A mulher Titanic e o homem DVD
É, o mundo dos mutantes é este mesmo, no qual vivemos. Até ali, no século passado, os papéis eram, majoritariamente, bem definidos: homem e mulher. Ponto! E não entro aqui no mérito do homossexualismo masculino e feminino. Quero dizer que os gêneros humanos limitavam-se, basicamente, a dois: macho e fêmea, para ficar em termos básicos.
Li nesta quinta-feira que a cantora e modelo alemã Kim Petras, de 16 anos, é a mais jovem transexual de todo o mundo. Kim, que era Tim, fez a cirurgia de mudança de sexo e agora é uma mulher. A alemã tomava hormônios femininos desde os 12 anos e teve que buscar na justiça o direito de passar pela cirurgia de mudança de sexo.
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(Kim Petra, a transexual de 16 anos)
Para você (e eu) entender a diversidade sexual de gêneros de forma contemporânea, elaborei uma lista sobre as múltiplas facetas do ser humano quando se trata de se definir sexualmente. E essa definição passa tanto pelo sexo (na cama, diante da sociedade, como atitude etc.) quanto como pela identificação pelo outro (civil, legal, com acesso a direitos, documentos e reconhecimento - e aceitação - da nova identidade assumida). Veja quantos são os gêneros:
- Heterosexual: é o gênero secular atribuído ao homem/macho e à mulher/fêmea.
- HSH: é a sigla de "Homens que fazem Sexo com Homens", usada pela área de saúde (Organização Mundial de Saúde - OMS e similares em todo o mundo) para definir os homens que têm relações sexuais com outros homens e não se identificam como gays.
- Homossexual: são as pessoas - homens e mulheres - que mantêm relações sexuais com parceiros(as) do mesmo sexo e se denominam como gays, lésbicas, viados, sapatas etc. etc.
- Gay: num degrau um nível acima dos homossexuais, os gays também se relacionam sexualmente com pessoas do mesmo sexo e, mais, adotam um estilo de vida segundo o qual reproduzem, abertamente ou não, uma postura (aka 'atitude') relacionada à gaydade.
- Bissexual: são as pessoas que se relacionam com ambos os sexos e transitam entre um parceiro e uma parceira sem obstáculos, de forma velada ou aberta.
- Lésbica: as mulheres homossexuais mais politizadas atribuem-se esse termo de forma quase demarcada para diferenciar-se do gay, em geral. O termo gay está, culturalmente, mais associado ao homem homossexual do que à mulher homossexual.
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(O travestido Johnny Depp no filme "Antes do Anoitecer")
- Transgênero: é a forma de designar as pessoas que não se enquadram em categorias como hetero, homo, bi, gay ou lésbica. Essas pessoas, teoricamente, transcendem as definições convencionais de gêneros sexuais.
Transexual: são as pessoas, como a cantora alemã acima citada, que não aceitam, física e mentalmente, o sexo sob o qual nasceram. A não-identificação pressupõe, no extremo, a alteração do próprio corpo, sendo que a principal mudança é a da genitália.
- Pansexual: caracteriza as pessoas que sentem atração - estética, sexual e romântica - por qualquer outro ser humano, independentemente de gênero e orientação. A palavra pansexual deriva do prefixo grego "pan", que significa tudo ou todos.
- Intersexual: identifica as pessoas que nascem com genitália ou características sexuais secundárias que as distinguem dos padrões masculino e feminino, ou seja, são pessoas que, biologicamente, têm características de ambos os gêneros. A palavra hermafrodita define esse gênero. Aliás, recomendo o excelente livro "Middlesex"(Jeffrey Eugenides, editora Rocco, 568 páginas), que aborda o tema de forma absolutamente cativante.
Descrevo esse nível de detalhes porque creio, verdadeiramente, que não há determinante - histórica, cultural, social, comportamental - que defina, em si mesma, o que é uma pessoa. Somos tantos, dentro de nós mesmos, que qualquer rótulo sempre será insuficiente para nos acolher por inteiro.
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(Jude Law quase irreconhecível na pele do transformista Minx no filme "Rage"; por um momento, achei que fosse a Christiane Torloni, conforme a foto abaixo)
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E para voltar ao título deste post, de forma mais prosaica, se os tempos - e os gêneros - transgrediram qualquer definição precisa, tudo é possível: mulheres e homens carregam adjetivos porque já não há como os generalizar, a propósito de gêneros.
A mídia, a sociedade ou seja lá que ente for, foram buscar no pomar algumas definições: melancia, melão, abacaxi, cerejinha, uva etc. etc. etc. O universo frutífero é pequeno para comportar tanta mulher frutável (desfrutável?). O homem não fica atrás (ou até fica, admito) e leva outros tantos apelidos. E tantos são que já não sei nomeá-los.
As últimas definições que ouvi foram duas: a da mulher Titanic, que está em processo de afundamento e precisa, urgentemente, ser resgatada, isto é, está encalhada e resiste a fazer água; e a do homem DVD: Deita, Vira e Dorme.
Claro que o parágrafo anterior beira à cafonice, tão presente em nossos dias. Mas, é bastante ilustrativo na busca de definições quando, por certo, não as há. Associar homens e mulheres a objetos, frutas, flores e animais é apenas uma forma de contornar a imensa incredulidade sobre a complexa matéria de que somos feitos.
Oi
Sapatão é uma denominação preconceituosa!
Concordo, acho que esse tipo de denominação seja porque ninguém mais quer ser generalizado, por vezes acho que "macho ou femea" é menos preconceituoso. As opções sexuais independentes de você ser homem ou mulher, não influenciam na sua capacidade de crescer intelectualmente e portanto pra mim não faz muito sentido. A opção sexual dos outros é um detalhe que só interessa a ele, como a minha só interessa a mim.
Amei o post.
Achei bem esplicado e organizado.
Oi Rhiannon, reproduzo apenas o jargão popular. De minha parte, lhe asseguro, não sou nada preconceituoso. Quanto ao resto, é isso mesmo. Estamos plenamente de acordo. Obrigado por me visitar e por ter gostado do texto. Abraço!
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