Arquitetura da destruição
Costa do Sauípe, Bahia - O nome deste post é baseado no filme homônimo feito na Suécia em 1992 pelo diretor Peter Cohen, considerado um dos melhores estudos sobre o Nazismo. Hitler, o arquiteto da destruição, tinha como princípio fundamental embelezar o mundo, nem que para isso tivesse que destruí-lo. O documentário traça a trajetória de Hitler e de alguns de seus mais próximos colaboradores em relação à arte. Muito antes de chegar ao poder, o líder nazista sonhou em tornar-se artista e produziu várias gravuras, posteriormente utilizadas como modelo em obras arquitetônicas.
Não entendo de arquitetura. Apenas gosto ou não das edificações fundamentado no meu olhar estético. Neste sábado, finalmente, acabou o evento aqui na Bahia. Foi das 8:30 horas até às 15 horas. E a chuva nos deu uma trégua: estamos aqui há quatro dias e foi a segunda tarde em que o sol apareceu (a primeira foi na quarta-feira, no dia da chegada). Acabado o trabalho, fomos almoçar.
Aqui mesmo na Costa do Sauípe, há 10 minutos a pé do hotel, há uma vila, que todos chamam de "vilinha". É, como todo o resto do empreendimento, de um mau-gosto (para mim) insuportável. Não tem nada a ver com a Linha Verde, que é como se chama essa região na Bahia. São casinhas multicoloridas e lojinhas, uma espécie de centro comercial. Ainda há os restaurantes e as pousadas. É um lugar que concentra, aparentemente, o consumo daqueles que (como eu) não podem viver muito tempo (dois, três dias) sem comprar alguma coisa.
Fomos almoçar na vilinha. Os restaurantes não são propriamente restaurantes. São bares que servem comida. Mas, de novo, como ontem na Praia do Forte, servem comida regional. E repetimos a dose de ontem: casquinha de siri e moqueca baiana (desta vez, de camarão; a de ontem foi de lagosta). Uma delícia. Pena que o serviço é péssimo: estávamos em quatro pessoas e apenas nós estávamos lá. Havia umas cinco pessoas de atendimento e o ritmo era insuportavelmente lerdo.
Enfim, como estávamos relaxados, aproveitamos. Foi bom, de qualquer forma. Voltamos, deu tempo de descansar e jantar, umas 21 horas. A comida era brasileira, desta vez: frango com quiabo, moqueca (!), arroz, feijão preto, caldinho de feijão. O sabor da terra, pensei. Nada disso. O sabor da comida deste hotel, realmente, não tem nada a ver com o que comemos hoje na vilinha e ontem na Praia do Forte. Não sei o que ocorre. Há uma certa pasteurização que tira o gosto peculiar da comida e deixa todos os pratos com sabores uniformes, insossos.
No balanço geral, quero deixar registrado que a comida do hotel foi péssima, todos os dias, sem exceção. E que o serviço é pior ainda. Pelo preço que cobram, é inadmissível tão baixa qualidade de prestação de serviço. Não tenho nada a elogiar no hotel. A única coisa que vale aqui é a paisagem.
Para encerrar, como estamos na Linha Verde, que é uma área de proteção ambiental, é incrível a quantidade de pássaros e iguanas que nos rodeiam no hotel. As iguanas, realmente, estão em todos os lugares. As há sob todas as formas, idades e cores. Alguns as viram verdes. Eu as vi, durante todo o evento, de diversas formas: loiras, morenas, japonesas, baianas, novas, velhas. Todas iguanas. Na Praia do Forte, havia uma dupla de iguanas que, ou eu muito me engano, ou usavam baby doll. Um horror que se soma à arquitetura da destruição promovida por esse faraônico empreendimento no meio de tão luxuriante natureza.
A vilinha, para mim, é exemplo acabado de como a arquitetura pode destruir ao invés de construir. Fica evidente o esforço de parecer fake (falso), uma cópia de algo que imagino encontrar em Miami (e na Barra da Tijuca, no Rio), mas, nunca aqui, à beira-mar.
Hitler destruia para construir baseado em premissas particulares. O ditador nazista amava a arquitetura grega, mas, nem por isso hesitou em destruir obras de arte e da arquitetura que não estivessem a seu gosto. Não quero dizer com isso que os arquitetos da Costa do Sauípe são nazistas. Mas, que praticam a arquitetura da destruição, ah!, isso, certamente!
Amanhã, domingo, retorno a São Paulo, depois de quatro longos dias de trabalho. Vi a praia no dia em que cheguei e foi só. De passeios, fui jantar na Praia do Forte e almoçar na vilinha. E foi tudo. De resto, foram de 10 a 12 horas de trabalho diário e infindáveis palestras. Dormi praticamente 5 horas por noite e dou por encerrada a temporada baiana, já ansioso para voltar a São Paulo. Viajar é bom. Mas, melhor seria se fossem férias. É bom sair da rotina. Mas, a estafa é alta. E aproveita-se muito pouco do lugar. Tentei aproveitar o máximo que pude e creio que, daqui, levo a sensação de que não quero mais voltar para cá. Nem de férias! Quanto aos baianos, amo-os da mesma forma, lerdos ou não. Acho que somos, os paulistas, rápidos demais e não aguentamos quando o ritmo é colocado em outro nível. Isso é Brasil!
(Reveja: ou assista, pela primeira vez, o filme Arquitetura da Destruição.)
1 Comentário:
Red,
Preciso urgentemente abrir uma escola de iguanas na Costa do Sauípe para ensiná-las os 10 mandamentos de uma verdadeira iguana.
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