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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Meu rugido dominical


Sabe a Síndrome de Estocolmo? É aquela em que a vítima de um sequestro torna-se dependente emocional do sequestrador. Em alguns casos, essa dependência chega a níveis que extrapolam qualquer explicação psicológica, inclusive com relatos de casamentos entre vítima-sequestrador.


Pois dei por mim que tenho Síndrome de Estocolmo de mim mesmo. A diferença entre o meu caso e o de verdadeiras vítimas de sequestro é que eu não passei pelo trauma do sequestro. Ao contrário, o meu sequestro por mim mesmo acontece de forma paulatina, aos poucos.

É quando me trancafio em casa, não atendo ligações e tendo a alterar completamente a minha própria rotina, com a noite a substituir o dia e o dia a morrer sem que eu tenha visto sequer uma nesga de sol, quando há.

Esse auto-sequestro pode ter muitas explicações e a principal delas é um fastio, um tédio ante o desenrolar das horas. Que não passam, congelados que estão os ponteiros de um relógio biológico e mental que insiste em soar badaladas que me soam mais estridentes quanto menos se fazem ouvir.

Em estado de sítio (e, salve! deste site), engaiolo-me feito presa fácil de um sentimento que me acomete em relação à realidade: antes ficar detido do que ter que decidir. Claro, esse é um ato covarde. Da torre, vejo passar uma infinidade de vidas às quais não ato elos que me desencadeiem conexões.

A falta de conectividade real faz com que eu transite num mundo virtual (este aqui, da internet), em que o simples clicar faz com que desapareçam pensamentos inoportunos. No livro "O Perfume", o personagem principal refugia-se em local ermo, longe da civilização e de qualquer contato humano. Quer erradicar de si o estranho que o habita e busca entender o que é como ser vivente.

Mas, o personagem não é bem-sucedido. Emerge de dentro da caverna mais aterrador do que antes - consigo e com as pessoas. E, porque não obteve o conhecimento ou, pior, se conheceu por inteiro, se verá cruzar caminhos enviesados.

Não, eu não me refugiei do contato humano. Mesmo porque é praticamente impossível se isolar numa cidade como São Paulo. Daqui mesmo, agora, ouço o vaivém musical da Vai-Vai, o desassossego das nada discretas esquinas da cidade, pessoas que se buscam à mesa de bares.

As ouço, em suas aflições - um carro que derrapa, uma música alta que corta as notas silenciosas da madrugada, um cachorro que ladra porque foi deixado só, uma mulher que grita, uma criança que chora, três ou quatro meninos que quebram garrafas e riem pelo tolo ato.

Os ruídos são vida e dão vida aos meus ouvidos. Em outro livro, "O Castelo", de Kafka, que gerou "A Caverna", de Saramago - ambos baseados no mito da caverna, de "A República", de Platão, encontro significados para o recorrente auto-sequestro.

No mito da caverna, sete pessoas estão presas, acorrentadas nos pés e pescoço, dentro de uma caverna. Essas pessoas permanecem sentadas, a olhar indefinidamente para a parede da frente. Atrás desse grupo de pessoas, uma fogueira intermitente projeta a imagem das outras pessoas que passam. O mundo das pessoas acorrentadas é apenas este: de imagens refletidas das pessoas.

No meu mundo, vejo as pessoas e as ouço, em constante alvoroço de ruídos. Contudo, minha fogueira deixa de aquecer e unir pelo calor as demais pessoas. De forma que a minha caverna é aquecida mas egoísta, posto que não compartilho o fogo.

Sequestrar-se à convivência pode significar várias coisas. E a mais óbvia, para mim, neste momento, é fugir da realidade. Fugir de mim mesmo, nem que à força de uma síndrome que me acorrenta ainda mais a mim mesmo. Contradição? Completamente!

O que me leva de volta a velhas e duradouras dúvidas de como viver, pura e simplesmente, dentro e fora de cavernas. De como acender a fogueira e deixar chegar os demais. De como não sucumbir aos encantos do ostracismo. Mesmo porque, se assim fosse, eu teria nascido ostra, caramujo, tartaruga. E viveria dentro de mim mesmo. Outra contradição? Nem tanto. Viver pode ter duas vertentes: viver para si ou dentro de si. A escolha entre as alternativas pode significar a erradicação da caverna e a cura da síndrome.

2 Comentários:

Anônimo disse...

Querido red:

Percebo essa tua necessidade de afastamento. Padeço do mesmo mal!Não sei se é egoísmo, preguiça ou mesmo medo. Por vezes, sinto um medo enorme do mundo lá fora!Espero que neste novelinho em que nos enrolamos quando nos afastamos do mundo haja espaço para muito mais...ou então que este novelo se desenrole...e não seja mais do que uma grande linha esticada, longa, atada ao mundo.

um beijinho grande

Ana

Redneck disse...

Ana, minha cara, o certo, para nós, é que este novelo seja como o fio de Ariadne, aquele mesmo usado por Teseu para se guiar dentro do labirinto e, finalmente, escapar do Minotauro. Aliás, acredito, mesmo, que a teia mundial (web) é o nosso verdadeiro fio de Ariadne. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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