Isto não é para você - XXI
(previously, leia "Isto não é para você - XX", direto do Mimeógrafo Digital)
O Silka, em London Bridge, era agradável. "Você parece ótima!", cutucou Helena. Olívia não tinha que suportar a cena. Marcelo era, realmente, um acessório. Nem olhara direito para Olívia desde que se reencontraram na presença de Helena. Dispensaram as formalidades, escolheram os pratos e bebericaram algo. Olívia não tinha fome. Marcelo rolava o guardanapo distraidamente. Apenas Helena resplandecia. Estava radiante. "O ciúme a excita, talvez", pensou Olívia. Pura maldade! Estavam os três numa situação congelada. Cada um agia como uma marionete, movido pelo passo anterior do outro. Comeram rapidamente. A conversa se esvaía e o ambiente já não era tão tranquilo. Helena não suportou mais: "Por que você veio ficar com ele embaixo dos meus olhos?", perguntou para Olívia. Na verdade, todos esperavam o momento chegar. Olívia olhou para a irmã e disse, devagar: "Porque eu quis. E ele também!" Esperava qualquer reação de Olívia. A irmã apenas levantou-se e saiu, sem ruído, sem alarde ou escândalo. Marcelo pegou as mãos de Olívia entre as suas e a obrigou a fitá-lo: "Acabou. Não podemos mais. É tudo." A atitude de Marcelo era apenas o último ato desse dramalhão mexicano. Olívia beijou-o no rosto, brincou com seus cabelos e levantou-se. Ia embora. Tinha que ir. Havia uma outra vida à sua espera, pronta para acontecer. Lembrou-se de ter pensado a mesma coisa em São Paulo, quando estava pronta para ir ao aeroporto. Em três dias, a mensagem viera-lhe duas vezes. Era melhor acabar com aquilo. Se prestasse atenção, não saberia dizer porque continuara com a representação. Helena já não estava mais na rua. Devia ter ido para casa. No fundo, a irmã entendera que Olívia partiria de qualquer jeito. Marcelo ficou sozinho à mesa. Olívia não saberia dizer se triste ou aliviado. Era um momento chato. Ia passar. Para todos. Olívia foi ao banheiro, retocou a pouca maquiagem e saiu. De novo, seu coração palpitou mais forte. De repente, era livre de novo. Que droga! Quantas vezes sentira a sensação de liberdade e voltara a ser presa de situações como aquela? "Vou para Dubai e vamos ver, vamos ver", disse para si mesma. Nicole tinha ficado relegada a um segundo plano. "Sorry!", disse Olívia. Já tinha problemas demais para ajudar alguém. "Antônio", pensou, "Antônio sorriria e seguiria." Ainda não feliz, mas satisfeita consigo, assoviou. Pelo menos tentou. "A única constância da vida é a mudança, afinal", pensou. Mais uma vez, mudaria sua vida.
(post script, leia "Isto não é para você - XXII" em O Quem)
1 Comentário:
Janete se foi. hehehehe
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