Meu rugido dominical
Li que os homens velhos - da faixa dos 70 aos 90 - somente vão ao médico por insistência das respectivas esposas. E, quando vão, elas os acompanham porque descrevem melhor os sintomas do que eles mesmos.
Na minha opinião, o homem é bem mais covarde, por natureza, do que a mulher. Homens são provedores, mulheres são o suporte. Essa é a convenção. Mas, os homens, que devemos ter fixado esse pensamento ao longo dos séculos, somos todos, de fato, uns dependentes.
Quando crianças, nossas dores são maiores e mais escandalosas do que a de nossas irmãs. Nosso choro, mais alto. Quando adolescentes, é terrível. Cantamos de galo, mas, desafinados. Somos alvo de escárnio.
Uma dor de dente ou dor de ouvido é um parto. Homem tem medo de pedra no rim, geme só de pensar em passar por uma cirurgia e reclama até mesmo de uma unha encravada.
Outro dia, uma amiga da faculdade cortou o dedo com uma faca. O sangue jorrou. Teve que levar ponto. Ela simplesmente olhou para o lado e disse que havia se cortado. Não fez escândalo. Eu, por minha vez, passei mal só de imaginar o dedo cortado. Outra amiga queimou o dedo e virou uma bolha enorme. Eu próprio queimei minimamente meu dedo ao virar berinjelas com a mão e lamentei bastante o fato.
Por que nos é, aos homens, tão insuportável a dor? Se a buscamos numa luta de boxe voluntariamente e se praticamos a selvageria de uma guerra? Assisti algumas cenas do filme "300" na TV outro dia e o diretor não hesita em mostrar membros decepados, não hesita em louvar a violência dos espartanos.
Somos espartanos para uma série de coisas. Mas, nunca o seremos para a dor. A dor é um animal que ruge e nos faz tremer. Temos medo de ir ao médico para constatar o que não queremos.
Às mulheres, é ensinado desde adolescentes os benefícios do acompanhamento periódico da saúde. Elas vão aos médicos, cuidam-se, fazem exames regulares: prevenção contra o câncer de mama, contra infecções oportunistas, pré-natal. Sabem tudo. Conhecem todos os meandros do sistema de saúde. São atualizadas.
Nós, homens, se temos que ir ao hospital - para acompanhar alguém ou visitar uma pessoa - agimos como se carregássemos um fardo superior à nossa força. O que dizer, então, do fatídico exame da próstata? Silêncio total. Preconceito! Melhor morrer do que ir ao médico.
Por que somos assim, tão fortes (supostamente) e tão frágeis? Somos, os homens, os que mais nos envolvemos em atividades de riscos, voluntárias ou não. Corremos e excedemos os limites de velocidade; bebemos como se fôssemos um tanque de fábrica de cerveja; louvamos a força bruta. Consequentemente, pagamos o preço na mesma proporção: morremos jovens (a maior parcela de mortes violentas acontece com homens), morremos antes do que as mulheres.
Na minha cidade natal, minha avó costuma dizer que só sobraram mulheres viúvas em grande parte da quadra da rua. Um monte de velhinhas, todas com saúde. Se visitam, sabem uma da outra e cuidam-se, ainda que indiretamente.
Sei de histórias contrárias também, de mulheres que passam a vida ao lado de companheiros inúteis, alcóolatras. Elas se vão antes, mais por cansaço do que por outro motivo, eu acho. Eles, completamente entregues à própria sorte, não demoraram para acompanhá-las.
Por que estou amargo? Na verdade, não. É uma constatação do quanto somos fracos. Creio que, inconscientemente, somos uns bebês desajeitados que sempre contam com a figura feminina para nos dirigir pela vida, nesta sequência: mães, irmãs, avós, amigas, esposas. Quando mais nenhuma dessas figuras onipresentes resta, estamos completamente fadados à extinção. NNao tem mais ninguém para trocar a fralda, não é?
Mas, essa é uma reflexão que poucos homens farão e admitirão. Nem que a mulher, seja qual for o nível de relacionamento com o homem (mãe, irmã, esposa ou amiga), tiver que fazer um trabalho braçal, de enfermeira mesmo, o homem jamais admitirá a dependência.
Escrevo isto por tudo que já testemunhei de diversas formas, perto ou longe de mim. O que sempre vi, ao final, é que os homens são cuidados pelas mulheres, são curados, levantam-se, vão para as ruas (que, aparentemente, são mais nossas do que delas) e vivem como se nada tivesse ocorrido. Quando se vão, elas ficam.
Na média (inclusive na minha família), os homens se vão primeiro. Nós, 68,5 anos; elas, 76,1 anos. Pelo menos 7,6 anos a mais. E, você quer saber? Acho justo. Porque, desde os 10, 11, 12 anos (quando são irmãs) ou aos 17, 18 (quando começam a cuidar dos pais ou dos filhos), as mulheres passarão as próximas décadas nesta árdua tarefa. E somente descansarão 60, 70 anos depois, quando nos formos. Isso sem contabilizar netos, bisnetos e até tataranetos. Com mulheres sendo mães a partir dos 13, 14 anos, é cada vez mais frequentes encontrarmos bisavós por aí.
Se eu pudesse, faria um acordo com as mulheres: me lamentaria sim, sobre as dores masculinas, tão insuportáveis para nós. Mas, também, concederia a admissão pura e simples da imprescindível cumplicidade feminina quanto o assunto é dor.
Eu me redimo, com este Rugido, de alguma forma, por ter alardeado vitória frente a situações excepcionais. Foi tolo aquilo. Na verdade, em outras situações, não fui nada valente. A bem da verdade, fui covarde. Você tem algo para dor de cabeça?
5 Comentários:
Ai, fiquei preocupada. Quer que te leve ao médico?
Eu já te vi em dias corajosos de CSI, ajudando a esconder o corpo, tá?
Bjs
Patty, estou bem, é só uma crítica à covardia do homem, em geral. Não quero me gabar, mas, eu não tenho medo de médico e tampouco de fazer cirurgias, ainda que sem ninguém saber, como já fiz. E, como profissional do crime, eu sou bom, eu sei!!! Beijo!
Quer dizer, Patty, que tinha um corpo na parada!!
Resta saber se patty conhhece bem seus "pobremas" pra contar direitinho para o médico. Ah! Ah! Ah!
Só pra engrossar o caldo: ontem fui ao dentista com uma dor insuportável. Diagnóstico: canal. A cada toque do aparelhinho odontológico eu achava que ia desmaiar, sem contar as inúmeras anestesias que não pegavam. Quando tudo terminou a dentista me parabenizou e me comparou a um paciente do sexo masculino que esteve em seu consultório anteriormente, ela me disse que ele não teria suportado um terço do que eu passei. O sexo feminino de frágil não tem nada mesmo! Bj.
Andarilha, foi um corpo que caiu, sim! Nem Hitchcock me assustou tanto. Agora, a Patty vai é dar uma enrolada quanto aos "pobremas", isso sim. Beijo!
Denise, o pior é quando a dentista não consegue arrancar seu dente do siso. Tenho medo da minha dentista até hoje, que tentou tirar meu esqueleto inteiro pela boca. Acho que ela é má. Beijo!
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