. De amarelinha, que vai do inferno ao céu. Ou de esconde-esconde, que se torna obscuro para que o desejo seja ainda maior. Jogo de apostas altas. Saltos no escuro. Trapezista sem rede de proteção. Um, dois. E a platéia, pasma, assassina no silêncio. Mas, não há queda. Porque é obscuro o desejo e também o objeto do desejo. Que o sussurro de alívio da platéia não é senão um grito reprimido de cólera porque não houve o tombo.
Meu obscuro objeto do desejo me pressente, sente, mente que não, e diz sim com os olhos invisíveis. Que me procuram, ávidos, e traem-se a si mesmos. Que os vejo, de relance, ainda que no escuro. Se são verdes ou não, se são translúcidos ou não. Que importa? Me caçam feito mariposas à beira do lampião. Obscuro objeto do desejo. Que nada! Que te perscruto a alma num instante e, aí, não mais a proteção do manto escuro. Cai o pano! Tira a venda, obscuro. Seja obsceno, tão damasceno quanto eu posso ser. De damascos colhidos na hora. Escuros, mas, não obscuros.
Seja o primeiro a comentar
Postar um comentário