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domingo, 15 de novembro de 2009

Meu rugido dominical




Assisti a um filme sobre cyberterrorismo em que um supercomputador começa a disparar ordens por vontade própria e parece ter o controle absoluto sobre todas as demais máquinas - semáforos, circuitos internos de TV, transporte de cargas automatizado etc. Não é novidade. Trata-se de um clone de longa linguagem iniciado desde que "2001, Uma Odisseia no Espaço" lançou a ideia original. De réplica em réplica, uma sequência de "Matrix" ou "Big Brother" sem muita novidade.


E me ocorreu que, assim como acontece com os filmes, o cérebro deveria ter um processador central que controlasse tudo. Aparentemente, o software que nos impulsiona mistura hardware e programas: um é o cérebro, inteligência central da máquina-corpo que, na teoria, deveria fazer de tudo para que agíssemos certo. Mas os softwares, centralizados por uma memória volátil chamada 'coração', tendem a agir por conta própria. O outro, o hardware, é o corpo que ora padece, ora compadece, ora aparece nessa estranha estrutura incontrolada pelo coração, mais conhecido como 'alma'.


Ao fazer isso, nossos próprios softwares expõem-se de forma bastante arriscada a invasões, bugs e hackers. Racionalmente, levantamos muros de proteção (firewalls) e filtros que, de novo na teoria, teriam que aparar os golpes e nos preparar para os ataques que virão.


Ocorre que, como ouvi em outro filme, tudo é tão excitante que preferimos o risco de morrer a não ter aquilo que, acreditamos, nos é, naquele momento, tão atrativo que riscos e perigos, a despeito dos cálculos precisos do processador-cérebro, passarão ao largo de quaisquer iniciativas preventivas e de alerta.


Queria que meu coração sempre seguisse o que o cérebro, sofisticada peça que procura antever eventuais falhas, avisa em letras garrafais e vermelhas: "Atenção! Você tem certeza que deseja deletar esse arquivo-procedimento-atitude?" E você tem apenas dois caminhos: sim/não. Como naquelas encruzilhadas de filmes (os filmes são recorrentes neste rugido) pelas quais se você pega o lado esquerdo, corre o risco de enfrentar o vilão e, ao pegar o lado direito, cai numa cilada.


Quer dizer, não existe um caminho. Não existem GPS na vida real que orientem em voz metálica: siga à esquerda, à direita, avance 100 metros, pare, estacione. Nada disso. Por mais que sejamos racionais, cada passo é tomado pela irracionalidade: uma distração, um passo em falso e, pronto! A queda, o vazio, o terror.


Claro, vai um pouco de exagero. Tendo sempre a me exprimir por extremos quando quero definir um conceito. Mas é mais para exemplificar. O que quero dizer é que nem milhões de sinais sinalizadores são capazes de nos fazerem seguir pelo caminho que seria o certo. Porque não há caminho certo. E, portanto, exatamente por isso, o corpo, o coração e o cérebro não agem feito supercomputadores que controlam tudo.


O imponderável sempre será um fator. Eu quero isso, você aquilo. Nasce o conflito. Para se chegar a uma solução, há que se debater. Alguém prevalecerá. Ou, ainda, um consenso que esteja bom para ambas as partes.


Não se trata aqui de um tema pontual que esteja a acontecer comigo. Não é nada disso. É sobre algo mais abrangente. Sobre a vida que, pretensamente, cada um de nós escolhe viver. Digo pretensamente porque desconfio que por detrás da arbitrariedade de escolher A ou B, acho que como pano de fundo há sim uma célula-master a nos controlar.


Por que então nos arrependemos? Por que, às vezes, voltamos atrás em alguma decisão? Por que paramos para pensar em algo que já aconteceu se não temos o poder de fazer nada para inverter a situação? Acho que são bugs da máquina humana. São resquícios de arquivos corrompidos os quais, por mais varreduras que se façam, continuam a fazer parte do todo.


São extensões de arquivos que o processador central não nos deixa deletar. E há aqueles pequenos arquivos que deletamos rotineiramente e que, como mágica, ressurgem em memória flash, do nada.


O 'se' é uma condicionante amarga: sempre paira um 'se' numa ação ou comportamento. Jamais consegui tomar uma decisão e depois deixar de repensá-la com base no 'se'. Como avaliar sem a precisão de um computador 'se' as possibilidades de 'X' são melhores que as de 'Y'?


Este post, como eu disse, não trata de nada pontual. É sobre as minhas próprias escolhas de vida: de profissão, de vida privada, pública, de quem e como eu sou. De dúvidas sobre tudo. Sem certeza de nada. Não tem nada de absoluto. Antes, existem mais absurdos. Mas não há como usar uma máquina daquelas mostradas em "De Volta Para o Futuro" e fazer o tempo ser outro, com novas escolhas, pessoas e, finalmente, uma vida nova.


Esses dias, comentei com uma amiga que quero fugir e fazer de conta que não é comigo. Uma fuga metafórica, dessa vida a qual, neste momento, eu não gosto nem um pouco. Mas fui eu que a escolhi. Mas nem por isso tenho que esconder a insatisfação. Também posso querer, por alguns instantes, trocar de vida, ser um outro.


Garanto que muitas pessoas compartilham dessa fantasia: ser uma outra pessoa, com outros padrões, outras escolhas, outros começos e finais. Dizem que a vida é uma festa. Discordo completamente. A vida é mais intervalo entre as festas do que as próprias festas. E vivemos em suspenso à espera de festa e, entre os longos períodos que conectam uma festa à outra, é que a vida se realiza, para o bem e para o mal.


Porque, para as festas, nos preparamos, nos trajamos, vestimos roupa e cara novas e somos, afinal, um outro ser. Quando nos despimos da luz, dos rostos banhados de expressões alegres e do figurino de gala, a vida real volta como um choque. Eletrocutados pela realidade, pelo padrão que nos cerca, não há festa que tenha durabilidade suficiente para que se chegue à nova festa sem antes se chamuscar.


Portanto, seria bom que processadores nos anestesiassem e prevessem curto-circuitos. Estaríamos mais aptos a receber essas descargas elétricas sem o pavor do susto e a consequente sensação de queda.


Acho mesmo que até somos bastante similares aos softwares. E que travamos ou não. Que retardamos ou não a ampulheta e, por vezes, giramos e giramos até quem se 'reinicialize' o sistema operacional interno. Por favor, chame o help desk de alma já porque os circuitos da minha placa estão 'dando pau'.

4 Comentários:

Mauri Boffil disse...

aiin, isso me lembra que tenho que trocar a bosta do windows vista

gentil carioca disse...

Compartilho dessa fantasia de ser "outro". Quando era adolescente, fantasiava que mudava de colégio e que, nesse novo, poderia ser diferente, falar outras coisas, agir de outras formas. Como se assim pudesse apagar-me para reconstruir-me sem que ninguém sequer desconfiasse da verdade...
Até postei, há tempos, no Gentil, um poeminha sobre isso.
Somos todos um grande clichê, não te parece? O que, afinal, Mr. Red, não deixa de ser um pensamento libertador...

Redneck disse...

Mauri, e eu que mudei de sistema operacional e não resolveu? #Comofas? Abraço!

Redneck disse...

Gentil, o problema é quando estendemos essa fantasia e a cultivamos eventualmente. Quanto ao fato de ser clichê, me parece sim que somos todos um clichê, embora a ideia não me agrade nem um pouco. Não sei mas o libertador é romper com os clichês, talvez, e ser completamente outsider. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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