Meu rugido dominical
Creio que as pessoas estão cada vez mais descoladas. E a palavra "descolada" aqui tem a verdadeira acepção de "sem cola", ou seja, nada de pessoas moderninhas não. Ao contrário, se existe modernidade, diria que todos se revestem de teflon - nada cola em ninguém. Não sei se tem a ver com a época em que vivemos, em que precisamos embrulhar tudo (o pinto, por exemplo, tem que levar proteção para não contaminar ou ser contaminado), como se a camada extra de plástico ou qualquer outro material industrializado nos protegesse do mundo exterior. Agora, cientistas indianos acabam de se inspirar nas patas das rãs (é, essas pererecas que ilustram o logotipo deste blog) para desenvolver um adesivo ultraforte e reutilizável. Parece que é mais potente que o Super Bonder. Quando li sobre isso, na hora pensei que esse novo adesivo deverá ou ter uma aceitação em massa, ou uma rejeição completa. Será aceito se puder ser utilizado nas relações, nada aderentes, que permeiam dois em cada dois seres humanos. Não sei se a tese é válida, mas, das pessoas que conheço, é difícil ouvir e confirmar a durabilidade de qualquer contato - romântico, profissional, pessoal. Claro que há exceções e eu mesmo tenho provas irrefutáveis. O problema que eu abordo aqui tem mais a ver com a falta de aderência ou de cola nas relações sentimentais (pode chamar de namoro, de ficar, de caso, de relacionamento sexual, do que for, sempre será uma relação). Não há cola que ligue uma pessoa à outra. Da rejeição a esse adesivo pererecal, creio que, se não queremos andar de cabeça para baixo nem desafiar a gravidade tal e qual fazem as primas das pererecas, as lagartixas, dificilmente o mercado, entidade poderosa, absorverá a porosidade desse adesivo. Digo isso porque é mais fácil ser liso, sabão, superfície plana, quase inox. Você quer colar em alguém? Adote, desde já, pés de perereca ou de lagartixa. A aderência a alguém não é, cara pálida, grudar e permanecer. É, apenas, a adesão a um objetivo, qual seja de querer mais da pessoa que você deseja para si. Se você é teflon, não permitirá nunca que se liguem a você. Se você usar o adesivo da perereca, prometo que permanecerá colado, de cabeça para baixo, no alvo escolhido, quase que uma ilustração do Kama Sutra. Depende de você ser perereca, lagartixa ou frigideira. Adesive-se ou teflone-se. O tempo urge e você pode chegar a um descolamento tal que cairá das nuvens, das árvores e de sua proteção segura. Se a situação ficar muito embaçada, o máximo que poderá acontecer é a perereca ser preparada na frigideira de teflon. Voltamos, portanto, ao primordial: comer e ser comido. Para encerrar esse plástico argumento de cola (será que cheirei e não sei?), adesivos, teflon, aderência e durex, quero comunicar que já encomendei um adesivo para cada dedo (das mãos e dos pés) aos pesquisadores indianos. Quem passar na minha frente, vou adicionar/aderir. Depois, em casa, farei minhas escolhas.
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