Pega, mas não apega!
Nova ordem mundial: pega, mas não apega! Entre tantas outras novas ordens mundiais, essa é bastante clara: você pode "pegar" (ou ser pego[a]), mas trate de não se apegar. A pegação é cult, cool, legal, "tamos aí".
Rola entre várias faixas etárias. Como está implícito que é apenas pegar e depois largar, pode quase tudo. Você olha do lado e, se deu vontade, pega a fruta e chupa. Ou lambe. Ou descasca. Ou morde. Ou qualquer coisa.
É como se servir em banca de quitanda. E o alvo emite mensagem clara: é pegar ou largar. Se você está largado(a), não tem porque se fazer de difícil, pagar de valorizado(a) ou se mostrar superior. Que nada! É melhor deixar acontecer mesmo e não ficar na vontade.
Nada de complicações, de DR (discutir a relação), de propor véu, grinalda e "Ave Maria" às portas da igreja da redenção dos últimos dias (últimos dias de pega-pega). Você não é um(a) vestal. Então, socialize. Dá uma pegadinha ali, outra aqui e desvirgine-se.
A boca está um Saara? Os ouvidos fremem com uma simples brisa? A pele se arrepia somente de ouvir "com licença" de um(a) estranho(a)? Meu bem, você está em situação de risco. Limite total! Por favor, à luta! Engalfinhe-se, seja pegador(a). Pegue-se em ato de sacanagem, em pensamentos (e atividades) impuros.
Deixe a pureza para quem engarrafa água. Você não vai, agora, bancar o(a) mártir e prometer deixar à terra aquilo que a natureza te deu. Vai, confessa! Nem te passa pela cabeça se deixar pegar por uma postura tão avara.
E na hora de decidir - você me pega, eu te pego, nos pegamos -, não tenha dúvidas: incline o corpo em posição de ataque, feito um cão perdigueiro, mantenha os olhos expectantes, faça fremer as narinas, dilate o rosto, lamba calculadamente os lábios e transforme-se numa flecha.
Garanto que, entre os dois - pegador(a) e pegado(a) -, um não aguentará tanta tensão (tesão) e romperá. Daí é só partir para a pegação. Que pode acontecer em vários níveis. Desde aquela do rala-rala na danceteria até o extremo de acordar ao lado do(a) pegado(a)/dor(a) e fazer cara de paisagem.
Ou, em atitude mais pro (de profissional), levantar após o ato, catar as parcas roupas, dar um beijo de mariposa e sair. E voltar para o antro da pegação. Pro que se preza não tem escrúpulos e tampouco romantismo. E como o tempo é curto e a vida demanda, pela última vez, declaro: é pegar ou largar! E sem apegar, por favor, que isso é coisa de florzinha!
5 Comentários:
Redneck
E para os que gostam mais de apegar do que pegar? Você acha mesmo que só a morte para os românticos fim-do-século? Ou devemos todos nos transformar em pegadores? Será isso possível? Dúvidas...
Bjos,
Luprac
Luprac, nesse caso específico, recomendo que você me procure para os devidos esclarecimentos. Podemos, numa seção rápida de pega-pega, como um tira-teima, resolver essa questão. Eu não tenho dúvidas de que alguma coisa será pegada, ao final do processo. E, conforme dito in loco, sou mais apegado também. Beijo!
Muito lisonjeira a resposta, mas pergunto em sentido geral, coletivo. O que devem fazer os românticos em sua opinião?
Grds beijos,
Luprac
Caro, a minha resposta não pegou, não foi? No problem! Fui naquela de tentativa/erro. Na minha contrita (agora) opinião, os românticos devem continuar a sê-los. Mesmo porque não saberiam ser de outra forma senão esta à qual estão definitivamente encerrados. E não vejo porque isso deva ser um problema ou mesmo que tenhamos (os românticos) nos convertido em derradeiros seres de final de século. Ao contrário, neste e nos séculos precedentes, ser romântico é crer, sempre, ainda que umas poucas pedras rolem nas encostas. Beijo!
Redneck
Me assustam as palavras "poucas pedras". A sensação de solidão desta imagem é grande. Imagino ainda pedregulhinhos. Acho que estou muito pessimista mesmo. E com várias chagas abertas.
Bjos
Luprac
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