Meu rugido dominical
Esta semana que passou, fiz um brincadeira com o papel do Cupido e seu inevitável apelo para o Dia dos Namorados, 12 último. Convoquei a figurinha mitológica para me arrumar alguém a tempo de não passar a data sozinho. Na verdade, eu havia feito um pequeno roteirinho já e sabia o que ia ocorrer. No final, como se tratava de mitologia, tudo acabou numa grande tragédia (para ele, não para mim).
Mas, o que isso quer dizer, além da brincadeira em si? Sempre tendo a acreditar que as datas comemorativas, em geral, são todas comerciais e que os dias - dos namorados, das mães, das crianças, da mulher e do homem - devem ser todos, e não apenas aqueles que se convencionou para dar ao comércio um motivo para vender mais.
Afora essas convenções, admito que por detrás da brincadeira, há, sim, seriedade. Porque, essencialmente, brinco muito, até demais. Mas, sou como todo mundo. Quero meu lugar ao sol (ou sob a chuva, que seja). De preferência, junto.
Pois que um leão ou qualquer outro ser animado, vive em comunidade, em arranjos de pares, nunca está só. Desde algum tempo, sofro da estranha tendência de me associar às redes sociais que se disseminam pela internet (Facebook, MySpace, blogcatalog e outras). Vivo, nos últimos tempos, mais virtualmente do que fisicamente.
O que isso significa, de fato? Tenho para mim que é uma maneira de me proteger, de elevar um firewall que me proteja de inevitáveis invasões. De certa forma, a tela do computador pressupõe uma proteção que o mundo real não dá.
Mas, isso também é relativo. Nem o virtual nem o real te protegem do maior perigo: você mesmo. Ao entender isso, entendo que o virtual é só mais uma maneira de me defender de fantasmas que me assolam, ainda.
Quero viver no mundo real e no virtual sem que avatares - reais, em todos os casos, nos dois mundos - me façam ter medo. Dizem que mantemos desde os tempos primordiais características que, biologicamente, nos preparam para o perigo: arrepios na espinha, batimento cardíaco acelerado, transpiração, fremir do nariz. Todos elementos primitivos, animais mesmo. Mas, não são essas mesmas sensações que temos quando estamos com os cinco sentidos direcionados num determinado estágio de paixão?
Quer dizer, medo do que, cara pálida? Se você já sentiu tudo isso junto é porque ou esteve num situação de perigo real extremo ou apaixonado(a). Por que então eu tenho que sentir medo? O Cupido foi uma brincadeira. Mas, quero deixar claro que a brincadeira oculta o fato verdadeiro: que quero o que todos querem, afinal. Encontro. União.
Porque ser um peixe da terra quando todos os demais estão na água? Se sentir um estranho na multidão? Sempre estou à procura desta resposta. Por mais que eu proclame por meio do nome fantasia deste blog - por uma .... life menos ordinária -, assumo que sou um pouquinho leviano porque, de fato, quero apenas o ordinário da vida. Ser feliz.
A felicidade, a considero como momentos instantâneos da vida: uma gargalhada, um contato íntimo, a cumplicidade, um olhar, o compartilhar de uma descoberta. São pequenos momentos, não tenho ilusões a respeito. Mas, eu os quero, esses momentos. Tenho direito a eles.
Então, se for para conclamar Cupido, Zeus, Hera, Hércules, Apolo, Hermes, Afrodite e toda a legião mitológica que povoa a cultura ocidental, não hesitarei. Dentro de mim, realizo o sincretismo dos deuses e religiões: vou da Grécia à Bahia em dois tempos. Claro que é um exercício de fantasia. Mas, por que não brincar e esperar que, de fato, os deuses podem estar loucos e, por equívoco - ou diversão - resolvam brincar também?
A vida, quando não a atolamos numa carga por demais pesada, pode ser conduzida facilmente. Nada é tão complicado que requeira um supercomputador para fazer cálculos quânticos. Preciso apenas de um ábaco para resolver as equações básicas.
Portanto, oponho a realidade à virtualidade e a simplicidade à complicação e declaro aberta a temporada de caça. No sentido primitivo, não neste, moderno, que supõe que se ganhe um troféu para expor as conquistas. A caça primitiva a que me refiro é mais sutil. É de sobrevivência, de crença no outro. Simples, como um rugido na savana. Faz tremer a floresta e, simultaneamente, estabelece ordem. É isso que quero: ordenamento na vida, com direito a tremores de vez em quando.
P.S. O leãozinho que estampa este post veio diretamente da África do Sul. Minha amiga Ana, que vive e trabalha em Luanda, Angola, está de passagem pelo País e me trouxe, gentilmente, esse serzinho.
3 Comentários:
Mara ordinária também!!! rs
Adorei seu texto, e me identifiquei numa porrada ops de coisas..
bjs e boa semana
Por mais que a gente diga que é ateu, que não acredita em santo, a gente apela. Mas chega no Natal, todo fundo se preparando pra festejar - sabe-se lá o que - com a família, não tem jeito, bate um deprezinha.
O mesmo acontece nesses dias que a gente chama de comerciais etc. e tal. No fundo, como você mesmo diz, a gente quer mais é um cobertorzinho de orelha.
bjs.
Oi Mara, obrigado. Quanto às porradas, o ordinário aqui está à espera. Beijos!
Andarilha, e tá tão frio, não é menina? Beijo!
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