Meu rugido dominical
A fobia, palavra derivada do grego phobos, que significa medo, é classificada como uma das doenças de ansiedade, as quais, teoricamente, se manifestam apenas em situações excepcionais. Fobia pode ser o temor ou aversão exagerada diante de situações, objetos, animais ou lugares. São três os tipos de fobia:
1. Agorafobia: medo de estar em locais públicos povoados, em que não há meios de se retirar de forma fácil.
2. Fobia social: temor de se estar exposto(a) à observação de outras pessoas, ser vítima de comentários ou ser humilhado(a) em público.
3. Fobia simples: medo limitado a objetos ou situações concretas.
Embora a fobia esteja, muitas vezes, atrelada a preconceitos, ambos - fobia e preconceito - são distintos. O preconceito é um juízo de valor preconcebido que se manifesta na forma de atitude discriminatória ante pessoas, lugares ou culturas considerados diferentes. O preconceito é o desconhecimento. É a falta de informação sobre alguém ou alguma coisa que é estranho ao indivíduo portador do sentimento de preconceito.
Os preconceitos mais conhecidos são o social, o racial e o sexual. O preconceito parte do domínio geral, coletivo, de uma crença popular, e não do conhecimento específico e, portanto, é irracional, ou seja, está aquém de fundamentação, argumentos ou raciocínios. É primitivo. Se diz do preconceito que é socialmente perigoso.
As fobias são inerentes aos seres humanos da mesma forma que as mais variadas doenças e, assim como as demais, dispõem de tratamentos. Também os preconceitos emanam das pessoas da forma mais natural: da criação, da sociedade que as cercam, do grupo social no qual estão inscritas. O preconceito paira acima das castas sociais. Pode, ao contrário de outros disensos, unir pessoas as mais distintas na concordância de um mesmo tema.
Quando a fobia encontra o preconceito, numa de suas variantes, dá forma à homofobia. Homo, também do grego, quer dizer "igual". Com a junção de phobos - homophobos - representa o medo de iguais, ou seja, medo (e repulsa) ante o homossexual.
A Fundação Perseu Abramo acaba de divulgar pesquisa sobre sexualidade e homofobia com números bastante esclarecedores sobre a fobia e o preconceito que o brasileiro médio (2.014 adultos ouvidos em todo o País) tem a respeito do homossexual masculino e feminino. Na última quinta-feira, publiquei neste blog um post sobre os gêneros sexuais e a complexidade das pessoas. Com o estudo da fundação, cristaliza-se o que eu quis dizer naquele post: para contornar a incredulidade com o estranho, com o diferente, vale tudo, inclusive discriminar de maneira fóbica e preconceituosa. O bizarro é que a raiz da palavra homo (igual) serve, sobretudo, como apartheid, e não como ligação entre todos os homos (espécie humana).
De forma resumida, listo as principais constatações da pesquisa da Fundação Perseu Abramo, feita em conjunto com a Fundação Alemã Rosa Luxemburgo Stiftung:
1. Homossexualidade é pecado contra as leis de Deus?
- 58% - sim
- 17% - não
- 25% - outros (em parte, não sabe)
2. Deus fez o homem e a mulher com sexos diferentes para que cumpram seu papel e tenham filhos?
- 84% - sim
- 3% - não
- 13% - outros (em parte, não sabe)
3. Concorda que casais de gays ou de lésbicas não deveriam ser abraçar ou se beijar em público?
- 52% - sim
- 20% - não
- 28% - outros (em parte, não sabe)
4. Homossexualidade é uma doença que precisa ser tratada?
- 41% - não
- 29% - sim
- 30% - outros (em parte, não sabe)
5. Concorda com a legalização da união conjugal entre pessoas do mesmo sexo?
- 40% - não
- 25% - sim
- 35% - outros (concorda em parte, discorda em parte ou não sabe)
O estudo ainda demonstra outros dados:
- 99% dos entrevistados têm preconceito não-declarado contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
- 72% não gostaria que filho(a) fosse ou virasse(???) gay/lésbica, mas procurariam aceitar
- 92% afirmam que existe o preconceito contra gays e lésbicas; contudo, 72% declaram, pessoalmente, não ter preconceito
- 70% não se importariam de ter um colega de trabalho gay ou lésbica
- 72% não se importariam de ter um vizinho gay ou lésbica
A conclusão a que chego com esses números e opiniões é que o tema "homossexualidade" transcende o preconceito e define-se como fobia. A homofobia existe e se afirma como tal, como demonstrado pelos dados do estudo. O Brasil realiza mais de 100 paradas gays em seu território. Paradas que atraem milhões de pessoas.
Assim como o Carnaval, que sufoca, durante alguns dias, a realidade, as paradas são apenas uma alegoria. Que camuflam, no fundo, um preconceito forte, provinciano. De que gays e lésbicas são pessoas invisíveis e melhor seria se não existissem para que "os outros", ditos homo sapiens, não precisassem se preocupar com esse "problema".
"O inferno são os outros", disse Sartre. E, enquanto os outros existem e agem, independentemente da minha ou da sua vontade, sempre haverá preconceito e fobia. Ainda que outros e uns sejam apenas e tão-somente os mesmos.
2 Comentários:
Red,
Lamentavel tudo isso. Muito triste mesmo.
Bjo
La Voyageuse, de fato. Sem comentários. Beijo!
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