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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O Original de Laura

Mais do mesmo: um neurologista brilhante, mas fisicamente pouco atraente, deprimido pela infidelidade da esposa mais jovem, pensa em cometer suicídio. Abordei essa palavra aí atrás ontem, ainda. Mas aqui é ficção: acontece agora, no dia 17 de novembro, o lançamento de um livro inédito de Vladimir Nabokov, 32 anos após a sua morte. O livro sai nos EUA (pela Knopf/Random House) e na Grã-Bretanha (Penguin), depois de 30 anos de hesitação do filho do escritor, Dmitri, que detém os direitos sobre a obra.





Nabokov, conhecido mundialmente por ser autor de "Lolita", havia dado instruções para que os originais fossem queimados após a sua morte, o que nunca foi feito. Acho engraçado isso de as pessoas deixarem instruções para destruir documentos, papéis, cartas e manuscritos. Se a pessoa quer que sejam destruídos, e não 'vazem' para a posteridade, basta ter em mãos um palito de fósforo e algo próximo de uma pira e proceder ao pequeno incêndio de sua obra. Mas, quando se trata de escritores, tenho por mim que a vaidade fala mais alto e o próprio criador é incapaz de dar fim àquilo que criou.





Assim como acontece com "O Original de Laura" ("The Original of Laura"), Nabokov também quis queimar os originais de "Lolita" e foi impedido pela esposa. Em 1955, "Lolita" daria ao autor fama universal e ao mundo um novo significado da palavra 'ninfeta'. Os manuscritos de "O Original de Laura" foram trancados no cofre-forte de um banco na Suíça em 1977, quando o autor faleceu. São 138 cartões (em papel cartolina) definidos pelo próprio escritor como incompletos. Nabokov disse que depois preencheria os vazios. Obviamente, ou não deu tempo ou o escritor preferiu relegar o livro aos arquivos.


A Penguin Classics deve reproduzir os 138 cartões e transcrevê-los numa espécie de edição manual-industrial. Um dos editores da Penguin disse que o livro é engraçado e sombrio e que explora o "ódio a si mesmo e a vontade de desaparecer". Fúnebre, não?


Como o livro não sai agora no Brasil (espero que saia em breve), fiz o post fora da rubrica "The Book Is On The Table", que costuma assinalar apenas os livros que li, e não as postagens sobre livros os quais desconheço. Porque estar sobre a mesa significa, literalmente, estar sobre a minha própria mesa.

2 Comentários:

Thiago Augusto Corrêa disse...

Alguns comentários. Achei seu blog por acaso via o incrível Google, por causa do texto sobre o livro do Nabokov. Depois darei uma explorada. Parece bem interessante.

Aqui seu blog está bem lento por conta das diversas informações que tem nele, não terminou de carregar aé agora.

Sobre o livro em si, ele já vai ser lançado por aqui, pela editora Objetiva. Se você é leitor do Nabokov sabe que sua coleção sai pela Cia Das Letras. Mas como você mesmo menciona, os diretos são do filho dele, talvez outra editora comprou.

Não sei se o tradutor será o Jorio Dauster, que traduziu toda a obra dele pro Brasil.

Por fim, sobre Lolita, se não existisse a obra de Mario Donato, Presença de Anita, publicada anteriormente ao livro de Nabokov e que já fazia uma descrição de uma ninfeta, eu diria que foi o próprio Nabokov que cunhou o termo. Mas é fato que todo o conceito que se tem por trás disso veio por trás desse grande escritor que é genial não só nesse romance.

Redneck disse...

Oi Thiago, seja bem-vindo a este blog. Você parece conhecer bastante sobre Nabokov e, claro, literatura. O blog está lento, eu imagino, por conta dos 21 vídeos que postei sobre Glee. Exagerei! E olha que coincidência: a capa da Ilustrada da Folha S.Paulo deste sábado é sobre este livro. Sairá pela Alfaguara, que é um selo da Objetiva também. A tradução é de José Rubens Siqueira, são 304 páginas e custa R$ 59,90. A Alfaguara editará 12 títulos de Nabokov aqui no Brasil, inclusive alguns que estão fora de catálogo há 30 anos. Sobre o termo 'lolita', realmente quem o cunhou foi Nabokov, a despeito de Mario Donato trazer o conceito antes. Como você já sabe, a projeção internacional criou esse burburinho em torno de Nabokov, que era midiático. Defendo que os escritores brasileiros também o sejam, como Paulo Coelho. Atualmente, é só assim que se consegue obter repercussão da própria obra. "O Original de Laura" tem recebido críticas com resenhas do tipo: " "se o leitor espera um romance, será um erro". Não sei. Não li. Sei que a revista "New Yorker", que recebeu a proposta de publicá-lo em série, se recusou. E a Playboy norte-americana o fará a partir de dezembro. No Brasil, a edição sairá com os fac-símiles em inglês e a tradução ao lado, como o livro "Finnegans Wake", de James Joyce, editado pela Ateliê Editorial. Volte, a despeito da lentidão. Você é bem-vindo. Abraço!