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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A santa inquisição rosa-shock (aka pink)

A Espanha, que foi um dos países que mais levou a ferro e fogo (mais a fogo do que a ferro) os tribunais da inquisição (a chamada 'Santa Inquisição') agora se debate com o que chama de 'inquisição rosa', ou, em palavras menos estéticas, a inquisição promovida pelos gays. Especificamente pelo Coletivo de Gays, Lésbicas, Transexuais e Bissexuais de Madri (Cogam). A associação de defesa dos direitos GLTB da capital espanhola lançou um calendário no qual revisita, sob uma estética gay, imagens bastante conhecidas da arte sacra, especialmente as que retratam as aparições da Virgem Maria. Sob esse viés estético gay, o 'Calendário Laico' faz uma livre reinterpretação de cenas católicas.


Claro que o calendário já foi condenado. Sobretudo porque as virgens são representadas por transexuais. Essas santas drag queens usam mantos, coroas, colares, braceletes e, como adereço, preservativos coloridos e até mesmo vibradores. O calendário não é novo: foi lançado em junho deste ano na Parada Gay de Madri. Mas foram apenas 500 cópias. Nesta semana, começou a circular a edição que tem provocado a ira dos mais diversos setores. São 10 mil exemplares à venda.


O argumento do Cogam para lançar tão polêmico calendário (veja as fotos a seguir), na minha opinião, é fraco: a associação quer reivindicar que, na Espanha, pela lei um país laico, os feriados santos sejam substituídos por eventos sociais. Assim, o Natal poderia ser o Dia da Democracia, por exemplo.











Mas o pano de fundo - e sobretudo as figuras que povoam os doze meses do calendário - é uma clara provocação ao clero espanhol. A Igreja Católica, na Espanha, é forte: com pouco mais de 46 milhões de habitantes, o povo espanhol declara-se 77% católico. Portanto, a voz da igreja ressoa forte na sociedade e, por consequência, difunde doutrinas contrárias ao homossexualismo, ao uso de preservativos, contra o aborto e mais uma série de proibições que pautam as ideologias do Vaticano.











Um dos dirigentes do Cogam tentou amenizar as críticas e afirmou que não havia a intenção de ofender ninguém com o calendário. Equivale a pedir para os espectadores das touradas de Madrid que não se manifestem quando os touros, cambaleantes, rasgam o pano vermelho que os toureiros agitam nas fuças dos animais.











As manifestações contrárias já correm por toda a Espanha e já se fala em prisão por conta de ofensas aos sentimentos dos membros de uma determinada confissão religiosa. No caso, a Igreja Católica. Os conservadores da Plataforma Hazte Oír (Faz-te Ouvir), que é uma organização que ataca a liberação do aborto e o casamento entre gays (permitido na Espanha desde 2005), afirmam que o calendário laico ataca os ícones e valores religiosos, mas não é uma surpresa. "Essa inquisição rosa é constante porque os homossexuais espanhóis aproveitam qualquer oportunidade para soltar qualquer barbaridade em nome da liberdade de expressão", afirma o coordenador da Plataforma Hazte Oír, Nicolás Susena. E cita os cartazes com fotos do papa Bento XVI e a frase "cuidado com o pastor alemão" usados na Parada Gay como exemplos desse comportamento por parte da comunidade GLTB.











Só tenho uma observação a fazer: depois de levar a cabo uma das inquisições mais sanguinolentas de toda a história do catolicismo, alguém ainda duvida do poder da Igreja Católica na Espanha? É uma questão de bom senso. E o irônico é que o lado conservador lance mão justamente da expressão 'inquisição rosa' quando, ou muito me engano, esse próprio senhor gostaria agora mesmo, neste momento, de deter o poder de inquisidor e condenar esses 'bárbaros gays' imediatamente à fogueira.

4 Comentários:

João Roque disse...

Eu considero-me católico por formação, não seguidor e crítico por opção, mas crente, com uma ligação muito particular com o meu "Deus", sem necessitar de intermediários(Igreja).
Não me afecta em nada estas questões, mas e objectivamente, acho que este tipo de "provocações" das organizações LGBT em Espanha, contra uma Igreja poderosíssima, e que nunca aceitou os enormes avanços legais do mundo homossexual, podem ser prejudiciais.
As leis estão em vigor, mas não estão na Constituição e sendo assim, basta mudar o governo e as leis poderão ser revogadas; para a homofobia reinante em Espanha (no mundo inteiro), atitudes destas é deitar achas para a fogueira.
A minha luta sempre foi, mostrar pelo meu comportamento social normal, apesar de me assumir totalmente como gay, que sou um cidadão como os outros, que não sou diferente.
Reconheço o imenso trabalho desses colectivos, mas por vezes transformam o mundo gay num gueto no qual me sinto espartilhado.
Abraço.

Arsênico disse...

Acho uma idiotisse causar esse transtorno todo contra uma religião... já que a comunidade LGBT já alcançou algumas vitórias como o Casamento Gay...

Acho que seria arriscar demais enfrentar uma organização tão forte como a Igreja...

Pra que isso?... sigam suas vidas honestamente... dignamente...

O resto conquistamos no dia-a-dia...

***

umBeijo!

Redneck disse...

Pinguim, você toca num ponto bastante importante: as leis. E as leis podem ser revogadas a qualquer momento. Acho que todos os avanços podem, de repente, começarem a se converter em retrocesso. Já vimos isso acontecer na história da humanidade sob as mais diversas formas. E as fogueiras sempre estiveram prontas a serem acesas por toda a parte. Penso muito como você nesse aspecto e creio que os guetos somente ainda nos distanciam ainda mais do pretenso alvo que tanto alguns de nós parecem querer atingir. Enquanto se jogarem pedras, também do outro lado virão pedras. Abraço!

Redneck disse...

Arsênico, é o que acabei de responder ao Pinguim. Enquanto se continuar a fazer desse tipo de provocação como se fosse um instrumento útil, novas armas serão mostradas para rebater essas bobagens. E de forma cada vez mais intensa. Assim, as conquistas (como o casamento gay) podem ser tolhidas de um momento a outro e não se fala mais em liberdade, direito etc. É assim que começa. Beijo!

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Redneck, em inglês, define um homem rude (e nude), grosseiro. Às vezes, posso ser bem bronco. Mas, na maior parte do tempo, sou doce, sensível e rio de tudo, inclusive de mim mesmo. (Redneck is an English expression meaning rude, brute - and nude - man. Those who knows me know that sometimes can be very stupid. But most times, I'm sweet, sensitive and always laugh at everything, including myself.)

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